domingo, 2 de fevereiro de 2020

Novelando Urgente: Já temos as primeiras imagens de Nos Tempos do Imperador e alguns comentários sobre telenovela e História Alternativa


Saiu a primeira imagem de Selton Mello caracterizado como D. Pedro II para a novela das seis da Globo, Nos Tempos do Imperador, que vai estrear depois de Éramos Seis, é do mesmo pessoal de Novo Mundo.  Acompanho de longe a produção, porque não consegui me afeiçoar a Novo Mundo e acredito que o único post que eu fiz sobre ela foi tentando entender o figurino pelas fotos reveladas.  E não gostei do que vi e li, logo de saída.

Basicamente, Nos Tempos do Imperador deve ser um novo exercício de História Alternativa que pode, ou não, ser irritante para quem é do ramo, isto é, professores da disciplina, estudiosos da biografia dos envolvidos e historiadores que trabalham com Segundo Império. Se a novela fizer sucesso nos moldes de Novo Mundo, crescerá o interesse por material relacionado ao período e quem tem canais do Youtube (*dos de maior qualidade ao lixo mais tétrico*) e produz livros sobre a época, vai ganhar dinheiro.

Transformaram Pedro I, Leopoldina e José Bonifácio
em um quase triângulo amoroso.
Quando Novo Mundo passou, eu estava dando aula para o 3º Ano, pegava da Proclamação da República para frente, mas cheguei a ter que responder perguntas sobre a novela, a forma como as personagens e eventos eram tratados.  Enfim, como acompanho as notícias, eu sei que o interesse pelas personagens históricas, especialmente, a Princesa Leopoldina (Letícia Colin), foi enorme.  Leopoldina se tornou, inclusive, a protagonista moral da novela.  

Exatamente por isso, lhe deram um final feliz e um marido menos canalha, ou seja, reformaram Pedro I (Caio Castro) e, o que na época me deixou bem embasbacada, sugeriram um possível romance platônico entre a primeira imperatriz do Brasil e José Bonifácio (Felipe Camargo).  Houve gente atazanando o Paulo Rezutti por causa disso e ele fez um vídeo discutindo a questão.  De resto, recomendo o canal dele.

Mariana Ximenes é a Condessa de Barral,
preceptora das princesas Leopoldina e Isabel,
amiga e, sim, amante do Imperador.
É inegável o talento de Letícia Colin, Felipe Camargo e outros membros do elenco, mas é por essas e outras coisas que eu chamo Novo Mundo de História Alternativa que precisou adquirir características folhetinescas, porque sendo novela é obra aberta, isto é, em construção, navegando ao gosto da audiência.  Vide o que estão fazendo com Éramos Seis nesse momento, criando um romance para D. Lola, a eterna viúva de seu marido, uma terrível vilã, e tudo mais.  

Aliás, quando li em uma chamada da emissora o termo "casal Lolonso" (Lola + Afonso), meu estômago meio que virou, primeiro, por ser breguíssimo, segundo, porque estão transformando a novela em fanfic para agradar certas parcelas do público que a assiste.  Audiência, a incapacidade do público atual de lidar com finais mais realistas, especialmente, com as características que imperam nas tramas das seis.  Mas adaptação de um livro é algo muito mais livre do que uma novela histórica.  No caso da História Alternativa, normalmente, ela não se afasta muito do que seria uma narrativa realista.   Cria-se um ponto de divergência (*Ex.: Hitler venceu a II Guerra Mundial*) e a história segue sem se afastar muito do que seria realmente possível.  Novo Mundo não foi bem desse jeito e não somente por ser novela.  Espero ter explicado o meu ponto.

Alexandre Nero será o vilão,
bem, pode ser interessante.
Nos Tempos do Imperador será ruim?  Não, não será, provavelmente.  Talvez, as personagens fictícias possam ter mais força do que na novela prequel e suas tramas sejam mais importantes para o andar da produção.  Agora, olhando Marina Ximenes como a Condessa de Barral, eu realmente percebo nela potencial para arrancar o posto de mocinha da trama de quem quer que seja.  Pode se dar o inverso e, bem, não sei se o público que idealiza Pedro II, um dos maiores estadistas que o país já teve, vai conseguir lidar com o fato dele ter sido um mulherengo, como o pai foi, ainda que discretíssimo, além de ter outros defeitos que os monarquistas no geral fazem questão de omitir, ou justificar.  

A escolha do Selton Mello é curiosa.  Gosto dele, é bom ator e o prefiro ao irmão, porque Danton sempre me parece à beira de uma crise de riso.  Mas digo que a escolha é boa, porque ele tem uma voz meio pra dentro, que pode se aproximar do que era a voz de Pedro II, que apesar de ser um homem bem alto e com a pose digna das fotos (*e temos muitas*) tinha uma voz inesperadamente fina.  Motivo?  Uma inflamação de garganta que, curada aos moldes da época, lesionou suas cordas vocais, causando dano permanente.  


Nem deveria ter imperador no título.
Quando assisti Mauá - O Imperador e o Rei, não sabia dessa história, mas, hoje, me incomoda ainda mais o fato de terem dublado o ator Rodrigo Penna, que tinha uma voz absolutamente adequada, para lhe darem uma voz masculina mais grave.  Bem absurdo e eu, que gostava bastante do ator por conta da imagem dele em Top Model, achei lamentável.  Mas, apesar do "Imperador" do título, o filme é sobre Mauá mesmo.  Fora isso, a representação de D. Pedro II é antipática e só.

É isso, por enquanto.  Não há mal nenhum em História Alternativa, gosto bastante do gênero quando se assume como tal e desde que o objetivo não seja transformar a ficção que atende aos interesses de certos grupos em uma narrativa hegemônica, ou para legitimar isto, ou aquilo.  Aliás, eu como historiadora acredito que é muito válido trazer a história nacional para a sala de estar das pessoas, faz-se muito pouco isso por aqui.  E seria interessante mostrarem que D. Pedro II não foi sempre o velhinho das fotos que normalmente aparecem nos livros didáticos.  A novela começará em 1856, logo, terão que mostrar outras facetas dele.


Gosto do trabalho que o jornalista Paulo Rezutti faz.  
Ele é um excelente pesquisador, na medida 
que consegue desencavar fontes que a maioria 
desconhece, é responsável e escreve de forma acessível 
coisa que muitos acadêmicos não fazem.  
(*Se clicar na imagem, vai direto para o Amazon*)

Agora, como não gostei do que vi em Novo Mundo, e não gostei a ponto de nem querer comentar no blog, provavelmente não assistirei.  O problema é que vou estar dando aula para o 2º Ano em 2020, talvez, me veja obrigada a olhar alguma coisa, porque é possível que algum aluno, ou aluna, pergunte sobre ela.  De resto, se deliciem com os minions xingando a novela no Twitter, só por aí, a emissora, caso esteja atenta, já deve estar farejando o sucesso que será, e os submundo monarquista do Youtube, também.

1 pessoas comentaram:

Uma pena que você não fará textos sobre a novela, adoraria ter uma opinião de uma historiadora para comparar, amei seu texto!

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