A matéria estava no caderno Gabarito, voltado para os Vestibulandos. Isso mostra que o reconhecimento dos quadrinhos enquanto instrumento lúdico e, também, didático vem avançando. O Correio Braziliense sempre faz matérias sobre mangá, em especial os da Conrad.
História - Uma era de ódio
Conheça a ascensão de Adolf Hitler por meio do mestre japonês dos mangás, Osamu Tezuka
Danielle Romani
Da equipe do Correio
Reprodução/Conrad Editora
Se os anos 20 do século passado são conhecidos como os “anos loucos”, imortalizados na literatura e artes plásticas como uma década de ousadia, farras homéricas e busca de novas linguagens, sejam artísticas ou pessoais, a década de 30 veio para dar fim às ilusões dos europeus e norte-americanos. Para pôr um ponto final nos sonhos de uma geração que elegeu Paris como “capital do mundo”, uma geração encantada com la belle époque e o modernismo.
A década de 30 pode ser descrita — tendo em foco a Europa ocidental — como um período de ascensão dos derrotados da 1ª Guerra Mundial, em especial, dos alemães, inconformados com o Tratado de Versalhes que lhes retirou territórios, impôs restrições militares e freou a sede germânica de conquista. Uma era que alçaria o totalitarismo ao poder. Uma década de consolidação de regimes como o fascismo e o nazismo, por intermédio de nomes como A-dolf Hitler na Alemanha, e Benito Mussolini na Itália.
É exatamente para pôr luz sobre essa década —- e sobre a que viria depois, a de 40, quando parte do mundo foi envolvido pela 2ª Guerra Mundial — que o mestre japonês dos mangás, Osamu Tezuka escreveu a série Adolf , que retrata a ascensão de Adolf Hitler ao poder, e que também mostra como era o ambiente político e social no Japão do pré-guerra.
Apesar do nome, Adolf, a série, que será publicada em cinco volumes, não se centra especificamente na história de Hitler. Na verdade, a história retrata três personagens com o nome Adolf. Um deles o fuher, o outro, com sobrenome Kaufmann, um menino alemão filho de diplomatas de alto escalão e o terceiro, Adolf Kamil, um judeu nascido na Alemanha, mas que mora com os pais no Japão. Os dois últimos sofrem com a ascensão do nazismo.
Pelo que se pode conferir no volume recém-lançado, o primeiro da série, a intenção de Osamu Tezuka é mostrar não apenas o cotidiano alemão às vésperas da 2ª Guerra Mundial, mas também enfocar a sociedade japonesa a poucos anos do conflito. E a influência que o nazismo teve na elite política e econômica nipônica.
A história começa em agosto de 1936 durante a realização das Olimpíadas de Berlim, quando um jornalista japonês, Sôhei Togei, decide encontrar o irmão que morava há anos na cidade. Ele localiza o irmão já morto, corre para dar parte à polícia, e quando retorna ao local do crime não encontra nem o corpo nem os objetos pessoais do parente, que desaparecem sem deixar pistas.
A partir desse episódio, o repórter é perseguido, recorre às autoridades alemãs e japonesas para elucidar o crime, mas tem ajuda negada, e ainda por cima passa a ser alvo de ameaças. Depois de nos apresentar Togei, o autor nos leva a conhecer a vida dos dois Adolfs no Japão. Tanto em Berlim quanto em Kobe, a história nos leva a crer que se está diante de um enigma que tem como base a seguinte revelação: Hitler é descendente de judeus.
Com um roteiro como esse, Tezuka tenta penetrar num dos mais sombrios episódios da história da humanidade: o nazismo e a deflagração da 2ª Guerra Mundial. Tenta, também, enfocar a amizade e a lealdade entre duas crianças, que cultivam o amor e o companheirismo, totalmente alheias aos preconceitos e valores dos adultos.
Quanto aos desenhos eles têm a marca registrada de Tezuka: os traços claros, precisos, mas um pouco infantis, algumas vezes aquém do que se espera para um argumento de tamanha densidade. Vale ressaltar que a série foi publicada na década de 80, ganhou vários prêmios e só agora, graças à iniciativa da Conrad, chegou ao Brasil.
Osamu Tezuka é considerado o maior quadrinhista japonês de todos os tempos. Conhecido em seu país como “o deus do mangá”, produziu dezenas de títulos em mais 40 anos dedicados ao gênero. Além disso, foi o pioneiro dos desenhos animados para TV, criando verdadeiros clássicos do animê como Astro boy, A Princesa e o Cavaleiro e Kimba, o Leão Branco. Ele morreu em 1989.
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