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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Riyoko Ikeda, autora de Lady Oscar: "Eles me pagavam metade do que pagavam para um homem"


Sei que postei uma tradução de matéria sobre os 40 anos do anime da Rosa de Versalhes ontem, mas quando vi este artigo no La Repubblica, o segundo jornal mais importante da Itália, tinha que trazê-lo para cá.  Fora isso, há fragmentos de uma entrevista com Riyoko Ikeda (*falando coisas muito contundentes e feministas*), não sei se dadas nessa ROMICS, ou em uma edição anterior, porque só achei que Ikeda esteve participando em 2010.  

De qualquer forma, é engraçado ver o jornalista pegando as falas de Ikeda sobre o mangá e tentando encaixar o anime, quando, efetivamente, ela não estava falando dele.  E, bem, o jornalista diz que Antonieta se apaixona pod Oscar, não sei qual fanfic ele leu, mas isso não está nem no mangá, nem no anime.  E, sim, para quem não viu, o volume #1 da Rosa de Versalhes está em promoção na Amazon.  Se você já tem, que tal dar de presente?


Riyoko Ikeda, autora de Lady Oscar: "Eles me pagavam metade do que pagavam para um homem"

Quarenta anos atrás, acontecia a primeira exibição do anime na NTV japonesa. "Eu tinha certeza de que a história de uma garota que havia sacrificado sua infância e sonhos iria atingir o coração de todos", diz Ikeda, 71 anos. "As mulheres que estavam no mercado de trabalho começaram a se identificar com ela no Japão"

de CARLO MORETTI

"O meu é um país com vinte séculos de história, mas a maioria das pessoas que conheço lembra apenas do mangá": Riyoko Ikeda, 71 anos, tem uma vida dedicada aos quadrinhos. Mas a modéstia que a senhora exibe durante uma reunião nos Romics não pode fazer frente à enorme sorte que acompanha Lady Oscar desde o primeiro dia de vida, o mangá que Riyoko Ikeda começou a desenhar em 1972 e que, a partir de 10 de outubro de 1979, inspirou a série de TV NTV com o mesmo nome, Nippon Television.

Em 40 anos, o mangá de Ikeda se tornou um embaixador formidável da imagem do Japão no mundo; na Itália, a primeira série de 41 episódios chegou em 1º de março de 1982, transmitida pela Itália 1. "Frequentei a Universidade de Tsukuba e eu estudava filosofia", disse Riyoko Ikeda. "Minha escolha de deixar a escola aos 24 anos para me dedicar ao mangá decepcionou as expectativas de muitos, começando pela minha família, mas acima de tudo complicou minha existência: entrei em um mundo dominado pelos homens, e eles me fizeram entender isso  imediatamente".



Antes de Ikeda, a história em quadrinhos japonesa era dominada pela figura de Osamu Tezuka e os autores masculinos também lidavam com mangás destinados a meninas. A estudante universitária apaixonada por lápis não se aborreceu, quebrou as regras: em Lady Oscar, delineou a figura de uma garota andrógina com uniforme de coronel que transitava na corte francesa, fazendo até Maria Antonietta se apaixonar; em Dear Brother, publicado em 74, abordou tópicos delicados, como suicídio, incesto, relacionamento lésbico, toxicodependência. Tudo em um país fortemente sexista, "porque no Japão, no início dos anos 70, uma mulher que preferia trabalhar a ter filhos era fortemente hostilizada".

O sexismo se apresentou a Ikeda com o rosto de quem se tornaria o editor de Lady Oscar: "Ele me disse claramente que me pagaria metade do que um autor de homem ganhava. Eu reclamei e ele me explicou abertamente que ele faria isso porque se um de seus autores decidisse iniciar uma família, ele teria que sustentar sua esposa; já se eu me casasse, meu marido iria pensar em mim". O sucesso em sua pátria foi esmagador, o Japão estava passando por uma profunda transformação, mesmo lá os efeitos de 1968 e o protesto estudantil foram sentidos.



Logo, a sorte do mangá desenhado por Ikeda teria infectado até o público internacional: "Quando comecei a imaginar Lady Oscar, eu tinha certeza de que a história de uma garota que havia sacrificado sua infância e seus sonhos atingia o coração de todos. Em particular no Japão, começaram identificar com Oscar as mulheres que estavam no mercado de trabalho, ainda hoje acontece e me surpreende ".

O objetivo da senhora com o lápis era ainda mais ambicioso: "Na época, o mangá era considerado uma subcultura. Eu e os outros da minha geração, que fazíamos história em quadrinhos no início dos anos 70, pensávamos que tínhamos que criar algo que fosse marcante, que durasse para sempre. Acho que essa é a primeira razão do meu sucesso". Nos mangás de Riyoko Ikeda, a grande história explode, em particular a autora parece ser fascinada pelas revoluções: a francesa em Lady Oscar, a russa em Orpheus no Mado, onde mais uma vez a heroína é uma garota obrigada a passar para um homem por causa de questões relacionadas a sua herança paterna.

"Naquela época, no meu país, as meninas tinham que ser educadas e gentis", continua Ikeda. "Eu não queria dar outras lições além de respeitar a própria essência, expressar a nossa personalidade. Oscar foi o meio que me permitiu falar de um mundo masculino: originalmente o que me interessava era contar a vida militar no exército da França". Riyoko Ikeda enfrentou outro desafio em 2000 e iniciou sua segunda vida profissional: tornou-se uma soprano muito elogiada.

Um comentário:

  1. Muita coisa mudou no Japão, mas o machismo persiste forte, infelizmente.
    Agora essa informação de que a Ikeda era cantora lírica, realmente me pegou de surpresa. Não fazia ideia. Tem vídeos dela cantando inclusive na França. Bem interessante.

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