sábado, 12 de janeiro de 2019

O Dia em que Quase Fiquei Viúva (Off-Topic)

 

Vou fazer um pequeno relato do que aconteceu ontem com meu marido, porque foi por muito pouco que não o perdemos. É um off-topic e é possível que seja o único post do dia no blog.

Estamos no Rio de Janeiro, onde a maioria de nossos parentes mora, e que é muito maior do que a Zona Sul e a Barra da Tijuca.  Meu marido estava vindo de Campo Grande, onde mora o irmão dela, para São João de Meriti, onde residem os meus pais, de Uber. Em Deodoro, onde sairia da Avenida Brasil para passar por Ricardo de Albuquerque, Anchieta, até chegar na Estrada Rio do Pau, havia um engarrafamento. O Uber sugeriu uma rota "alternativa" e meu marido estava acompanhando com o Google Maps. Chegaram a um ponto no qual os aplicativos divergiam. O motorista seguiu o Uber, claro, eles passaram por uma viatura da polícia na esquina e entraram em uma rua. Segundo ele, uns 300 metros depois foram cortados por um carro com traficantes que já apontaram um fuzil da janela e mandaram descer do carro. O Uber tinha jogado os dois dentro do Complexo do Chapadão, que se estende pelos bairros de Costa Barros, Pavuna, Anchieta, Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, a favela mais perigosa do Rio de Janeiro no momento. Bastou entrar em uma rua errada, simples assim.


Fuzil na cabeça, deitar no chão, chutaram o pobre motorista, revistaram tudo. Pediram os celulares para confirmar se realmente eles estavam perdidos. Desconfiaram que meu marido era militar. Pela primeira vez, o Júlio tinha atendido o meu pedido e não havia levado a identidade militar. Eu acredito que foi o que fez a diferença, mas havia um cartão do HFA e eles o questionaram sobre isso. Passou um moleque de moto, ele queria ver o celular do meu marido, mas os traficantes que estavam fazendo a segurança de fronteira o mandaram embora. Enquanto tudo isso acontecia, carros e transeuntes passavam como se nada estivesse acontecendo, porque, bem, deve ser normal uma situação dessas aí.

Cortando aqui, tanto o motorista, quanto meu marido, foram liberados. Não roubaram nada, nem as vidas, nem os pertences. Eram simplesmente sujeitos cumprindo seu dever, isto é, mantendo a segurança do feudo, porque é meio isso que o Rio de Janeiro se tornou faz tempo, um conglomerado de feudos com algumas ilhas onde o poder público (*parece*) funcionar. Talvez, a ordem fosse não chamar a atenção da polícia, afinal, uma das primeiras coisas que falaram para meu marido quando o quase identificaram como militar foi "Estamos em guerra". Meu marido desceu do Uber em Ricardo. O motorista não tinha condições emocionais de continuar a viagem. Terminando, alguns pontos agora:

1. Cuidado com as identidades militares. Nenhuma novidade.

2. Cuidado com os aplicativos. Outra não-novidade. Vamos mandar um feedback para o Uber, eles precisam consertar isso.

3. Se você acha que com uma pistola poderá se safar de um bando de traficantes com vários fuzis, porque viu isso em um filme, ou em um vídeo game, você é muito idiota.

4. Meu marido, um ateu convicto, não fez nenhuma revisão de suas crenças em virtude do ocorrido, já eu tenho todo o direito de acreditar que Deus salvou-lhe a vida. Nenhum de nós se sente ofendido pelas crenças alheias.


E, não, isso não acontece o tempo todo com todo mundo, mas pode acontecer com qualquer um. De resto, um aplicativo jogar você dentro do Chapadão deveria resultar em indenização, porque é de uma crueldade sem limites. E se fosse à noite? E se os guardas de fronteira não cumprissem com as regras internas de sua facção? É isso.

2 pessoas comentaram:

Sinto muito pelo ocorrido, Valéria.

Poxa, Valéria, sinto muito que isso tenha acontecido. Espero que você e seu marido passem bem.

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