quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 9)


Esta é a nona parte do terceiro capítulo, a anterior está aqui. Já estamos nos encaminhando para o final do capítulo, como vocês podem notar. Para quem não sabe do que se trata, estou postando uma história que venho escrevendo faz algum tempo. O primeiro capítulo se chama Ecos do Passado e o segundo Sem Olhar para Trás. Disse que iria postar continuar postando direto até o final do capítulo 3 e fico sempre no aguardo dos comentários e sugestões de vocês, pois assim posso melhorar e mexer em coisas que não estejam funcionando. Estou mudando coisas em relação à versão original, que algumas poucas pessoas (*viu Aline? Obrigada por comentar.*) leram, mas, ainda assim, trata-se de um texto de mais de dez anos.
Ventos de Mudança
Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 9)

— Senhora, eu ajudarei a tirar...

— Não, não há necessidade. — Alda falou, tão logo se viu na câmara nupcial. — Obrigada, mas posso me trocar sozinha.

— Mas, Senhora...

— Onde está meu baú? — Perguntou, ignorando absolutamente a serviçal. — Ali está. Pode sair agora. Vamos! — Disse batendo palmas e avançando sobre a criada que foi recuando até a porta. — Saia! Se precisar de algo, chamarei. — Pensou um pouco. — E se Meu Senhor vier, bata na porta. — Ela ficou bem ereta e assumiu o seu ar mais arrogante. — Fui clara?

— Claríssima, Senhora. — A moça se curvou. — Com sua licença. — E saiu.

Tão logo se viu sozinha, Alda abriu o baú com a chave que pendia de uma corrente no seu pescoço. Dentro dele, além das roupas que usara em sua estadia na Corte, estava sua roupa de caça, trazida para uma emergência, e seu arco, aljava, espada e punhal, além do tinteiro, caneta e papel. Retirou a coroa e o vestido e os atirou sobre a cama. Este ato fez com que se sentisse mais leve, como se uma tonelada tivesse sido arrancada de seus ombros. Vestiu-se o mais rápido que pode e passou à parte mais dolorosa: seu cabelo.

Seu imenso e adorado cabelo, que jamais havia sido cortado, não combinaria com a vida que iria levar, além disso, lembra-la-ia, dia após dia, de tudo o que deixara para trás: seu pai, sua posição, sua segurança, sua riqueza... Não precisaria dele, como não precisaria de suas roupas caríssimas ou de suas jóias e criados. Além disso, sem seu cabelo poderia se disfarçar melhor, e passar por um rapaz sem muito esforço. “É preciso esse ardil para que o plano dê certo! Será como um rito de passagem. Cortá-lo é cortar o vínculo com o passado. A velha Alda desaparece hoje, como a santa da história que papai uma vez contou...”

Pegou uma tesoura e, diante do espelho, encostou-a na longa trança, sua mão tremeu e ela fechou os olhos. “Como eu posso fazer uma coisa como essa! Como!” Mas era preciso e, com mão firme agora, ela levou o trabalho adiante. Uma trança se foi. Era como se tivesse se mutilado, cortado uma parte do seu próprio corpo. Respirou fundo, precisava correr. “Falta uma!” A outra também se foi. Quase não reconheceu sua imagem no espelho. “Agora, pareço uma pobre ovelha tosquiada!” Pegou as tranças e colocou dentro da bolsa que pendia de sua cintura, respirou fundo, fechou os olhos e jurou no seu íntimo que não voltaria atrás, iria até o fim, fosse qual fosse o resultado, e, se não fizesse dessa forma, Deus deveria puni-la com o pior de todos os seus castigos. Recolheu meticulosamente todos os fios de cabelo que estavam visíveis. Não poderia deixar rastro.

Foi até a janela. Lá embaixo, não havia ninguém, pois a maioria da guarda estava concentrada onde o Príncipe Guilherme se encontrava preso. Ela assobiou e Flecha veio voando, trazendo nas garras uma escada de cordas.

— Muito bom, garota! Sabia que você e Erik estariam esperando por mim.

Amarrou a corda no pé da cama e puxou para ver se estava firme. “Perfeito!” Depois começou a descer, sem dificuldade, pois, em sua terra natal, tinha o costume de escalar as encostas íngremes e perigosas, diante das quais, aquela parede era brincadeira de criança. Alguns minutos depois chegou ao chão.
XXX
— Tudo certo Erik? Erik! — O rapaz demorou a responder, porque perdera a voz, tão chocado estava com o que ela fizera com seu cabelo.

— Eu... — Pigarreou e depois se aprumou. — Sim, tudo preparado. Eu selei três cavalos negros. Eles estão ali adiante. — Fez pausa. — Deus, eu ainda não acredito que você... Como pode fazer algo assim? — Ele estava chocado.

— Eu sei. Eu mesma quase não consegui. Mas como poderia me esconder com aquelas tranças enormes? — Fez pausa. — Era necessário e... ele crescerá de novo... um dia! — Ela sorriu rapidamente. — Mas você também fez alguma coisa com o seu cabelo...

— É tinta... Se vamos fingir que somos irmãos, nos disfarçar, seria melhor que meus cabelos fossem escuros como os seus. Acredito que lavando algumas vezes, eu voltarei ao normal. Mas você...

Alda respirou fundo e tentou retomar ao plano. Era preciso ter pressa:

— E a guarda, Erik?

— Contingente reduzido. Muitos estão bêbados. Só que o Príncipe Guilherme está bem guardado. — Fez pausa. — Cerca de vinte guardas. Mesmo que possamos atingir alguns, o alarme seria dado.

— Ele sabia que isso iria acontecer. — Olhou em torno. — E por falar em Lívio, onde ele está? Ele saiu do salão bem antes de mim! — Erik fez sinal de que não sabia.

— Eu estou aqui, Senhora! — Lívio saiu das sombras vestido de guarda. — Foi um pouco complicado conseguir estas roupas, entretanto... Deve ter sido bem mais difícil para você, com certeza. — Disse referindo-se ao cabelo da moça. “Mesmo assim, ainda me parece bela. Muito bela e corajosa. A mulher mais corajosa que já encontrei!”

— Seu rosto... — Ela retirou sua luva e tocou no rosto ferido do rapaz.

— Não foi nada. — Disse isso e virando um pouco o rosto, roçou os lábios na palma da mão da moça, desejando que ficassem assim por toda a eternidade. Ela retirou a mão rápido ao sentir o toque e ele voltou ao plano. — Eu lhes garanto que o grupo de vinte vai virar meia dúzia! E vocês poderão passar. Quem venceu um torneio tão disputado, não terá problemas com simples guardas, ainda mais com ajuda.

Erik balançou a cabeça. E Alda se lembrou de uma coisa:

— Um mago falou comigo... Bem, ele me deu uma poção que impede que leiam meus pensamentos. — Ela olhou para ele preocupada. — O mago disse que Sir Richard pode ler pensamentos... E você...

— Ele não pode ler meus pensamentos. — Ele não tinha tempo para explicar. — Eu não posso ler pensamentos, mas ninguém pode ler os meus, a não ser que me torture de verdade, a ponto de romper minha disciplina... Mas, se isso acontecesse, muito provavelmente eu estaria meio morto. — Viu que poderia alarmar Alda. — Mas ninguém fará isso comigo, fique tranqüila. — Fez menção de se retirar.

— Espere, por favor. — Alda se aproximou dele. — Obrigada pela ajuda... — Ela lhe deu um leve e rápido beijo no rosto, sobre o ferimento. — E pela gentileza, também.

— Não me agradeça. — Ele sentiu-se corar. — Eu só estou fazendo o que meu coração e consciência dizem que é certo.

— Por que não vem conosco então? — Perguntou. — As profecias falam de um cavaleiro estrangeiro... Pode ser que o cavaleiro seja você! — Ela queria sinceramente que isso fosse verdade.

— Não creio nisso e não podemos nos enganar. — Ele balançou a cabeça. — Esqueceu que eu não sou um cavaleiro? — Sorriso melancólico. — E, além disso, talvez eu seja mais útil onde estou agora, Senhora. — Beijou-lhe a mão. — Nos veremos de novo, eu sei. — Alda abriu a bolsa e retirou suas tranças.

— Entregue uma a meu pai. É mais um favor que me faz... E a outra...

— Com certeza será entregue, Senhora. — Ele tomou-as com cuidado e as beijou, como quem beija uma relíquia sagrada. — A outra será o meu tesouro, Senhora. — Erik que estava de lado e tomando conta, sentiu-se consumir de ciúmes.

— Meu nome é Alda. — Ela o interrompeu. — Não me chame mais de Senhora! — Ela pediu, pois queria ouvi-lo pronunciar seu nome... pelo menos uma vez.

— Alda... — Ele apertou os lábios, pois queria dizer outras coisas, muitas coisas, só que não havia tempo, nem era o lugar. Ele sabia que Erik estava se consumindo bem perto dele. O que ele sentia era tão evidente que era como se o olhar do outro moço o queimasse. — Façam sua parte e aguardem meu sinal. — Ele fez uma mesura rápida. — Adeus! “Adeus, meu amor!” Que Deus esteja com vocês! “E eu possa vê-la de novo!”

4 pessoas comentaram:

Nem precisa agradecer, Valéria.
Sou fã dessa história e fico feliz em ter a possibilidade de ler mais coisas dela.

Você já sabe, de minha parte dou todo o apoio para que você continue escrevendo-a!

Pode excluir o primeiro comentário e esse aqui, por favor? Os caracteres do verificador de palavras saíram na mensagem...

Ola.
Voltei e parece que num momento de mudança.

A historia continua boa e vc continua sabendo despertar o interesse p/ o proximo xapitulo.

Só faria uma ressalva no momento do corte do cabelo. A cena em si é classica e importante mas acho que vc exagerou ao fazer a personagem dizer que era um rito de passagem, um sinal de mudança. Me parece que a ideia ja fica aparente no proprio ato.

Bem, é isso.^^

Anderson, bom ter você de volta. :)


E obrigada, Aline.

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