sábado, 13 de julho de 2019

Comentando algumas matérias do Le Monde sobre o 20º Japan Expo


A França é o segundo maior mercado de mangá do mundo, lá publica-se de tudo, consome-se de tudo.  Semana passada, entre os dias 4 e 7, aconteceu o 20º Japan Expo.  Como fui mexer no caderno Pixels do Le Monde, achei uma série de matérias interessantes, a maioria para assinantes, e nem o outline conseguiu liberar tudo.  Mas vou fazer um resumão e dar os links de três que achei interessante.  Vai que você consegue ler tudo?

Uma matéria interessante no pixels se chama Etre mangaka en France, un parcours du combattant (Ser mangá-ka na França, o caminho do guerreiro).   Ela começa já apresentando dados importantes para entender o mercado francês.  Segundo o texto, o mercado de mangás no país cresceu 24% entre 2016 e 2018.  Como eles levam essas coisas de mercado de quadrinhos muito a sério, são dados oficiais.  Também é fornecida a informação de que 1/4 do mercado de quadrinhos francês em 2018 era mangá.  E só pensem o seguinte, os franceses produzem muito quadrinho, eles têm orgulho do produto nacional, a qualidade da produção é muito boa no geral, ainda assim, por terem recursos (*o dinheiro que a gente não tem e terá ainda menos nos anos futuros*) e por gostarem de ler (*quadrinhos é uma parcela do mercado editorial*) eles consomem material estrangeiro aos montes.  


A partir daí, a matéria começa a conversar com Christophe Cointault, autor da série Tinta Run, publicada pela Glénat, uma das grandes editoras de mangá.  Segundo o texto, o último volume de quatro previstos sai este ano, mas que o autor estreará nova série em 2020.  Ele seria um dos mangá-kas franceses bem sucedidos, por assim dizer.  Cointault, que tem 30 anos, comenta que a carga horária de um mangá-ka pode chegar a 12 horas ao dia, mas que ele, que é pai, não quer sacrificar sua vida familiar e saúde, então, ele tenta equilibrar as coisas.  Ele reclama que a mudança na legislação de direitos autorais (*preciso pesquisar isso, desculpem*), efetivada em março, tirou 10% do seu salário.  Uma perda considerável.

O texto segue pontuando que mesmo essas questões não desestimulam os candidatos a mangá-ka, porque o mercado é sólido e o mangá se tornou uma instituição cultural no país.  Se no ano 2000, durante a primeira edição da Japan Expo, os organizadores registraram 3.200 visitantes; em 2018, são mais de 243 mil.  Um crescimento considerável.  


Outra matéria do Le Monde sobre o Japan Expo é A Japan Expo, les libraires vendent des milliers de mangas en quatre jours (Na Japan Expo, livrarias vendem milhares de mangas em quatro dias).  O artigo fala da importância do evento para as pequenas e grandes editoras e para os lojistas, também.  Só My Hero Academia vende entre 2, 3 milhões de cópias na França.  No Japan Expo, uma das grandes apostas era o mangá novo do autor de Gantz.

O texto entrevista livreiros que relatam a importância do evento para ampliar a base de leitores e aprender mais da própria profissão.  É um evento estressante.  Um dos participantes relata que seu primeiro stand no Japan Expo, em 2006, tinha 20 metros quadrados, o atual tem 200.  É um mercado muito diferente do nosso, quando eu pontuo que certas obras não teriam espaço em nosso país não é por maldade, simplesmente, veja a máquina que se tem na França e o que temos no Brasil.


A terceira matéria é sobre a Japan Expo em si e se chama Comment Japan Expo, qui a 20 ans, est devenu l’un des plus imposants salons de France (Como a Japan Expo, que tem 20 anos, se tornou um dos maiores salões da França).  O texto começa se perguntando como uma convenção de estudantes com 3 mil pessoas tornou-se um dos maiores convenções do país.  Segundo Karin Talbi, que é frequentador desde dos primórdios, "No início, foi uma reunião de pessoas apaixonadas em toda a França que se conheciam e falavam sobre mangás, videogames e animes em fóruns e chats do IRC. Foi uma rara oportunidade de conhecer, de nos encontrarmos novamente. Os criadores vêm da comunidade de fanzines ".  

Em 2004, o evento bombou, criando um frisson enorme.  Foi inesperado e um evento concorrente começou a declinar.  Em 2006, os fundadores do evento, Thomas Sirdey, Jean-François Dufour e Sandrine Dufou, se uniram a uma empresa, a SEFA Event, conseguindo aporte de capital e especialização em grandes eventos.  Um evento de nicho, folclórico, se expandiu enormemente.  Muitos frequentadores economizam o ano inteiro, o evento traz convidados e a média de gastos por pessoa é de  138 euros.  O evento atrai homens, mulheres e crianças, 54% de fora de Paris, servindo de termômetro para as editoras.


O responsável pela editora Ki-oon fala que é muito caro ter um stand no Japan Expo e que o lucro no evento não cobre os gastos, mas que vale a pena, pois é o momento de encontrar com os leitores, fazer propaganda da editora, possibilitando uma melhor colocação no mercado e contatos comerciais vantajosos e, algo interessante, possibilita repensar os produtos para ter bases de negociação com os detentores dos direitos japoneses.  Mas há reclamações, segundo o Le Monde, feitas no anonimato.  A SEFA não permite negociações, não oferece brindes e retira o máximo de lucro dos 900 expositores.  Mas, mesmo com problemas, o evento é um sucesso e deve se perpetuar por vários anos ainda.

Enfim, é isso. Espero que o post tenha sido útil.  Seguindo os links, vocês acessam as matérias.  A sobre os mangá-kas é para assinantes, as outras duas, não são.  As imagens vieram das matérias em sua maioria.

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