A Adriana Zardini do site JASBRA (Jane Austen Sociedade do Brasil) fez uma matéria muito interessante chamada "Jane Austen não sabia escrever?". O objetivo do post é discutir uma série de matérias com título sencacionalista que desqualificavam Jane Austen como autora. Motivo? Ela teve um editor que, talvez, tenha feito "correções" ao seu inglês. Enfim, é para isso que editores servem, também. Mas dentro do saco de gatos que foram as tais matérias, houve uma que era um primor "Jane Austen, na verdade, era homem". E, de novo, voltamos ao esforço para mostrar que, uma das maiores mulheres escritoras, era medíocre e, claro, toda a sua "grandeza" foi fruto da ação masculina. Alguém gritou misoginia? Pois é, eu até tinha feito um post aqui chamado "Jane Austen era mulher, mesmo?" ou Por que Muita Gente Acha que Autoras de Sucesso são Homens Disfarçados? Parece até disco quebrado... Mas, enfim, leiam o texto da Adriana que é muito bom. O do Jane Austen's World (em inglês) sobre a mesma questão também ficou ótimo.
4 pessoas comentaram:
Repetindo o que falei no twitter, isso é uma palhaçada.
Manuscritos comprovam que um dos monstros sagrados da literatura brasileira, Jorge Amado, era péssimo em ortografia. Zélia Gattai, sua esposa, corrigia todos os manuscritos antes de mandar pro editor -- e nem por isso tivemos por aí manchetes com "Jorge Amado na verdade era mulher".
Muitos escritores -- MUITOS, MUITO MAIS do que pensamos -- cometem erros de ortografia. Não sabemos porque tudo é editado antes de ser impresso. Jane Austen passou por revisão e edição como QUALQUER autor homem provavelmente deve ter passado também. A diferença é que dos homens ninguém fala.
E digo mais: talvez a tal "ortografia estranha" que ela usasse pudesse ser uma proposta de um estilo diferente de escrever, que um editor antiquado não aceitava. Escritores como Oswald de Andrade e Guimarães Rosa não usam pontuação da maneira tradicional e isso não é "erro" -- faz parte de seu estilo. Se os textos deles tivessem vindo de uma mulher, pontuação estranha e estilo "esquisito" poderia ter sido vista como "ignorância"? Confesso que não creio ser essa a situação, mas acho que se fosse o caso e Jane Austen estivesse propondo um novo estilo, os editores simplesmente ignorariam e reescreveriam o texto de forma mais quadrada. Ainda mais naquela época.
Última questão: é ABSOLUTAMENTE NATURAL para um autor fazer rascunhos antes do texto final. Não falo isso por mim, basta ler qualquer depoimento de escritores por aí. Esses rascunhos de texto muitas vezes não seguem lógica de ortografia, normas gramaticais -- a intenção é apenas captar a fluência do pensamento. Depois é que ele começa a trabalhar o texto -- um texto pode passar por modificações por seis, sete vezes, pra falar o mínimo. autores como Tolkien eram obcecados por revisar e retrabalhar seus textos.
Enfim, me parece que esses textos de Austen sejam aqueles primeiros rascunhos em que o autor só tem compromisso consigo mesmo -- ainda mais da mneira como descrevem, páginas rasuradas, manchadas... se um autor ficasse preocupado com "o que pensariam se olhassem pra esse manuscrito agora", nunca conseguiria escrever coisa nenhuma. Certos processos do trabalho só dizem respeito ao autor, e não estão prontos para serem vistos pelo público.
Por fim, só termino dizendo isso -- seja lá a natureza desses manuscritos, passar por revisão e edição é algo natural pra qualquer autor independente do sexo, no meio editorial.
Obrigada pela propaganda Valéria! ;)
Sabe, Petra, é como a Adriana diz lá no texto original e voc~e coloca: "A noção de erro é muito relativa". Eu comecei o curso de Letras na UFRJ e esta era uma discussão recorrente. Outra coisa que voc~e pontuou bem é que rascunho é rascunho. A gente risca, escreve de forma desleixada... E, bem, depois conserta. Fora, claro, o papel do editor.
Mas eu realmente vejo nessas notícias a questão do preconceito de gênero. Já vi gente dizendo e escrevendo (e publicando) que Mery Shelley não tinha criado e escrito Frankenstein, porque, bem, ela era mulher e só tinha, se muito me engano, 18 anos. O marido é que escreveu ou "corrigiu". O mesmo para Helena Morley de Minha Vida de Menina (Já leu? Daria um quadrinho bárbaro.). Enfim, fosse Jane Austen um dos "grandes" homens da literatura, eu duvido que leria notícias nesse tom.
Falando nesse assunto, recentemente assisti um filme que fala o contrário, onde na verdade Shakespeare seria mulher! Não sei se vc conhece, tem o Colin Firth no elenco, se chama St. Trinian's 2: The Legend of Fritton's Gold (título em Portugal: Giras e Passadas 2), acho que não saiu no Brasil, mas apesar de não ser um filme sério, é muito divertido, tanto o primeiro quanto o segundo filmes eu recomendo :)
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