Parece que os jornais do Rio decidiram ser econômicos na sua análise do Castelo Animado. Eis a crítica do O Globo:
Fábula de adulto
Rodrigo Fonseca
O castelo animado (“Howl’s moving castle”) é mais uma catarse do cineasta Hayao Myazaki — laureado em Berlim com o Urso de Ouro pelo superestimadíssimo “A viagem de Chihiro” — para expurgar de si mesmo fantasmas da destruição atômica que assombrou o Japão pós-bombardeio de Hiroshima e Nagasaki. De novo, ele joga sobre o agigantado divã chamado cinema o terror que é envelhecer e trocar a inocência da meninice pelas rugas da desilusão adulta. Isso porque não é a cronológica degradação do organismo que o aflige, mas o “envelhecimento” à força a que as mazelas da vida submete o ser humano.
Bastante similar ao agridoce “Pele de asno” (1970), de Jacques Demy, esta fábula sobre uma moça aprisionada no corpo de uma anciã que encontra na paixão uma fonte de eterna juventude tem um punhado a mais de doçura do que os trabalhos anteriores de seu realizador, além de maior contundência — filosófica e formal. Virtuoso no traço, Miyazaki concebe um espetáculo gráfico realmente faustoso aos olhos, usando efeitos para traduzir uma magia mundana, mas indispensável: a esperança.
Segue a crítica do Jornal do Brasil:
Um universo familiar
Opinião: O castelo animado
Ulisses Mattos
O castelo animado é um filme de Hayao Miyazaki, diretor de A viagem de Chihiro, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2002. Essa informação é obrigatória. Não apenas para que o público em geral saiba que não se trata de um desenho para crianças (afinal, não se ganha um prêmio em Berlim com um filme infantil). A menção ao premiado longa anterior de Miyazaki é importante porque esta sua nova obra lembra muito Chihiro. E isso pode ser positivo ou negativo. É bom porque o que funcionou antes dá certo de novo. O cenário mágico, os personagens ambíguos (que nunca nos deixam ver se são do bem ou do mal) e a imprevisibilidade da trama dão gosto de ver. Isso sem contar com os belos traços. Mas pode ser que o fã de Chihiro se incomode com tantos pontos em comum com Castelo. Há cenas que remetem demais à obra-prima de Miyazaki, como os disformes seres que perseguem o mago que conquista a protagonista da história (uma mocinha que sofre um encanto e se transforma numa anciã). Cabe ao espectador decidir se o diretor se repete ou apenas reforça o fascinante universo que criou. Para essa segunda corrente, ajuda o fato de o longa se basear em um livro da inglesa Diana Wynne Jones, autora de literatura juvenil. Isso porque o diretor faz com que uma trama tão européia, tão Harry Potter, se adapte ao estilo estético e narrativo que criou.
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