quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Sobre o beijo, a Globo e a Hipocrisia


Eu realmente não assisti a novela América. Não porque eu não assista novelas, que fique bem claro, mas eu não suporto a Glória Perez e este seu último rebento me pareceu particularmente detestável. Também não sentia muita simpatia pela personagem homossexual, não pelo desempenho do ator, que nas poucas cenas que vi pareceu se esforçar muito, mas por reforçar estereótipos: gay é sensível, estilista é profissão essencialmente gay e por aí vai. Ninguém que viva no mundo real deixou de esbarrar em homossexuais machistas e grosseiros, além disso, não existe profissão "gay", existem pessoas de homos e heteros distribuídas em todas as profissões possíveis e imagináveis. Dito isto, vamos ao tema.
Não vi o último capítulo da novela, pois cochilei. Estava muito cansada. Mas acompanhei as notícias e esperava o beijo. Quando vieram com aquela que a Glória Perez tinha censurado, não acreditei. Ela é louca, irresponsável em muitas de suas tramas, mas não seria hipócrita para criar uma situação como essa. O desenvolvimento da personagem e seu relacionamento pedia um beijo... mas homem beijando homem não pode. E a Globo terminou admitindo - depois de alguma pressão da mídia - que censurou. Na verdade, tudo foi uma grande jogada de marketing. fez-se propaganda enganosa para conseguir audiência e muita gente caiu... Muita gente mesmo! E deveriam poder denunciar a emissora no PROCON.
Já houve beijinhos e outras coisas entre mulheres nas últimas novelas. Mas duas mulheres lindas - sempre são bonitas - despertam o desejo masculino, seus fetiches e levantam o IBOPE. Colocar uma butch só se for para fazer "humor" rasteiro. Aliás, nem uma mulher mais comum pode ser atirada em um papel de lésbica, porque não teria nem função erótica, nem função cômica.
Engraçado, é que muita gente acha que existe mais flexibilidade quando o assunto é homossexualismo feminino, mas o que há é uma crença de que só há sexo quando há homem no meio. Entre mulheres, não há sexo, há brincadeira, ou equívoco. Daí as atrizes envolvidas serem sempre delicadinhas, bonitinhas, já que não se pode ferir a sensibilidade masculina e não pode haver dúvida de que aquilo não é sério, de que estão simplesmente brincando, atiçando os homens, deve-se deixar claro que não há ameaça ao establishment. Esse é outro tipo de discriminação, muito cruel e igualmente sórdido, só que muita gente não quer ver, nem quer discutir.
Pois bem, passada a tempestade, e o beijaço aqui de Brasília que, na minha opinião, deveria ser em frente a sede da Rede Globo no Rio, sai uma matéria na Folha de São Paulo entitulada: "Por 'engano', Globo exibe filme impróprio ". Resumindo, para ganhar em audiência da Record, a emissora que se preocupa com os valores da família, colocou por engano no ar, no meio da tarde, um filme que era recomendado para as 21 horas. Alguém aqui acha que o "padrão Globo de qualidade" preocupadíssimo com "a moral, os bons costumes e as criancinhas" deixaria passar um filme sem que ninguém fiscalizasse? Só que violência pode, especialmente se for para ganhar da concorrente.
Mas fique claro que violência de anime, também não pode, pois os desenhos japoneses representam risco para as crianças e também precisam de censura pelo bem da família. Aliás, é interessante ver o quanto as produções japonesas têm sido mutiladas. E a censura vai desde às falas até cenas. Nunca me esquecerei do sutiã ditalizado em uma youkai em InuYasha... Mas vamos em frente.
Eis o ponto: TV não deve educar ninguém. Pais e mães preocupados devem estabelecer o que seus filhos podem ou não assistir. Devem estar dispostos a esclarecer e ensinar. Desligar a tv e trocar de canal é responsabilidade dos pais. E seria legítimo se muitos o fizessem porque não queriam que seus filhos e filhas vissem o beijo. Só que a maioria não se importa ou não quer se posicionar. Fora, claro que não se vê ninguém reclamando que a família é agredida quando as novelas não mostram as pessoas fazendo sexo seguro, ou quando criam um boom de grávidas lindas e as apresentam assim às adolescentes (*porque que fique claro, as crianças sempre tem mãe, mas muitas nunca terão pai*).
O beijo dos dois rapazes não iria mostrar nada que não exista, mas foi cortado por preconceito. Já estava ganha a audiência, não havia mais nada em jogo, portanto. Toda uma parcela da população se sentiu ignorada, ofendida, excluída. Se não queriam que a coisa evoluísse para aquele final, que houvesse intervenção antes, ou não incluíssem as personagens na trama. Mas é aquilo, (homo) afetividade não pode, violência, falta de ética, promiscuidade, pode. Para mim, a melhor colocação a respeito veio do Charges.com.br Vale a visita.

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