Sábado passado fui assistir 300, mas com a correria não pude comentar. Tinha lido a HQ, não esperava assistir um filme histórico, mas um filme que era uma releitura de uma HQ que era já releitura (contemporânea) de um acontecimento histórico. Isso faz diferença e só descascaria o filme de saída se o diretor fizesse como em Rei Arthur ou em Elizabeth e dissesse que estava fazendo história, não cinema. Dito isto, aos comentários.
O filme, como a HQ, é carregado de um discurso de maniqueísta de Ordem/Caos, Civilização/Barbárie, Moralidade/Imoralidade, Ocidente/Oriente, só que aprofunda a coisa ao colocar os “bárbaros” como monstros, literalmente. Existe um mito alimentado por alguns setores da historiografia ocidental, e que parece apetecer aos norte americano, que acham que seus fuzileiros são os espartanos, que é o de que o incidente das Termópilas (Hot Gates) representou o momento decisivo para o nascimento da civilização ocidental. Por isso, não raro omitem que havia gregos aliados dos persas, não só naquele momento, mas em outros das Guerras Greco-Pérsicas.
E eu amo Esparta e na sua dureza construíram uma sociedade bem interessante, sincera e muito mais inclusiva no caso das mulheres do que Atenas. Por isso, assistiria o filme de qualquer forma e o visual ficou nota dez. Sim, o ponto alto é o visual da coisa. Cores, vermelho, sépia, a mistura bem dosada de efeitos especiais, HQ e humanos, as lutas coreografadas, o realismo exagerado. Esta é a boa parte do filme, a melhor parte do filme, o que faz valer o ingresso.
Agora, verdade seja dita, a idéia de um exército de 1 milhão contra 300 dá um bom material para um filme, ópera, ou qualquer peça dramática. E no filme, não incluíram todos os aliados, porque os 300 eram espartanos, mas havia outros além dos arcadios. Frank Miller os representa, o filme, os exclui. E isso é infidelidade ao original em HQ e ao original histórico. E veja que eles só precisavam ser citados, teriam nada a dizer, era figuração e só.
Falando nos atores, eles estavam bem em papéis que não lhes exigia mais do que correr, lutar, gritar e fazer poses heróicas. Nesse sentido, o Gerard Butler é um achado, e falando como alguém que estava também disposta a observar o desfile de belos corpos pseudo-gregos, ridiculamente vulneráveis sem suas armaduras (Estragar o visual para quê?), não me decepcionei, muito embora corpos masculinos depilados não me agradem muito. Hiper-macheza sempre me leva a pensamentos homoeróticos e a coisa ficou bem gay mesmo: homens malhados, de tanguinha, aquela fraternidade exacerbada e o Xerxes do Santoro pronto para papar o Leônidas. Talvez exatamente por isso tenham aumentado o papel da Rainha Gorgo.
Eis algo que não estava no quadrinho, foi colocado somente para enganar os machões de plantão. Mulher seminua, cenas de afeto entre marido e mulher (é a heterossexualidade compulsória), exaltação da família nuclear (ordem de novo), sexo que no quadrinho se resumia a uma frase “Você ontem estava muito entusiasmado” etc. Sim, não acho que o romance desta vez tenha sido oferecido às mulheres, mas, sim, aos homens, para assegurar-lhes da macheza de Leônidas e dos seus rapazes, todos bons pais de família, amantes das mulheres, e limpar a consciência daqueles que não gostariam de se imaginar assistindo um filme gay... Porque é isso que 300 é também.
E é exatamente este excesso de afeto, ausente da HQ que representava muito mais fielmente os espartanos e espartanas, que dá um tom falso ao filme. Homens e mulheres espartanos viviam em universos paralelos que raramente se tocavam. O excesso de sentimento entre os esposos, a mãe de Leônidas fazendo drama e sendo segura por duas mulheres quando seu filho era levado de casa aos sete anos não são dignas das imagens históricas que temos de Esparta, tampouco imagens da HQ de Miller. Leônidas acusa os atenienses de pederastas (boy lovers), mas em Esparta a coisa não era muito diferente e os laços entre os guerreiros eram muito sólidos. Um amante lutaria como um leão se seu amado estivesse ao seu lado. Nada mais poético e ao mesmo tempo distanciado da imagem caricata que temos dos amores e comportamentos dos homossexuais masculinos.
As mulheres tinham mais consideração e espaço de atuação em Esparta do que na democrática Atenas, mas a parcela de afeto que recebiam não é muito clara. Amor, para os gregos, era entre iguais, homens em mulheres eram diferentes, em Esparta eram parte de uma mesma máquina de produzir soldados, tinham respeito mútuo e posição, mas não compartilhavam muito suas vidas. Leônidas na HQ ama sua esposa e é amado, mas não há rasgos de sentimentalismo, há uma representação contida e, talvez, mais fiel. O filme optou por criar duas personagens, Lêonidas e Gorgo, que oferecessem um belo espetáculo familiar ao americano médio de casal ocidental idealizado: o marido é o cabeça, é respeitado, protege a companheira, mas ouve a mulher, oferece-lhe o papel de ajudadora biblicamente reservado à Eva. Tudo está nos lugares certos, como deve ser, ordem, razão e American way of life.
Agora, o que soou mais falso foi o pai chorando porque não disse que amava o filho. Na HQ eles não eram pai e filho, embora houvesse um pai que perde o equilíbrio com a morte de seu filho soldado. Mesclaram personagens diferentes, o capitão, o jovem soldado e o drama do pai anônimo. O importante é que a questão foi de novo tornar a situação familiar à audiência. Dizer "eu te amo" ao filho, é coisa de macho sensível da nossa época, não de grego do período clássico, muito menos espartano. Seria mais digno e verdadeiro o pai chorar pelo filho por este não deixar descendência, a garantia da sua eternidade, por não ter vivido o suficiente para ser lembrado por seus feitos, isto seria grego. Foi a seqüência mais nonsense do filme.
A trama de Theron, que realmente não estava na HQ, também ficou péssima. A Gerúsia era a Assembléia dos velhos e como alguém lembrou em algum lugar, parecia mais o Senado Romano. O que faziam os jovens ali? Por que não estavam acampados treinando? Theron parecia um alien no meio dos espartanos de Leônidas, um ateniense exilado, isso sem falar dos Éforos, tão pestilentos em sua corrupção quanto os inimigos asiáticos. E essa era a idéia. O interessante é que na HQ, só os éforos eram leprosos, os Imortais são pintados como guerreiros, sem vislumbre de suas faces, não há monstros nem no campo de batalha, nem cortando cabeças. Para que aquilo? A HQ mantinha um realismo interessante, o filme tentou transformar a coisa em um circo de horrores.
Voltando ao ponto, os homens de Esparta preferiam as durezas da vida militar aos confortos da cidade. De novo uma subtrama falsa para colocar sexo, e sexo violento, entre uma rainha preocupada e um traidor ávido por tudo que era de Leônidas. Bateu uma dúvida: Será que o amor de Theron não era Leônidas? Bem, mais uma vez tentou-se quebrar o homoerotismo e tacar uma cena de estupro “nada a ver” para animar a audiência masculina (nem todos os homens se excitam com isso, mas é o que passa na cabeça dos produtores, roteiristas e diretores). Se a Rainha era tão esperta e tinha tanta liberdade, ela não precisava entrar em um conluio com um bandido, mas, claro, a audiência masculina precisava de algo levemente heterossexual. Afinal, havia testosterona suspeita demais na tela.
Vi muita gente implicando com a palavra liberdade na boca de espartanos, claro que há duas leituras da coisa e uma sem dúvida se impõe, a contemporânea, inspirada pelos ideais fascistas pseudo-democráticos norte americanos da Era Bush. Mas o fato é que os espartanos, assim como todos os gregos, se consideravam livres. Se você era esparciata, guerreiro, você era livre e Esparta lutou por sua liberdade e autodeterminação durante muito tempo e não somente contra os persas, mas contra outras cidades gregas e mais tarde contra os romanos. Os cidadãos, os iguais, eram livres e em Esparta o eram porque eram guerreiros. A cena em que Leônidas mostra isso aos seus aliados arcádios é uma das melhores do filme. A questão é a leitura contemporânea da palavra liberdade, a dupla face da coisa, mas soou bem menos falso do que em Coração Valente, por exemplo. E muito mais coerente do que o pai chorando porque não disse “Eu te amo”.
Quanto às acusações de preconceito contra os persas, bem, a HQ já não era condescendente, os persas eram bárbaros, os orientais escravos. O filme segue a linha mas o desprezo é contra o oriente como um todo. Veio a mente o discurso de Senhor dos Anéis, o último filme, no qual os heróicos “homens do ocidente”, todos lindos e louros, enfrentam negros, asiáticos e monstros, como em 300. O harém grotesco de Xerxes é um contraponto à beleza saudável das espartanas. A promiscuidade é um contraponto à família nuclear. E ali tivemos outra quebra do homoerotismo com cenas lesbianas fake para homens... Não há nada daquilo na HQ. Não há sexo, não há harém, não há mulheres deformadas que jamais estariam em um seraglio, nem mulheres nuas se esfregando ou beijando. Mas o filme precisava, ou algum roteirista pensou assim.
Xerxes representava a opressão, mas opressão depilada, malhada, hiper-maquiada, coberta de piercings e querendo comer o Leônidas não me convence. OK, mas era aquilo mesmo na HQ, só ficou mais claro no filme. Agora a monstruosidade dos persas e aliados foi exagerada ao ponto de ficar grotesca, falsa e, sim, ridícula. E por quê? Pergunto-me se este é o momento para este tipo de filme. A mensagem é clara, não há dúvida. A idéia do Ocidente detentor dos mais elevados ideais e do Oriente decadente, ditatorial, supersticioso parece que vai ficar na moda por muito tempo. Colocaram Imortais leprosos, rinoceronte como arma de guerra (ridículo), gigantes monstruosos, carrascos com lâminas nas mãos. Será que é para o videogame? Talvez. E só nisos que se pensa hoje em dia quando se faz um filme de ação.
O espetáculo valeu a pena? Com todas essas críticas, ainda assim digo que o visual ali é tudo. Fosse a seqüência nas Termópilas mais enxuta, o filme seria melhor como filme. A coisa se prolonga demasiadamente em combates sem sentido, que não estavam na HQ. A trama de Gorgo também deveria ter sido cortada, as cenas de sexo estavam lá para encher lingüiça, mas os espartanos cumpriram seu papel. Recomendo como filme pipoca, é preciso cuidado com as mensagens ideológicas, e, claro, descarto como História, mas ninguém disse que era. O filme é 300 de Frank Miller, não 300 de Esparta.
Para desintoxicar dessa visão idealizada do Ocidente e monstruosa do Oriente do que correr para um episódio de American Dad e rir com as barbaridades da sociedade norte americana. Lá os americanos se revelam no que de pior eles têm, não perdoam os outros, mas, também, não perdoam a si mesmos. Rindo castigam-se os costumes.
O filme, como a HQ, é carregado de um discurso de maniqueísta de Ordem/Caos, Civilização/Barbárie, Moralidade/Imoralidade, Ocidente/Oriente, só que aprofunda a coisa ao colocar os “bárbaros” como monstros, literalmente. Existe um mito alimentado por alguns setores da historiografia ocidental, e que parece apetecer aos norte americano, que acham que seus fuzileiros são os espartanos, que é o de que o incidente das Termópilas (Hot Gates) representou o momento decisivo para o nascimento da civilização ocidental. Por isso, não raro omitem que havia gregos aliados dos persas, não só naquele momento, mas em outros das Guerras Greco-Pérsicas.
E eu amo Esparta e na sua dureza construíram uma sociedade bem interessante, sincera e muito mais inclusiva no caso das mulheres do que Atenas. Por isso, assistiria o filme de qualquer forma e o visual ficou nota dez. Sim, o ponto alto é o visual da coisa. Cores, vermelho, sépia, a mistura bem dosada de efeitos especiais, HQ e humanos, as lutas coreografadas, o realismo exagerado. Esta é a boa parte do filme, a melhor parte do filme, o que faz valer o ingresso.
Agora, verdade seja dita, a idéia de um exército de 1 milhão contra 300 dá um bom material para um filme, ópera, ou qualquer peça dramática. E no filme, não incluíram todos os aliados, porque os 300 eram espartanos, mas havia outros além dos arcadios. Frank Miller os representa, o filme, os exclui. E isso é infidelidade ao original em HQ e ao original histórico. E veja que eles só precisavam ser citados, teriam nada a dizer, era figuração e só.
Falando nos atores, eles estavam bem em papéis que não lhes exigia mais do que correr, lutar, gritar e fazer poses heróicas. Nesse sentido, o Gerard Butler é um achado, e falando como alguém que estava também disposta a observar o desfile de belos corpos pseudo-gregos, ridiculamente vulneráveis sem suas armaduras (Estragar o visual para quê?), não me decepcionei, muito embora corpos masculinos depilados não me agradem muito. Hiper-macheza sempre me leva a pensamentos homoeróticos e a coisa ficou bem gay mesmo: homens malhados, de tanguinha, aquela fraternidade exacerbada e o Xerxes do Santoro pronto para papar o Leônidas. Talvez exatamente por isso tenham aumentado o papel da Rainha Gorgo.
Eis algo que não estava no quadrinho, foi colocado somente para enganar os machões de plantão. Mulher seminua, cenas de afeto entre marido e mulher (é a heterossexualidade compulsória), exaltação da família nuclear (ordem de novo), sexo que no quadrinho se resumia a uma frase “Você ontem estava muito entusiasmado” etc. Sim, não acho que o romance desta vez tenha sido oferecido às mulheres, mas, sim, aos homens, para assegurar-lhes da macheza de Leônidas e dos seus rapazes, todos bons pais de família, amantes das mulheres, e limpar a consciência daqueles que não gostariam de se imaginar assistindo um filme gay... Porque é isso que 300 é também.
E é exatamente este excesso de afeto, ausente da HQ que representava muito mais fielmente os espartanos e espartanas, que dá um tom falso ao filme. Homens e mulheres espartanos viviam em universos paralelos que raramente se tocavam. O excesso de sentimento entre os esposos, a mãe de Leônidas fazendo drama e sendo segura por duas mulheres quando seu filho era levado de casa aos sete anos não são dignas das imagens históricas que temos de Esparta, tampouco imagens da HQ de Miller. Leônidas acusa os atenienses de pederastas (boy lovers), mas em Esparta a coisa não era muito diferente e os laços entre os guerreiros eram muito sólidos. Um amante lutaria como um leão se seu amado estivesse ao seu lado. Nada mais poético e ao mesmo tempo distanciado da imagem caricata que temos dos amores e comportamentos dos homossexuais masculinos.
As mulheres tinham mais consideração e espaço de atuação em Esparta do que na democrática Atenas, mas a parcela de afeto que recebiam não é muito clara. Amor, para os gregos, era entre iguais, homens em mulheres eram diferentes, em Esparta eram parte de uma mesma máquina de produzir soldados, tinham respeito mútuo e posição, mas não compartilhavam muito suas vidas. Leônidas na HQ ama sua esposa e é amado, mas não há rasgos de sentimentalismo, há uma representação contida e, talvez, mais fiel. O filme optou por criar duas personagens, Lêonidas e Gorgo, que oferecessem um belo espetáculo familiar ao americano médio de casal ocidental idealizado: o marido é o cabeça, é respeitado, protege a companheira, mas ouve a mulher, oferece-lhe o papel de ajudadora biblicamente reservado à Eva. Tudo está nos lugares certos, como deve ser, ordem, razão e American way of life.
Agora, o que soou mais falso foi o pai chorando porque não disse que amava o filho. Na HQ eles não eram pai e filho, embora houvesse um pai que perde o equilíbrio com a morte de seu filho soldado. Mesclaram personagens diferentes, o capitão, o jovem soldado e o drama do pai anônimo. O importante é que a questão foi de novo tornar a situação familiar à audiência. Dizer "eu te amo" ao filho, é coisa de macho sensível da nossa época, não de grego do período clássico, muito menos espartano. Seria mais digno e verdadeiro o pai chorar pelo filho por este não deixar descendência, a garantia da sua eternidade, por não ter vivido o suficiente para ser lembrado por seus feitos, isto seria grego. Foi a seqüência mais nonsense do filme.
A trama de Theron, que realmente não estava na HQ, também ficou péssima. A Gerúsia era a Assembléia dos velhos e como alguém lembrou em algum lugar, parecia mais o Senado Romano. O que faziam os jovens ali? Por que não estavam acampados treinando? Theron parecia um alien no meio dos espartanos de Leônidas, um ateniense exilado, isso sem falar dos Éforos, tão pestilentos em sua corrupção quanto os inimigos asiáticos. E essa era a idéia. O interessante é que na HQ, só os éforos eram leprosos, os Imortais são pintados como guerreiros, sem vislumbre de suas faces, não há monstros nem no campo de batalha, nem cortando cabeças. Para que aquilo? A HQ mantinha um realismo interessante, o filme tentou transformar a coisa em um circo de horrores.
Voltando ao ponto, os homens de Esparta preferiam as durezas da vida militar aos confortos da cidade. De novo uma subtrama falsa para colocar sexo, e sexo violento, entre uma rainha preocupada e um traidor ávido por tudo que era de Leônidas. Bateu uma dúvida: Será que o amor de Theron não era Leônidas? Bem, mais uma vez tentou-se quebrar o homoerotismo e tacar uma cena de estupro “nada a ver” para animar a audiência masculina (nem todos os homens se excitam com isso, mas é o que passa na cabeça dos produtores, roteiristas e diretores). Se a Rainha era tão esperta e tinha tanta liberdade, ela não precisava entrar em um conluio com um bandido, mas, claro, a audiência masculina precisava de algo levemente heterossexual. Afinal, havia testosterona suspeita demais na tela.
Vi muita gente implicando com a palavra liberdade na boca de espartanos, claro que há duas leituras da coisa e uma sem dúvida se impõe, a contemporânea, inspirada pelos ideais fascistas pseudo-democráticos norte americanos da Era Bush. Mas o fato é que os espartanos, assim como todos os gregos, se consideravam livres. Se você era esparciata, guerreiro, você era livre e Esparta lutou por sua liberdade e autodeterminação durante muito tempo e não somente contra os persas, mas contra outras cidades gregas e mais tarde contra os romanos. Os cidadãos, os iguais, eram livres e em Esparta o eram porque eram guerreiros. A cena em que Leônidas mostra isso aos seus aliados arcádios é uma das melhores do filme. A questão é a leitura contemporânea da palavra liberdade, a dupla face da coisa, mas soou bem menos falso do que em Coração Valente, por exemplo. E muito mais coerente do que o pai chorando porque não disse “Eu te amo”.
Quanto às acusações de preconceito contra os persas, bem, a HQ já não era condescendente, os persas eram bárbaros, os orientais escravos. O filme segue a linha mas o desprezo é contra o oriente como um todo. Veio a mente o discurso de Senhor dos Anéis, o último filme, no qual os heróicos “homens do ocidente”, todos lindos e louros, enfrentam negros, asiáticos e monstros, como em 300. O harém grotesco de Xerxes é um contraponto à beleza saudável das espartanas. A promiscuidade é um contraponto à família nuclear. E ali tivemos outra quebra do homoerotismo com cenas lesbianas fake para homens... Não há nada daquilo na HQ. Não há sexo, não há harém, não há mulheres deformadas que jamais estariam em um seraglio, nem mulheres nuas se esfregando ou beijando. Mas o filme precisava, ou algum roteirista pensou assim.
Xerxes representava a opressão, mas opressão depilada, malhada, hiper-maquiada, coberta de piercings e querendo comer o Leônidas não me convence. OK, mas era aquilo mesmo na HQ, só ficou mais claro no filme. Agora a monstruosidade dos persas e aliados foi exagerada ao ponto de ficar grotesca, falsa e, sim, ridícula. E por quê? Pergunto-me se este é o momento para este tipo de filme. A mensagem é clara, não há dúvida. A idéia do Ocidente detentor dos mais elevados ideais e do Oriente decadente, ditatorial, supersticioso parece que vai ficar na moda por muito tempo. Colocaram Imortais leprosos, rinoceronte como arma de guerra (ridículo), gigantes monstruosos, carrascos com lâminas nas mãos. Será que é para o videogame? Talvez. E só nisos que se pensa hoje em dia quando se faz um filme de ação.
O espetáculo valeu a pena? Com todas essas críticas, ainda assim digo que o visual ali é tudo. Fosse a seqüência nas Termópilas mais enxuta, o filme seria melhor como filme. A coisa se prolonga demasiadamente em combates sem sentido, que não estavam na HQ. A trama de Gorgo também deveria ter sido cortada, as cenas de sexo estavam lá para encher lingüiça, mas os espartanos cumpriram seu papel. Recomendo como filme pipoca, é preciso cuidado com as mensagens ideológicas, e, claro, descarto como História, mas ninguém disse que era. O filme é 300 de Frank Miller, não 300 de Esparta.
Para desintoxicar dessa visão idealizada do Ocidente e monstruosa do Oriente do que correr para um episódio de American Dad e rir com as barbaridades da sociedade norte americana. Lá os americanos se revelam no que de pior eles têm, não perdoam os outros, mas, também, não perdoam a si mesmos. Rindo castigam-se os costumes.
8 pessoas comentaram:
Olá! Muito boa sua resenha, gostei bastante. Parabéns.
estou doida para ver esse filme !!!
:)
saludos!
...
e, de fato, concordo com os comentários do matheus ...
ficou muito boa mesmo tua resenha ... tmbm gostei bastante das tuas linhas!
...
e, evidentemente, baixarei e assistirei ao filme!
(mas, admito que "dado o contexto" a produção seria mais bem cuidada!!!! ... maldito otimismo que as vezes me escapole!)
...
"A América para os AMERICANOS
(todos os AMERICANOS ... sejam argentinos, brasileiros, chilenos, cubanos...)
...
e os estados unidos para os ESTADUNIDENESES"
saudações libertárias!
Nossa, quanta raiva contra os EUA.
Hoje em dia ninguem pode fazer nenhum filme que ja acham as mensagens subliminares da dominação norte-americana, sobre nós pobre povo oprimido do mundo.
Lembrar que eles foram VITIMAS dos ataques terroristas então...
Toda essa mania de ver os EUA como o mal do mundo que corrompe os inocentes tb não é uma visão precoceituosa?
Ou preconceito só é oq os outros fazem?
Perceber o mal que os EUA fazem ao mundo não é preconceito, é conceito. Seria preconceito se fosse uma alien que vivesse em uma bolha. Aliás, por isso entendo bem porque eles foram atacados e Miller fez o material antes. Agora se serem atacados, em parte porque provocaram, lhes dá o direito de difundir idéias racistas, mentiras e impôr miséria a países como o Iraque, bem, disso eu discordo, pelo jeito você, não.
Aliás, em nenhum momento comentou a resenha do filme, do qual eu gostei porque entendo exatamente porque e para quê foi feito, mas meu suposto ódio que somente você viu, talvez porque esteja no extremo oposto de paixão (e submissão) cega. E não falei mal dos EUA, você leu errado (ou não leu), fosse assim, não terminaria falando de um seriado que é bem agudo em suas críticas, aos norte americanos e aos outros. Críticas bem fundamentadas, não simplesmente pintar o "outro" como o monstro.
Acho que o único mérito do comentário é não ser anônimo... pelo menos isso...
Valeria.
Em primeiro lugar desculpe a demora em responder (sem contar que já comentei atrasado seu post) mas é que não ando com muito tento p/ acessar a net, então essa “resposta” tb vai ser atrasada. Lamento.
Dito isso, vamos começar pelo final. Vc parece surpresa por eu assinar o meu comentario. Bem, não fique. Eu sempre assumo as ideias que defendo, mesmo que elas não entrem no esquema politicamente correto das coisas ou não se enquadrem na moda do momento ( que atualmente é culpar os norte-americanos por tudo oq há de ruim na face da Terra).
Tb não gostei de vc tentar desqualificar meu argumento dizendo que sou submisso a idologia norte-americana. Não sou, vc pode não acreditar, mas o fato de eu ter uma opinão diferente da sua não significa que não tenha a capacidade de raciocinar por mim mesmo, ou que sou antietico (eu não comentaria seu texto se não o tivesse lido).
Mas vc esta certa quando reclama que não falei da sua resenha. Foi uma falha e peço desculpas, mas é que para mim ( e friso isso pq as outras pessoas que leram devem ter tidos opiniões diferentes) a critica politica acabou se sobressaindo.
Rapidamente , eu poderia resumir que li a Hq e concordo com suas criticas quanto as adaptações feitas na obra. Esperava que os bons resultados de Sin City, fizessem os responsaveis se manterem fiés a obra, se bem que em alguns foruns , já havia a certeza que iam dar um jeito de aumentar a participção feminina (que o diga o Senhor dos Aneis) colocar “romance” , alguma cena tocante e meiga p/ agradar a plateia.
Todavia, confesso que não esperava que fosse apelar p/ vulgaridade (é isso que considero o estupro de Goro e o pseudo-harem).
Mas voltando a tema do meu primeiro comentario...
Eu não considero a ocupação do Iraque justa, nem sou idiota de negar todos os crimes dos EUA (alias, sinto uma profunda raiva ao ver como Bush conseguiu transformar todo o apoio e simpatia mundial que seu pais havia conseguido após os atentados em resentimento puro), mas fico revoltado tb ao ver as pessoas reduzirem tudo ao esquema simplistas de “EUA malvados, resto do mundo bonzinho, terroristas vitimas”, me parece aquela mesma lenga-lenga nacional que nos impede de chamar assassinos, ladrões, estupradores, etc de criminosos aqui no Brasil. Não eles são sempre vitimas indefesas da sociedade.
Pedir que respondam por seus crimes na justiça? Que sejam punidos pela lei? (note que me refiro a lei, nada de linchamentos, esquadrões da morte, policias justiceiros, melicias, mas apenas a lei ofical), que nada, isso é coisa de dereitista sem respeito pelos direitos humanos.
A mesma coisa acontece agora. Chamar os ataques as torres de ato terrorista e seus organizadores e autores de criminos é o equilente a dizer que vc é um vassolo do Imperador do Mundo, e que não tem apreço pela vida humana.
Desculpe, isso p/ mim tb é maniqueista. Não conseigo aceitar que a mesma logica que condena os crimes no Iraque , absolva (ou minimize) os ataques nos EUA e na Inglaterra, com frases como “eles provocaram, eles mereceram, “ ou mesmo com comemorações ( e acredite eu vi isso, não na Tv, não na net, mas pessoalmente, vc pessoas COMEMORANDO, as mortes daquelas pessoas, afinal eles eram norte-americanos, eles MERECIAM, e quando lembrava alguem que havia pessoas de outras nacionalidades, inclusives brasileiros, a maioria dava de ombros e dizia que eles que eram culpados por estarem la).
Enfim , poderiamos descutir isso por muito tempo ,mas acho que não adiantaria muito. Vc já deixou sua opinião clara, e o que eu queria era mostrar que existem outros pontos de vista alem dela , mesmo que a considere como tendenciosa (oq talvez seja, afinal como vc mesma diz nas colunas do animepro, não existe isso de opinião isenta) ou sem merito.
De qualquer forma, as noticas do seu blog já estão avançadas e não quero prende-la a um assunto antigo.
Por isso encerro isso por aqui , esperando que esse segundo comentario deixe mais claro oq penso.
Sinceramente Anderson.
O que me incomoda mais é transformar o outro em um monstro. E isso nada tem a ver com Torres Gêmeas, nem com as mentiras contadas para invadir o Iraque, ou inventadas para transformar o Irã em um monstro (*quem mente uma vez, mente duas, mente três*), tem a ver com bom senso. Bom senso que muito da produção norte americana pós-2001 não tem e, pior, acabam aprofundando feridas. Vivemos um momento de intolerância e este filme expressa bem este ponto de vista. Apontar isso, não é justificar atentados terroristas ou a militância islâmica radical que me dá engulhos. Apontar a intolerância de 300 me torna pró-atentados e terrorismo? Por favor! É preciso ter uma mente muito estreita para dizer algo assim.
Aliás, a coisa sempre passa por aí, maniqueísmo, eu tento fugir disso sempre que posso. Não tenho raiva dos EUA, e quem afirma isso, não leu o que eu escrevi e, sim, termina se posicionando como "qualquer crítica aos EUA, é crítica ao capitalismo, à minha identidade". Eu não sou norte americana e sei que há americanos que são críticos da política do seu país e nem por isos são tridores. Aliás, outra coisa, o Brasil não fica no Oriente e nem estava na geografia do filme... Quem falou em "nós" orpimidos e vítimas? Os dois lados da questão são "eles" para mim. Assim fica parecendo Galvão Bueno apitando IrãXEUA no futebol e quando o Irão marcou grita "Eles estão ganhando de nós". "Nós" quem? O que me faz lembrar que houve um insano (*sim, esse era doido, não valia a pena publicar algo daquele nível*) que me mandou pegar um avião e ir embora... Será que ele imagina que o território do Brasil pertença aos EUA? Ir embora para onde? Nem toda a opinião faz sentido, ela precisa ser fundamentada e ter coerência, não ficar criando coisas onde não existem.
Concordo com o texto. Perfeito!
E sobre pre-conceito contra os americanos...
Mew, sofrer os atentados de 11 de sentembro não dá direito a ninguém de invadir um país e cometer atrocidades, como aquela menina que foi estuprada e queimada junto com a família, nesta ocupação do afeganistão ou iraque, se bem que isto deve acontecer direto e o engraçado é que estes crimes não são julgados nos países em que foram cometidos e sim na corte marcial americana.
Sem contar que os americanos não respeitam nenhum tratado internacional.
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