Ontem, terminei de ler "Gilberto Braga: O Balzac da Globo - Vida e obra do autor que revolucionou as novelas brasileiras", livro de autoria de Mauricio Stycer e Artur Xexéo, lançado no dia 10 de janeiro. Trata-se de uma biografia de um dos maiores novelistas da TV brasileira, o que melhor representou os muito ricos nas telenovelas, um grande gênio que contabilizou muito mais acertos do que erros ao longo de sua longa carreira. Braga faleceu em 26 de outubro de 2021 e não lhe dediquei nenhum post no blog. Erro meu, porque apreciadora, ou não, da obra de Gilberto Braga, é absurdo não ter lhe dedicado algumas linhas pelo menos pela importância que ele teve para a teledramaturgia do país.
O livro póstumo estava sendo planejado desde muito tempo, mas seu atraso deveu-se a uma perda anterior, o autor e responsável por boa parte da extensa pesquisa, o jornalista Artur Xexéo, que havia escrito biografia de Janete Clair, faleceu em 27 de junho de 2021, sem concluir o trabalho. A obra só foi publicada, porque o próprio Gilberto Braga entrou em contato com o jornalista Mauricio Stycer propondo que ele levasse adiante o projeto. Stycer aceitou o desafio e mergulhou no extenso material já pronto, além de ampliar a pesquisa. O revisor do livro foi o também jornalista, Nilson Xavier, um dos maiores especialistas em telenovela em nosso país.
Muito bem, o livro de 368 páginas e é dividido de forma cronológica, além de contar com alguns capítulos temáticos (viagens, casamento, anfitrião impecável, a questão da alienação política, saúde delicada etc.), fora isso, traz no final listas dos favoritos (filmes, músicos, trilhas sonoras), obras do autor, bibliografia. O livro em si começa antes do nascimento do autor, traçando sua linhagem paterna e materna. A abertura é com um capítulo sobre o assassinato da avó materna de Gilberto Braga, Rosa, algo que ele só comentou nas entrevistas dadas à Xexéo, pois o incidente era doloroso para a família.
Rosa, mesmo no início do século XX, foi mãe de dois filhos sem ser casada, o mais velho, Durval, sequer sabia o nome do pai, mas foi assumido por Raul Tumscitz. A devoção do pai de Gilberto Braga era tamanha pelo homem que o adotou como seu e lhe deu seu nome, que mesmo depois do pai matar sua mãe, o defendeu, não o crime, que fique claro, mas que a doença psiquiátrica que o atormentava o levou a cometer o ato de violência. E Durval o visitou no manicômio judiciário até o fim de seus dias, levando, inclusive, os filhos com ele. Sim, Raul Tumscitz era provavelmente esquizofrênico e começou a ver comunistas em todo lugar e crer que sua esposa os estava escondendo dentro de casa. Matou Rosa em 1945, poucos dias antes do nascimento do futuro novelista.
É engraçado que Tumscitz terminou sendo o único sobrenome do autor, ele não tinha uma gota sequer de sangue austríaco, mas o livro comenta como Braga ouviu mais de uma vez que era visível que ele tinha origens germânicas, ou judaicas. O Braga, que ele assumiu como nome artístico já na Globo, era o sobrenome materno. O motivo da mudança, segundo o próprio autor, era a dificuldade de pronunciar o seu sobrenome, melhor o Braga, então. A primeira parte do livro comenta sobre a família tradicional que trocou a Tijuca por Copacabana e a educação de Gilberto Braga, marcada pelas idas ao cinema e ao teatro, pela preocupação de seus pais com o aprendizado de línguas, pelo desprezo pela televisão. Além do sonho frustrado da mãe de vê-lo ingressar no meio militar.
Este sentimento de que a TV era inferior ao cinema e ao teatro irá marcar as falas do novelista ao longo de sua vida. Durante toda sua carreira não negou a influência do cinema, especialmente, o norte-americano, sobre sua obra. Chegou a usar até a palavra plágio, "copiei mesmo", diz em um dos trechos de entrevista presente no livro. Ele também vai cuidar da trilha sonora de alguma de suas obras (*e outras que não eram dele*) e mesmo dar sugestões de figurino. Eu lembro de uma entrevista específica, que não está no livro, em que Gilberto Braga vai comentar como passou mensagens sobre a orientação sexual de uma personagem através da música, roupas e outros detalhes. A censura impediu que Inácio de Brilhante saísse do armário, mas, para bom entendedor, um pingo é letra.
Gilberto Braga teria aceito migrar para a TV e lá permanecer, porque gostava de luxos e o salário de crítico de teatro e de professor de francês pagavam muito mal. Tomando somente a leitura do livro, eu acredito que este seria o grande dilema de Gilberto Braga. De classe média, perdeu o pai cedo, aos 17 anos, e tornou-se chefe de família. Descobriu, então, que seu pai, que era escrivão de polícia, oferecia para a família um nível socioeconômicos incompatível com os seus rendimentos. Talvez, comecem aí as reflexões do autor sobre honestidade que irão nortear sua obra começando, talvez, em Vale Tudo (1988-89), embora não seja algo apontado na biografia. A mãe, apesar de formada em contabilidade, era dona de casa, como era comum nas camadas médias, e entrou em colapso ao perder o marido. Teve que trabalhar fora, mas sua saúde mental se deteriorou ao longo dos anos e terminou tirando a própria vida.
Para ajudar a família, ele tinha dois irmãos menores (Rosa e Ronaldo), Gilberto Braga teve que aceitar vários trabalhos mal pagos que acabaram criando nele um sentimento de necessidade de segurança. Ser pago, bem pago conforme foi progredindo na Globo, garantia que não teria que passar apertos. O casamento lhe trouxe ainda uma maior estabilidade. Eu entendo bem o sentimento, só quem nasce na pobreza, ou na classe média baixa, compreende o quão importante é ter a certeza de que terá salário no fim do mês para pagar contas e, se possível, guardar um pouquinho.
A primeira parte do livro cobre, então, a formação de Gilberto Braga e já nos dá elementos que se farão presentes na obra do autor. Experiências familiares serão levadas para suas novelas, pessoas que conheceu ao dar aulas de francês para gente realmente endinheirada inspirarão os ricaços que irá retratar em suas obras, o cinema lhe dará várias das estruturas que irá utilizar em sua dramaturgia. Esses anos também lhe darão o verniz para conseguir ser aceito pela alta sociedade carioca, além da classe artística e, também, serão cruciais para a descoberta e aceitação plena da sua homossexualidade em tempos em que isso era tabu.
Quando faleceu, Gilberto Braga vivia um casamento público de quase cinquenta anos com Edgar Moura Brasil. Ele não foi o primeiro amor do novelista, o livro fala do "diplomata" que teria ocupado esse lugar, mas foi seu companheiro de uma vida. Aliás, o tal diplomata sem nome serviu de inspiração parcial para a vilã mais famosa de Braga, Odete Roitman. O autor era acusado de alienado, algo que o livro tenta desmontar, pois Braga não deixou de marcar posição seja em relação dos direitos dos LGBTQ+, seja em momentos políticos importantes do país. Só não foi militante político, mantendo-se à margem dos grandes acontecimentos dos anos 1960. Esteve em Paris no início de 1968 com bolsa da Aliança Francesa e dizia não se lembrar de nada das agitações políticas do ano que abalou o mundo.
A segunda parte do livro segue as obras do autor cronologicamente, intercalando com capítulos temáticos. Começou sua carreira na TV com a versão moderna de A Dama das Camélias, um caso especial que teve que substituir o programa do Chacrinha, quando este largara a Globo por conta de um aborrecimento. Temos então, os casos especiais, a recepção da crítica, as adaptações de obras literárias para o recriado horário das seis. Escrava Isaura (1976-77) é o auge desse período, o grande triunfo que Gilberto Braga rejeitava. A partir daí, há a possibilidade de criar suas próprias novelas e é mostrada a dificuldade do autor em assumir obras longas.
Algo muito importante no livro sobre Gilberto Braga é a exposição da forma como o autor cedo percebeu que escrever sozinho uma novela é um trabalho monstruoso e admitir, sem grande culpa, como isso o exauria. Com o suporte de Daniel Filho, ele vai buscar tanto a terapia, para tentar ajustar várias de suas questões internas, quanto receberá mentoria de autores mais experientes, Lauro César Muniz, em sua primeira novela das 7, A Corrida do Ouro (1974-75), e Janete Clair, a grande dama das telenovelas e que se tornou sua madrinha.
Falando nela, algo que me incomoda muito é como o livro tenta exaltar Gilberto Braga, colocando-o acima de Janete Clair. Primeiro, o próprio Braga reconhecia o quanto devia a ela. Sabe o anão em ombros de gigantes? Pois é. Segundo, porque sem Janete Clair não haveria Gilberto Braga. O fato é que a redação do livro não polemiza algo que parece ser um fato, da mesma forma que a cubana Gloria Magadan foi descartada dando espaço para Janete Clair, Boni e Daniel Filho queriam se livrar de Janete, a única mulher autora a trabalhar na emissora, no final dos anos 1970. Aparentemente, seu tipo de telenovela era considerado melodrama de qualidade inferior, mas sempre que precisavam de alguém para salvar a audiência, para criar uma novela em três dias porque a censura embargou a estreia de Roque Santeiro quem era convocada? Janete Clair.
E não é necessário rebaixar Janete Clair para exaltar o biografado. Esse tipo de estratégia me aborrece muito. Basta reconhecer o que é devido a cada um. De qualquer forma, o livro destaca que com Gilberto Braga e Dancin' Days (1978-79) a telenovela chegou às classes A e B, algo que, segundo a biografia, não acontecia antes. A partir de Dancin' Days, com sua controvertida protagonista ex-presidiária que, depois de ser muito humilhada, ascende socialmente se casando com um milionário pelo dinheiro, Gilberto Braga é promovido ao horário das 8 e irá, mesmo com as crises de pânico, ser muito bem sucedido nos anos 1980.
Das primeiras novelas autorais de Gilberto Braga, não me lembro com clareza, eu era muito pequena. Algumas nunca foram reprisadas, porém, sempre que leio sobre Brilhante (1981-82), que na minha memória se confundia com Sétimo Sentido (1982), vem aquele sentimento de pena pelo que poderia ter sido. A novela foi mutilada pela censura por ter uma personagem homossexual, imagino o quanto o autor sofreu e como teria sido bom, inclusive para ele, ver a Globo aprovar um remake no horário das 23h desta sua obra. E considero o capítulo mais triste do livro aquele que fala dos projetos de Gilberto Braga que a Globo rejeitou depois do fracasso de Babilônia (2015).
Depois de tantos triunfos, quando estava fragilizado pela doença, tentando ajustar medicação para a depressão e outros problemas, Gilberto Braga teve seu maior fracasso, que o livro discute muito bem a partir de vários depoimentos. O que eu tiro de tudo que já sabia e do que o livro me trouxe de novo é que Gilberto Braga estava muito mal naquela época e que Babilônia começou errada, com muita gente mexendo antes mesmo que Sílvio de Abreu fizesse uma intervenção que a desfigurou de vez. A novela se tornou refém não do conservadorismo da sociedade, mas da covardia da emissora, que cedeu em todas as bobagens tiradas dos grupos de discussão e da pressão da imprensa sensacionalista. Em outros momentos, Gilberto Braga teve liberdade de escolher os caminhos para tentar melhorar a audiência, mas isso lhe foi negado no caso de Babilônia. Foi terrível para o autor e deve ter prejudicado ainda mais sua saúde física e mental.
A única fraqueza do capítulo sobre Babilônia é considerar que o romance entre Camila Pitanga e Thiago Fragoso pudesse ser um problema para além do casal de lésbicas idosas. Sinceramente? O moço branco rico com a mocinha negra pobre nunca incomoda. É a confirmação das hierarquias do patriarcado e do capitalismo. O inverso é que é rejeitado, porque significa que um homem negro, um subalterno, está se apropriando das mulheres brancas que seriam, por princípio, propriedade exclusiva dos machos brancos da nossa espécie. Isso, sim, ameaça a ordem.
Procurem na história das telenovelas os casais interraciais formados por homem negro e mulher branca. Vão encontrar algum, em especial, entre os mais pobres, mas desde os primórdios da teledramaturgia brasileira, vide Passo dos Ventos (1968-69), quando se tratava de personagens ricas, ou em situação de protagonismo, seu destino tendia a ser a rejeição. O inverso não se aplica na mesma medida e Lázaro Ramos sofreu forte rejeição em Insensato Coração (2011) por ser homem negro, bem sucedido e em papel de galã. Aliás, escrevi texto sobre isso muitos anos atrás.
Alguém irá me fazer lembrar de Corpo a Corpo (1984-85), a novela do "diabo", que me deixava um tanto assustada quando criança, e da rejeição do casal formado por Zezé Motta e Marcos Paulo. Sim, houve rejeição, ambos os atores foram atacados, mas há de se observar algumas questões. Primeira delas, a mocinha era mais velha que o mocinho. Segundo, ela não era uma pobre coitada, mas uma profissional bem sucedida e considerada "metida" por parte do público, pois uma mulher negra DEVE SEMPRE ser humilde. Pode ser batalhadora, mas precisa ter um lugar social subalterno em relação ao parceiro branco, vide o sucesso Da Cor do Pecado (2004). A personagem de Zezé Motta não precisava ser salva da miséria, mesmo que seu par romântico branco fosse um homem realmente rico. Terceiro, Zezé Motta poderia até ter ganho a aura de sensual graças ao filme Xica da Silva, mas ela não era considerada uma mulher bonita para os padrões daquele tempo, em contrapartida, Marcos Paulo era um dos galãs mais cobiçados da Globo na época.
Eu lembro claramente de um dos homens da minha família, não sei se meu pai, ou um tio, dizendo algo do tipo "Como um homem desse pode ficar com uma neguinha tão feia.". Sim, eu ouvia falas desse calibre mais de uma vez na minha infância e adolescência. Logo, há várias coisas se cruzando nessa rejeição, mesmo que o eixo central seja o racismo. Ainda assim, Gilberto Braga manteve o pé firme e foi apoiado pelos seus superiores, Daniel Filho e Boni. Voltando para Camila Pitanga, ela JAMAIS seria considerada feia, salvo por redpills e incels misóginos e sem noção. Considero, a partir das minhas leituras sobre ela, que Corpo a Corpo foi uma das novelas mais corajosas de Gilberto Braga e, a confiar na minha memória infantil e no que sei sobre a novela, aquela em que ele menos errou ao discutir a questão racial. Ainda assim, a veterana Ruth de Souza, segundo o livro, não gostou do desenvolvimento do seu papel em Corpo a Corpo e não foi receber o prêmio que ganhou pela novela.
Antes de Babilônia, no entanto, houve muitos triunfos, seja em novela, seja em minisséries. Considero Anos Dourados (1986) primorosa e como a vi em uma reprise, agora sei que assisti o final mutilado. Obra da censura? Não! Foi autocensura da emissora em relação aos desaparecidos políticos durante a ditadura. Aliás, esse final do irmão de Lurdinha (Malu Mader) e do comportamento de Claudionor (Antonio Calloni) parecem uma ponte para Anos Rebeldes (1992). De qualquer forma, saber que a inspiração de base da minissérie, para além das memórias tijucanas do autor e relatos de outras pessoas que viveram os anos 1950, foi o filme Splendor in the Grass (1961) me fez entender muita coisa em relação a ela.
No capítulo sobre Gilberto Braga ajudando outros autores, me surpreendi em saber que ele foi consultor de Lado a Lado (2012-13) e Bambolê (1987-88). Realmente nunca tinha lido sobre esse aspecto de sua carreira. No caso de Bambolê, imagino que a mãozinha foi na primeira parte da novela, a que é realmente boa como crônica de costumes lembrando inclusive, sem o mesmo refinamento, claro, Anos Dourados. Já sobre Anos Rebeldes, que gerou nota do Exército Brasileiro e certamente ajudou no movimento Cara Pintada que ajudou a derrubar Collor de Mello, há dois capítulos, três, se contarmos com o que fala da tentativa de Gilberto Braga de se candidatar à Academia Brasileira de Letras.
A graça aqui é que o próprio Gilberto Braga rebaixava seu ofício, sempre enfatizando que fazia televisão pelo dinheiro. Se é uma contradição ou estratégia de sobrevivência, pouco importa, o fato é que enfraqueceu sua possível candidatura, que se concretizou de fato. A verdade é que Gilberto Braga era polêmico, calculava suas falas e parece difícil saber quando estava sendo sincero, u fazendo cena. De qualquer forma, os primeiros trabalhos acadêmicos que vi sobre telenovela, quando comecei a me interessar pelo assunto, foram em cima da obra de Gilberto Braga. Se não me engano uma tese de doutorado apresentada na USP que analisava a visão que o autor tinha sobre a história do país tomando Anos Dourados e Anos Rebeldes e as novelas Vale Tudo e Pátria Minha.
Voltando para suas novelas, seu primeiro quase fracasso DE VERDADE foi O Dono do Mundo (1991), em que o protagonista Felipe Barreto (Antônio Fagundes) é o vilão. Fagundes, que trabalhara várias vezes com o autor, sempre pedia que ele lhe escrevesse um personagem masculino forte, pois a especialidade de Braga, eram as mulheres, sejam as mocinhas, sejam as vilãs. E eu me lembro bem dessa novela, adorava a abertura e sei como Malu Mader sofreu, afinal, a audiência perdoou o vilão que seduziu a noiva virgem de um subalterno, mas não a moça ingênua que foi presa dele. E o legal foi que Gilberto Braga manteve a vilania de Felipe Barreto, mesmo com as intervenções da emissora, resistiu até o fim.
O anos 1990-2000 foram de fracassos e sucessos, cada um deles recebe um capítulo, inclusive a recém reprisada Força de um Desejo (1999), que o autor considerava um rebaixamento por ser novela das seis. O fato é que a Globo estava mudando e algo que o livro enfatiza é que gente que entendia de TV, como Boni e Daniel Filho, foram substituídos por pessoas "do mercado", que nunca tinham lidado com telenovela, menos ainda, seus autores. Começam aí os problemas reais de Gilberto Braga. Mesmo bem sucedido, ele tem sinopses rejeitadas, não pode escolher livremente o seu elenco (*ocorreu em Babilônia*), convidar seus atores favoritos, a chamada "patota", fora, claro, os problemas que apareceram e estavam fora do controle. Caso, por exemplo, da gravidez de Cláudia Abreu na época de Paraíso Tropical (2007), ou Ana Paula Arósio, que abandonou sem aviso Insensato Coração (2011) e a carreira, também.
Aliás, algo que o livro mostra bem é como Gilberto Braga guardava rancor de quem pisava na bola com ele. Caso de Malu Mader, que demonstrou abertamente seu descontentamento com sua mocinha em Celebridade (2003), e da própria Cláudia Abreu, membros da "patota", como Braga chamava seus atores e atrizes favoritos. Abreu foi perdoada, Malu Mader, ao que parece, não. E há Vera Fischer e o problemão que ela deu em Pátria Minha (1994-95), um quase fracasso do autor. Era protagonista e foi cortada da trama com ela em andamento, assim como seu então marido, Felipe Camargo. Um autor conseguir reverter um monte de problemas, seja censura, ou crise com elenco, ou ainda intervenção da emissora, é um grande mérito.
Escrevi demais, eu sei, e de forma desorganizada. Gostei do livro, não consegui parar a leitura depois que engrenei nela. Pontuei no texto, alguns problemas que vi. Poderia me estender no capítulo de Escrava Isaura, porque discordo profundamente do Gilberto Braga, que imaginava uma Isaura cheia de sex appeal (*e vulgar, nos próprios termos dele*) e não queria Lucélia Santos no papel, quando ela era muito parecida com a descrição do autor do livro. Isaura era socialmente branca e já escrevi sobre isso. De resto, Braga estava certíssimo em pontuar o quanto o livro Escrava Isaura era fraco, além de racista e mesmo reacionário. E não sabia mesmo que a censura exigiu a morte de Malvina, esposa do vilão. Achava que tinha sido ideia de Gilberto Braga (*a cena da morte de Malvina e Tobias é brilhante e foi ideia dele*). O motivo, claro, era evitar sugestão de adultério. Que adultério? Leôncio assediava Isaura, ela era uma escravizada!
Quanto ao livro, achei um tanto deselegante a parte em que ele fala do casamento de Gilberto Braga e Edgar e sugere infidelidades no casamento da parte dos dois, só para depois teorizar que se tratava de um casamento aberto. Ficou confuso, não parece haver evidência de nada e esse detalhe poderia não estar no livro. Fora isso, se era casamento aberto, ou não, os dois pareciam felizes e foram companheiros até o fim.
Para quem gosta de história da telenovela ou de Gilberto Braga é um livro obrigatório. A leitura é fácil, os capítulos são curtos. E imagino o quanto de material ficou de fora. E termino dizendo que quero muito que o viúvo brigue pelos direitos dos trabalhos que Gilberto Braga propôs (*minissérie sobre Elis Regina, novela das seis baseada em Fogueira das Vaidades e remake de Brilhante*), porque a julgar pelo que eu já sabia antes do livro e o que li na biografia, a Globo maltratou MUITO um sujeito que, na maioria do tempo, só deu prestígio e lucro para a emissora.
5 pessoas comentaram:
Muito boa sua resenha. Apenas uma correção: Cláudia Abreu ficou grávida na época de "Paraíso Tropical" (2007), não de "Insensato Coração" (2011).
Obrigada pela correção, me confundi escrevendo o texto. Vou consertar. ❤️
O livro comete uma gafe sobre a minissérie "Labirinto" quando diz que André (Fábio Assunção) era filho de Otacílio (Paulo José). Na verdade, André era amigo de um dos filhos dele, Júnior (Marcelo Serrado), que... SPOILER ...
é revelado como o assassino do próprio pai no final.
Não vi a série, na verdade, nem me lembrava dela, sabe? Deixei fora da resenha. Estranho ter passado pela revisão.
Muito legal a sua resenha , quero ler este livro . Assisti quando era criança muitas destas novelas, Agua viva, Dancin Days (maravilhosas) e outras que nem sabia que eram dele como Brilhante e Corpo a Corpo . Achei legal sua resenha pois explica detalhes delas que , como eu era criança na época, não dava atenção . Mas uma que só vi poucos capitulos e preciso parar um dia e assistir é Escrava Isaura , sempre quis ver esta novela. E por incrivel que pareça, nunca assisti a Vale Tudo , na época eu estudava à noite e apesar das várias reprises , não vi nenhuma .Ana Luiza.
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