Esses dias, vários sites estão publicando alguma coisa sobre a dissertação de mestrado da Narayan Porto chamada Feitiçaria paulista: transcrição de processo-crime da Justiça Eclesiástica na América portuguesa do século 18 apresentado na FFLCH da USP. Não é um trabalho de História, mas do Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa. A página da USP traz a seguinte introdução:
O ano era 1754 e o local, a Justiça Eclesiástica, na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. As rés, Thereza Leyte e Escholástica Pinta da Silva, mãe e filha, estão no tribunal do Santo Ofício acusadas de terem feito um pacto com o demônio e matar o primeiro marido de Escholástica, Manoel Garcia, utilizando feitiçarias. A Inquisição no Brasil – movimento da igreja católica criado para combater heresias e ameaças à doutrina cristã – teve início no período colonial, mas já vinha ocorrendo em países da Europa como França, Itália e Portugal desde o século 12. No Brasil, o movimento se consolidou por meio do Tribunal do Santo Ofício, que recebia visitas de inquisidores vindos de Portugal para investigar comportamentos e práticas diferentes dos estabelecidos pela igreja católica.
A página traz dois vídeos explicando o trabalho que implicou na transcrição do texto do processo e na análise das variantes linguísticas. Foram identificadas 11 caligrafias diferentes, só imagine. Enfim, não vou adiantar o que é dito no vídeo, mas é interessante ver a análise da forma como esses processos eram utilizados no Brasil para perseguir adversários. Pensem no risco que as pessoas corriam, especialmente, as mais vulneráveis. Em todo caso, o governo português nunca permitiu que o Tribunal de Inquisição se estabelecesse no Brasil, quando os casos eram complicados, o processo e os réus eram remetidos para Portugal. Nós tivemos visitações periódicas e as pessoas podiam denunciar crimes, ou se apresentar e pedir perdão, havia um prazo para isso, inclusive. De qualquer forma, diferente do que o texto da página diz, esse rolo todo nada tem de medieval, mas é moderno mesmo, ligado ao processo de reforma católica (contrarreforma). Até as ilustrações da página mostram pessoas em roupas medievais, enfim, mas isso nada tem a ver com o trabalho. De qualquer forma, agora que esses processos foram transcritos, isso facilita a vida de historiadores que poderão analisar o caso em si e suas conexões com a época (*costumes, crenças, práticas sociais e econômicas etc.*). Enfim, assistam ao vídeo.
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