sábado, 28 de fevereiro de 2009

Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 10)


Esta é a décima parte do terceiro capítulo, a anterior está aqui. Já estamos nos encaminhando para o final do capítulo, como vocês podem notar. Para quem não sabe do que se trata, estou postando uma história que venho escrevendo faz algum tempo. O primeiro capítulo se chama Ecos do Passado e o segundo Sem Olhar para Trás. Agora falta uma parte somente para concluir o capítulo três. E a parte em que eu falo de família de bruxos e de nascer sem poderes, nada tem a ver com Harry Potter, eu não conhecia a série quando eu escrevi este capítulo em 1998. Eu simplesmente pensei em termos de "gens dominantes" e "gens recessivos", somado com matrilinearidade. Eu também não tinha lido nada sobre Wicca e bruxaria como religião. As idéias brotaram ou vieram de outras fontes ou leituras.
Ventos de Mudança
Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 10)

— Vamos, filho! A noiva espera por você! — O velho Conde de Dorsos urgia. Só que o rapaz estava tão bêbado que era difícil para ele levantar. — Eu avisei quanto à bebida!

— Um chá forte irá fazê-lo melhorar. — O Marquês De Mülle falou e pediu a um criado que fosse buscá-lo. — Aguarde alguns minutos, ele retomará logo. — Só que fazia parte do pedido que o chá demorasse um pouco a chegar. — Então, meu filho, — O Marquês começou usando sua voz mais gentil a tentar entabular uma conversa qualquer. — vejo que é um rapaz instruído... Gosta de música? Prefere harpa ou alaúde?

— Ala... Que?! — Perguntou Humberto que bêbado, mal era capaz de falar. — Isso se come?

De Mülle suspirou, resignado e continuou a falar com as paredes, fingindo interesse por aquele novo membro de sua família enquanto não vinha o tal chá.
XXX
Lívio se dirigiu aos estábulos. “Espero que surta o efeito desejado!”. Não havia ninguém por ali e o rapaz respirou fundo e se concentrou. Subitamente, a palha começou a pegar fogo. Lívio fazia parte de uma linhagem de bruxos. Durante a primeira infância, não manifestara nenhum poder mágico e sua mãe e avó acharam que como muitas vezes acontecia, ele, por ser homem, nascera um ser humano comum. Seu irmão mais velho não tinha nada do caráter mágico da família. Na verdade, a coisa não era bem assim. Ele tinha poderes, mas quando algo acontecia era sua irmã quem acabava ficando com o ônus e o bônus das travessuras ou acidentes.

Quando descobriu que carregava a herança funesta de sua família, escondera seus poderes. E sua irmã, apesar de toda a sua aparente insensibilidade, continuou protegendo o seu segredo. Como todos em sua casa o consideravam inofensivo e os olhares de sua mãe e avó estavam sobre sua irmã caçula, seu segredo estava salvo. Mal poderia supor que seria no mosteiro onde fora mandado para receber sua primeira educação que aprenderia a controlá-los. Graças à sua férrea disciplina, acidentes não aconteciam mais, só que o esforço era grande e sua saúde ficara prejudicada.

Geralmente não utilizava a sua magia, mas desejara ajudar Alda. “Fogo mágico! Não vai ser simples debelá-lo...” Depois de atear fogo aos três estábulos vazios, tratou de se retirar. No caminho, cruzou com diversos soldados e deu o alarme de fogo enquanto retornava à capela para trocar de roupa. “Está feito! Agora é com vocês!”

Encostou-se na parede na parede, pois estava tonto, enjoado e o sangue lhe brotava da testa e descia pelo seu nariz. Era o resultado do uso eventual de seus poderes e da poção mágica que tomara para esconder o seu traço, pois Lucília certamente sentiria o seu cheiro e não poderia contar com sua fidelidade em uma situação como essa. “Espero que tudo vá bem, pois se precisarem de mim...” Subiu com dificuldade até o coro e deixou-se ficar lá meio desmaiado até que seu mal estar se fosse.

Do grande salão, Richard, que já se tinha posto de sobreaviso, viu a fumaça e deu o alarme:

— Majestade, os estábulos estão em chamas!

— Chamas?! Mas como? — Surpreendeu-se e pensou no que Richard e Marc haviam dito. — Humberto vá atrás de sua noiva! — Disse levantando-se, mais furiosa ainda porque Humberto não se mexeu. — Agora, bêbado imbecil! Quero certeza de que ela nada tem a ver com isso! — Humberto obedeceu o mais rápido possível. — Acordem o Capitão Gaston! Eu quero o responsável por isso! Eu exijo o responsável! Richard... — Não adiantava chamá-lo, pois ele já havia desaparecido.
XXX
O contingente de soldados de guarda realmente diminuiu muito devido ao alarme de incêndio, só que oito ainda era um bom número. Erik mirou o ombro de um soldado com seu arco e atirou, acertando em cheio.

— Estamos sendo atacados! — Este também foi atingido, só que desta vez, por Alda.

— Eles estão ali! Escondidos na sombra da parede! — Calou-se porque Flecha, a águia de Alda, o atacou, atingindo seu rosto. Guilherme ao perceber o que ocorria começou a gritar a plenos pulmões, dando o alarme que os soldados não haviam conseguido:

— Eu sabia! Sabia que o resgate iria acontecer!

Alda e Erik saíram das sombras, com as espadas em punho, e partiram para uma luta corpo-a-corpo com os soldados que agora eram cinco. Com um pouco de habilidade, sorte e a ajuda de Flecha, conseguiram avançar. Enquanto Erik se livrava do último dos soldados, Alda subiu para soltar Guilherme:

— Pode cavalgar, Senhor? — Perguntou preocupada olhando para seus muitos ferimentos.

— Claro que sim, garoto! É preciso mais do que isso para me por fora de combate. — “Ele pensa que eu sou um rapaz!” — Mostre-me o caminho e, talvez, eu possa até derrubar uns soldadinhos! — Ele ria como se não sentisse dor alguma.

Alda rompeu as cordas que o prendiam.

— Senhor, talvez isso vá doer um pouco. Suas feridas estão abertas, mas o frio é grande, também. — Se não jogasse a capa sobre seus ombros para aquecê-lo, ele poderia congelar. — O tecido pode grud...

— Pode jogar a capa, menino. Acha que sou algum covarde ou que vá começar a choramingar como uma mulher? — Comentou com seu jeito expansivo e Alda torceu o nariz. — Levei mais de 200 chicotadas, rapaz, pode acreditar, isso não será nada em comparação!

Ele parecia ter uma força inesgotável, pois, a despeito de seu estado, andou com pouca dificuldade até o cavalo, cujas rédeas já eram seguras por Erik. Alda fez menção de ajudá-lo a subir, mas ele recusou e, com o rosto crispado pela dor, montou sozinho.

— Rápido! Os reforços estão chegando! Rápido! — Erik gritou esbaforido ao subir no cavalo, Alda fez o mesmo, logo em seguida. — Vamos, o portão principal ainda está aberto, pois há muitos convidados e alguns estão acampados lá fora.

— Os guardas que estão nos portões... Quantos são, Erik?

— Dois ou três, não mais do que isso. Antes que percebam o que está ocorrendo estaremos do lado de fora — Dali para o portão era rápido e quando os guardas dessem por si eles já teriam passado, apesar dos gritos do Capitão que se aproximava, ainda semivestido, amarrando os calções. Ele fora interrompido em um momento bem pouco propício, e gritava para que fechassem os portões.

— Idiotas! Fechem os portões! — Os guardas estavam tontos, pois não sabiam a que dar atenção, se ao fogo ou aos gritos do Capitão. Afinal, quem seria tolo o suficiente de invadir o castelo real? — Estão fugindo com o Príncipe Guilherme! Se ele escapar, suas cabeças vão rolar, eu juro. — Ele tropeçou nas próprias ceroulas e caiu no chão. Fechem os portões!

— Raios! Estão baixando os portões! — Erik gritou.

— Vamos passar! Apressem os cavalos! — O Príncipe Guilherme gritou e tomou a dianteira, surpreendendo Alda e Erik com sua disposição.

Eles apressaram os animais, seus corações pulsando acelerados. Alda se curvou sobre o dorso do animal e sentiu-se como se ela e a besta formassem um só corpo. “Vamos, rapaz! Mais rápido! Mais rápido!”

— Abaixem suas cabeças! — Alda falou quase sem fôlego. E foi por muito pouco, muito pouco mesmo, mas antes que os portões baixassem de todo, passaram. — Primeiro e segundo obstáculos vencidos! — Alda vibrou.

— Para aonde, agora? — Erik perguntou quando já estavam na estrada.

— Para o Castelo do Amanhecer, Erik. É para lá que vamos!

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