Comentando o filme Prometheus

Acabei de voltar de Prometheus. Como adiantei no Twitter, achei o filme muito ruim. Sem negociação, sem concessões, sem meias palavras. Esperava assistir um filme adulto e consistente, não vi nem uma boa ficção científica, nem um filme de ação empolgante, muito menos um suspense. Não foi o pior filme que eu assisti no cinema, mas passou muito, muito perto. No fim das contas, eu tenho é que tomar vergonha, afinal, Ridley Scott já me enganou antes com Gladiador, Cruzada e Robin Hood. Deveria ter desconfiado, embora nenhum desses três anteriores possam ser chamados de filmes ruins, já Prometheus, eu não chamaria nem de medíocre. E só estou fazendo esta resenha, porque prometi resenhar todos os filmes que assistisse, só por isso mesmo. Mas, enfim, vamos lá, segue a sinopse.

Em 2089, um grupo de exploradores liderados pela Dr.ª Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e o Dr. Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem pistas deixadas pelso “criadores” da raça humana em diversos sítios arqueológicos. O magnata Peter Weyland (Guy Pearce) decide bancar a exploração que levará um grupo de cientistas e outros tripulantes até um distante canto da galáxia. Enquanto todos dormem, o andróide David (Michael Fassbender) zela pela nave Prometheus e seus tripulantes, além de aprender sobre a humanidade e investigar as memórias dos que dormem. Quando o grupo chega ao seu destino, descobre que eles devem lutar uma batalha sanguinária para salvar o futuro da humanidade na Terra.

Promissor? Sim, os trailers foram bem convincentes. Prometheus deveria ser uma prequel de Alien. E eu, que não lembro muito bem do primeiro filme, já que assisti mais de vinte anos atrás, não estava com o original na cabeça, mas aberta para uma obra autônoma e instigante. A primeira cena, com o extra-terrestre se desfazendo em cadeias de DNA nada disse, além de ser bem primária. Só que imaginamos que tudo, ou pelo mesmo alguma coisa, será explicada mais tarde. Depois, entram em cena os cientistas e sua descoberta e pulamos para a nave. Fassbender passa alguns minutos sozinho e nos distrai bem com seu andróide curioso cinéfilo de chinelos. O problema começa quando os humanos acordam... Pois bem, começando pelo pior, os cientistas e a ciência em Prometheus.

O cinema pede suspensão de descrença, sei bem disso, mas um filme como Prometheus pede muito da audiência, pede que esqueçamos princípios básicos de ciência, que fechemos os olhos para muitos absurdos e engulamos explicações que nada explicam. Primeiro, os tais extraterrestres são a origem da vida humana ou de toda a vida na Terra? Coloco isso, porque a cientista de Noomi Rapace é uma criacionista, ela acredita que os E.T.s, os “engenheiros”, nos criaram e “Deus” criou tudo. Sim, DEUS. Curioso é que o filme vende que a necessidade de encontrar o criador é algo que nos torna humanos. Sei que vivemos em tempos de obscurantismo religioso, mas não esperava ver isso em um filme de ficção científica. E outra coisa, no começo do filme a Dr.ª Shaw parece ser arqueóloga, mais para frente, ela parece ser da área médico-biológica. Qual a especialidade dela afinal?

Além da cientista criacionista com crucifixo no pescoço, temos um grupo de outros "especialistas" que parece mais uma gangue ou um bando de moleques. O Michelotto de The Borgias aparece logo dando patadas no biólogo do grupo e eu pensei que ele era um dos tripulantes. Qual nada! Ele era o geólogo. O biólogo – que debocha do criacionismo de Shaw – é um babaca que vê, se deslumbra, e quer botar a mão no alienzinho em forma de pênis em processo de ereção e fica repetindo que ela (*sim, ele acha que é menina*) era “bonitinha”. Nem preciso dizer que a coisa não terminou bem... O arqueólogo, namorado de Shaw, chega na caverna no planeta alienígena e vai logo tirando o capacete, afinal, o ar é respirável ali. Proteção para quê, não é mesmo? Em Jornada nas Estrelas o povo nem traje usa... Não se preocupa em contaminar, nem em ser contaminado. Assim, nível filme de ficção científica dos anos 1950/60. Se só o arqueólogo tirasse, se os da área biomédica debochassem dele, OK, até passava, mas, não! Todo mundo tira o capacete sem pensar muito.

É clichê em filmes hollywoodianos que os cientistas sejam inconseqüentes, "que brinquem de deus", mas em Prometheus eles abusam. São incompetentes, idiotas, e são também pouco profissionais. Aliás, ninguém naquela nave é profissional, a personagem de Charlize Theron até tenta parecer, mas ela é totalmente desperdiçada. Colocada em cena para ser a chefe durona e sem coração, ela é um rascunho de personagem e ainda é enfiada em uma trama caída de pára-quedas com Weyland, o dono da corporação, ao estilo “Luke, eu sou seu pai”. Fica difícil entender se ela foi rejeitada pelo pai por ser mulher ou o quê. E nem adianta dizer que isso será explicado em um segundo filme, porque vocês sabem que 99% das personagens dizimada. Essa é a lógica de um filme assim.

Além disso, temos personagens demais, algumas muito babacas, como o noivo de Shaw, e somente David consegue ser desenvolvida de forma mais ou menos consistente, dentro das limitações de um roteiro capenga. E, bem, por mais que eu goste do Fassbender, por mais que o andróide dele seja interessante, o cara não é capaz de salvar um filme do porte de Prometheus. Nenhuma personagem passa empatia e fica difícil acreditar no sacrifício final pelo futuro da humanidade. Fora isso, a ciência mostrada é rasteira e cheia de inconsistências. O display com os dois códigos de DNA é primário, risível. E alguém me explica como uma pessoa que passou por uma operação de médio porte no abdômen consegue correr tanto e imediatamente sem ser super humana? É uma coisa tão ridícula e absurda que gera riso, não tensão. E é assim, ela é capaz de correr, pular, lutar, mas paradinha parece que vai morrer de dor...

Algumas situações – como o sexo não mostrado entre a personagem de Chalize Theron e o Capitão – não tem função na trama; mesmo quando tem nome, as personagens não tem história. Os aliens contaminam os humanos por quaisquer orifícios e parece que alguém andou se inspirando nos hentai, porque os tentáculos fálicos são uma presença constante. E temos as obviedades, como alguém engravidar (*rápida e instantaneamente*) do alien e o pod ser deixado no planeta não para que ajudar algum sobrevivente, mas para que tenhamos uma cena forçada de suposto suspense com o alien...

O visual do filme é bom? Sim. Os efeitos são bons? Sim. Isso salva o filme? Não. Prometheus cumpre a Bechdel Rule? Sim. Isso é bom. É, afinal, isso é raro em filmes hollywoodianos. Temos três mulheres à bordo, todas têm nomes, conversam entre si, e não é sobre um homem. Mas, assim como em Branca de Neve, querem vende personagens inconsistentes como mulheres fortes. O fato de Prometheus ter uma mulher como protagonista, a personagem de Rapace, uma mulher no comando da nave, a personagem de Theron, e outra cientista que transpira competência, não torna o filme afirmativo, feminista ou progressista. Aliás, além do obscurantismo da personagem de Rapace, ainda temos a choradeira dela sobre a incapacidade de “criar vida”, isto é, ser mãe.

Talvez eu não seja humana, já que concordo com David, o andróide em muita coisa a respeito dessa tal busca pelo criador. Aliás, a grande pergunta do filme deveria ser não "por que vocês nos criaram", mas "por que vocês querem nos destruir". E nem digo que quisessem vender Prometheus como filme religioso, simplesmente é um filme sem consistência, com um roteiro desconexo, que não toca, não comove, não assusta, não faz pensar. Esquecível e vazio. Mas teremos continuação, afinal, a moda agora é deixar pontas soltas e empurrar que é para explicar depois. É moda, também, incensar certos diretores, daí, tenho certeza que alguém vai dizer que eu (*meu marido, o casal atrás de nós que disse que o filme era “fraquinho”, e outros*) não fui capaz de entender a “profundidade” do filme. OK. Eu nem vou perder meu tempo com isso. Até Branca de Neve e o Caçador é mais filme que Prometheus. E tive duas sortes, não ter gastado dinheiro com o 3D e não ter forçado meu marido a ir. Ele queria ver Prometheus, se tivesse sido insistência minha, estaria ouvindo até agora.