Já tinha ouvido falar desse material. Todo mundo que freqüenta este blog ou lê o que eu escrevo sabe que, para mim, mangá é o que sai no Japão e o resto é, no máximo, quadrinho com influência de mangá. Mas, vá lá, decidi traduzir esta matéria sbre o Manga Bible em que um inglês de família nigeriana dá a sua versão da Bíblia do Genêsis ao Apocalipse. Deve ter cortado muita coisa e o papo de que Jesus era um samurai durão é dura de aguentar, fora a visão limitada de mangá como ação e poucas palavras da repórter. Só que, como hoje é domingo, achei que cairia bem e traduzi o artigo do New York Times. Espero que seja interessante.
A Bíblia como Graphic Novel, Com um Estranho Samurai Chamado Cristo
Por NEELA BANERJEE
Published: February 10, 2008
Ajinbayo Akinsiku queria que o mundo conhecesse Jesus Cristo, não somente como o Cristo gentil, de olhos azuis dos velhos filmes de Hollywood e das Bíblias ilustradas. O Sr. Akinsiku diz que o seu Filho de Deus é “um estranho samurai que chegou à cidade, mostrado em silhueta,” para sacudir um pouco as coisas em uma nova e muito adaptada versão da Bíblia com raízes no mangá, o formato japonês de graphic novels. “Nós apresentamos as coisas de uma forma bem ousada,” diz o Sr. Akinsiku, que espera se tornas um pastor anglicano e é o autor da “The Manga Bible: From Genesis to Revelation” (A Bíblia em Mangá: do Gênesis à Apocalipse). “Cristo é um cara rude, em busca da revolução, um cara durão.”
Editores com um olho no potencial evangelizador e para nichos de mercado que por muito tempo têm se beneficiado por investir no conteúdo bíblico: casais recém casados, garotos e garotas adolescentes, drogados em recuperação. Tal atração é como um cosmético, uma nova embalagem cheia de vida. As vendas das graphic novels, também dobraram nos últimos anos. Então, faz sentido que esta convergência esteja a caminho, graphic novels pegando histórias da Bíblia, geralmente usando um visual emocionante. No último ano, muitas editoras religiosas e seculares anunciaram ou lançaram histórias religiosas em formato mangá.
A mídia molda a mensagem. Os mangás freqüentemente se focam no conteúdo épico e na ação. Muito da Bíblia, como resultado, é excluída na sala de edição, e o que sobra é a parte sombria. “É o fim do mundo como o conhecemos, e o fim de uma certa idéia cultural das Escrituras como um livro, como O Livro,” diz Timothy Beal, professor de religiçao do Case Western Reserve University, sobre a reelaboração da Bíblia em novos formatos, inclusive mangá. “Tal trabalho abre novas perspectivas para a compreensão das Escrituras e acaba sendo também um pouco iconoclasta.”
Apesar de conhecido pelas personagens com grandes olhos e cheias de pose, o mangá também é definido pela narrativa lacônica, o estilo cinematográfico e muitas vezes por ter mais ação do que palavras. Na propaganda do mangá Bible, que foi publicada pela Doubleday, ao arcebispo da Cantuária, o reverendíssimo Rowan Williams, é citado como tendo dito, “Ele vai trazer a emoção e o vigor da Bíblia de uma forma única.”
Sem dúvida. No mangá Bible, cujas personagens parecem mais skatistas em roupas de beduíno, Noé se confunde na contagem dos animais que entram na Arca: “São 11.344 animais? Arggh! Perdi a conta de novo. Vou ter que começar do zero de novo!” Abraão monta um cavalo que escapa de uma explosão para salvar Ló. Ogue, Rei de Basã, se move como um Darth Vader primitivo. O Sermão do Monte não dá as caras no livro, claro, porque não tem muita ação.
O Manga Bible vendeu 30 mil cópias na Grã-Bretanha, de acordo com a Doubleday. A tiragem inicial nos EUA foi de 15 mil cópias, vandidas por U$12,95.
O Sr. Akinsiku, de 42 anos, que usa o pseudônimo de Siku, cresceu na Inglaterra e na Nigéria em uma família anglicana de origem nigeriana. Ele se formou recentemente em teologia em uma escola de Londres. Por anos, ele trabalhou como artista, e uma versão da Bíblia seria a melhor forma de glorificar a Deus, ele disse em entrevista por telefone de Londres.
Enquanto jovens adultos e adolescentes são os mais ávidos consumidores de mangá, o Sr. Akinsiku diz, ele ouviu dizer que muitas vovós têm comprado o seu livro como presente para os netos. O livro parece ser uma primeira introdução à Bíblia, que muitos se sentem intimidados demais para ler, diz o Sr. Akinsiku. Depois de um pequeno grupo de páginas, há um quadrinho com que traz a referência dos versos que foram retratados na ação. “Para aqueles que não freqüentam a igreja, este livro pode mostrar que esta coisa, a Bíblia, ainda é importante,” ele disse, “porque ela fala sobre o que os seres humanos fazem quando eles encontram Deus.”
Os pensadores cristãos tentaram tornar a Bíblia acessível por séculos, dizem os especialistas. Vitrais relatavam as histórias da Bíblia quando a população européia era majoritariamente analfabeta. A nova tecnologia de impressão do século XIX tornou possível a impressão em massa da Bíblia, incluindo as versões ilustradas, diz Peter J. Thuesen, professor titular de estudos religiosos da Indiana University-Purdue University em Indianápolis.
Conforme a alfabetização aumentou (e o marketing floresceu), as famílias compravam Bíblias próprias. Nos anos 60 e 70, livros como a “Living Bible” e a “The Way” foram lançadas, escritas em inglês contemporâneo, apesar dos especialistas criticarem a sua precisão.
Na década passada, conforme os produtos foram sendo dirigidos cada vez mais para os nichos de Mercado e os serviços religiosos foram sendo adequados aos diferentes grupos, as editoras passaram a criar Bíblias que pudessem atender a certos grupos, diz Lynn Schofield Clark, diretos da Estlow International Center for Journalism and New Media da University of Colorado. Alguns anos atrás, por exemplo, um editor religioso Thomas Nelson criou uma Bíblia para meninas adolescentes chamada Revolve, que parecia mais uma revista de banca.[1] Ela vendeu 40 mil números em um mês, Mr. Clark diz, um número incrível para uma Bíblia.
O objetico das Bíblias não é somente ganhar as pessoas para Cristo, mas para determinadas formas de pensamento, diz Jason BeDuhn, professor de estudos religiosos da Northern Arizona University. O Sr. Akinsiku diz que a mensagem bíblica que ele deseja enfatizar é a da justiça, especialmente para os pobres.
Seu livro tem sido taxado por muitos blogueiros especializados em mangá como muito verborrágico. O Sr. Akinsiku diz que está expondo os seus leitores à um conhecimento rápido da Bíblia. Seu novo projeto é a Vida de Cristo em formato mangá. Ele tem 300 páginas para isso, o que significa que haverá muito mais ação, muito menos conversa, e algo como um Clint Eastwood da Galiléia.
[1] O termo aqui era "glossy magazine" e seriam aquelas revistas tipo Vogue, Caras, Capricho, com papel brilhante e muitas fotos.
A Bíblia como Graphic Novel, Com um Estranho Samurai Chamado Cristo
Por NEELA BANERJEE
Published: February 10, 2008
Ajinbayo Akinsiku queria que o mundo conhecesse Jesus Cristo, não somente como o Cristo gentil, de olhos azuis dos velhos filmes de Hollywood e das Bíblias ilustradas. O Sr. Akinsiku diz que o seu Filho de Deus é “um estranho samurai que chegou à cidade, mostrado em silhueta,” para sacudir um pouco as coisas em uma nova e muito adaptada versão da Bíblia com raízes no mangá, o formato japonês de graphic novels. “Nós apresentamos as coisas de uma forma bem ousada,” diz o Sr. Akinsiku, que espera se tornas um pastor anglicano e é o autor da “The Manga Bible: From Genesis to Revelation” (A Bíblia em Mangá: do Gênesis à Apocalipse). “Cristo é um cara rude, em busca da revolução, um cara durão.”
Editores com um olho no potencial evangelizador e para nichos de mercado que por muito tempo têm se beneficiado por investir no conteúdo bíblico: casais recém casados, garotos e garotas adolescentes, drogados em recuperação. Tal atração é como um cosmético, uma nova embalagem cheia de vida. As vendas das graphic novels, também dobraram nos últimos anos. Então, faz sentido que esta convergência esteja a caminho, graphic novels pegando histórias da Bíblia, geralmente usando um visual emocionante. No último ano, muitas editoras religiosas e seculares anunciaram ou lançaram histórias religiosas em formato mangá.
A mídia molda a mensagem. Os mangás freqüentemente se focam no conteúdo épico e na ação. Muito da Bíblia, como resultado, é excluída na sala de edição, e o que sobra é a parte sombria. “É o fim do mundo como o conhecemos, e o fim de uma certa idéia cultural das Escrituras como um livro, como O Livro,” diz Timothy Beal, professor de religiçao do Case Western Reserve University, sobre a reelaboração da Bíblia em novos formatos, inclusive mangá. “Tal trabalho abre novas perspectivas para a compreensão das Escrituras e acaba sendo também um pouco iconoclasta.”
Apesar de conhecido pelas personagens com grandes olhos e cheias de pose, o mangá também é definido pela narrativa lacônica, o estilo cinematográfico e muitas vezes por ter mais ação do que palavras. Na propaganda do mangá Bible, que foi publicada pela Doubleday, ao arcebispo da Cantuária, o reverendíssimo Rowan Williams, é citado como tendo dito, “Ele vai trazer a emoção e o vigor da Bíblia de uma forma única.”
Sem dúvida. No mangá Bible, cujas personagens parecem mais skatistas em roupas de beduíno, Noé se confunde na contagem dos animais que entram na Arca: “São 11.344 animais? Arggh! Perdi a conta de novo. Vou ter que começar do zero de novo!” Abraão monta um cavalo que escapa de uma explosão para salvar Ló. Ogue, Rei de Basã, se move como um Darth Vader primitivo. O Sermão do Monte não dá as caras no livro, claro, porque não tem muita ação.
O Manga Bible vendeu 30 mil cópias na Grã-Bretanha, de acordo com a Doubleday. A tiragem inicial nos EUA foi de 15 mil cópias, vandidas por U$12,95.
O Sr. Akinsiku, de 42 anos, que usa o pseudônimo de Siku, cresceu na Inglaterra e na Nigéria em uma família anglicana de origem nigeriana. Ele se formou recentemente em teologia em uma escola de Londres. Por anos, ele trabalhou como artista, e uma versão da Bíblia seria a melhor forma de glorificar a Deus, ele disse em entrevista por telefone de Londres.
Enquanto jovens adultos e adolescentes são os mais ávidos consumidores de mangá, o Sr. Akinsiku diz, ele ouviu dizer que muitas vovós têm comprado o seu livro como presente para os netos. O livro parece ser uma primeira introdução à Bíblia, que muitos se sentem intimidados demais para ler, diz o Sr. Akinsiku. Depois de um pequeno grupo de páginas, há um quadrinho com que traz a referência dos versos que foram retratados na ação. “Para aqueles que não freqüentam a igreja, este livro pode mostrar que esta coisa, a Bíblia, ainda é importante,” ele disse, “porque ela fala sobre o que os seres humanos fazem quando eles encontram Deus.”
Os pensadores cristãos tentaram tornar a Bíblia acessível por séculos, dizem os especialistas. Vitrais relatavam as histórias da Bíblia quando a população européia era majoritariamente analfabeta. A nova tecnologia de impressão do século XIX tornou possível a impressão em massa da Bíblia, incluindo as versões ilustradas, diz Peter J. Thuesen, professor titular de estudos religiosos da Indiana University-Purdue University em Indianápolis.
Conforme a alfabetização aumentou (e o marketing floresceu), as famílias compravam Bíblias próprias. Nos anos 60 e 70, livros como a “Living Bible” e a “The Way” foram lançadas, escritas em inglês contemporâneo, apesar dos especialistas criticarem a sua precisão.
Na década passada, conforme os produtos foram sendo dirigidos cada vez mais para os nichos de Mercado e os serviços religiosos foram sendo adequados aos diferentes grupos, as editoras passaram a criar Bíblias que pudessem atender a certos grupos, diz Lynn Schofield Clark, diretos da Estlow International Center for Journalism and New Media da University of Colorado. Alguns anos atrás, por exemplo, um editor religioso Thomas Nelson criou uma Bíblia para meninas adolescentes chamada Revolve, que parecia mais uma revista de banca.[1] Ela vendeu 40 mil números em um mês, Mr. Clark diz, um número incrível para uma Bíblia.
O objetico das Bíblias não é somente ganhar as pessoas para Cristo, mas para determinadas formas de pensamento, diz Jason BeDuhn, professor de estudos religiosos da Northern Arizona University. O Sr. Akinsiku diz que a mensagem bíblica que ele deseja enfatizar é a da justiça, especialmente para os pobres.
Seu livro tem sido taxado por muitos blogueiros especializados em mangá como muito verborrágico. O Sr. Akinsiku diz que está expondo os seus leitores à um conhecimento rápido da Bíblia. Seu novo projeto é a Vida de Cristo em formato mangá. Ele tem 300 páginas para isso, o que significa que haverá muito mais ação, muito menos conversa, e algo como um Clint Eastwood da Galiléia.
[1] O termo aqui era "glossy magazine" e seriam aquelas revistas tipo Vogue, Caras, Capricho, com papel brilhante e muitas fotos.
4 pessoas comentaram:
Eu já li sobre esse quadrinho faz um tempo.Pra ser sincera eu não gostei nada desse Jesus com cara de quem ''vai dar porrada''.
Concordo com você quem escreveu isso não tem noção do que é o mangá e muito menos da Bíblia.Acha que mangá é só ação e pancadaria.Esse autor devia ler ''Buda'', ''Gen,pés descalços'' e ''Lady oscar'' pra ter noção do que é realmente o mangá, acima de tudo conta história sobre pessoas,assim como a Bíblia.
Eu tenho a desconfiança que esse material pode ser criticável, mas deve ser divertido. :D
Parece ser uma tendência atual transformar passagens bíblicas em quadrinhos. Sinceramente, nunca li. Mas que isto não seja tomado como algum tipo de preconceito, é que simplesmente o material nunca caiu nas minhas mãos. Mas tenho que admitirJesus com cara de Samurai X é bem peculiar. :-)
Havia quadrinhos bíblicos na minha infância, mas eram aqueles quadrinhos rígidos, chatos, hieráticos e pseudo-pedagógicos, que a Lillian Robinson (Wonder Women - Feminisms and Super Heroes) chama de espanta leitor. Portanto, não é novidade. O novo está em tentar quebrar os paradigmas, mas ler a comparação de Jesus com um samurai ou Clint Eastwood é de doer. Saudades de Super Nook.
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