sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Subcultura Erótica dos Animes se torna Mainstream



O artigo original está no site MSBC e o link estava no ANN. Fiz vários comentários e o que mais me saltou os olhos foi a tentativa deliberada (*pode ser desconhecimento, também*) de associar shounen/seinen e mesmo shoujo mainstream com hentai de verdade, sem discernir entre material para adolescentes e material erótico/ponográfico adulto. Também achei graça na falta de crítica em relação ao relacionamento intimo de alguns fãs de lolicon com pornografia infantil de verdade. Essa de fãs de lolicon abominam pedofilia é muito generalizante. A falta de percepção em relação da relação de dominação das mulheres está evidente, também, mas comento várias coisas em nota. A tradução foi feita de forma rápida e pode estar realmente abaixo do ideal.
Subcultura Erótica dos Animes se torna Mainstream

Cada vez mais americanos são atraídos para “zona livre de moral” dos quadrinhos fofos e sexuais

By Brian Alexander

MSNBC contributor

updated 8:35 a.m. ET Sept. 11, 2008

Qualquer um que duvida da rápida influência da cultura erótica importada do Japão nos EUA só precisa gastar um pouco de tempo brincando com um um vibrador da Hello Kitty enquanto lê um fanzine pornográfico de Pokemon – ou visitar um “maid café” (agora disponíveis perto de LosAngeles e no Canadá) no qual as garçonetes atendem todas fantasiadas – para compreender de que não se trata mais de uma subcultura marginalizada.

Há um bom argumento, baseado nas personagens somente, de que todos nós estamos “virando japoneses” conforme a música dos anos 80 toca – especialmente na área sexual.[1]

Estes personagens catunescos e sexualizados são todos parte da cultura otaku. Otaku é uma palavra japonesa que desenvolveu-se a partir do significado "techno-geek" para descrever fãs devotados que se envolvem profundamente com a animação (anime), mangá, hentai (quadrinhos eróticos) e outras mídias derivadas dos quadrinhos. Como a recente colaboração fashion do designer Marc Jacobs e do artista japonês Takashi Murakami bem ilustrou, a cultura otaku está firmemente colocada dentro da moda americana mainstream.

Quando as convenções de anime começaram a acontecer nos EUA em meados dos anos 90, os participantes eram principalmente universitários do sexo masculino com origem asiática, diz o expert otaku Lawrence Eng de 32 anos. “Agora, pelo menos 50% da audiência é feminina,” ele diz. “O Fandom se tornou mais diversificado do que nunca.”

Dentro da esfera adulta da cultura otaku, o fofinho é fetichizado (daí os “sex toys” de Hello Kitty) e o gênero[2] é freqüentemente torcido ou dissolvido completamente. Mulheres são penetradas por octopus e jovens com roupas de colegial salvam o mundo.[3] Homens, por outro lado, são com freqüência adoradores de pequenas figurinhas que retratam personagens sexualizadas.

Claro que nem todo anime e mangá é abertamente sexual –muitos são direcionados para as crianças. Mesmo alguns animes adultos não são sexualizados em medida maior do que, vamos dizer, a Mulher Maravilha (que foi criada como uma fantasia de dominatrix bondage).[4]

Mas animes sexualmente sugestivos como “Gurren Lagann” e “Legende of the Overfiend,”[5] está encontrando uma ávida audiência de adultos norte-americanos que se sentem atraídos pelo caráter massacrante pós-moderno, quase pós-humano divertido, moralmente dúbio encontrado nesse gênero.[6]

“O apelo da cultura pop japonesa [para os norte-americanos] está no fato dela ser uma zona livre de qualquer moral,” explica Patrick Macias, editor-chefe da Otaku USA, uma revista bimestral com circulação aproximada de 60 mil exemplares. “As idéias de bem/mal, certo/errado, esta dualidade não está presente.”[7]

Lolicon Culture

Ainda que os animes adultos possam ser fascinantes porque eles transcendem as fronteiras da realidade normal, há um enorme potencial para mal entendidos. Por conta dos elementos mais limítrofes tais como o “lolicon” (ou Lolicom, uma combinação de “Lolita” e “comic”) envolvendo meninas muito jovens em situações eróticas, a media otaku adulta é um “tópico realmente sensível” nos EUA, diz Macias.

“Quando encontramos tais imagens, estamos realmente em certo tipo de abismo,” Macias diz.

Na verdade, tentar explicar o apelo do Lolicon tem se tornado um sério campo e estudos para alguns poucos sociólogos.

O apelo pode estar no desabrochar do erotismo, alguns teorizam. Ou, como a socióloga britânica Sharon Kinsella sugere, o Complexo de Lolita na cultura dos animes tem apelo porque é uma forma de rebelião. “Representação de desvios sexuais e energia ilimitada projetadas sobre as garotas em quadrinhos masculinos... contém um impulso anti-autoritário que ganha em intensidade prazerosa na visão de cenas de caos social, mau comportamento liberação sexual,”[8] ela escreveu.

O que quer que isso seja, para um otaku de verdade, Eng diz, não se trata de pedofilia.[9] “Os fãs abominam modelos [de verdade] que parecem muito jovens,”[10] ele diz. “Eles abominam pornografia infantil real. Eles não querem ser associados com esse tipo de material.”

Por exemplo, recentemente em um fórum Lolicon, alguém postou a capa de um DVD japonês mostrando colegiais de verdade, por volta dos oito anos, vestidas com seus uniformes, mostrando suas calcinhas, sorrindo, dando risadinhas. A comunidade ficou horrorizada e exigiu dura punição para os autores do DVD, argumentando que existe uma grande diferença entre “2-D” e “3-D”. [11]

Mais satisfatório que a vida real

Alguns otaku tentam transformar os cartunescos objetos do seu afeto em figuras sexies 3-D de personagens de anime, ou de Idols japonesas, geralmente pop stars ou modelos de biquíni, que podem ser compradas.

Esta talvez seja a maior influência japonesa sobre o sexo dos americanos. Na cultura otku, o gênero é cada vez mais fluído e intercambiável. Brincar e fantasiar são mais importantes do que fazer sexo com uma pessoa real. Entre alguns otaku, observar o amor e o sexo nos animes tornou-se uma experiência significativa, mas satisfatória do que a vida real, Macias diz.

“Entre os fãs japoneses – os rapazes – é motivo de orgulho dizer, “Nós não precisamos de mulheres reais; [estas] figures são melhores, elas não nos desafiam”[12] diz Macias. “Os americanos ainda não chegaram até este ponto, mas na proporção em que as coisas estão indo, nós estamos prestes a ver isso.”

Os fãs americanos não vão tão longe – nas convenções nos EUA, por exemplo, homens e mulheres otaku se socializam, namoram e algumas vezes realmente se apaixonam, diferente dos seus contrapartes japoneses. Mas em ambas as culturas, Eng acredita, a popularidade crescente do [estilo de vida][13] otaku é uma reação positiva aos problemas da alienação global, o ataque da cultura de massas sobre a identidade individual, a transformação dos papéis de gênero, e “a falta de grandes narrativas satisfatórias”.[14]

Macias concorda e tem pouca dúvia que [a cultura] otaku irá influenciar as atitudes em relação ao sexo e a sua expressão aqui [nos EUA]. “Quando vemos um garoto sentado na Bords lendo mangá, ele não está lendo somente um quadrinho,” Macia diz. “Há algo realmente poderoso acontecendo ali.”

Brian Alexander is the author of the new book “America Unzipped: In Search of Sex and Satisfaction."

© 2008 MSNBC Interactive


[1] Tive dificuldade em traduzir isso aqui “There is a good argument to be made, based on those characters alone, that we are all “turning Japanese” as the '80s song goes — especially sexually.”. Essa referência à canção dos anos oitenta deve ser uma expressão idiomática que eu não conheço.
[2] Gênero aqui se refere a papéis e comportamentos sociais comumente atribuídos a homens e mulheres.
[3] O que Sailor Moon tem e adulto?
[4] E aqui o autor perpetua essa fantasia que Lillian Robinson desmontou em Wonder Women – Feminismis and Superheroes. Bondage estava presente em todas as histórias de supers da época. Não raro o herói do sexo masculino, adulto ou criança, era capturado e amarrado pelo vilão, mas, claro, que somente a Mulher Maravilha era uma fantasia fetichista erótica. É preciso esvaziar toda a carga de feminismo e estímulo às meninas que a heroína representava nos seus primeiros anos.
[5] Agora ele mistura no mesmo saco um anime shounen (*ou seinen, sei lá*) mainstream com um hentai, Urotsukidoji: A Lenda do Demônio (超神伝説うろつき童子), que já foi exibido inclusive na TV pela Bandeirantes.
[6] OK. Para ele os dois são hentai MESMO.
[7] Certo, então ela pode ser encontrada bem limpinha assim nos produtos da cultura pop dos USA, tipo filmes e quadrinhos atuais para adultos? Claro, que é essa falta de moral que atrai, não o traço, ou a história, ou a complexidade encontrada mesmo em material bem rasteiro, quando colocados lado a lado com certos produtos americanos. Isso me cheira à difamação e protecionismo, sabe?
[8] E nenhuma nota sobre a apropriação dos corpos das meninas? A questão da submissão e da utilização de crianças e garotas bem jovens para reforçar o poder masculino? Não li Kinsella, mas a leitura da autora apresentada no texto me parece muito parcial. Violência contra as mulheres como forma de libertação das amarras sociais? OK, me contem outra.
[9] Há! Há! Há!
[10] Há! Há! Há! [2] Vide esse artigo que traduzi e, claro, basta observar a cultura norte-americana e sua fixação pela punição dos pedófilos. Se eles não existissem, não haveria porque puni-los, e se a ênfase é tão grande, é porque há algo de obsessivo na própria cultura mainstream.
[11] Há! Há! Há! [3] A primeira vez em que vi esse tipo de material, quando comentei com meu marido do artigo do Mainichi, foi em fóruns de fãs de anime em língua inglesa que não se sentiam nem um pouco ofendidos com essas imagens, nem faziam reflexões profundas sobre a questão. Havia galerias de imagens para tudo desde as mais inocentes, o que eu chamaria de mainstream, passando por hentai, figures, modelos adultas reais, lolicon e, sim, essas modelinhos de seis, sete, oito anos em poses que misturam inocência e sensualidade. Esse cara está querendo enganar a quem?
[12] Ah, finalmente uma palavra sobre a associação entre este tipo de subcultura e o medo das mulheres reais e o desejo de submissão feminina.
[13] Acho que era isso o que faltava aqui.
[14] Ideologias, discursos religiosos ou científicos que dêem sentido ao mundo.

4 pessoas comentaram:

O comentario sobre "Estamos Virando Japoneses" se refere a esta musica

http://br.youtube.com/watch?v=qb5Ii0iIcXo

Espero que tenha ajudado!
Seu blog é sempre muito bom de ler

Muito obrigada (*duas vezes*). Em música eu sou um ZERO à esquerda. :)

Não fui na matéria original e não vi se o erro foi deles ou d tradução, mas Lolicon = fusão de "Lolita" e "complexo", e não de "Lolita" com "comic".

Gabriela, foi erro do original. E os americanos estão metendo o pau no autor por causa disso.

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