sábado, 20 de setembro de 2008

Terminei Alpen Rose



Ontem finalmente chegou o meu último volume de Alpen Rose (アルペンローゼ). Como já comentei aqui (*há vários posts, basta jogar "Alpen Rose" na busca*), estava comprando da Itália usando o E-Bay. A greve dos correios e, talvez, a falta de alguém que recebesse as correspondências (*o porteiro do prédio em frente é quem recebe as nossas cartas e encomendas, porque meus vizinhos consideram a presença de um porteiro algo dispendioso e supérfluo. Logo, se o rapaz não está, podemos ficar sem as correspondências*) o volume oito, o último, se extraviou. Pois bem, como estava tratando com um vendedor honesto e mais do que isso, prestativo e gentil, reenviou o mangá para mim. Postou dia 10 de setembro na Itália e ele chegou ontem. Grazie, Pierugo!

Alpen Rose é uma série de 1983, mas ao contrário de outras contemporâneas e até posteriores, ela não envelheceu tanto. Por conta disso, eu posso imaginar a série publicada hoje sem ter como única destinação os fãs de shoujo mangá clássico, pois ela se mantém fresca, interessante, dinâmica e, sim, pode ser utilizada até como material paradidático nas aulas de história do 9º ano (*antiga oitava série*). A arte é old school, mas naquilo que tem de melhor. Michiyo Akaishi dsenha muito bem e bonito, seu único ponto fraco é a dificuldade de desenhar pessoas de meia idade convincentes, mas isso com o tempo – já que está em atividade ainda hoje – ela remediou. Aliás, ela é exímia desenhista de cenas de ação, armas e armamentos. Pena que façam tão poucas scanlations das séries dela.

O pano de fundo histórico, os anos anteriores e a própria II Guerra Mundial, é bem sólido, e a autora parece ter tido um imenso prazer em pesquisar e organizar dados, diz que inventou a música Alpen Rose (*que poderia ter sido usada na abertura do anime, mas não foi*) e apresenta várias das informações de forma resumida nas free-talks. O tom pacifista atravessa toda a série, com a exaltação do papel da Cruz Vermelha, da neutralidade suíça, país ponto de origem da série, assim como a condenação das bombas de Hiroshima e Nagasaki com Jeudi – a protagonista – em prantos e Lundi a consolando dizendo que uma guerra como aquela jamais voltaria a acontecer, pois os seres humanos aprenderam a lição e ensinariam seus filhos a resolverem seus problemas sem tal derramamento de sangue. Sabemos que não é bem assim.

Ao longo da história, as personagens crescem, a trama política ganha mais consistência e substitui a da procura pela família (*Jeudi acha sua mãe na metade do mangá e recupera a memória, obviamente*) e a autora amadurece de forma convincente o casal de protagonistas. No final, ela explica algumas idéias que foram abandonadas ao longo da história, como o longo sumiço de Lundi, e que para amadurecer a personagem, optou por colocá-lo usando terno e gravata. Enfim, as imagens bônus no final são excelentes. Uma delas – Lundi como cavaleiro medieval carregando Jeudi no cavalo – serviu de inspiração para a abertura do anime. Falando em anime, aliás, poderia ter sido um clássico se entregue em mãos competentes, pois o mangá é muito bom. Alpen Rose é infinitamente superior à Candy Candy com seus mil absurdos, por exemplo. E eu sou fã de Candy Candy, mas Alpen Rose teria tudo para marcar muito mais.

Ao tentarem imitar Candy Candy (*Jeudi jovem enfermeira no início do anime*) e limarem as discussões mais sérias, como a questão geo-política (*e ainda assim foi o anime mais censurado na Itália e na França em todos os tempos*), além da violência e do conteúdo sexual o anime se tornou somente mais um na multidão. E eu explico que não há sexo em nenhum momento do mangá, mas Jeudi passa por situações difíceis e é alvo da perseguição obsessiva (*e pedófila*) do Conde Georges Du Gourmont que é o tipo de vilão que você odeia, que é um mala sem alça (*quase morreu e voltou um sem número de vezes*), mas que no fim desperta simpatia, pois ele via na heroína a mulher que a muito havia perdido.

Há também o irmão mais velho de Lundi, Jean-Jacques, que anda na fina linha entre a vilania e o heroísmo, sendo aliado dos nazistas, apadrinhado do Conde e um exímio assassino. Mas também ele tinha um coração e coloca-se em risco para salvar Jeudi do Conde já completamente louco. Sua morte deixa Lundi desesperado, mas ele retorna e entrega um buquê de alpen roses no dia do casamento de Lundi e Jeudi. Eles não o vêem, mas sabem que ele está vivo. Também no final da série, Leon, o andrógino gênio da música, acaba cortando os cabelos, e deixa de ter aquela aparência "Lady Oscar" que marca tantas personagens em séries shoujo e nem tanto (*como Lenda dos Heróis Galacticos*) até hoje. Ele chegou a cortejar Jeudi, quando Lundi foi dado como morto, mas a menina deixou claro que só desejava a sua amizade.

Sim, tudo termina em casamento. Afinal, as protagonistas enfrentaram um sem número de percalços e nada mais justo. O primeiro beijo foi no primeiro volume. Por mais que outros interessados pudessem atravessar o caminho dos dois, ambos permaneceram fiéis e foram recompensados. No final do mangá, Jeudi é uma enfermeira (*isso é colocado no início do anime*) e Lundi estudante de medicina comprometido com a missão de atender a todos que deles precisassem, amigos ou inimigos, pois esta é a nobre missão da Cruz Vermelha e uma das formas de tentar construir um mundo melhor. Dinheiro muito bem investido.

3 pessoas comentaram:

Isso me faz lembrar... Já não é hora de uma atualização monstro no seu website?;)

Já passaram 3 anos desse post mas eu preciso comentar Alpen Rose. ^^
Primeiramente adorei suas resenhas, elas me ajudaram muito a entender a história já que só tive acesso aos poucos scans traduzidos e aos OVAs do anime(que cortam várias coisas) legendado em inglês.
Como você disse o mangá tem uma história mais pesada e o desenvolvimento das personagens e bem mais visível, na minha opinião a Jeudi não cortar o cabelo no anime para passar-se por garoto foi uma falta. No anime a aparência do casal principal continua a mesma do inicio ao final da história(tirando o Lundi usar um terno), já no mangá é bem visível o quanto eles cresceram fisicamente e o cabelo da menina cresce de novo, ajudando a mostrar o passar do tempo.
É uma pena que nem esse nem muitos outros animes(shoujo e os demais gêneros) não chegaram até nós. Ainda sonho com o dia em que mangás clássicos sejam lançados por aqui.
Como você mesma falou, de cara notei a referência a Candy Candy com a menina trabalhando de enfermeira, essa parte da história no mangá era bem mais interessante e pesada. Sobre os tios do Lundi, sinceramente não acho que eles seriam os piores no mundo dos shoujos clássicos, há fortes candidatos a pessoas adultas que maltratam as meninas órfãs loiras dos mangás clássicos. O Leon é mesmo muito parecido com a Oscar, logo notei a referencia. Uma coisa que não gostei no anime foi alguns personagens terem o cabelo da cor azul/roxo, o Leon e a Françoise(esposa do Conde), não sei quanto a Françoise, mas o Leon era loiro no mangá. Acho que a música de abertura ficou bem legal e particularmente não curti a música da Alpen Rose(vai ver é por que eu não entendo muito de música clássica).
Sobre o Conde, ele me pareceu um bom vilão, sua obsessão pela mocinha me convencia. ^^
Em relação ao casal principal, eles se merecem e se não ficassem juntos no final seria muito triste. =/
Bem é isso, desculpe por desenterrar esse post, mas eu precisava comentar esse excelente mangá/anime.
Abraços.

É muito bom quando alguém desenterra um post que não seja Kodomo no Jikan, pode ter certeza. ^__^ Obrigada por comentar. :D

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