quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Senado inclui "Playboy" e gibis no Vale-Cultura



Eu sempre posto matérias da Folha de São Paulo aqui, apesar de cada vez sentir mais nojo deste jornal. Simplesmente, eu tento separar o joio do trigo, OK? E há matérias interessantes no jornal, que é um dos mais importantes do país. Enfim, hoje o jornal está gritando alto contra o chamado Vale-Cultura que passou no Senado (1 - 2). 50 reais para pessoas que ganhem até 5 salários mínimos poderem consumir cultura, e o empregador pode abater do imposto de renda. Até aí, nada contra. Só que dentro do jornal, na parte para assinantes (*sou assinante da UOL, logo, posso olhar a Folha*) veio a seguinte notinha:
Senado inclui "Playboy" e gibis no Vale-Cultura

da Sucursal de Brasília

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem, de forma preliminar, a proposta do governo que institui o Vale-Cultura. A ideia é dar um benefício de R$ 50 para que trabalhadores gastem em atividades ou produtos culturais. O empregador distribui o cartão e deduz o valor do Imposto de Renda.

A votação causou polêmica porque uma emenda, apresentada ontem, incluiu livros, jornais e revistas entre os produtos que podem ser comprados. A matéria foi aprovada com a emenda, apesar do questionamento de senadores se revistas como a "Playboy" e gibis estariam incluídos. Ela ainda pode ser alterada no plenário. Depois, volta à Câmara.
Acredito que a coisa vá render mais ainda, porque argumentam que o objetivo do Vale-Cultura é lotar os cinemas quando o filme de Lula estrear. Pode ser, pode não ser,sempre partem do princípio de que a população mais pobre é idiota ou desinteressada de cultura em geral. Só que vindo de Folha ou da Veja, melhor desconfiar. Ambas estão se especializando em atacar o presidente, a Veja já de longa data. Lula dá motivo? Sem dúvida! Só que o mesmo tratamento deveria ser dado ao Serra e seu Rodoanel. Enfim, vamos voltar...

Não vou dizer que me surpreenda colocarem a Playboy do lado dos quadrinhos (gibis), afinal, já faz algum tempo que a Folha e outros veículos de comunicação publicam matérias sensacionalistas e depreciativas sobre HQs, vide o caso Will Eisner. E juntar Playboy e Gibis (Mangá, Eisner, Marianne Satrapi, etc, etc.) é desqualificar os quadrinhos.

E eu concordo com o Gilberto Dimenstein que escreveu "Nada contra a "Playboy", mas mulher pelada não é cultura - muito menos com dinheiro público.". Eu até tenho muita coisa contra a Playboy, mas não vem ao caso, só não acho justo usarem meus impostos para pagar revista para punheteiro. Talvez, o objetivo seja acalmar um pouco a editora Abril. Ingenuidade, pois a Veja vai continuar tacando pedra do mesmo jeito.

Só que o próprio Dimenstein completa com o "Ou o gibi.". Precebam que a linha é a mesma. Gibi é lixo, não é cultura. E tome reeditar os velhos discursos... Completo dizendo que é muito revoltante ler essas notinhas, pois o objetivo é claro, associar os quadrinhos a algo visto como “ruim”, “pernicioso”, “supérfluo”, “pornográfico” aos quadrinhos que vão muito, muito além disso.

6 pessoas comentaram:

Preconceito, interesse politico, talvez comercial, tudo misturado numa critica até justificada a uma ideia inicialmente boa.

Felizmente me parece parece algo não complicado de se resolver.

Uma melhor descriçãou ou restrição no proprio projeto ja evita isso.

Isso se os parlamentares tiverem atençãoe bom senso.

concordo com vc, a mídia tradicional adora colocar os quadrinhos como algo inferior... e realmente n acho q a revista Playboy deva estar na lista de produtos do vale-cultura

Adianta discutir isso? Gente preconceituosa sempre será preconceituosa, nem que esfreguem um Seton na cara desses sujeitos, um Sandman etc. eles vão admitir a verdade.
Só acho engraçado que segundo essas regras o dinheiro pode ser gasto para ir ao cinema e o sujeito pode assistir Velozes e Furiosos - corrida na barriga do tubarão que é cultura, mas comprar um mangá como Adolf, ou uma HQ como Promethea é errado.
De qualquer forma deveria existir uma regulamentação por trás disso, o problema é que aqueles que vão regular certamente têm a mesma mentalidade tacanha de que HQ são inferiores por serem desenhadas.
A meu ver esse tipo de medida é para aumentar o nível de consumo do povo em áreas diferentes. De quê adianta aumentar o salário mínimo se o povo gasta tudo em trakinas e cerveja? Viciando o povo em cultura, criando o hábito de consumir livros, dvds, cinemas etc. a longo prazo mais empregos vão sendo gerados, eu entendo e apóio muito a ideia, só não apóio determinadas críticas.
E sinceramente, usar o dinheiro público para comprar playboy? A mulher-melância não precisa do meu dinheiro, definitivamente!

Olha, pela movimentação que eu vi, semana que vem a Folha terá que publicar artigo do pessoal da USP, do núcleo de quadrinhos. Ou do professor Valdomiro Vergueiro, ou do professor Gazy Andraus, ou de ambos. Eles escreveram para a Folha, eles são pesquisadores da USP, e têm livros e artigos na área de quadrinhos e educação. Daí, já viu...

Mas há quem defenda o direito à Playboy e que revista erótica também é cultura. Enfim, meu marido tempos atrás ganhou seis meses de assinatura da Playboy. Há matérias e entrevistas? Sem dúvida! Só que elas são voltadas para um público VIP, que tem muito dinheiro e consome produtos de luxo e ostentação (*mulheres, inclusive*), não para quem precisa de bolsa cultura. A não ser que isso mude o foco da revistas...

Mas eu vejo como absurdo essa inclusão. E, sim, Kadu, concordo com você, é preciso critério e, claro, obrigar o sujeito a gastar com cultura. Mas do jeito que as coisas são, as necessidades inclusive, periga ser gasto com pão e leite, comida em geral, ou mesmo cigarro e bebida.

Mas porquê a Folha vai ter que publicar uma matéria deles? Eles escreveram alguma bobagem e vão ter que publicar algo para se retificar?

BTW eu tenho uma conhecida que tinha certo parente trocava o leite que as filhas ganhavam na escola por pinga e "gordurão" - que eu não fazia ideia do que era até ela me explicar que é a gordura do boi que é "tecnicamente jogada fora" mas que os açougueiros vendem por 50 centavos/1R$ o quilo e é usado para fazer sopa. - É bem possível que esse tipo de vale seja largamente trocado por bebida, cigarro ou eu espero por comida mesmo. Mas se ele cumprir sua função em 80% dos casos eu fico feliz. Nosso povo é muito ignorante, eu trabalho em biblioteca e volta e meia chega alguém que precisa ler algum clássico e logo vêm me perguntar s eeu tenho uma "versão atualizada," "versão reduzida."

Kadu, eu leio a Folha, só este anos ela teve que se retratar sem se retratar duas vezes. E são professores da USP, ela vai ter que publicar alguma coisa.

Mas há uma seção do jornal para isso, que é a opinião. No final vem "a Folha não se responsabiliza...". Pode esperar. Eu ainda vou postar a resposta.

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