Fiquei feliz em ter ido assistir ao filme do Super-Homem (Superman) hoje. Havia uma sessão legendada à tarde e fui atrás dela. Confesso que a inserção de Krypto e os primeiros dois minutos do filme me causaram um desconforto. Eu via os antigos desenhos do Super-Boy e o Krypto era parte dele, só que eu era criança, para vocês terem uma ideia do tempo que faz. Em quadrinhos, nunca li nada com o cachorro. Praticamente todos os quadrinhos de Super-Homem que eu li, era coisa da EBAL, Era de Prata, portanto. Sim, já sou velhíssima.
A partir do momento em que a gente entende a função do cachorro, humanizar ainda mais o Super-Homem, porém, talvez passe a gostar de Krypto, que é, no filme, um vira-lata malcomportadíssimo e causa certa de destruição. E Krypto é uma personagem importante na película, não está lá somente para oferecer momentos fofos e de humor. Ele trabalha, por assim dizer. E eu não vi "John Wick", mas acredito que há uma piada referencial ao filme, porque a única vez em que vemos o Super-Homem realmente furioso é quando Lex Luthor sequestra Krypto e diz que não tem nada com isso. Acredito que, ali, naquele momento, ele quase tomou uns tabefes. Não se mexe com o cachorro de uma pessoa, nem com o gato, que fique claro.
Não fiz o resumo do filme ainda, ele segue agora a do site Adoro Cinema: "Um herói movido pela crença e pela esperança na bondade da humanidade. Em Superman, acompanhamos a jornada do super-herói em tentar conciliar suas duas personas: sua herança extraterrestre como kryptoniano e sua vida humana, criado como Clark Kent (David Corenswet) na cidade de Smallville no Kansas. Dirigido por James Gunn, o novo filme irá reunir personagens, heróis e vilões clássicos da história de Superman, como Lex Luthor (Nicholas Hoult), Lois Lane (Rachel Brosnahan), Lanterna Verde (Nathan Fillion), Mulher-Gavião (Isabela Merced), entre outros. O chamado de Superman será colocado à prova através de uma série de novas aventuras épicas e diante de uma sociedade que enxerga seus valores de justiça e verdade como antiquados."
David Corenswet é um Super-Homem novo, ele é muito mais vulnerável que o de Christopher Reeve. Se eu fosse brincar com horóscopo, acho que o mapa astral dele seria uma mistura de Peixes com Câncer, ou a gente gosta, ou não gosta. Talvez, tenha Leão aí, também, porque há certa vaidade na personagem, que precisa ser repensada, mas que o filme não explora muito. Ela fica evidente na entrevista dada para Lois Lane e só.
E como o Super-Homem apanha nesse filme! E sangra. Lembro que quando o Super-Homem de Christopher Reeve sangra a primeira vez, no segundo filme, ele fica assustadíssimo. No filme de James Gunn, o super-herói não é invulnerável, ele tem limites e acredito que seja importante isso. Personagens invencíveis exigem tramas que precisem se esforçar muito para justificar as suas derrotas, mesmo que temporárias. O novo Super-Homem, poderia ser morto, ele é um ser vivo, ele está longe de ser um deus, ainda que as analogias messiânicas continuem lá.
Falando nisso, não gosto de letreiramentos e eles são despejados para nos situar no que está acontecendo no início do filme. Uma escolha curiosa e a analogia messiânica está lá. Super-Homem viveu trinta anos na Terra, faz três anos que está cumprindo sua missão e foi derrotado pela primeira vez. Precisa, agora, se recuperar e há uma preocupação no filme em mostrar que esse Homem de Aço não é invencível, invulnerável, de novo, ele é um ser vivo e ele se tornou mais humano que os humanos por nos amar demais. E se você não percebeu que o Homem de Aço é uma espécie de Jesus Cristo, recomendo o trabalho do professor Iuri Andreas, ele estudou intensamente esse aspecto da personagem.
Há outros super-heróis no filme, e sua participação grande na película me surpreendeu. Temos o Lanterna Verde com corte de cabelo de tigela (Guy Gardner), o Sr. Incrível e a Mulher Gavião. Eles formam a Gangue da Justiça, ou, pelo menos, esse é o nome que agrada ao Lanterna Verde. E eles aparecem bastante, muito mesmo, especialmente, o Sr. Incrível, que parece aqueles heróis de filmes para o público negro dos anos 1970 (*Blaxploitation é o subgênero*). Gostei deles. E há até um kaiju (*monstrão de séries e filmes japoneses*) e aquela luta com com monstro gigante me lembrou coisa de Espectreman ou Ultraman, sabe? Ridículo, mas o filme não se vende como algo tão sério assim. E é preciso entender isso desde os primeiros minutos.
E mais, enquanto a Gangue da Justiça não se preocupa tanto assim em salvar gente, mas em cumprir a missão, o Super-Homem se preocupa em garantir a vida de todo mundo, desde o esquilinho mais fofo. Ainda assim, temos mortes no filme e sangue, mais do que eu imaginava que tivesse. O Super-Homem novo é fofo, é compassivo, mas não vai deixar de se livrar dos vilões ou de seus minions se necessário for. E foi em alguns momentos.
O filme apresenta, também, o núcleo do Planeta Diário, ainda que o Super-Homem apareça muito pouco como Clark Kent. Gente que poderia ser irritante, como Jimmy Olsen (Skyler Gisondo) tem função no filme, aliás, praticamente todo mundo tem. Já a Lois Lane de Rachel Brosnahan é muito boa e, da mesma forma que não contam a infância do Super-Homem, não contam como ela e o Homem de Aço se tornaram namorados, os apresentam assim, mesmo que em "segredo". E essa parte romance é boa, mesmo discreta, e sem apelar para fanservices do protagonista, não que eu esteja reclamando de Henry Cavill só de cuequinha no filme do Zack Snyder, que fique claro, ainda que eu acredite que ele estava desnudando o ator para um púbico masculino hetero antes de tudo.
Falando em beleza, David Corenswet é bonito. Pelas fotos achava que não, mas não é uma beleza perfeita como a do Christopher Reeve, quase inalcançável, ou esse monumento à virilidade esculpida em academia do Henry Cavill, só para ficar com esses dois. Corenswet é bonito sem parecer perfeito demais, tem aquele queixo quadrado que é típico desses atores que são colocados em papéis de super-heróis clássicos e um sorriso com covinhas que o deixa simpático. E ele e a atriz que faz a Lois Lane ficam bem juntos. Lois Lane, aliás, que é igualmente bonita sem ser demais, não é uma mocinha que precisa ser resgatada, mas também não tem uma atitude de eu sei tudo, eu posso tudo, que não raro é associada à personagem em algumas de suas encarnações. Ela não é chata, ela é inteligente, ela tenta compreender o Super-Homem e os dois combinaram bem.
E chegamos ao Nicholas Hoult. Ele é um excelente ator. Acredito que ninguém vá colocar isso em disputa. Deveria ter sido indicado ao Oscar por Jurado Nº 2 no ano passado, mas o filme foi boicotado pela própria Warner. Enfim, o Lex Luthor de Hoult, não a interpretação dele, mas a personagem, não me convence muito, não. Seu plano cebolinesco que envolve uma guerra visivelmente inspirada na invasão da Rússia à Ucrânia (*volto a isso daqui a pouco*) é somente uma desculpa para pegar o Super-Homem. Motivo oficial? Xenofobia. E há uma cena do filme que lembra tanto as prisões de imigrantes promovidas pelo ICE (*o Super-Homem se deixa prender para achar seu cachorro*), que não me espantaria se tivesse sido gravada e inserida, porque "extraterrestres não têm direitos". Sim, o Homem de Aço exige seus direitos como cidadão, ou seus direitos humanos, e ouve isso.
Muito bem, o ódio de Luthor aos meta-humanos, termo ao qual fui apresentada no filme e que parece englobar todo tipo de criatura que não seja humana, de ETs à aparições, sei lá, e isso nem faz grande diferença no filme, parece focado no Super-Homem. Focado a tal ponto, capaz de destruir o mundo até (* e se destruir a si mesmo*), que me parece ser desejo enrustido. E só fiquei me lembrando do final da novela Pecado Mortal no qual o mocinho, depois de ter sido caçado e atazanado pelo vilão durante capítulos e mais capítulos, lhe dá um amasso e diz o que precisa ser dito e somente o Carlos Lombardi seria capaz de colocar em uma trama. E foi novela da Record. O vilão confrontado com sua homossexualidade não admitida e atormentado por sua homofobia, que é real, termina se matando. O Lex Luthor desse filme me parecia merecer algo assim. Resolveria o problema dele. Obviamente, isso JAMAIS seria posto em um filme de Super-heróis e, de resto, nosso Super-Homem talvez seja inocente demais para entender o que estava rolando ali.
Falando na guerra entre Borávia e Jarhanpur, essa é a parte ridícula do filme. Não o fato do Super-Homem se achar no direito de intervir em uma guerra e impedir que uma nação governada por um ditador ridículo armado até os dentes por Luthor invadisse uma nação indefesa, mas a forma como a coisa é apresentada mesmo. Borávia é a caricatura da ditadura e Jarhanpur é outra caricatura, só que de um país de terceiro mundo no qual boa parte da população é não-branca e armada com paus, pedras e facões. O agravante aí é que o filme é claro em estabelecer que os dois países estão na EUROPA ORIENTAL. A população de Jarhanpul parece indiana, sabe? Começando pelo nome, aliás. Achei o ponto baixo do filme. Já Metrópolis é uma cidade diversa, tão diversa que é quase um Rio de Janeiro em composição étnica. Sem problema aqui. E, para quem já está guinchando, Jimmy Olsen é ruivo e com sardinhas e ridiculamente assediado pelas mulheres. Eis uma das piadas do filme.
Algo que me surpreendeu no filme, talvez por eu não ser leitora de quadrinhos, é a forma como os pais kryptonianos do Super-Homem são apresentados. Não darei spoilers, mas não parece ter sido uma armação de Lex Luthor, não. E essa nova abordagem é fundamental para que o Super-Homem encare seu papel nesse mundo de forma diferente e repense a sua própria identidade. O melhor diálogo entre o herói e Luthor nesse filme está ligada a essa revelação. Falando em pais, os humanos do Super-Homem aparecem em algumas cenas, e são cenas bonitinhas e eles são velhinhos como devem ser. E quando Martha (Neva Howell) diz que já poliu as botas do filho para que ele possa ir salvar o mundo, é algo muito bobo, muito família tradicional, mas passa aquela ideia de que, sim, ela é a mãe dele e o compreende como ninguém. A mesma coisa, a cena do Super-Homem com o pai (Pruitt Taylor Vince) no balanço. Cenas pequenas e preciosas para mostrar que o herói é humano e é gente comum, pelo menos na perspectiva do norte-americano médio.
E o Super-Homem é muito conservador em seus valores, conservador DE VERDADE. Ele tem um comportamento impecável, ele se preocupa com o que é bom e justo, ele se comporta como um cavaleiro medieval em um mundo marcado pela ganância, perversidade e cinismo. Mesmo a Gangue da Justiça, e o Sr. Incrível é muito importante no filme, não entende os valores humanistas da personagem. Super-Homem veio para cuidar, não para destruir. E esse conjunto de valores somado a uma crítica ao ódio pelos imigrantes, pelo diferente, por aqueles que tiveram que deixar a sua terra, irritou a extrema-direita norte-americana, que está chamando a personagem de Woke-Man. Descobriram agora que o o Super-Homem é um imigrante não-documentado? Não, é cara de pau mesmo. Queriam um Homem de Aço frio, desumanizado, incapaz de piedade. O filme não oferece isso e o inimigo é um bilionário cheio de ódio (*ou desejo*) contra o protagonista.
Já caminhando para o fim. Gostei do tema do filme retornar ao original de 1978 oferecendo algo de novo. Reconhecer os acordes traz algo de nostálgico para mim. E estou redigindo a resenha ouvindo o tema do filme de 2025. Outra coisa boa do filme é ver cores. O uniforme do Super-Homem não é tão brilhante quanto o do filme de 1978, mas rompe com a estética soturna que se tornou regra. É colorido, sim. É bonito, também. O resultado além de esteticamente interessante evoca bons sentimentos: humanismo, busca pela justiça, otimismo em relação ao futuro. A cor não tira a seriedade de uma personagem, não a enfraquece. Espero que seja uma tendência, porque uma das coisas que me atraiu para Star Trek Strange New Worlds foi também esse aspecto. Que o tempo da palheta que só tem preto, cinza, marrom, azul marinho e roxo/vermelho fechados seja enterrada.
De resto, o filme não cumpre a Bechdel Rule. Há cinco (*seis, se contar com a repórter decotada do Planeta Diário*) personagens femininas com destaque e falas: Lois Lane, a Mulher Gavião, a namorada de Luthor (*fiquem de olho nela*), Martha Kent e a Super Moça (*sim, ela aparece no final*), mas elas não conversam entre si. Lois e Martha trocam umas palavrinhas, acho, mas falam do Super-Homem. Problema com isso? Não. As personagens femininas são importantes dentro da proposta da história e o nome do filme é Super-Homem, precisamos lidar com isso. Ah! A namorada do Lex Luthor (*que ele trata como lixo*) é uma atriz e modelo portuguesa chamada Sara Sampaio. Achei curioso isso, não imaginava.
Concluindo, gostei da nova releitura do Super-Homem humanista e que passa uma mensagem de fé na humanidade, ou, pelo menos, na sua capacidade de aprender e fazer as escolhas certas. Gostei das personagens e o elenco estava bem. Me acostumei com Krypto, mas sei que se meu marido tentar ver esse filme, ele desligará na primeira sequência por conta da cena boba com cachorro. O Super-Homem do James Gunn não é para todos, mas é muito mais acolhedor e humano do que a última releitura. Eu fiquei bem satisfeita e devo ir assistir o filme da Super Moça, mesmo não sendo fã da personagem, e espero que esse novo Super-Homem renda, pelo menos, uma trilogia. Material existe. E fico pensando se a Gangue da Justiça, que recebeu novo membro no final do filme, não irá receber filme ou série própria, mas se ficar como coadjuvante no novo Super-Homem, é bom, também. Há cenas pós-crédito, mas salvo a primeira, que vem no meio dos créditos e é fofinha, a segunda não faz muita diferença.























































3 pessoas comentaram:
Boa resenha, o filme parece interessante. E admito que estou curioso, você já viu ou planeja assistir ao filme Guerreiras do K-Pop (KPop Demon Hunters) ?
O filme do Super-Homem é bom mesmo. Quanto ao Guerreiras do K-Pop, havia duas adolescentes comentando o filme antes da minha sessão de Super-Homem começar. Vontade de assistir, confesso que não tenho, e eu evito comentar coisas coreanas sempre que posso. O fandom é muito emocionado.
Fui agradavelmente surpreendida pelo filme! Gostei bastante da narrativas e dos atores. Também espero que eles continuem com a história e o elenco e façam novos filmes
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