Hoje me deparei no Jornal O Dia com a seguinte matéria “Livro de Monteiro Lobato pode ser banido por racismo”. Segundo a matéria,
Veja bem, não estou negando o racismo. Ele está lá. Estou apontando o caráter anacrônico de certas medidas e a proposta de censura, ao invés da discussão. Qual o sentido da educação, afinal? Será que a obra de Monteiro Lobato é daninha? Eu não acho. Li pouco dos livros, mas cresci assistindo o seriado da Globo de 1977. Amava a Tia Nastácia de Jacyra Sampaio, que não era a única personagem negra, porque tínhamos o Malasarte e o Tio Barnabé. Não creio que Lobato escritor ou sua tradução para a TV tenham nos tornado mais ou menos racistas, aliás, eu aqui, que fui formada com este material, estou refletindo sobre a questão. Sempre me ofendi muito com as novelas, por exemplo, do Manoel Carlos, com seu racismo rasgado e romantizado, seus pobres idiotizados, suas empregadinhas (*negras e mestiças em sua maioria*) seduzidas ou sedutoras. Pobre do Monteiro Lobato... E pobres das crianças se forem simplesmente privadas de lê-lo.
Não acredito que o racismo vá acabar, porque escondemos um livro com trechos racistas. Talvez o racismo termine se discutirmos o problema e criarmos políticas para combatê-lo. Censurar livros, sem levar em conta quando e por quem foram escritos, claro, não é a saída. Nunca é. Curiosamente, raramente a mesma discussão é transferida para os livros misóginos, ou filmes misóginos, ou arte misógina. Sabe por quê? Negros também podem ser homens, mas, com as mulheres, quem é que se importa? Nós somos "o outro" sempre. E, repito, não estou defendendo a política ou negando o racismo, só tentando apontar o que me parece ridículo em toda essa situação.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer proibir nas escolas públicas do País o livro ‘Caçadas de Pedrinho’, um clássico da literatura infantil escrito por Monteiro Lobato. Os 12 conselheiros do órgão acataram por unanimidade denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, que considerou a obra racista. Conforme parecer do Conselho, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e referências a animais, como urubu e macaco.OK, eu não tenho dúvidas de que o livro tem passagens racistas, ou que a própria estrutura do Sítio do Pica-Pau Amarelo, como a Tia Nastácia trabalhando sem que se fale – que eu me lembre – em remuneração, se remeta à questão dos agregados e à escravidão. No entanto, quando foi escrito o livro? O livro é de 1933! Por que não deixar que os professores desmontem o racismo do livro em discussões com seus alunos e alunas? Que chance perdida de se ensinar, como diz a matéria, História do Brasil, e de se questionar as representações sociais sobre os negros e a "democracia racial" na literatura. Enfim, essas coisas realmente me dão um desânimo danado, sabe? É mais fácil censurar. Tempos atrás, nos Estados Unidos, houve uma discussão semelhante sobre Huckleberry Finn, de Mark Twain. Alguns queriam banir o livro das escolas por seu conteúdo racista. Mas o livro era do século XIX...
Veja bem, não estou negando o racismo. Ele está lá. Estou apontando o caráter anacrônico de certas medidas e a proposta de censura, ao invés da discussão. Qual o sentido da educação, afinal? Será que a obra de Monteiro Lobato é daninha? Eu não acho. Li pouco dos livros, mas cresci assistindo o seriado da Globo de 1977. Amava a Tia Nastácia de Jacyra Sampaio, que não era a única personagem negra, porque tínhamos o Malasarte e o Tio Barnabé. Não creio que Lobato escritor ou sua tradução para a TV tenham nos tornado mais ou menos racistas, aliás, eu aqui, que fui formada com este material, estou refletindo sobre a questão. Sempre me ofendi muito com as novelas, por exemplo, do Manoel Carlos, com seu racismo rasgado e romantizado, seus pobres idiotizados, suas empregadinhas (*negras e mestiças em sua maioria*) seduzidas ou sedutoras. Pobre do Monteiro Lobato... E pobres das crianças se forem simplesmente privadas de lê-lo.
Não acredito que o racismo vá acabar, porque escondemos um livro com trechos racistas. Talvez o racismo termine se discutirmos o problema e criarmos políticas para combatê-lo. Censurar livros, sem levar em conta quando e por quem foram escritos, claro, não é a saída. Nunca é. Curiosamente, raramente a mesma discussão é transferida para os livros misóginos, ou filmes misóginos, ou arte misógina. Sabe por quê? Negros também podem ser homens, mas, com as mulheres, quem é que se importa? Nós somos "o outro" sempre. E, repito, não estou defendendo a política ou negando o racismo, só tentando apontar o que me parece ridículo em toda essa situação.
8 pessoas comentaram:
agora é fácil dizer que é racismo, depois que tal obra foi consagrada como clássica e parte do histórico cultural do Brasil. Concordo contigo Val, deveria se utilizar tal livro para desmembrar a escravidão no Brasil.
Eu só queria entender uma coisa... Por que não falam das novelas da Globo? Essas sim, sempre tiveram enfoque racista, não no sentido de delatar, de concientizar, mas de ovacionar o racismo como parte da cultura brasileira e, portanto, um fato comum e aceito. Nunca bateram na porta do Senhor Marinho para denunciar tais absurdos!!!!
Já está na hora, não?
Também acho essa idéia ridícula, assim como a mania de "politicamente correto" e da superproteção das crianças.
O pior é ver que os próprios membros da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial tomam atitudes malucas como esta. É o quê, método "1982" de construção de pensamento?
Mesmo aos 10 anos e sem orientação de um adulto, eu lia Monteiro Lobato e percebia o racismo, tanto no discurso quanto nas falas da Emília. Mas não tomava aquilo para minha vida ou para o trato com as pessoas, porque entendia que era um livro antigo, onde ainda se escrevia garoto, boca e flor com acento, lol. E diga-se de passagem, eu também entendia que as palavras já não eram mais escritas daquela forma.
Por que insistem em subestimar a capacidade de entendimento das crianças?
Ops, "1984" tava empolgada e falei besteira.
Sabe, sou muito fã do Lobato, li diversas vezes todos os volumes do Sítio... e sempre fico com raiva desse tipo de discussão.
Que tal barrarmos também O Mercador de Veneza, de Shakespeare, porque mostra os judeus como as piores criaturas do mundo?
O racismo está presente em Monteiro Lobato? Está. MAS francamente, até HÁ QUE SE VER como se manifesta. Geralmente quem destrata Nastácia é Emília, que é a "boneca sem coração". Todos os personagens mais bondosos lhe tratam bem.
E tia Nastácia de fato é ignorante, supersticiosa, analfabeta... praticamente uma caricatura. Porém, há que se levar em conta os fatores históricos, como você bem lembrou, Valéria: só fazer as contas; se o livro é de 1933, e a escravidão foi abolida em 1888, e Nastácia deve ter lá seus 70 anos... não é tão irreal que Nastácia, tendo passado boa parte da vida como uma escrava no interior (ao menos até a escravidão ser abolida, de onde presume-se que continuou unida a família que servia), nunca tenha tido acesso à alfabetização. E por outro lado, Lobato sempre fala muito de outras habilidades de Nastácia, não só como cozinheira. Tanto que há um livro apenas dedicado a contar como ela é raptada por um Minotauro e todos no Sítio se mobilizam para salvá-la...
Mas claro que é bem mais fácil simplesmente censurar que analisar o contexto histórico e refletir sobre as entrelinhas do livro... afinal, ninguém parece estar interessado em educar, e sim apenas em resolver facilmente questões "embaraçosas".
Concordo que a censura pode ser uma grande perda na questão de educar. Se mais pessoas lessem essas referencias com "urubus e macacos" talvez eu não tivesse que ouvir tantos idiotas justificando a piada de um certo comediante de quinta que na verdade chamar negro de macaco apenas se referia ao animal fofo, bonito... PQP!
Ignorar o racismo em obras passadas, na minha opinião, é fomentar caminho pra mais gente idiota falar merda. Eu soube que alguns desenhos do Pernalonga e Pica-Pau que tinham fortes demonstrações de racismo quando foram lançados em DVD tiveram avisos (o do Pernalonga era feito com um vídeo da Whoopi Goldberg) que as manifestações racistas são ofensivas, estúpidas, mas que não se podia deixar de ter aqueles episódios por causa do valor histórico dos desenhos. Acho que livros que tenham esses elementos deveriam ser tratados assim. Afinal, a função do professor é educar, não? Fazer vista grossa é pior ainda.
Que coisa idiota isso, me lembro dos quadrinhos da Disney que tiveram quadros redesenhados e acho uma lástima, as pessoas parecem querer apagar qq vestígio do politicamente incorreto que na época era considerado normal ao invés de procurar as razões por trás daquilo. Racismo não se justifica nos dias de hoje, mas nos anos 30 era a realidade.
Concordo plenamente com seu ponto de vista à cerca do livro, sim, ele possiui menções racistas reletivas aos perdsonagens negros, mas isso não deveria servir de argumentação para bani-lo das escolas, pelo contrário, deveria sim ser trabalhado e contextulizado com seu momento histórico, servindo como mote de discuissão com os alunos.
O julgamento do CNE deve presumir que os profesores da rede pública não são suficientemente capacitados para debater corretamente o tema com os alunos, desisão arbitrárai e controversa, é louvável que os grupos que defendem os dideitos dos negros no Brasil busquem formas para efetivá-los na sociedade e serem encarados como verdedeiros cidadãos, contudo não creio ser correta a via escolhida por eles de banir toda a publicação considerada por esles racista. Como disse anteriormente, o assunto deve ser discutido na escola e naõ escondiddo ou varrido par debixo do tapete, não se faz educação desta forma.
Monteiro Lobato sempre foi polêmico, ou subversivo... preso e cesurado pelo governo do Getúlio, durante a ditatura militar seus livros foram publicado e lidos com reservas, deve ser porque o autor mexe em feridas que as pessoas (em especial os governos) não gostam de cutucar.
Enfim, lamentável a decisão do CNE... tomara que não seja irreversível.
Realmente é complicado banir uma obra por retratar o pensamento de uma época que não tem( ou não deveria ter ) respaldo na atualidade. É anacrônico julgar as obras de Lobato da forma como querem fazer. Concordo que o texto deva continuar tal como o autor o concebeu, e se for o caso, inserir-se notas explicativas sobre o tratamento desrespeitoso a que os negros eram submetidos na época, por exemplo.
Quando li os livros de Lobato ainda na infância confesso que me incomodava muito a forma como os outros personagens tratavam a Nastácia e o Visconde. Eu não sabia julgar se era o pensamento do autor ali sendo explicitado ou uma forma de crítica do mesmo em relação ao racismo e ao desprezo pelos intelectuais.Às vezes Lobato me parece um tanto quanto confuso, ainda hoje...
Curioso é que em uma passagem, na fala da Emília em "Geografia de Dona Benta", o autor elogia os africanos, o qual a personagem tem muito apreço por ser o povo de origem da Nastácia.
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