quinta-feira, 25 de maio de 2006

O Código da Vinci: Era só aquilo?


Bem, ontem saí do trabalho às 4:30 e aproveitei para ir assistir o tão falado filme do Código Da Vinci. Não li o livro, como já devo ter comentado antes, e fui para a sessão meio que norteada pelas críticas ruins que o filme recebeu. Esperando tão pouco, acabei tendo uma surpresa positiva.

O filme me pareceu muito bem amarradinho e mesmo as críticas aos dois protagonistas me pareceram exageradas. Tom Hanks nunca me pareceu essa Brastemp toda e eu não gosto dele em filmes sérios, mas o cara atua bem. A atriz francesa também desempenha bem seu papel e é bem simpática. Obviamente, quando o Ian McKellen está em cena não tem para ninguém, aliás, acho que ele deve ser a única indicação ao Oscar de verdade que o filme poderá receber, ou seja, se não indicarem o homem será uma sacanagem das grossas. Molina e Reno, ambos atores que gosto muito, também estão bem e mesmo o carinha que faz Silas não me pareceu ridículo como os críticos quiseram fazer crer... Na verdade, o cara usar aquele tipo de cilício full time é que era ridículo. Não que os ascetas não fizessem isso, mas uma camisa de pelos de porco ou arame impediria muito menos os movimentos do que um bagulho apertando e lacerando a sua perna. Aliás, parte da graça em usar cilício é não deixar que as pessoas percebam a penitência... Banderoso demais, para dizer o mínimo.

Voltando ao filme, o fato dos caras mudarem de idioma quando estão na França já deu alguma credibilidade ao filme. Nada de ficar todo mundo falando em inglês o tempo inteiro como em muitas produções norte-americanas, o cuidado valeu. As locações também são um espetáculo a parte, feito na medida para o norte-americano provinciano, que tem o dinheiro que eu nunca vou ter mas a imaginação de uma ervilha, possa ter vontade de viajar. Talvez ganhem uma indicação por fotografia. Aliás, já disseram que esta era uma das qualidades do livro do Dan Brown. OK, essas são as partes boas. Minha maior crítica vai para o desaparecimento de todos os coadjuvantes de repente (*se comentar, dou spoilers*) e para o didatismo das descobertas na última capela. Raios, ninguém deixa arquivos secretos tão a mostra como nessa história!

Mas e a polêmica? Era só aquilo ou o livro tinha mais aguma bobagem? Porque venhamos e convenhamos, se estressar com aqueles delírios é ajudar o picareta do Dan Brown a encher o cofrinho. Como disse uma amiga católica, o Vaticano deve estar levando a sua porcentagem nos lucros por fazer propaganda do filme com suas proibições. Enfim, o negócio é bem cheio de absurdos históricos, como já foi comentado a exaustão, começando pelo caso dos Templários.

É risível querer fazer crer que Filipe, o Belo - que nem foi citado - é que estava fazendo o que o Papa queria e não o Papa o que ele queria... A perseguição aos Templários se explica muito mais pela cobiça do Rei da França do que qualquer outro motivo obscuro, fora que na Península Ibérica eles receberam toda a guarita dos reis de Castela, Aragão e Portugal. Mas pior foi o McKellen - em atuação brilhante - falar que no século IV a divindade de Jesus foi "inventada" e "imposta".

Ok, Constantino tinha seu projeto de Igreja, mesmo sendo pagão, mas o Arianismo - doutrina que negava a Divindade de Cristo em maior ou menor grau - nunca foi corrente majoritária. Verdade, que as disputas políticas quase elevaram esta heresia à ortodoxia, mas isso é uma longa História e tem menos a ver com segredos religiosos e muito mais com geo-política.

Mas de novo pergunto: era só aquilo? Será que é tão chocante soltar a imaginação por alguns instantes? Será que cogitar que Maria Madalena e Cristo pudessem ser casados é um negócio tão escabroso? Enfim, é preciso resgatar o papel da Madalena, a bíblica em muito mais a dizer do que se tem comentado e a gnóstica bem mais ainda... Só que, no fim das contas, o autor do livro ou do roteiro conseguiu juntar tanta abobrinha junta que não dá para levar a sério nem o que é real.

Resumindo: o filme é legal, assisti e achei interessante, mas como fonte de polêmica não serve mesmo. De qualquer forma, segue abaixo uma boa matéria da Folha de São Paulo mostrando que existe gente muito lúcida na Igreja Católica. Gente que tem noção da historicidade dos dogmas e que muita coisa precisa, sim, ser discutida.

Código do barulho
No meio da ficção do filme "O Código Da Vinci", há temas que estão no debate da igreja hoje, diz teólogo

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Muito barulho por nada." Foi com o nome de uma famosa comédia de Shakespeare ("Much Ado about Nothing") que o "L'Osservatore Romano", o jornal do Vaticano, deu o título à resenha do filme "O Código Da Vinci", que publicou anteontem. Assim, parece que a própria igreja, que num primeiro momento havia atacado o filme, está percebendo que tratá-lo pelo que ele realmente é -uma ficção rocambolesca de segunda linha, confusa e inverossímil- pode ser a melhor estratégia para minar a propagação de temas e interpretações indigestos.

Baseado no livro homônimo de Dan Brown, "O Código Da Vinci", que está lotando bilheterias pelo mundo e causando intensas reações de religiosos, é um thriller apoiado em evangelhos apócrifos e outros documentos deixados à parte pela igreja. Seu sucesso deve-se muito a um calculado tratamento pseudo-científico que dá a sua trama novelesca.

A principal controvérsia do livro está no fato de afirmar que Jesus Cristo e Maria Madalena teriam tido uma filha e que toda a história posterior do cristianismo teria sido um esforço para ocultar essa "verdade".

A Folha assistiu a uma sessão do filme com o teólogo e historiador da Igreja Católica Oscar Beozzo, que chamou a atenção para outros pontos que o filme toca e que ele considera atuais. A saber: a batalha pela interpretação dos textos (o que é apócrifo e o que é autêntico), a importância da mulher no Novo Testamento e a sexualidade de Cristo. "Não acho ruim as pessoas irem assistir. É bom que saibam quais problemas preocupam a igreja hoje."

Para Juan José Tamayo, professor de teologia da Universidade Carlos 3 de Madri, o interesse recente em revitalizar o papel de Maria Madalena surgiu por conta de um revisionismo feminista. "Mostrar que ela era mais importante do que deixam crer os textos supostamente oficiais tem a ver com nosso ambiente cultural de hoje, que valoriza as perspectivas de gênero", diz.

Já para dom Antonio Dias Duarte, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, a revisão das ações de Maria Madalena não é prioridade. "A igreja de cada época tem suas questões. Na atualidade, a questão não é Madalena, mas assuntos mais relevantes, como a justiça social e a defesa da vida humana", diz.

Outro aspecto que Beozzo vê o filme apontar é a necessidade que o contexto atual tem de pedir transparência às organizações religiosas. "Tem razão o filme em denunciar o lado violento e condenável das Cruzadas, da Inquisição, da exclusão das mulheres, da falta de transparência institucional e de abrir um debate sobre estas questões", diz o teólogo. "O lado problemático do filme", acrescenta, "é o de passar a imagem de uma vasta operação histórica de ocultação de verdades e de atribuir um caráter mafioso e violento a instituições como a Igreja Católica, a Opus Dei etc."

Com relação ao retrato da Opus Dei, d. Duarte, que é membro da prelazia, rechaça a maneira como esta e a igreja são mostradas. "O "Código" não diz a verdade. Tanto o filme como o livro mostram uma imagem distorcida de Jesus Cristo. Uma imagem que não corresponde à verdade histórica e que, dessa maneira, distorce também a imagem da igreja", conclui.

1 pessoas comentaram:

Realmente, é incrível o barulho que fazem por causa de uma ficção. Ainda não assisti ao filme, mas tenho o livro.
Gosto da obra, mas é preciso ter em mente que tudo faz parte de uma "teoria da conspiração" fictícia, obra da imaginação fértil de um autor.
Dan Brow agradece o alarde que estão fazendo...

Related Posts with Thumbnails