domingo, 26 de maio de 2019

Mais um relato de minhas conversas com Júlia: Ateísmo, Celibato e Frutose


Fazia tempo que não comentava minhas histórias com a Júlia por aqui.  Bem, para quem não acompanha o Shoujo Café, tenho uma menina de 5 anos, como ela não para de crescer, ela logo terá 6, 7 e comum que tenhamos alguma conversa que pode gerar um post interessante.  Espero que não seja só um post de uma mãe babona, enfim.

Ontem, tive que explicar um novo conceito para a Júlia: ateísmo. Estávamos voltando do filme Alladin e estava começando a festa junina da paróquia de santa Terezinha. A pescaria não estava funcionando ainda (*ela queria pescar*) e perguntei se ela queria entrar para olhar a igreja, ela nunca tinha entrado.  Ela disse que, sim.  De repente, herdou meu gosto por observar a arquitetura e decoração das igrejas.  Vamos ver no caso dos cemitérios...

Não se de quando é a foto, mas o exterior é o mesmo.
Uma igreja católica, mesmo que não seja das mais elaboradas, caso da que entramos, é sempre mais atraente para uma criança pequena do que uma igreja protestante. A de Santa Terezinha tem vitrais e, bem, eles funcionam como uma história em quadrinhos. Para quem não sabe ler palavras, ler imagens é importante no aprendizado e quando surgiram as primeiras controvérsias a respeito de imagens nas igrejas católicas na Idade Média, essa foi a compreensão do papa Gregório, o Grande (540-604).  As imagens, as pinturas, os vitrais ajudam os iletrados a compreenderem as histórias da Bíblia e a vida dos santos.  E não acontece somente em templos católicos, o templo budista Terra Pura tem vitrais da vida de Buda, só para citar um exemplo fora do cristianismo.  Enfim, ela queria explorar o templo, mas tinha gente ensaiando e saímos. Daí, ela perguntou por qual motivo o pai dela não gostava de igreja. Tive que explicar que o problema não era a igreja em si (*foi uma meia verdade, nesse caso*), mas que o pai dela não acredita em Deus e quem não acredita em uma divindade é ateu.

Parece que ela processou a informação, acredito que ela mesma vai começar a se posicionar sobre essas coisas em breve. Crenças são parte construções racionais, parte sentimento. Há quem lide melhor com um lado, ou com o outro. Há o exemplo, também, nesse caso, os bons exemplos tendem a ter um impacto duradouro nos corações das pessoas. "Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele. " (Provérbios 22:6) Ainda bem que Júlia ainda não parece atenta ao estrago que os cristãos brasileiros vem fazendo para a sua imagem esses dias. Na verdade, os modelos dela nesse ponto são a avó e eu, talvez, o modelo e o não-modelo.  

Vitrais são como histórias em quadrinhos.
Enfim, não vou dizer que não me angustio com essas coisas, porque, bem, eu fui educada para ver a religião como um dos eixos fundamentais da vida e mesmo que muita gente não acredite, sou mais radical e conservadora em certas questões de fé do que muita gente.  Espero saber sempre lidar de forma sábia e justa com a Júlia, porque conheço casos e casos em que o efeito das crenças dos pais e mães em suas crianças foi devastadora.

Saindo da igreja, ela me mostrou que já sabia o conceito de celibato clerical "Antes, padres não podiam casar, não é?". "Eles ainda não podem casar. Onde você ouviu isso, foi na novela que a mamãe está vendo (*revendo, na verdade*)?" "Não, foi em um desenho sobre o dia dos namorados (Valentine's Day).". Conceito certo, mas provavelmente a informação veio truncada, porque São Valentim teria sido martirizado por casar os soldados quando o Imperador da época tinha proibido que os militares pudessem casar, whatever... Não sei qual foi o desenho, mas certamente não veio do episódio especial de Madagascar.

Madly Madagascar é muito divertido. 
Às vezes, as pessoas devem achar que somos duas loucas conversando na rua, mais cedo, ela perguntou o que era diabetes. Daí, comecei a falar de açúcar, ela associou aos doces, eu expliquei que há outros tipos de açúcar que não vem dos doces. Falei que as frutas são doces "E ninguém colocou açúcar nelas.", a Júlia emendou. "Sim, é um açúcar da natureza, se chama frutose.". E continuamos falando e a mulher que estava na nossa frente deu uma meia parada, olhou para nós duas e começou a rir incontrolavelmente. Enfim, espero que o riso seja benigno.  Sei lá por qual motivo escrevi isso, e nem falei das areis cinéticas, mas está aqui para quem quiser ler.

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Se um dia eu tiver filho, quero poder conversar assim com ele. É um processo de aprendizagem incrível puxar conversa dessa forma com uma criança. Se as pessoas soubessem o quanto desenvolve o sistema cognitivo delas conversar assim...

Quando leio suas conversas com a Julia, lembro se um programa francês da TV Escola, Filosofia no Jardim da Infância - o programa é exatamente isso, aulas de filosofia para crianças do ensino infantil. Às vezes acho que as pessoas se esquecem que as crianças também são gente e podem pensar. Enfim, foi um post fofo!

Educar crianças é uma aventura e um privilégio.
É uma delícia acompanhar essas descobertas.
Pena que nem tudo o que elas vão descobrir neste mundo é positivo.

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