sábado, 25 de novembro de 2023

"Justiça sul-coreana ordena que o Japão indenize 16 mulheres, ex-escravas sexuais durante a Segunda Guerra Mundial" (Artigo traduzido)

Já escrevi vários posts sobre as chamadas "mulheres do conforto", isto é, mulheres e meninas que foram transformadas em escravas sexuais para atender as tropas japonesas.  Chinesas, malaias, filipinas, indonésias e mesmo mulheres ocidentais e mesmo japonesas foram colocadas nessa condição.  Há documentação de sobra sobre isso, mas é na Coreia do Sul que o movimento de pedido de desculpas e compensação parece mais avançado, talvez porque mais de 50% das escravizadas fossem da península da Coreia.  E não é fácil para a maioria dessas mulheres se colocarem publicamente, admitirem algo que é visto como vergonha e humilhação.  

Muitas se calaram obrigadas por suas famílias, outras pelo próprio governo de seus respectivos países e, claro, quem se preocupa com as dores das mulheres, ainda mais quando são pobres?  Há várias coisas a se levar em compensação.  Enfim, querem ler sobre as mulheres do conforto sem ser em um artigo de jornal?  Peguem Grama, excelente quadrinho da coreana  Keum Suk Gendry-Kim, saiu no Brasil.  Enfim, o artigo abaixo foi publicado no France TV Info no dia 23.  Manterei a estrutura original do artigo, sem incluir outras imagens além da que está lá.


Justiça sul-coreana ordena que o Japão indenize 16 mulheres, ex-escravas sexuais durante a Segunda Guerra Mundial

Esta decisão anula a tomada por um tribunal de primeira instância, que havia indeferido a petição das vítimas, reduzidas à escravidão nos bordéis do exército imperial durante o conflito mundial.

Franceinfo com AFP
Televisões da França

Lee Young-soo, 95 anos, vítima de escravidão sexual no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, fala durante uma coletiva de imprensa em 23 de novembro de 2023, em Seul, Coreia do Sul. (YONHAP/YONHAP/AFP)

Depois da decepção, o alívio. Um tribunal sul-coreano ordenou que o Japão indenizasse 16 mulheres ou famílias de mulheres vítimas de escravidão sexual durante a Segunda Guerra Mundial na quinta-feira (23 de novembro). Esta decisão anula a tomada por um tribunal de primeira instância que os havia indeferido dois anos antes. Lee Young-soo, uma das 16 demandantes, agora com 95 anos, ergueu os braços de alegria ao sair do tribunal, dizendo aos repórteres: “Estou muito grata... todo o meu agradecimento às vítimas que já morreram”.

Em 2021, este primeiro caso civil foi apresentado à justiça na Coreia do Sul contra Tokyo por estas mulheres, reduzidas à escravatura em bordéis militares durante o conflito mundial. Um tribunal no distrito central de Seul destacou então a “imunidade soberana” do Japão para os indeferir em Abril de 2021 (este princípio do direito internacional impede um tribunal de processar um Estado estrangeiro). O tribunal também considerou que a aceitação dos pedidos dos demandantes poderia causar um incidente diplomático.

Tokyo sempre se recusou a se fazer representar no tribunal

Mas o Supremo Tribunal de Seul decidiu na quinta-feira que era “razoável dizer que a imunidade soberana não deveria ser respeitada (…) em casos de conduta ilegal”, de acordo com um documento judicial consultado pela AFP. Ela ordenou o pagamento de 200 milhões de won, ou 141 mil euros, a cada um dos demandantes. O tribunal disse que as vítimas foram “sequestradas ou atraídas para a escravidão sexual” e decidiu que, como resultado, sofreram “danos” e “foram incapazes de levar uma vida normal após a guerra”.

Segundo historiadores, cerca de 200 mil mulheres, principalmente da Coreia, mas também de outras partes da Ásia, incluindo a China, foram forçadas a tornar-se escravas sexuais de soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Esta questão há muito que pesa nas relações bilaterais entre Seul e Tokyo, que colonizaram a península coreana entre 1910 e 1945. O governo japonês nega ser diretamente responsável pelos abusos cometidos durante a guerra, afirmando que as vítimas foram recrutadas por civis. Tokyo sempre se recusou a comparecer perante os tribunais sul-coreanos, sustentando que a disputa tinha sido resolvida pelo tratado de 1965, que envolvia o pagamento de reparações. O Japão poderia, portanto, recorrer desta decisão.


P.S.: Apesar da vitória, do reconhecimento dos tribunais da Coreia do Sul dos crimes cometidos contra elas, o que é muito importante simbolicamente, eu duvido muito que o Japão vá compensar essas mulheres, ou reconhecer de maneira clara os crimes cometidos contra as chamadas "mulheres do conforto", a coisa vai continuar sendo empurrada pelos governos envolvidos.  E não estou falando somente do Japão, não, mas da própria Coreia do Sul.

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