quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Atores e atrizes brasileiros descendentes de japoneses, coreanos e chineses publicam manifesto denunciando a discriminação que sofrem


Segunda-feira estreou Sol Nascente, novela praiana de  Walter Negrão, Suzana Pires e Júlio Fischer.  Desde o início, os comentários sobre a família japonesa da trama foram em geral negativos, afinal, com tantos atores descendentes de japoneses no Brasil, fora escalar Luís Mello para o papel.  Escrevi sobre isso em abril e o post se tornou um do mais visitados do Shoujo Café.  

Hoje, a coluna do Mauricio Stycer para o site da UOL trouxe o manifesto do Coletivo Oriente-se formado por atores brasileiros de origem japonesa, coreana e chinesa.  O texto denuncia a “discriminação étnica que ocorre em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade” e afirma que “frente às desigualdades existentes, não basta rejeitar as práticas de discriminação, mas sim realizar ações que possam corrigir distorções e aproximar indivíduos”.  

Ken Kaneko: velho demais para o papel?
Trata-se, portanto, de um texto muito importante, pois joga por terra argumentos do tipo "não há atores brasileiros de origem japonesa/coreana/chinesa para o papel" ou que eles e elas - os orientais - não se importam.  O texto do Mauricio Stycer traz informações importantes como as desculpas esdrúxulas para que o ator Ken Kaneko não interpretar o papel dado para Luís Mello, ou o porquê de escalarem Giovanna Antonelli como protagonista.  Enfim, segue o texto completo do Manifesto:

Manifesto do COLETIVO ORIENTE-SE no Brasil pela Igualdade Étnica

Nós, artistas e profissionais das artes com ascendência oriental, seja japonesa, chinesa ou coreana, reivindicamos por igualdade no tratamento justo a todos os cidadãos, repugnando práticas de discriminação étnica que ocorrem em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade. Em especial para produções populares de rede aberta como novelas, seriados e comerciais que atingem a maioria da parcela dos cidadãos brasileiros, influenciam diretamente a sociedade promovendo às vezes, o conceito deturpado e negativo, denegrindo a imagem dos orientais e educando as novas gerações com a visão preconceituosa contra a nossa comunidade.

Somos parte integrante da sociedade brasileira, nascemos, vivemos e contribuímos com muito trabalho para o enriquecimento e desenvolvimento de nossa nação. Ter a presença de atores e artistas orientais em produções de audiovisual em papéis não estereotipados e de forma respeitosa, é o mínimo e o justo que a comunidade oriental brasileira merece em retribuição e gratidão por mais de um século de história em terras brasileiras. Somos brasileiros e exigimos respeito para com todos, independentemente de sua ascendência. A diversidade étnica, social e/ou de gênero é fundamental e necessária para o crescimento de qualquer cidadão.

A família japonesa com protagonistas não-descendentes.
Entendemos que, frente às desigualdades existentes, não basta rejeitar as práticas de discriminação, mas sim realizar ações que possam corrigir distorções e aproximar indivíduos. É responsabilidade de cada um de nós brasileiros, promover a igualdade no cotidiano, através de nossos atos, trabalhos e postura. É de extrema importância que os profissionais que atuam diretamente na concepção e produção de obras de audiovisual, tenham a consciência de que a sua criação pode influenciar positivamente a nossa sociedade e difundir a diversidade. Cabe também a nós, artistas orientais brasileiros, fomentar a imagem positiva de nossa comunidade, através de nosso trabalho artístico, para que as futuras gerações possam se olhar com a autoestima de um cidadão brasileiro pertencente a esta nação.

A partir de 01.09.16, O Coletivo Oriente-se divulgará, semanalmente, um vídeo inédito através do Canal do Youtube (www.youtube.com/coletivoorientese) retratando o oriental como cidadão brasileiro, com dilemas, humor, drama e interagindo com outras etnias, afim de promover a diversidade humana!

São Paulo, 31 de agosto de 2016.

2 pessoas comentaram:

cansei da TV. o ideal é boicota-la.

O texto é ótimo! Procurava algo que realmente me representasse.
Sou atriz de formação, no momento estou no mercado artístico ainda deturpado; a nossa classe artística precisa se fortalecer, quebrar paradigmas e preconceitos, lutar para ser reconhecido, queremos ver orientais trabalhando na tv no cinema, em comerciais, não somos poucos e tenho certeza que existem muitos artistas com talento em busca de oportunidades!

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