domingo, 1 de março de 2009

Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 11)


Esta é a última parte do terceiro capítulo. Como disse, a postagem direta termina aqui. Agora, só continuo se houver realmente interesse dos leitores e leitoras. Para quem quiser ler os capítulos direto, aqui estão os links: Capítulo 1:Ecos do Passado, Capítulo 2: A Decisão de uma Vida e Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás. Bem, é isso. Obrigada a todos e todas que leram até aqui.
Ventos de Mudança
Capítulo 3: Sem Olhar Para Trás (Parte 11)

Enquanto isso, dentro do castelo, Humberto descobria que havia sido ludibriado por Alda, outra vez.

— O que faz aqui fora, mulher? — Perguntou à criada.

— A Senhora pediu que esperasse aqui por suas ordens.

— Aqui!? Maldita! — A mulher tremeu, pois não sabia á quem se dirigia a ofensa. Humberto bateu na porta, tentando ainda manter-se controlado, já que depois do susto o efeito que o álcool tinha sobre ele mudou de torpor para crise de fúria. — Abra, minha Esposa! Eu ordeno! — Nenhuma resposta. — Ela não me conhece... Ela não me conhece... — Lançou-se sobre a imensa e pesada porta e, contrariando a lógica, a colocou abaixo, sem grandes dificuldades. Lá dentro viu o vestido sobre a cama. — Ela se foi, meu Pai! Se foi! — Vociferava e o Marquês De Mülle suspirou aliviado. — O Senhor sabia, não é? — Humberto inquiriu avançando para ele com seus olhos dardejantes injetados de sangue.

— Não, meu genro, eu não sabia. — Respondeu De Mülle, sem se mexer, com uma voz calma e pausada.

— Onde está a criada? — Perguntou, olhando em volta. — Ela é responsável! Onde está? — A mulher apareceu trêmula e pálida como um cadáver. — Onde está minha esposa, traste inútil? — Perguntou lhe dando uma forte bofetada que fez com que a mulher caísse no chão. — Responda, infeliz! — E continuou batendo na moça com toda a sua raiva, chutando-a e esbofeteando-a, até que De Mülle e o Conde De Dorsos conseguiram segurá-lo depois de muito esforço. Tão logo se viu livre, a mulher se arrastou para fora do quarto e sumiu da vista de todos.

— Meu filho, controle-se! — O Conde arquejava. — Mate a mulher depois, se quiser, mas controle-se!

— Meu genro, há uma carta sobre o leito. — De Mülle falou entregando-lhe o envelope que não havia sido percebida até então. Humberto olhou para ela e devolveu-a para De Mülle.

— Leia, meu Sogro. No estado em que estou, não conseguiria fazê-lo adequadamente. — Era mentira, na verdade, ele não sabia ler. Depois de lançar-lhe um olhar curioso, De Mülle começou a ler com voz neutra:

Caro Marido,

Se tem a carta em mãos, é porque pelo menos a primeira parte de nossos planos foi bem sucedida e isso me deixa feliz. Espero que esteja se sentindo o pior possível e que tenha muitas queixas a fazer para Sua Majestade. Será uma pena não estar aí para ouvi-las pacientemente. Gostaria que soubesse que não é com gritos ou ameaças que se consegue o amor e o respeito de uma mulher, tampouco com falsa cortesia. Aceitei o casamento por amor a meu pai, mas em nenhum momento aventei a possibilidade de tê-lo como esposo. E pouco me importa a Vontade Real a respeito. Uma mulher não é como um cavalo, ou um cão que se pode dar em troca de qualquer coisa. Sou senhora de meu destino e me casarei com aquele que me merecer! Para que não pense que sou insensível, deixo-lhe um conselho: Saia do Reino o quanto antes se for sensato porque os dias de poder de Dominique estão para terminar!

Despeço-me agora, esperando que sua noite de núpcias seja longa e fria.

Daquela que nunca poderá possuir,

Alda.

P.S.: Acredito que papai também esteja por perto, talvez mesmo lendo a carta. Pois bem, pai, saiba que o amo muito e não me envergonho de você por nada que tenha feito, ou venha afazer. Peço a Deus que o sustente e guarde, assim como a mim mesma Aguardo o dia em que nos encontraremos. Não tema por mim, acredite na educação que me deu como eu mesma acredito!


Ao terminar a leitura, que não constou da última parte da carta, De Mülle não pode esconder seu orgulho. Já Humberto estava lívido de raiva, absolutamente catatônico e, talvez, tivesse ficado assim para sempre, não fosse o Conde, seu pai, começar a gritar, fora de si:

— Maldita meretriz! Que espécie de mulher quiseram lhe dar como esposa. — E voltando-se para De Mülle: — Como conseguiu criar um monstro como esse?

— Contarei se me contar como conseguiu criar o seu monstro, caro Conde. — Redargüiu em um súbito acesso de dignidade. — Acredito que nada do que houve aqui foi imerecido. — Disse dobrando a carta e estendendo para o Conde. — Talvez sua Majestade a queira como prova.

— Pegue esta carta e enfie... — O Conde começou a falar quando sua atenção se voltou para o filho.

Humberto havia saído absolutamente mudo em direção ao pátio. Chegando lá fora, deu um berro tão grande que chegou a estremecer os muros ao redor, depois, pôs-se a bater com a cabeça na parede, violentamente, como se quisesse se matar.

— Meu filho! Meu filho enlouqueceu! — O Conde gritava transtornado.

— Cale-se, meu pai! Eu não estou louco. — Parou com o rosto transtornado pelo ódio. — Tragam minha armadura e minha espada! Não vou descansar enquanto não vingar as ofensas que esta mulherzinha me fez. Eu juro que vou trazê-la arrastada pelos cabelos e consumar meu casamento aqui, neste pátio, diante de todos. Para que ninguém possa rir de Humberto de Dorsos! Ninguém! — Virou-se para o Marquês: — Espero que tenha boas recordações de sua filha, pois será só isso que terá quando eu terminar com ela!

— Mesmo?! Conhecendo-a como conheço, acredito que vai precisar de mais do que gritos e imprecações para dobrá-la, caro genro. — Fez pausa. — Saibam que nunca me orgulhei tanto dela como hoje. — Disse com uma mesura. — Com sua licença, Senhores. O dia foi muito longo e cheio de emoções para um homem como eu! — Virou-se e saiu orgulhosamente, surpreso ele mesmo com sua súbita coragem. “Ah filha! Filha! Como me orgulho de você! Sempre, sempre! Por ser tudo o que eu nunca consegui! Mas tenha cuidado! Tenha cuidado, por favor!”
XXX
— Eu devo agradecer. — Guilherme falou. — Vocês salvaram minha vida! — Seu humor era surpreendente, levando-se em conta o seu estado e as dores horríveis que deveria estar sentindo.

— Não o salvamos ainda, Príncipe Guilherme. — Alda falou com sobriedade. — Só estaremos à salvo realmente quando chegarmos até o Castelo do Amanhecer. E ainda temos um longo caminho até lá.

— Mesmo?! — Riu e não pode evitar que seu rosto se contorcesse de dor, embora fingisse que nada sentia. — Eu sei que vai dar tudo certo, garoto, eu sinto isso! — Fez pausa e Alda percebeu que, mantendo aquele ritmo de viagem, poderiam matá-lo. — Mas quem são vocês? Quem os enviou?

— A Rainha das Fadas, foi ela quem nos convocou. Nossa missão é libertar o Príncipe Eduardo e destronar a Rainha Dominique. — Fez pausa, pois não sabia se dizia quem era, ou não. Sempre achara que salvo de armadura, qualquer um saberia que era uma mulher. Talvez devesse se sentir orgulhosa por ser tão convincente, ou talvez o Príncipe Guilherme estivesse um pouco atordoado pelas torturas e tudo mais. Sentia também uma pontinha de decepção, afinal, bem que ele poderia reconhecer nela a moça que lhe deu de beber... “Chega disso, Alda! Não tenho tempo para pensamentos tolos...” Algo, porém lhe dava mais segurança, era ter Erik ao seu lado. Ela olhou para o rapaz com imensa gratidão. “Você é meu melhor amigo, não é Erik? Minha sombra... Que eu faria sem você?” Mas Guilherme voltou a falar e ela foi arrancada dos seus pensamentos:

— Um... A luz que me envolveu não deve ter sido um sonho... Mas, para mim, destronar essa mulher é o suficiente... — Falou com dificuldade, mas um brilho intenso nos olhos. — O que mais vocês têm a me dizer? Seu amigo é estrangeiro... Ele não fala como a gente deste reino. Mas você...

— Todos que buscam andar de forma correta são estrangeiros em mundo de injustiças, Alteza! — Falou Alda sem desmentir o que o outro dissera, mas sem confirmar coisa alguma. Ela desejava que tudo tivesse dado certo para Alan, Marina e os outros. “Agora temos que escapar dos perseguidores. Pela primeira vez entendo como a caça se sente e não é nada confortável, nada confortável.”
XXX
Enquanto os três cavaleiros se afastavam, do alto de uma árvore, uma coruja parecia repousar em um galho descamado. Só que não era uma coruja qualquer, era uma imensa ave laranja, com seus grandes e estranhos olhos bem atentos. O animal incomum sentia-se feliz, mas, não, tranqüilo, pois apesar de estarem fora do castelo, ainda estavam dentro do campo de poder da Rainha. “Tenham cuidado, meus jovens amigos! Essa vitória é somente a primeira de uma longa e dolorosa guerra, mas vocês são fortes e aprenderão a se superar. A terra parará de sangrar e as lágrimas do céu serão de alegria e, por fim, haverá a paz que eu nunca conheci até agora! A Paz que esta terra tanto precisa!”

3 pessoas comentaram:

"Despeço-me agora, esperando que sua noite de núpcias seja longa e fria"

Heheheheheh

Alem de tudo, Alda sabe como torcer a faca.

Bem, você já sabe minha opinião: é claro que quero ler mais.

Só espero que outras pessoas se manifestem...

Continua! *-* Estou adorando!

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