Falei aqui no blog dia desses sobre a censura à Pocahontas para que o desenho da Disney fosse liberado para horário livre. Pois bem, a falta de critérios claros por parte do governo me fez ficar com a pulga atrás da orelha. A censura em todas as suas formas, avança no país e muita gente está de braços cruzados, afinal, só vai acordar quando sentir o sapato apertando o seu próprio calo. Por isso mesmo, decidi comentar o caso Márcia X., Opus Christ e Banco do Brasil.
Muito bem, não vou mentir dizendo que conhecia Márcia X. (1959-2005) e sua obra porque nunca tinha ouvido falar dela mesmo. Não me ligo em arte contemporânea, não acho muita graça mesmo e, quem quiser, me atire pedras. Quanto ao Opus Christi, apesar de estar atenta aos assuntos religiosos, em especial aos grupos fundamentalistas que pipocam por aí, também não conhecia. Mas o fato é que por causa dessa turma, tanto Márcia X. quanto a exibição sobre arte erótica do Centro Cultural do Banco do Brasil ganharam notoriedade.
A exposição, com censura para maiores de 12 anos que só poderiam entrar com autorização dos responsáveis, já tinha passado por São Paulo sem que nenhum incidente ocorresse. Mas, no Rio, a obra "Desenhando em Terços", que vocês podem ver aí ao lado, despertou a ira do Opus Christi, e por causa de 100 (cem) reclamações, foi tirada da exposição. Assim, simplesmente por decisão unilateral do Banco, instituição pública e laica.
Pois é, quantos católicos existem em nosso país? No Rio de Janeiro? Será que 100 reclamações são representativas dos milhões? Será que a censura é válida? Não, não é. A minha sensibilidade não pode ser parâmetro para a dos outros, a minha fé (na percepção de um grupo muito particular, o Opus Christi) não pode ser imposta aos outros através da censura de obras de arte, livros e tudo mais. Se o Opus Christi estivesse realmente preocupado com os católicos – deveria começar por aí – poderiam fazer uma campanha para que a exposição fosse boicotada. Aliás, o que um católico ou qualquer outro religioso fundamentalista vai fazer em uma exposição de arte erótica em primeiro lugar? É como aqueles malas que ficam freqüentando sites gays e deixando recadinhos infames... Em primeiro lugar o que um homofóbico vai colher em um lugar como o MixBrasil?
Agora, estimulados pela pequena vitória, o Opus Christi quer retirar uma outra obra da exposição, um São Jorge com um homem seminu do lado. O homoerotismo é claro ofende as sensibilidades de alguns, afinal o posicionamento homofóbico da Igreja Católica e de outros grupos religiosos é claro e explícito. Agora, se retirarem também o São Jorge, o que virá depois? O curador da mostra disse que vai entrar na justiça, artistas estão se mobilizando e o Opus Christi promete prejudicar o Banco do Brasil se o “Desenhando com Terços” aparecer na exposição quando esta for para Brasília.
O caso de São Jorge é engraçado, até porque ele é tudo, menos monopólio Católico Romano. Presente está nas religiões Afro e, desde 1969 não é considerado oficialmente santo por falta de evidências históricas de sua existência. Roma, bem mais democrática na época, deixou sua devoção – tradicional, antiga, consolidada – a critério das Igrejas locais. A fé no santo, um dos mais queridos no mundo inteiro, e que na época diziam havia sido “cassado”, persistiu na religiosidade popular. E ele pertence a muita gente, não só a uma prática religiosa em particular.
Enfim, vivemos um momento de intolerância, onde o Estado Laico – que já era frágil no Brasil – está sendo erodido. Se for permitido aos religiosos fundamentalistas dizer o que TODAS as outras pessoas podem ver, criar, desenhar, logo teremos as fogueiras queimando livros e filmes e tudo mais que parecer “ofensivo” a um punhado de ditadores. Mas é aquilo que o João Ximenes Braga disse em seu blog:
Muito bem, não vou mentir dizendo que conhecia Márcia X. (1959-2005) e sua obra porque nunca tinha ouvido falar dela mesmo. Não me ligo em arte contemporânea, não acho muita graça mesmo e, quem quiser, me atire pedras. Quanto ao Opus Christi, apesar de estar atenta aos assuntos religiosos, em especial aos grupos fundamentalistas que pipocam por aí, também não conhecia. Mas o fato é que por causa dessa turma, tanto Márcia X. quanto a exibição sobre arte erótica do Centro Cultural do Banco do Brasil ganharam notoriedade.
A exposição, com censura para maiores de 12 anos que só poderiam entrar com autorização dos responsáveis, já tinha passado por São Paulo sem que nenhum incidente ocorresse. Mas, no Rio, a obra "Desenhando em Terços", que vocês podem ver aí ao lado, despertou a ira do Opus Christi, e por causa de 100 (cem) reclamações, foi tirada da exposição. Assim, simplesmente por decisão unilateral do Banco, instituição pública e laica.
Pois é, quantos católicos existem em nosso país? No Rio de Janeiro? Será que 100 reclamações são representativas dos milhões? Será que a censura é válida? Não, não é. A minha sensibilidade não pode ser parâmetro para a dos outros, a minha fé (na percepção de um grupo muito particular, o Opus Christi) não pode ser imposta aos outros através da censura de obras de arte, livros e tudo mais. Se o Opus Christi estivesse realmente preocupado com os católicos – deveria começar por aí – poderiam fazer uma campanha para que a exposição fosse boicotada. Aliás, o que um católico ou qualquer outro religioso fundamentalista vai fazer em uma exposição de arte erótica em primeiro lugar? É como aqueles malas que ficam freqüentando sites gays e deixando recadinhos infames... Em primeiro lugar o que um homofóbico vai colher em um lugar como o MixBrasil?
Agora, estimulados pela pequena vitória, o Opus Christi quer retirar uma outra obra da exposição, um São Jorge com um homem seminu do lado. O homoerotismo é claro ofende as sensibilidades de alguns, afinal o posicionamento homofóbico da Igreja Católica e de outros grupos religiosos é claro e explícito. Agora, se retirarem também o São Jorge, o que virá depois? O curador da mostra disse que vai entrar na justiça, artistas estão se mobilizando e o Opus Christi promete prejudicar o Banco do Brasil se o “Desenhando com Terços” aparecer na exposição quando esta for para Brasília.
O caso de São Jorge é engraçado, até porque ele é tudo, menos monopólio Católico Romano. Presente está nas religiões Afro e, desde 1969 não é considerado oficialmente santo por falta de evidências históricas de sua existência. Roma, bem mais democrática na época, deixou sua devoção – tradicional, antiga, consolidada – a critério das Igrejas locais. A fé no santo, um dos mais queridos no mundo inteiro, e que na época diziam havia sido “cassado”, persistiu na religiosidade popular. E ele pertence a muita gente, não só a uma prática religiosa em particular.
Enfim, vivemos um momento de intolerância, onde o Estado Laico – que já era frágil no Brasil – está sendo erodido. Se for permitido aos religiosos fundamentalistas dizer o que TODAS as outras pessoas podem ver, criar, desenhar, logo teremos as fogueiras queimando livros e filmes e tudo mais que parecer “ofensivo” a um punhado de ditadores. Mas é aquilo que o João Ximenes Braga disse em seu blog:
“Obrigado, Opus Christi. Obrigado por sua infantil e intolerante perseguição à obra de Márcia X. exposta no CCBB. Agradeço pois esta atitude mostrou que Márcia X ainda é relevante, necessária, fundamental. Como todo artista (plástico ou não) que lida com o humor e o sarcasmo, Márcia corria o risco de ser tomada por irrelevante. Não era incomum que os espectadores vissem na obra de Márcia uma simples piada.”
Graças ao Opus Christ agora conheço Márcia X. e sei que a transgressão de sua obra – que a princípio não me toca em nada – é necessária. Acho cedo para comemorar, afinal a liberdade de expressão está sendo atacada de todos os lados e utilizada de forma nem sempre ética por aqueles que defendem a censura sempre que podem.
Semana passada uma revista católica italiana ligada ao outro Opus, o Dei, publicou uma charge colocando Maomé no Inferno e Roma tirou o corpo fora, mesmo tendo condenado o jornal dinamarquês. Aliás, o próprio Opus Dei disse que "seus membros têm direito a ter suas próprias opiniões". Então, pessoal, leiam o que quiserem, assistam "O Código Da Vinci". Dois pesos e duas medidas, é sempre assim. É isso que a gente quer? Você quer que alguém decida o que você pode ou não pode ver ou ler? Proibir é mais fácil que orientar. Se deixarmos barato, nossas pequenas liberdades nos serão roubadas.
1 pessoas comentaram:
O círculo sobre a tão almejada liberdade está se fechando cada vez mais e o povo parece concordar com isso. É triste ver a censura tomando o lugar do bom senso...
Gostei muito do seu post (eu também não conhecia Márcia X.). Bjos!
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