domingo, 1 de outubro de 2023

Mais uma História de Cinderela faz sucesso no Japão... Desta vez, com um toque de Yakuza

Estava olhando o Comic Natalie e me deparei com um post falando do lançamento do primeiro volume do mangá Ijiwaru na Haha to Ane ni Urareta Watashi. Naze ka Wakagashira ni Dekiaisaretemasu (意地悪な母と姉に売られた私。何故か若頭に溺愛されてます), cuja tradução é algo como "Fui vendido pela minha mãe e irmã malvadas. Por alguma razão, sou adorada pelo jovem chefe.".  No título, havia algo como cinderela e esposa perfeita.  Pensei, "OK, lá vamos nós de novo!".  Pensei que seria algo na linha Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚), mas com a mocinha vendida pela família.  

Detesto essas histórias de mocinha vendida, vi que era nos dias de hoje e achei que seria material ruim, mas fui olhar os dois capítulos que já tem scanlations e foi uma surpresa.  Bem, não é que fuja dos clichês, mas é a sinceridade e a forma como a narrativa é organizada que devem ter feito a novel fazer tanto sucesso, porque, sim, foi isso que levou para a adaptação em mangá e, talvez, conduza a um dorama, porque parece material facilmente adaptável.  Mas vamos para a história:

Sumire tem vinte anos e é uma moça trabalhadora e esforçada.  Ela mora com a mãe e a irmã mais velha, ambas não trabalham e exploram a protagonista.  Além de trabalhar fora, ao chegar em casa, ela ainda tem que fazer toda a sorte de serviços domésticos.  Sumire quer o afeto da mãe desde a infância e nunca recebeu a não ser insultos e acusações.  Para a mãe, o marido foi embora e abandonou a família por causa da filha mais nova.  Imagino que ele queria um menino, nada é explicado, mas a mãe da protagonista a acusa de ser feia, desengonçada e incapaz de conseguir o afeto das pessoas.  A irmã mais velha, Ran, diz que o destino de Sumire é nunca se casar.  Quando tem algum tempo livre, Sumire lê romances e observa o grupo das colegas de colégio no celular e lamenta que somente ela parece não ter uma vida.

Uma noite, três homens mal encarados aparecem na porta, eles são yakuza.  Ran está endividada com a máfia e sem a mínima possibilidade de pagar o que deve.  O chefe do trio pergunta quantos anos ela tem.  Como ela é maior de idade, ele diz que irá levá-la para trabalhar em uma de suas "lojas".  Trata-se de um eufemismo para prostituição (*mais adiante, ele irá deixar isso claro*), ou melhor dizendo, escravidão sexual.  A mãe ameaça chamar a polícia, o yakuza diz que não adianta.  É então que Ran sugere que levem sua irmã, que é mais jovem, ainda que não seja bonita.  Sumire fica desesperada, mas nada diz e olha para a mãe esperando que ela se compadeça dela.  A mãe concorda com a filha mais velha.

Os dois yakuza dizem que é mau negócio, mas o chefe do grupo fica atordoado com a situação.  Ele pergunta se Sumire está de acordo com isso.  A jovem, em absoluto desalento, diz não se importar.  Vemos os pensamentos da garota, ela pensa no quanto não é amada e que não tem um lugar no mundo onde se sinta acolhida.  Entregar seu corpo seria somente uma variação do inferno no qual já vive.  Ela termina por dizer para o yakuza que leu muitos livros sobre a máfia japonesa e sabe o que a espera.  Ele gargalha, mas fica com pena da moça.  No outro dia, contrariando o procedimento padrão, ele mesmo vai com outro colega, que parece ser seu irmão caçula, buscar Sumire.

O rapaz mais jovem debocha dele.  Diz que ele nunca se interessou por mulheres e que a tal garota deve ser muito bonita.  Ele diz que não é absolutamente o caso e que não tem interesse especial por ela.  No entanto, se sente atormentado pelo olhar inexpressivo da moça e a forma como ela se deixou vender pela mãe e pela irmã.  Obviamente, ele já está apaixonado e é necessário ver como essa história irá se desdobrar, pelo título do post, no entanto, já fica dito que o chefão irá transformar Sumire em sua esposa.

O que temos nesse mangá é mais uma mocinha que sofre abuso emocional e abandono afetivo.  A coisa é tão pesada que ela não percebe que bastaria ir embora, afinal, TODA a renda da casa é produzida por ela.  Quem iria impedi-la?  Consigo esquecer desse detalhe sendo uma história contemporânea?  Não sei.  E continuo detestando esse plot da mulher comprada, porque Sumire estará em uma posição que é tudo menos igualitária, mas a autora já desenhou que o chefe mafioso tem um código de honra e um bom coração.  Como há toda essa fascinação por yakuza nos mangás femininos, e que não é muito diferente das toneladas de romances de banca sobre mafiosos produzidos no Ocidente, há público consumidor de sobra.  

O chefe mafioso é do tipo bonitão, algo comum nesse tipo de história.  Resta saber se o mangá vai ficar no romance água com açúcar ou teremos pimenta nessa história.  Acho que devemos ficar no chove e não molha, não me parece que o mangá é TL, ou passa perto disso.  Já a mãe e a irmã mais velha são absolutamente detestáveis.  Estão no mesmo nível da madrasta e da meia-irmã de Miyo.  O agravante, claro, é que no caso de Sumire é sua mãe biológica que a trata dessa forma desprezível.

Concluindo, a autora do romance original de chama Rin Mitsuki, o vídeo sobre o primeiro livro teve mais de 5 milhões e oitocentas mil visualizações no Youtube, segundo o CN.  Achei três volumes de novels no amazon Japão. A responsável pelo mangá se chama Suzumaru e o quadrinho sai na B's-Log Comic, que é uma revista para o público feminino adulto.  Suzumaru postou umas animações do mangá no Youtube.  Já a arte da série de livros é de Fumi Takamura, gostei bastante do traço dela.  Tanto Takamura, quanto Suzumaru, são mangá-kas de BL, talvez seja a primeira incursão delas fora da demografia.

Vote para o Conselho Tutelar

Hoje, até as 17h, você, que tem mais de 16 anos  pode votar para o Conselho Tutelar de sua região. O voto não é obrigatório,  mas é importante, pois os conselheiros tutelares têm importância fundamental nas ações de proteção às crianças e adolescentes.  Mais cedo, fui votar. Escolhi uma candidata comprometida com o cumprimento da Constituição e do ECA, no entanto, na igreja que frequento, o discurso era direto, vote em evangélicos.  Sem nomes de púlpito, mas havia um posicionamento claro, inclusive foi dito que deveria ser alguém que não fizesse o que o governo quer.  

O que significa isso?  Tenho receio até de começar a elucubrar, porque o Conselho Tutelar não está à serviço do governo, mas do cumprimento do ECA e proteção dos menores. Enfim, se você quer algo diferente, vá votar.  O Estado é laico e isso garante que todos possam ter a fé que desejarem, ou, se assim quiserem, não ter fé nenhuma.  

sábado, 30 de setembro de 2023

Shoujocast no Ar! Adaptar é Mudar! Nem sempre a gente fica feliz, mas...

Adaptar um livro para outra mídia sempre exige mudanças. O que funciona muito bem por escrito, pode não ter o mesmo impacto visual requerido em um filme, ou animação. Da mesma maneira, palavras podem ganhar outra dimensão ao serem traduzidas para imagens, ao receberem voz. Neste Shoujocast, vamos conversar um pouco sobre isso. E, sim, é possível gostar mais de uma versão do que de outra, ficar com uma só e questionar o motivo de algumas mudanças. Se quiser me acompanhar, dê o play!

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Ranking da Oricon: Duas Últimas Semanas


Atrasei o ranking, mas foi somente uma semana.  Dá para mapear de forma mais rápida o desempenho de um mangá.  Por exemplo, Mystery to Iunakare continua forte no top 10 e, imagino, ainda esteja pelo manos no top 20 na semana que vem.  Esta semana, em 19º, temos um BL, e é importante marcar que há muitos mangás femininos entre os mais vendidos.  Eu fiz um post recente pontuando que Juuban-sama no Enmusubi Kamiari Hanayome Kitan poderia ser o próximo Watashi no Shiawase na Kekkon, mas veja que o primeiro volume da série não apareceu entre os 30, talvez esteja entre os 50 mais vendidos, mas eu não consegui achar.  Enfim, achei bonitinho ver Koisuru MOON DOG  entre os 30 nesta semana.

1.Blue Rock #26
2.Sousou no Frieren #11
3. Uchuu Kyoudai #43
4. Uma Musume Cinderella Gray #12
5. Mystery to Iunakare #13
6. Tensei Shitara Slime Datta Ken #24
7. Isekai Ojisan #10
8. Blue Rock-EPISODE Nagi- #3
9.Yomi no Tsugai #5
10.Uma Musume - Pretty Derby Star Blossom #1
18. Tamon-kun Ima Docchi!? #6
19. Tashiro-kun, Kimi tte Yatsu wa。#4
22. Hotaru no Yomeiri #2
24. Natsume Yuujinchou #30
28. Koisuru MOON DOG #11

1. Blue Rock #26
2. Tensei Shitara Slime Datta Ken #24
3. Sousou no Frieren 11
4. Mystery to Iunakare #13
5. Yomi no Tsugai #5
6. Blue Rock-EPISODE Nagi- #3
7. MIX #21
8. Hotaru no Yomeiri #2
9. Mairimashita! Iruma-kun #34
10. Natsume Yuujinchou #30
16. Ojou to Banken-kun #9
18. Inazuma to Romance #5
22. Museru Kurai no Ai wo Ageru #2
23. Assassin & Cinderella #2
26. Outaishi ni Konyaku Hakisareta no de, Mou Baka no Furi wa Yameyou to Omoimasu #3

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Juuban-sama no Enmusubi Kamiari Hanayome Kitan seria o novo Watashi no Shiawase na Kekkon?

Algo muito comum no Japão, e na cultura pop de uma forma geral, eu diria, é que quando um produto faz sucesso, vários similares a ele aparecem.  Veja aí a história da mocinha reencarnada como vilã em um game e como isso tem rendido histórias de qualidades muito diversas e acabou por criar um gênero novo, o "vilã", mesmo que nem sempre a mocinha da trama mereça o título, ou que o fato de ser um iseaki reencarnacionista tenha real peso na história.

Pois bem, Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚) está fazendo muito sucesso.  O anime, se você conheceu a série por ele, é somente um dos resultados da boa aceitação de uma história que começou como livro, tem mangá, teve live action e a coisa não deve parar por aí.  Mas se Watakekkon com este ar de shoujo antigo e um romance que se desenvolve com lentidão e delicadeza faz sucesso, por qual motivos não lançar mais séries semelhantes?  E eu tenho observado que alguns títulos parecem bons candidatos a competidores, ou substitutos, porque acho que Watashi no Shiawase na Kekkon já está caminhando para o final.

A série que me chamou a atenção, recebeu um post no Comic Natalie quando do lançamento de seu primeiro volume em mangá e se chama Juuban-sama no Enmusubi Kamiari Hanayome Kitan (十番様の縁結び 神在花嫁綺譚).  Assim como Watakekkon, trata-se de um derivado de livro.  A autora da história é Todou San.  A arte dos livros é de Shiratani Yu.  Já o mangá é desenhado por Take Mimura.  Eu achei o resumo do Amazon mais completo e decidi misturar com as informações que eu consegui no Comic Natalie, então, vamos lá: 

Neste país, os clãs cujos ancestrais eram deuses que nasceram há muito tempo atrás, quando o país foi criado, são chamados de “Kamiari”.  Na cidade tecelã de Hanasuke, a melhor tecelã da cidade é escolhida como noiva de um dos líderes desses clãs.  A protagonista é uma menina escravizada e sem direito a nome, ela passa seus dias tecendo.  Um dia, um cliente misterioso, aparece tarde da noite na oficina e lhe dirige a palavra, ele lhe diz que, um dia, ela virá buscá-la.  Ela pensa estar sonhando, mas guarda aquela promessa.  Com o tempo, ela se torna a melhor tecelã daquela oficina.

Um dia, o jovem, que se chama Shuuya, reaparece.  Ela é o chefe de uma das famílias de Kamiari e ele a chama de Mao.  "Eu vim buscá-la - você quer se casar comigo?"  Ele a leva consigo, mas o clã do moço não a acolhe bem.  Ao que parece, ela ainda precisará mostrar o seu valor como tecelã, muito provavelmente, enfrentando outra pretendente à esposa de Shuuya.  Detalhe, a temporalidade é similar a de Watashi no Shiawase na Kekkon, é Japão, mesmo que de realidade alternativa, depois da Revolução Meiji.  

Será que eu estou certa?  Vamos ver se esse volume #1 entre no ranking da Oricon desta semana.  A série não tem scanlations ainda, mas o mangá raw pode ser encontrado aqui.  Pelo que eu vi, são três novels até o momento.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Broche de Sailor Moon vira linda caixinha de pó compacto

Esses produtos são muito comuns e Sailor Moon é uma franquia que gera produtos e parcerias o tempo inteiro.  Desta vez, a parceria é entre a Bandai Premium, detentora da marca Sailor Moon, e a marca de cosméticos Miracle Romance, que já lançou outros produtos de Sailor Moon.

A edição limitada de 2024 da Miracle Romance Shining Moon Powder está em pré-ordem neste momento, segundo o Sora News.

O design é baseado no Cosmic Heart Compact usado por Usagi na série Sailor Moon S, de 1994.  O centro do compacto é uma gema feita de zircônio cúbico, e todo o coração é revestido com banho de ouro rosa. Ao redor da gema central também há um holograma que dá ao design um brilho extra. O “2024” gravado sob a gema indica a natureza colecionável do produto.

Este broche especial em edição limitada já está disponível para pré-order na Premium Bandai por 16.500 ienes (R$546,67). As pré-encomendas estarão abertas até 5 de outubro às 23h, e os pedidos serão enviados em janeiro.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Artigo japonês discute as traumáticas mortes dos shoujo anime clássicos

Quando um grupo japonês da Rosa de Versalhes postou este link com a imagem de propaganda do novo anime da série de Ikeda, eu abri imaginando que traria mais detalhes sobre ele.  Nada disso!  Era somente uma escolha infeliz, porque o artigo é sobre as mortes traumatizantes ocorridas na Rosa de Versalhes, em Minky Momo e em Sailor Moon.  O foco é nas animações.  Não vou tentar traduzir, meu japonês é indigente, vocês sabem, só vou comentar mesmo.  O link original está aqui.

O autor, que assina como Luis Field (*sério*) abre seu texto assim: "Ao longo dos tempos, os shoujo anime continuam a fascinar os espectadores com seus personagens fofinhos e histórias emocionantes, mas alguns deles têm desenvolvimentos inesperados e representações chocantes. Apresentando obras de anime para meninas que terminaram com desenvolvimentos traumáticos."

O autor comenta que a expectativa ao assistir um shoujo anime é um final feliz, com a mocinha casando no final (*clichê*) e, não, com mortes que deixam a audiência traumatizada.  É típico comentário de quem não acompanha a dinâmica dos mangás shoujo, porque, desde as origens, o drama, o sofrimento, as mortes, a separação dos amantes, é algo muito comum.  Nos anos 1970, era o tempo inteiro isso.  sem descanso.  E isso valia mesmo para revistas que eram, oficialmente, para meninas mais novas, como a Nakayohi.

Daí, ele parte para comentar A Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), faz a descrição do mangá e parte para o final com Oscar buscando forças dentro de si após a morte de André para liderar seus soldados na Queda da Bastilha e morrendo em batalha.  O autor  diz que Rosa de Versalhes, mesmo se afirmando uma ficção, a série é bem realista, porque foi capaz de mostrar a morte de seus três protagonistas, terminando com a decapitação de Maria Antonieta e o linchamento de Fersen.

A seguir, ele passa para Sailor Moon (美少女戦士セーラームーン) e afirma que a série rompeu as fronteiras do shoujo mangá, conquistou leitoras no mundo inteiro e virou um fenômeno social (*correto*).  E ele descreve o clímax da primeira série (*acho*) com as Sailors todas mortas e somente Usagi sobrevivendo.  Esta sequência foi citada no especial de Sailor Moon da NHK como uma das que mais impactou a audiência, aliás.

O artigo traz, então, discussões de internet, comentários de fãs, imagino que feitos no Twitter, apontando que a série exagerou nesse seu capítulo final ao aniquilar todas as personagens que eram tão ativas e amadas, que tanta violência não seria boa para crianças, que entendem o motivo da sequência ter sido cortada em uma retransmissão da série.  Fico imaginando como alguém corta aquela sequência e não destrói o episódio, não lhe tira o sentido, enfim.  De qualquer forma, todas as sailors ressuscitam, obviamente, uma criança desavisada poderia achar que não.

Por fim, o autor fala de Minky Momo (魔法のプリンセス ミンキー モモ), série de 1982.  Nunca assisti, mas conheço a história e é bem complicada, sim.  Citando o texto: "Minky Momo, uma princesa de 12 anos da terra dos sonhos, chega a uma terra cheia de pessoas que perderam suas esperanças e sonhos.  Momo usa magia para se transformar em uma adulta de 18 anos e usa suas habilidades como profissional. A cena de transformação, que combinava feitiços e dança, foi inovadora na época e influenciou posteriormente os animes de garotas mágicas."  Mahou shoujo clássica, não é?  Pois bem, a pobre Momo morre no final da série ATROPELADA POR UM CAMINHÃO de Brinquedos.  Sim.  É isso.

Lendo a Wikipedia sobre o anime, é explicado que o autor, Takeshi Shudo, matou a personagem desta forma como um protesto contra a  Popy, uma empresa que produzia brinquedos, e que cancelara o patrocínio, porque as vendas dos produtos estavam aquém do esperado.  Série que a produção bancou isso por este motivo?  Mas a morte da personagem, segundo a Wikipedia, porque eu não sabia, e que graças a essa gracinha, as séries de garotas mágicas puderam lidar com temas mais pesados.  Sei... 

Eu sei que a morte de shoujo mangá que me impactou, lá quando eu tinha oito anos, foi em Candy Candy (キャンディ・キャンディ).  Anthony, o amado da mocinha, o menino perfeito, está feliz da vida, cai do cavalo e quebra o pescoço. Lembro que sai da sala e fiquei num canto do quintal um tanto atordoada. E Candy mergulha em uma depressão profunda.  O chato é que parou aí, nunca assistimos a série completa no Brasil e ainda teríamos pelo menos mais uma morte traumática, porque o primo do Anthony morre, também, só que lutando na 1ª Guerra.

Acreditei, porque era criança acostumada com desenho americano, que ele não tinha morrido, mas morreu mesmo.  No outro dia, era o assunto da escola.  E todo mundo que tem mais ou menos a minha idade, principalmente meninas, cujas TVs pegava a Record, que não era a da Universal, normalmente lembra disso.  Foi uma decisão de roteiro que indignou muita gente e, pior, Candy perderia outro amor antes do final do mangá/anime.

É isso, pessoal.  Para quem quiser ler em japonês, é só seguir o link.  Não acho que exista muito mais a falar sobre o texto.

sábado, 23 de setembro de 2023

Comentando Perdida (Brasil/2023): Uma fantasia escapista que homenageia Jane Austen

Ontem, assistir ao filme brasileiro Perdida, baseado no livro homônimo de Carina Rissi.  Não li o livro, nem o lerei, mas o filme é uma comédia romântica boba e  simpática e que não deixa nada a dever a similares norte-americanos, isto é, o fato de ser brasileiro não é justificativa para avaliar de forma mais dura o material.  Cheguei a rir em alguns momentos, sei que alguém viu Lost in Austen antes de escrever o livro, ou fazer o filme, e, provavelmente, logo irei esquecer de maiores detalhes da história, mas deixo registrado que Perdida é o melhor exemplo de uso de elenco color blind que assisti ultimamente.  Mas vamos ao resumo.

Sofia (Giovanna Grigio) é uma jovem moderna e independente, por ter sofrido algumas decepções amorosas, ela abomina (teme) a ideia de casamento.  A moça  trabalha em uma editora e está profundamente envolvida na produção de uma edição de luxo de Orgulho & Preconceito de Jane Austen.  Especializada em literatura inglesa, ela ama as obras da autora e os romances em seus livros são os únicos nos quais acredita.  Sofia tem seu projeto criticado por um colega de trabalho, que considera Jane Austen ultrapassada.  Ela estava interessada no rapaz e se decepciona.  Seu chefe também não parece muito empolgado com o projeto ao qual a mocinha havia se dedicado intensamente.  

Depois do embate pelo projeto, ela está furiosa e derrama café e estraga o seu celular, além de molhar um envelope com um original que uma estranha mulher havia lhe entregado mais cedo.  Para piorar, quando está em um barzinho depois do expediente, sua melhor amiga (*não consegui localizar o nome da atriz*) avisa que vai se mudar para a Austrália com o namorado e Sofia termina não recebendo bem a ideia.  As duas se desentendem.  Voltando para casa, Sofia pega um Uber e acaba em uma conversa louca com a motorista (Luciana Paes), que ela já tinha encontrado antes, mas não se lembra direito.  Como havia estragado o seu celular, a mulher lhe empresta o seu e vai embora deixando Sofia com o aparelho.

Este aparelho é mágico, a mulher, que se chama Abigail, é sua safada madrinha (*é o que está no celular dela*), e Sofia acaba sendo transportada para um outro mundo, ou seria o passado?  Lá ela encontra com um jovem chamado Ian Clarke (Bruno Montaleone), que a ajuda e, percebendo o estado de confusão mental da moça, a leva para sua casa. Conforme os dias vão passando, Sofia e Ian se apaixonam perdidamente um pelo o outro, mas a mocinha não sabe se deseja ficar, ela está confusa e dividida entre o seu mundo, a tecnologia, e o amor que acredita que pode ser verdadeiro.

Aviso que darei spoilers, não acho possível comentar o filme de forma apropriada sem revelar informações que podem, sim, tirar o prazer que algumas pessoas sentem ao assistir um filme.  Perdida investe pesadamente naquele clichê da mocinha obcecada por Jane Austen e, por conseguinte, por Mr. Darcy (*e sua encarnação como Matthew Macfadyen*); peguem Lost in Austen, ou Austenland e confirmem.  Há os que apontam dentro do próprio filme que acham o material de Austen antiquado, ou Mr. Darcy chato, mas pouco importa, nossa mocinha, como qualquer fã da autora, não está nem aí.  

Sofia é simpática, isso é fundamental para que a gente goste da protagonista.  Patricinha, meio sem noção, mas definitivamente boa gente.  E ela é uma profissional de verdade, seu emprego é importante e querido para ela, não é como a média das protagonistas desse tipo de história, que são mulheres frustradas no trabalho e na vida amorosa.  Ou seja, mesmo que o filme não explore isso de forma mais profunda, a escolha entre o presente e o passado é difícil.  Sim, verdade, mas ela é órfã, aparentemente sem irmãos ou irmãs, ou mesmo um animal de estimação, sua melhor amiga está indo embora, ou seja, não há quem deixar para trás.

Falando em passado, não é bem passado, a fada madrinha deixa isso muito claro.  Sofia não voltou para o Brasil de 1830.  No filme, é como se ela estivesse dentro de uma realidade alternativa na qual, inclusive, Jane Austen NUNCA existiu.  Sabemos disso, porque o mocinho, Ian, tem uma vasta biblioteca, inclusive com autores modernos para a época, e um nome inglês que sugere a origem de sua família, mas ele desconhece em a autora de Orgulho & Preconceito e qualquer de suas obras.  É Sofia quem termina por lhe dar a amostra da edição que está produzindo e o introduz ao universo de Austen.

Algo importante, só ouvi o nome de um país o filme inteiro, Inglaterra.  É lá que mora a tia de Ian e sua irmã, Elisa Clarke (Nathália Falcão).  Onde estamos?  É um Brasil de romance de época moldado a partir de uma Inglaterra misto de Regeência e Era Vitoriana aos moldes das toneladas de romances populares que estão no Amazon, e sem referências políticas evidentes.  É um lugar onde os marcadores raciais não existem.  Não é como em Bridgerton, que tenta de forma pífia explicar por qual motivo não existe racismo e escravidão.  Em Perdida, as pessoas de fato parecem não ter cor, isso é color blind de verdade.  Claro, o mocinho e a mocinha são atores brancos, isso fala muito sobre a produção do filme, mas isso não influi na dinâmica da história no mundo de fantasia criado pela fada madrinha.  

Perdida se passa em um mundo de fantasia inspirado nos romances de Austen, com dupla moral e mulheres com poucos direitos, classes trabalhadoras invisíveis e, no caso do filme, sem que as pessoas se perguntem de onde vem o dinheiro.  Neste caso, está tudo dentro do esperado desse tipo de produção.  Racismo é anulado, questões de gênero, não.  E a mocinha escolhe onde deseja estar movida pelo amor, porque a ideia do filme é vender que os sentimentos estariam acima da razão e do medo.  Diferentemente, do que ocorre em A Rosa Púrpura do Cairo, a mocinha escolhe o sonho.  

Claro, que o filme poderia ter nos oferecido uma visita de Ian ao nosso mundo contemporâneo, como ocorreu com o protagonista do filme de A Rosa Púrpura do Cairo e com Mr. Darcy em Lost in Austen.  Seria divertido.  Aliás, acho que Perdida poderia render uma boa série com quatro episódios.  Haveria tempo para aprofundar a história e criar algumas situações divertidas.

O conjunto de personagens do filme não é muito extenso.  Há os do presente (*melhor amiga, colega de trabalho escroto, chefe*), há os do passado (*em maior número*) e a que transita entre mundos, a fada madrinha.  Os do passado são os meus importantes.  Nathália Falcão é uma gracinha e estava linda com o figurino de época, as cenas que mostram sua fascinação pelos óculos escuros da mocinha ficaram muito boas.  Bia Arantes, que estava linda, também, era uma cópia da irmã de Mr. Bingley em Orgulho & Preconceito (2005), cabelo, figurino, postura, só que um pouco robótica, infelizmente.  Emira Sophia, a neta da personagem de Lucinha Lins, poderia ter rendido mais se fosse uma minissérie, a má influência da mocinha sobre a menina reprimida ficou evidente, mas poderia ser melhor.

E o mocinho?  Ai... Ai... Bruno Montaleone é muito bonitinho, fica bem em roupas de época, mas ele é fraco como ator.  Pode ser que melhore, talvez não tenha se adaptado bem a um papel de época, mas ele me lembrou Rodrigo Santoro no início de carreira.  Eu dizia que ele era como uma planta ornamental, linda, mas sem expressão.  Pior, é que eu só ficava me lembrando do Fábio e da Larissa do Coisas de TV chamando o moço de "Matheus Pinto de Ouro" em suas resenhas de Verdades Secretas II.  

Falando nisso, há uma cena de sexo bem casta no filme.  Eu realmente não esperava.  Achei que ela veio cedo demais e o mocinho não se comportou como deveria.  Primeiro, não se preocupou com a reputação de Sofia e a colocou fora de seu quarto de forma discreta; depois, não lhe fez uma proposta de casamento de imediato no dia seguinte.  Acredito que as deficiências dramáticas do ator não ajudaram muito a criar um clima.  E há toda uma pressão da sociedade, especialmente, através do conservador e preconceituoso Dr. Almeida (Hélio de la Peña) para que ele se case para dar exemplo e preservar o bom nome da família.  Sendo Ian tão jovem, dono de suas propriedades, bom administrador, ele não teria que se preocupar com essa urgência em um mundo como o da história.  Ficou estranho isso.

A protagonista, Giovanna Grigio, está muito bem.  A atriz é bem competente e até se sairia melhor se o roteiro exigisse mais.  Me incomoda, no entanto, que ela saiba dançar e montar à cavalo com tanta desenvoltura.  Ela deveria cometer algumas gafes, a única que é explorada de forma mais convincente é a falta de papel higiênico mesmo.  Falando em Bechdel Rule, o filme cumpre, sim, tem várias personagens femininas com nomes, elas conversam entre si e não somente sobre um homem, até porque, Sofia, a forasteira de hábitos estranhos, que fala de forma esquisita, é o principal assunto de todo mundo no filme.

Já caminhando para o fim, preciso falar de figurino.  No geral, as roupas das personagens principais são muito bonitas, salvo as de Emira Sophia, eu diria.  Nathália Falcão ficou particularmente linda em seu vestido azul do baile.  Bia Arantes também tem alguns vestidos muito bons, especialmente o verde do baile.  Agora, o vestido de baile de Sofia ficou estranho, mas o resto das roupas era OK.  Achei curioso que optaram por colocar todos dançando da mesma maneira e ela e Ian de forma diferente.  Agora, mesmo bonito, o figurino era uma salada.

Deram a data, 1830, mas os vestidos das protagonistas pareciam de vinte anos antes.  Eram mora Império/Regência, não dos anos 1930.  Por qual motivo não colocaram o filme entre 1810-1815? Lucinha Lins parecia estar vestindo roupas do final do século XVIII e me lembrei de Lady Catherine de Burgh em Orgulho & Preconceito (2005). Mas eis que no baile de Elisa, ela aparece usando um típico penteado maluco dos anos 1830.  E havia pelo menos uma figurante no teatro com uma roupa que gritava década de 1890. Sei lá, a falta de coerência me incomodou um tanto.

É isso.  Não sei se Carina Rissi é mais precisa em sua história e geografia nos livros, não os li.  Já escrevi sobre as acusações que lhe fizeram por omitir a escravidão e oferecer ZERO diversidade.  Só que isso, no filme, da forma que foi construído, não vem ao caso, é irrelevante, porque salvo a data, nada nos obriga a tentar imaginar que estamos do Brasil da mesma época, ou em qualquer lugar de nosso mundo.  

Perdida é uma peça escapista que celebra Jane Austen (*há uma carta muito importante na história, nada mais austeniano*) e que não tem vergonha de defender que um mundo de fantasia (*não o passado, vejam bem*) sem direitos para as mulheres, tecnologia, vacinas é a melhor opção para uma patricinha entediada se o boy for moreno, rico e gostoso.  Agora, a fada madrinha avisou que a escolha seria definitiva, sem volta.  Já era.  É basicamente isso e é ótimo ver uma comédia romântica brasileira descerebrada conseguindo um lugar ao sol.