terça-feira, 25 de novembro de 2025

25 de Novembro: Mais um Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher e as coisas nao parecem estar melhorando

Todos os anos, eu faço um post no Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.  A data  foi estabelecida em 1981, durante o Primeiro Encontro Feminista da América Latina e Caribe, realizado em Bogotá,  a data escolhida foi o 25 de novembro como Dia Internacional da Não-Violência contra as Mulheres.  Trata-se do ponto de início de uma campanha que termina no dia 10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos.   A ONU oficializou a data em 1999.  

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher  foi criado para lembrar o assassinato das irmãs Mirabal, Minerva, Pátria e Maria Tereza, chamadas  de “Las Mariposas”, em 25 de novembro de 1960, pela ditadura de Trujillo, que governava com mão de ferro a República Dominicana.  As irmãs foram presas com seus maridos, mas a comoção foi grande e elas foram libertadas.  Mais tarde, quando iam visitar os maridos na prisão, a ditadura simulou um acidente de carro, os corpos das irmãs foram encontrados no fundo de um precipício, elas já  estavam mortas antes de serem atiradas no abismo.  A morte das três irmãs acabou precipitando a queda do ditador (*apoiado pelos Estados Unidos*), no poder desde 1930.  Hoje, a editora Nemo postou um fragmento do quadrinho francês Ousadas, de Pénélope Bagieu, contando a história das três irmãs.  

Em 2024, estima-se que 50 mil mulheres e meninas foram assassinadas por parceiros íntimos ou familiares em todo o mundo, 137 por dia. Embora os homens representem a maioria das vítimas de homicídio globalmente, as mulheres são assassinadas de forma desproporcional dentro de seus próprios lares: 60% de todas as mulheres assassinadas intencionalmente morreram pelas mãos de parceiros ou parentes.  Uma mulher é assassinada pelo parceiro ou por um parente a cada 10 minutos no mundo, segundo dados da ONU.

A violência de gênero afeta todas as regiões. Em 2024, a África registrou o maior número de feminicídios por parceiros íntimos/familiares (22.600) e o maior nível de risco (3 por 100.000 mulheres). A Ásia veio em seguida, com 17.400 casos, enquanto as Américas apresentaram um dos maiores riscos relativos (1,5 por 100.000). A ONU informa, no entanto, que há muitas lacunas de dados e vários países não têm enviado informações sobre o número de feminicídios.  A África do Sul, por exemplo, envia seus dados regularmente e é a recordista de feminicídios no mundo atual.  Será que o país é realmente o recordista?

A data é importante para que lembremos do quanto as mulheres ainda precisam conquistar, começando com coisas básicas, como direito de ir e vir, autonomia sobre seus corpos, a possibilidade de dizer "não" a um homem sem ter sua vida interrompida.  Aqui, no Brasil, temos índices pavorosos de casamentos infantis, e estou falando de meninas entre 10 e 14 anos, porque se somarmos as adolescentes como um todo, a coisa piora, isso sem falar na gravidez na adolescência, não raro fruto de estupro; estamos entre os países com o maior número de feminicídios no mundo, sendo a maioria das vítimas mulheres negras, e as taxas estao crescendo; estamos em uma batalha permamente para que direitos de interrupção da gravidez que datam de 1940 não nos sejam tirados e que mulheres sejam enquadradas como assassinas se interromperem a gestação mesmo em caso de estupro, risco de morte ou de estarem carregando um feto inviável, os únicos admitidos pela lei.  E ainda vemos crescer o movimento antifeminista, que é alimentado principalmente por visões religiosas extremamente misóginas e pela ignorância mesmo, a falta de letramento de gênero.  

A  gente  não precisa sair do Brasil para apontar casos de violência contra as mulheres, mas se observarmos o mundo, a coisa não fica muito melhor, não.  A Itália recentemente tipificou o feminicídio, mas o editorial do La Stampa fala do quanto o feminismo é mal visto no país e que os direitos das mulheres são motivo de deboche.  Se olharmos para os Estados Unidos, depois da derrubada da Roe vs Wade, temos os direitos reprodutivos das mulheres sob ataque com um número cada vez maior de estados proibindo o aborto na maioria dos casos.  

Com as proibições, mulheres  que chegam perdendo a gravidez ou com alguma complicação não raro têm os cuidados negados, porque os médicos têm medo.  Várias já morreram ou ficaram estéreis.  Enfim, as taxas de mortalidade materna nos EUA, que já eram altas em relação a outros países desenvolvidos, pioraram (*1 - 2 - 3*).  E, claro, o ataque às mulheres trans avança nos países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos de Donald Trump, já que pessoas trans foram eleitas como o INIMIGO pela extrema-direita com a conivência de alguns grupos feministas.

Se sairmos dos países desenvolvidos, temos o Afeganistão como o símbolo do rebaixamento das mulheres e meninas com o confisco de direitos humanos básicos, como a educação, o lazer, a expressão de pensamento, a saúde básica.  E a maioria do mundo não parece disposta a pressionar o talibã.  Quem se importa com as mulheres?  Com os terremotos que assolaram o país, mulheres foram deixadas sob os escombros, porque os homens consideravam que estariam pecando se as tocassem ou as vissem sem véu ou roupas consideradas corretas ou por medo do regime.  Mulheres morreram por causa disso, seu número provavelmente nunca saberemos.  

No Sudão, mulheres e meninas estão sendo estupradas em massa e mortas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) e seus aliados com o patrocínio dos Emirados Árabes Unidos.  No Iraque, depois de quase uma década de resistência e luta das mulheres, a idade de casamento para as meninas foi reduzida para os 9 anos para as meninas xiitas e 15 anos para as sunitas.  Sob Saddam Hussein, a idade era de 18 anos.  Sim, Saddam Hussein não era um sujeito legal, mas o nome disso é retrocesso.  Os EUA derrubaram o governo iraquiano pelo petróleo, não para garantir os direitos das mulheres ou de qualquer minoria. Agora, o direito de família saiu das mãos do Estado e foi praticamente entregue aos clérigos, o que precariza ainda mais a situação das mulheres.  

E vou fechar com o horror que se repete na Nigéria onze anos depois do sequestro das 276 meninas de Chibok, estudantes de um colégio cristão que foram levadas pelo Boko Haram.  A maioria foi obrigada a se converter e se casar com jihadistas, foi estuprada, teve filhos de seus captores e nem todas foram devolvidas.  No dia 22, mais de 300 alunos, a maioria meninas, e 12 professores de uma escola católica no estado do Níger, na Nigéria, foram sequestrados. Os números começaram com cinquenta e foram aumentando.  50 deles parece que conseguiram fugir, mas a maioria continua retida.  Havia um alerta para que as escolas fechassem, mas imagino a dificuldade para enviar as crianças e adolescentes para casa, normalmente, em zonas rurais.  Não seria arriscado, também?  O primeiro ataque relatado foi a um ônibus.  É o horror para essas meninas e suas famílias.

Enfim, a violência contra as mulheres  persiste e ela tem várias modalidades; identificá-las é importante para um combate eficaz.  Às formas listadas aqui, outras poderiam ser acrescentadas, como a simbólica.  Uma das discussões do momento é a volta dos padrões de magreza extrema.  Algumas matérias sobre o elenco de Wicked: For Good  estão destacando isso (*1 - 2*).  Magreza como sinônimo de beleza, de sucesso, mas de uma feminilidade frágil, que ocupa pouco espaço público.  Como esses padrões são extremamente opressivos, eles terminam por pressionar as mulheres e  meninas  e buscar um ideal inalcançável e pouco saudável.  Como resultado, temos angústia, transtornos alimentares e muito lucro para inúmeras indústrias que vivem da criação e exploração das "necessidades femininas".  

E é isso.  Devo fazer outro post  no final da campanha, mas não terei estômago de escrever sobre o tema diariamente, como fiz em algum ano que ficou para trás.  Falar de violência contra as mulheres é fácil, porque basta que eu abra um grande portal e saia contando as notícias, mas é muito desgastante.  Eu sou mulher, sou mãe de uma mulher, estou irmanada com todas as mulheres do mundo.

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