quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Fãs erguem a cultura pop japonesa acima da barreira lingüística


Passando mais cedo pelo site Manga News encontrei este artigo e decidi traduzi-lo, ele foi publicado no Japan Times e está disponível on line em inglês. Decidi traduzir porque muita gente não lê inglês e a matéria merece ser lida. Como era um texto meio longo, perdi quase umas duas horas no trabalho... Deveria ter revisado depois, mas se houver muitos erros, em especial de concordância, me avisem, por favor. ^_^ No geral os argumentos do autor são coerentes, agora a história de mangá no microondas... Bem, essa é nova para mim. Será que vale a pena tentar para ver o resultado?

Fãs erguem a cultura pop japonesa acima da barreira lingüística

Por PATRICK MACIAS
Especial para o The Japan Times

O interesse global pelos entretenimentos japoneses continua quente. Quase literalmente. Fãs hardcore de mangá ao estão retirando seus volumes das prateleiras e colocando-os dentro do microondas.
“Eles fazem isso para que a cola derreta, isso permite que eles desmontem o mangá página por página, tornando o escaneamento mais fácil.” explica Jonathan, 21, um estudante de jornalismo na West Virginia University que não deseja que seu último nome seja publicado.
Por que as pessoas fazem isso com seus preciosos e caros quadrinhos importados? Porque eles são "scanlators," uma crescente comunidade de fãs cujo amor pelos mangás os faz pegar cada página, escanear para o computador, e então traduzir do japonês para o inglês e, por fim, fazer o upload para a Internet de forma que uma audiência ainda maior possa ter acesso a eles de graça.
Mas isso não são apenas os mangás que sofrem a ação dos tradutores amadores. Versões em inglês de animes e séries live action japonesas (tais como “Densha Otoko [Train Man]”), junto com uma grande quantidade de clipes com o comediante Razor Ramon HG – Hard Gay como ele se apresenta, estão pipocando na internet via blogs (www.tvinjapan.com para dizer um só), programas de compartilhamento de arquivos conhecidos como torrents e especialmente o fenômeno popular, o site YouTube.
Um pequeno passeio pela net é o necessário para de repente encontrar uma tradução de tudo de filmes para o cinema – como NANA, o hit do ano passado – até versões anotadas de antigos mitos Shinto (encontrados em www.sacred-texts.com ) disponíveis para leitura.
Há também versões legendadas de vídeos musicais do grupo de meninas Morning Musume e boy bands como SMAP. Os fãs norte-americanos usam a Internet para trocar clipes e se comunicarem com fãs na Ásia, em lugares como Taiwan e a Coréia do Sul, resultando em traduções que são fruto real das relações internacionais.
Traduções do japonês para o inglês sejam profissionais ou amadoras não são coisas novas. Mas a net permite a publicidade, arquivamento, cópia e distribuição numa escala sem precedentes. Como resultado, a cultura pop japonesa se espalha pelo mundo com uma rapidez que nunca se viu antes.
Mesmo que os shoppings suburbanos dos EUA estejam lotados de produtos da J-culture legalmente licenciados (mangá e anime, especialmente), as companhias japonesas donas desses produtos não conseguem atender a crescente demanda mundial. Os fãs desejam os últimos lançamentos agora! O fenômeno das traduções feitas por fãs não somente preenchem as lacunas, mas também diminuem consideravelmente o tempo de espera para que a cultura pop japonesa faça sua jornada pelo mundo.
Os fãs de mangá em particular, viciados em girar páginas das narrativas, geralmente reclamam da espera agonizante fruto da velocidade lenta com que os produtos são oficialmente traduzidos e lançados no exterior quando comparado com o Japão. Na corrida para acompanhar o novo capítulo da história, distribuídos em doses semanais ou mensais no Japão, um scanlator nem precisa colocar seu mangá no microondas. Uma navalha é a ferramenta mais usada pelos scanlators no Ignition-One ( www.manga.ignition-one.com ), que oferece downloads gratuitos de mangás com legendas em Inglês. Em março, o site, que opera com uma receita mensal de U$117 paga por doações, se orgulhou de 435.768 downloads individuais.
Entre os 50 títulos que o Ignition-One tem traduzido está Pluto de Naoki Urasawa, ganhador do Tezuka Award de 2005, um dos mangás mais elogiados no Japão atualmente. O site também hospeda a versão em Inglês da saga do boxe "Hajime no Ippo [aka Espírito da Luta]" e "Jojo's Bizarre Adventure," ambos muito conhecidos no Japão, mas não tão famosos no exterior.
Para Jonathan de West Virginia, que dirige o site Ignition-one, está tudo bem. “O motivo que me fez se juntar a comunidade de scanlations é promover os mangás nos quais eu estava interessado e, coincidentemente, ninguém estava traduzindo,” ele diz “Eu simplesmente quero dividir aquilo que amo com outras pessoas e, como um scanlator e editor, ter prazer com o mangá que me interessa em todos os sentidos”.
É este fervor pela cultura pop japonesa que levou ao boom das traduções feitas por fãs, com os animes e mangás abrindo caminho. Cerca de 537 grupos de scanlations, que podem ser fruto do trabalho de uma só pessoa ou ter múltiplos membros espalhados pelo globo, estão listados no www.manganews.net, uma das grandes centrais para manter o rastreamento do que está sendo traduzido.
"Caterpillar" do Caterpillar's Nest ( www.caterpillar.voiea.net ) é um universitário austríaco de 25 anos que mora em Viena. O seu site hospeda traduções para o inglês de mangás que provavelmente você não vai (ou não gostaria de) encontrar nas prateleiras de alguma cadeia de livrarias muito cedo, tais como o trabalho erótico e grotesco do notório Suehiro Maruo. Caterpillar diz “Eu comecei a fazer scanlations porque eu queria ler certos mangás e sabia que eles não tinham a mínima chance de uma tradução oficial em inglês”.
Ajudados por um pc e pela internet, fãs podem se tornar “mini-estúdios”. Eles precisam escolher exatamente o mangá que desejam ler, e com a ajuda de voluntários com competência em línguas e no manejo do computador, eles podem rivalizar com publicações oficiais em qualidade e precisão na tradução. As editoras norte-americanas, na esperança de alcançar um maior número de leitores, muitas vezes censuram as cenas de sexo e violência dos produtos japoneses. Os fãs se orgulham de apresentar o material o mais próximo possível das intenções dos criadores originais.
Mas para alguns, mesmo dentro da comunidade de fãs de anime e mangá, scanlations são pirataria digital pura e simples, e que não faz nada a não ser tirar o lucro de editoras e artistas. E uma quantia considerável de dinheiro está em questão. O mercado potencial de mangás traduzidos para o inglês por companhias como a VIZ Media, a Tokyopop e a Del Rey foi estimado pelo site de notícias e análise do mercado de quadrinhos, o ICV2, em um valor entre 155 e 180 milhões de dólares para o ano de 2005.
Jonathan diz, “É inegável que as scanlations são ilegais e não importa o quanto os grupos neguem isso. Mas eu não colocaria isso no nível do advento do formato MP3, quando as trocas prejudicaram a indústria da música. Eu realmente defendo que as scanlations encorajam as editoras norte-americanas a licenciarem mangá”.
Jason Thompson, um editor profissional freelancer que trabalhou para muitas das mais importantes companhias de mangá nos EUA, defende que “embora poucas ou nenhuma editora norte-americana de mangá vá mencionar isso, os grupos de scanlations se tornaram extremamente importantes para o cenário norte-americano de mangás. Elas são uma forma de testar a popularidade de um título. Se uma série de scanlations é popular, você sabe que ela tem uma base de fãs, consumidores em potencial”.
"AK of Troy," dono e maior tradutor do site Toriyama's World ( www.toriyamaworld.com ), que tem esse nome em homenagem a Akira Toryama criador da série Dragon Ball que é muito amada pelos fãs, diz, “Eu não acho que as scanlations afetem as vendas porque as séries campeãs de venda nos EUA são exatamente aquelas que tem o maior número de scanlations”.
Um acordo silencioso parece existir entre os scanlators e as editoras de mangá. Quando uma série é oficialmente licenciada em língua inglesa, espera-se que os scanlators se policiem. Por exemplo, quando três dos mangás mais populares do Toriyama's World's – Bleach, Full Metal Alchemist e Naruto – foram licenciados e anunciou-se seu futuro lançamento, o site tirou as scanlations do ar. Mas grupos de fãs teimosos se recusaram a fazer o mesmo.
Isto pode mudar em breve. Enquanto os fãs que escaneiam mangá gozam ainda de relativa liberdade, os fansubers de anime estão sendo ameaçados diretamente pela indústria japonesa de animes.
Fansubbing, uma atividade que é anterior ao advento das scanlations de mangá, originalmente ajudava a espalhar o evangelho do anime nos países de língua inglesa nas décadas de 80 e 90 do século passado; demorava anos para que algum produto da cultura pop japonesa chegasse ao exterior. No início, fitas com legendas amadoras eram trocadas pessoalmente em clubes de anime ou mandadas pelo correio. Hoje os animes fansubados alcançam milhares de pessoas diariamente através de clientes peer-to-peer na Internet tais como o BitTorrent, grupos Usenet ou através dos canais do Internet Relay Chat [IRC].
Daryl Surat, um colaborador freelancer da revista norte-americana Anime Insider, diz, “Há uma idéia difundida entre os fãs de que os animes devem ser gratuitos, como se sugerissem que os animes não são um produto comercial. A quantidade de fãs de anime [nos Estados Unidos] parece ter crescido muito, mas as vendas de DVDs no país são baixas”.
Em 22 de agosto deste ano, a Bandai Entertainment Inc. emitiu um comunicado para a imprensa nos EUA falando da grande antecipação do lançamento do título "Ghost in the Shell: Stand Alone Complex -- Solid State Society.". O filme orçado em U$3,6 milhões, já tinha sido licenciado para os EUA e tinha lançamento previsto para 2007. Isto não impediu vários frupos de fansubbing de anunciarem a sua intenção de legendar "Solid State Society". Faltando dias para a estréia do filme nas telas japonesas, em 1 de setembro, versões raw, que geralmente são irresistíveis para os fansubbers, começaram a aparecer na Internet.
A nota que a Bandai soltou em agosto foi lida como uma declaração de guerra: “A criação de versões traduzidas de ‘Solid State Society’ serão consideradas como desautorizadas e estarão infringindo as leis estabelecidas de direitos de propriedade intelectual, assim como competição desleal”. Ken Iyadomi, presidente da Bandai, foi citado dizendo, “Nós estamos preparados para tomar qualquer medida legal contra os fansubbers e os downloads ilegais e quaisquer outros sites de distribuição caso nossa advertência seja ignorada”.
Surat acredita que a Bandai tem o direito de defender a propriedade intelectual. “Mas a questão é quão efetiva será esta medida,” ele diz. “Mesmo a Recording Industry Association of America and Motion Picture Association of America não foram capazes de fazer qualquer coisa para impedir a distribuição ilegal on line que funciona através de redes de programas peer-to-peer estabelecidas fora dos EUA. Ainda assim, 'Ghost in the Shell' é uma das franquias de anime mais populares dos EUA, de forma que seu sucesso financeiro é virtualmente garantido independente de quantas pessoas tenham tido acesso a versão fansubada por antecipação”.
“John”, 24, cabeça do grupo de fansub Anime Classic ( www.l33t-ninj4.net ), acredita que o interesse contínuo pela cultura pop japonesa levará a algumas soluções se as companhias japonesas decidirem se posicionar. “Se o Japão quer acabar com os fansubers, tudo o que precisam fazer é abrir o canal da Bandai para as audiências estrangeiras, colocar algumas legendas e cobrar 200 yens por episódio”.
Talvez a próxima geração de tecnologia digital de playback force os japoneses a se movimentarem mais em direção ao mercado internacional. Muitos dos DVDs japoneses são encodados para funcionarem somente em aparelhos do país, mas espera-se que os futuros lançamentos no novo formato HD-DVD ou Blue Ray funcionem em aparelhos norte-americanos. Enquanto isso pode ser uma grande notícia para os consumidores, ser péssimo para os fãs tradutores. “Eles podem fazer com que os fansubbers desapareçam se [os japoneses] começarem a colocar a língua inglesa nos seus lançamentos e baixarem os preços o suficiente para tornar os produtos competitivos. Isso acontecerá? Quem sabe?”.

Patrick Macias é o autor de "Otaku in USA" (Ohta Shuppan) e "Tokyoscope: The Japanese Cult Film Companion" (Cadence Books). Ele pode ser encontrado no site www.patrickmacias.blogs.com

1 pessoas comentaram:

Oi Valéria, parabéns pela tradução do artigo "Fãs erguem a cultura pop japonesa...". Enviei um e-mail para vc em shoujofan@hotmail.com dia 29/09/06. Será que chegou. Me responda assim que puder.
Sou um apreciador da arte japonesa dos quadrinhos.
- Oliveirajr@hotmail.com
Florianópolis - SC

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