Este é o segundo post sobre os 70 anos da revista Ribon. Estou usando como base uma série de matérias do Yahoo Japão sobre a publicação. No primeiro post, o foco foi dos primórdios da revista até a década de 1970. Vamos ver quais os marcos essa matéria elegeu para as décadas de 1980 e 1990. Este é o período em que a Ribon era a revista shoujo mais vendida do Japão, alcançando uma marca superior a dois milhões e quinhentos mil volumes mensais. Praticamente todas as séries importantes da revista viravam anime e são amadas e lembradas até os nossos dias. Esta cronologia foi feita pela jornalista Uemura Yuko, da revista BAILA (*site da revista*), que é uma publicação de moda focada em mulheres de mais de 30 anos, gente que cresceu lendo a Ribon, sob a supervisão de Sugawa Akiko (Professora, Universidade Nacional de Yokohama) e saiu na versão física da revista.
Em julho de 1982, estreou Tokimeki Tonight (ときめきトゥナイト), de Koi Ikeno. Inspirada na febre das idol, como Seiko Matsuda, as protagonistas da Ribon, como Ranse de Tokimeki Tonight, eram frequentemente chamadas de idols. A matéria ressalta que séries mais longas começaram a aparecer na revista. Tokimeki Tonight chegou aos 30 volumes. Para quem não conhece a série, o resumo inicial é o seguinte: "Ranze Etou é uma adorável garota imortal com um pai vampiro e uma mãe lobisomem que atiravam coisas um no outro quando brigavam de infância. No entanto, Ranze só quer viver como uma garota normal e levar uma vida normal. Infelizmente, ela é "abençoada" com o poder de se transformar em qualquer coisa que morda. Por exemplo, se ela acidentalmente morder um bolo do jeito errado, ela se transformará em um bolo. A única maneira de voltar ao normal é espirrar! Ranze está apaixonada por Shun Makabe, que é um garoto humano bonito da escola. No entanto, uma garota humana (sem muito cabelo) chamada Youko também gosta de Shun, e ela faria qualquer coisa para revelar que Ranze não é humana! As coisas ficaram ainda mais complicadas quando Ranze conheceu Aaron, que é o príncipe do Mundo Espiritual. Aaron se apaixonou por Ranze à primeira vista, e ele faria de tudo para afastá-la de Shun."
Em dezembro de 1985, estreou Hoshi no Hitomi no Silhouette (星の瞳のシルエット), de Hiiragi Aoi. A série foi uma das responsáveis por ampliar as vendas da Ribon que chegou a atingir dois milhões e quinhentos mil exemplares por mês. A série contou com dez volumes e o resumo inicial é o seguinte: "Uma das amigas próximas de Kasumi, Mariko, se apaixonou por Satoshi – um velho amigo de Kasumi, de quem ela não é mais tão próxima. Kasumi quer apoiar a amiga e a está ajudando, mas está começando a perceber que também gosta de Satoshi, e pior ainda, que Satoshi também pode gostar dela…".
Em agosto de 1986, Chibi Maruko-chan (ちびまる子ちゃん), de Momoko Sakura, estreou. A série se tornou uma das mais importantes do Japão, junto com Doraemon (ドラえもん), Sazae-san (サザエさん), Anpanman (アンパンマン) e Crayon Shin-chan (クレヨンしんちゃん). Chibi Maruko-chan tem como protagonista uma menina de nove anos. Ela é preguiçosa, desorganizada e costuma chegar atrasada à escola, em forte contraste com sua irmã mais velha, disciplinada e organizada, que precisa dividir o quarto com ela. Maruko, como muitas crianças, tenta evitar deveres de casa e tarefas domésticas, se aproveita do avô carinhoso e briga com a irmã. Mesmo assim, ela é uma criança bem-intencionada que se esforça para fazer o bem. A autora da série morreu precocemente em 2018 por causa de um câncer de mama.
Em maio de 1992, estreou na Ribon Marmalade Boy (ママレード·ボーイ), de Wataru Yoshizumi. A matéria ressalta que Marmalade Boy inicia uma nova era na revista, lançando uma geração de protagonistas cheias de vida e de sonhos. O fato é que a série foi um grande sucesso e, mesmo com míseros 8 volumes, teve uma animação com 76 episódios. O ponto de partida da série é o seguinte: "Quando Miki Koishikawa recebe seus pais de volta de uma viagem ao Havaí, a última coisa que ela espera é que eles anunciem alegremente que estão se divorciando. Para sua surpresa, eles planejam trocar de parceiro com outro casal que conheceram nas férias. Mal conseguindo controlar suas emoções, Miki comparece relutantemente ao jantar para conhecer o outro casal e seu filho incrivelmente bonito, Yuu Matsuura. Depois de se mudar para uma casa espaçosa com sua família recém-reformada, Miki luta para se adaptar ao seu novo estilo de vida e aos seus sentimentos crescentes por Yuu. Ela tenta navegar pelo próximo ano letivo com a ajuda de sua melhor amiga, Meiko Akizuki, que esconde um relacionamento escandaloso. No entanto, o caminho à frente não é simples, pois Miki e Yuu têm outros pretendentes em potencial e uma bagagem emocional do passado que relutam em revelar."
Em agosto de 1994, estreou Kodomo no Omocha (こどものおもちゃ), de Miho Obana, foi um grande sucesso e também foi curta como Marmalade Boy, contando somente com dez volumes, já o anime teve 102 episódios. A matéria do Yahoo destaca que Kodocha traz para o mundo dos mangás uma preocupação da época, a indisciplina no ambiente escolar. O ponto de partida do mangá é o seguinte: "Sana Kurata é uma atriz mirim alegre, popular e cheia de energia, de onze anos. Ela frequenta uma escola primária assolada pelo caos, liderado principalmente por um garoto aparentemente distante chamado Akito Hayama. No início, os dois entram em conflito por causa de seus ideais opostos, mas, à medida que se conhecem, começam a apoiar um ao outro e a apoiar seus colegas de classe e colegas."
Em fevereiro de 1995, estreou um dos maiores sucessos de Ai Yazawa, Gokinjo Monogatari (ご近所物語). Foram somente 7 volumes de mangá, que renderam CINQUENTA episódios animados, mais um filme especial com 30 minutos. Outros tempos... Muito bem, para quem não conhece a história, segue um resumo do início da série: "Mikako Kouda é uma aspirante a designer de moda que frequenta a Academia de Arte Yazawa em Tóquio e está aos poucos construindo sua marca de roupas, Happy Berry. Amiga de infância de seu vizinho, Tsutomu Yamaguchi, Mikako reavalia seus sentimentos outrora platônicos por ele quando ele repentinamente se torna popular na escola devido à sua semelhança com o cantor Ken Nakagawa e começa a namorar Mariko, uma garota popular e atraente." Gokinjo Monogatari tem ligação com Paradise Kiss (パラダイス・キス), série que foi publicada (*duas vezes*) pela Panini.
Em setembro de 1997, estreou Good Morning Call (グッドモーニング・コール), de Yue Takasuka. A série com 11 volumes foi publicada até 2002, teve uma segunda série continuando a história original (*iniciada em 2007 e ainda não concluída*), um especial em vídeo e dois doramas. O ponto de partida da série é o seguinte: "A adolescente Nao Yoshikawa mudou-se para seu próprio apartamento 2DK na cidade, pois seus pais retornaram ao campo para administrar a fazenda da família. No entanto, ela logo descobre que Hisashi Uehara, um colega de escola bonitão, também está se mudando. Percebendo que foram enganados para alugar o mesmo apartamento, eles concordam em dividir o apartamento para pagar o aluguel. A história acompanha suas aventuras enquanto tentam manter sua coabitação em segredo dos colegas, com Nao desenvolvendo sentimentos românticos por Hisashi à medida que o conhece melhor." Um 2DK é um apartamento padrão japonês com dois quartos, uma sala de jantar e uma cozinha.
Em fevereiro de 1998, estreou um dos maiores sucessos de Arina Tanemura, Kamikaze Kaitou Jeanne (神風怪盗ジャンヌ). A série teve 7 volumes e um anime com 44 episódios. "Durante o dia, Kusakabe Maron é uma estudante comum do colegial com muitos problemas. Mas à noite, ela é a Kamikaze Kaitou Jeanne, a reencarnação de Joana d'Arc. Sua missão: caçar pinturas possuídas por demônios e exorcizar os espíritos malignos! Uma pena que cumprir essa missão a coloque em conflito com as autoridades, que a veem como uma estranha misteriosa vandalizando obras de arte. Com a ajuda apenas do anjo em treinamento Finn, ela precisa sobreviver ao colegial durante o dia e combater o mal à noite!" Uma série de light novels inspirada no mangá foi publicada em 2013, escrita por Matsuda Shuka e ilustrada por Arina Tanemura.
E, por fim, em fevereiro de 1999, foi publicado GALS! (ギャルズ!), de Mihona Fuji, uma série que dialogava com as últimas tendências da moda das meninas que frequentavam o bairro de Shibuya e discutia temas sérios como prostituição juvenil, consumismo, relacionamentos abusivos com humor. Sim, com humor. O resumo da série é o seguinte: "Ran Kotobuki é a autoproclamada "melhor garota do mundo". Como uma adolescente que frequenta Shibuya, ela está determinada a viver o estilo de vida de GAL pelo resto de sua vida, e ela ganhou a reputação de ser a garota mais respeitada de todo o bairro. No entanto, ela vem de uma família de policiais — seus avós, seus pais e seu irmão mais velho são todos policiais, e sua irmã mais nova está determinada a seguir seus passos. Ran tem outros sonhos para seu futuro, mas como frequentemente demonstrado, ela adquiriu o senso de justiça e o espírito da família. Suas duas amigas, Miyu e Aya, também têm seus próprios problemas e circunstâncias, que são mostrados ao longo da série." A série teve 10 volumes (*tenho todos em casa*), três video games e uma animação com 52 episódios. A abertura da série é uma das melhores que eu já vi. Uma sequência do mangá foi lançada em 2019 e teve cinco volumes.
E acabou a cronologia, mas senti muita falta de Hime-chan no Ribon (姫ちゃんのリボン), de Mizusawa Megumi. A série inclusive teve um especial na revista BAILA quando dos 60 anos da Ribon. Como deixaram de fora? A série estreou em agosto de 1990, teve 10 volumes, mais um com gaidens, anime com 61 episódios, musical, série de light novels e uma continuação (*ou remake?*) com 4 volumes, em 2009. Percebem a importância dessa série? Enfim, o resumo desse mahou shoujo é o seguinte: "Himeko é uma tomboy cheia de energia e alegre que tem um bordão para se animar ("Ike, Ike, vai, vai, PULA!"). Mas, por algum motivo, falta-lhe coragem para dizer ao garoto mais velho, seu senpai, que está apaixonada por ele. Talvez ela não seja feminina o suficiente? Mágica e misteriosamente, Hime-chan conhece alguém que é como sua imagem refletida no espelho, só que é uma princesa! Erika, do Mundo Mágico, veio dar a Hime-chan um presente que ela inventou, uma fita mágica, que lhe permitirá se transformar na imagem de qualquer outra pessoa por uma hora. Isso deveria ajudar a resolver o problema de Hime-chan, não é mesmo?"
Outra ausência estranha dentro do recorte dos anos 1980 e 1990, que talvez tenha a ver com essa ideia de foco em moda, foi Azazukin Chacha (赤ずきんチャチャ), de Min Ayahana. Baseada na história da Chapeuzinho Vermelho, o ponto de partida do mangá é o seguinte: "Chacha é discípula do maior mágico do mundo, Seravy. No entanto, ela mesma ainda não é nada grandiosa. Aprendiz de bruxa, Chacha sempre acaba errando seus feitiços e causando desastres. Com a companhia de seus amigos Riiya, um forte menino-lobo, e Shiine, uma colega aprendiz, Chacha continua sua jornada maluca para se tornar uma maga melhor." A série estreou na edição de julho de 1992 e seguiu até a edição de agosto de 2000. Com 13 volumes encadernados no total, Akazukin Chacha contou com uma animação com 74 episódios exibidos entre 7 de janeiro de 1994 e 30 de junho de 1995, além de três OAVs lançados entre 6 de dezembro de 1995 e 6 de março de 1996. Uma continuação da série foi lançada na revista Cookie com o nome de Akazukin Chacha N entre junho de 2012 e julho de 2019, contando com 5 volumes.
Também senti muita falta de Yuukan Club, de Yukari Ichijo, porque ela é uma das grandes autoras da revista desde os anos 1970. Talvez, só talvez, a ausência se justifique porque a série não foi publicada somente da Ribon. O mangá dos estudantes ricos detetives começou na Ribon Original, uma revista derivada da Ribon, na edição de primavera de 1981, mas a série migrou para a Ribon na edição de fevereiro de 1982 para, mais tarde, migrar para a revista Chorus, revista josei antecessora da Cocohana. Como se trata de um mangá episódico, não há necessidade de uma narrativa linear e a série tem 19 volumes e não foi declarada como encerrada ainda, ainda que a Wikipedia japonesa considere que um capítulo lançado em 2022 é, sim, o final da série. O resumo do ponto de partida da série é o seguinte: "A Escola St. President é uma das escolas mais prestigiadas do Japão e todos os seus estudantes respeitam o clube Yuukan, o grupo mais rico e popular da instituição. Seus membros — Shouchikubai Miroku, Kenbishi Yuuri, Kikumasamune Seishirou, Hakushika Noriko, Bidou Granmanie e Kizakura Karen — cada um com habilidades especiais, embarcam em aventuras perigosas para salvar seus colegas e, claro, para passar o tempo." Segundo a autora, o nome das personagens principais e seus animais de estimação foram inspirados em bebidas alcoólicas populares. Agora, lembrem que é uma série que, pelo menos nos primórdios, era publicada em uma revista infanto-juvenil.
Enfim, essa foi a fase mais importante da Ribon em termos de sucesso de vendas e crítica, de produção de animações e o elenco de autoras da revista era de grande qualidade. Quando elas começaram a deixar a revista, as novatas que as substituíram não conseguiram emplacar novos sucessos e muitas das antigas leitoras acompanharam as suas artistas favoritas para outras revistas, como a Cookie. Você sentiu falta de algum dos grandes títulos dos anos 1980 e 1990? Deixe nos comentários a sugestão, porque ainda terei que gravar o Shoujocast. Aguardem os próximos posts.

















































2 pessoas comentaram:
Os anos 1990 foram definitivamente a panaceia do shoujo adolescente. Não apenas a Ribon estava fazendo história, mas também a Nakayoshi (com Sailor Moon, Miracle Girls e vários títulos do CLAMP (Rayearth, Sakura) e a Hana to Yume (com Boku no Chikyuu wo Mamotte, Angel Sanctuary, Karekano, Fruits Basket)... Quem viveu sabe o quanto a gente era bem servido! Sobre a Ribon atual, dei uma olhada recentemente e acho que ainda estão seguindo à risca as tendências ditadas pela Wataru Yoshizumi e a Yazawa Ai. A Tanemura veio com um estilo, temática totalmente diferentes e iniciou um movimento que foi basicamente só dela (A Mayu Sakai deu uma força), mas depois de sua saída me parece que ela nunca passou por ali rs. Enfim, vida longa à Ribon, talvez a minha referência mais profunda ❤
Uma pena que dessa lista só Marmelade Boy tenha saído no Brasil ):
Como acabo só lendo o que sai aqui, conheço poucos títulos da Ribon e nenhum é desse período (só Marmelade Boy). Gosto muito dos que saíram por aqui, como Aishiteruze Baby, Fullmoon wo Sagashite e Ultramaniac. Aguardo mais posts de aniversário <3
Postar um comentário