quarta-feira, 6 de abril de 2011

Comentando o Primeiro Capítulo de Amor & Revolução



Eu cheguei toda empolgada do trabalho para fazer uma review (*finalmente*) do filme Ágora (*aqui, no Brasil, Alexandria*), mas eis que sentei para assistir o primeiro capítulo de Amor & Revolução do SBT. Perdi os primeiros minutos, daí, não vi a abertura com a tela do certificado de censura que conheci na minha infância... Mas isso não importa, fora umas duas sacadas geniais, essa que não vi, e o depoimento de uma mulher, acho que uma das torturadas pelo Coronel Ustra, todo o resto foi um fiasco, uma comédia involuntária. Com o elenco encabeçado por gente que a Globo tentou empurrar como galãs e fracassou, no caso, Cláudio Lins, Nico Puig, Patrícia de Sabrit, não podia dar em boa coisa. Aliás, quando soube que Puig e Sabrit seriam marido e mulher, veio um deja vu maligno... será que vão colocar o Felipe Folgosi como amante dela e reviver o triângulo da novela Olho no Olho que lançou essa turminha? Por favor, não! Fora isso, acho o Tiago Santiago, o autor, muito megalomaníaco, ele já errou a mão e forçou a trama no primeiro episódio. Então, o que poderia ter ficado razoável em uma minissérie, periga ser uma tortura (*sem trocadilhos, por favor*) com tamanho de novela.

Enfim, a novela começa nas vésperas do Golpe Militar (31 de março de 1964) e antecipa uma série de coisas, pois era tanta gente falando em luta armada, antes mesmo dos militares entrarem em ação, que parecia uma história alternativa do Brasil. Era cedo demais e até sítio para treinar os guerrilheiros eles já tinham... Fora isso, os atores – até os excelentes Marcos Breda e Jaime Periard – não atuavam, mas discursavam. Nem vou falar dos fraquinhos... Estou pensando nos bons atores e atrizes. Esperava mais deles. Deve ser a direção de atores da novela que é muito limitada. A produção não estava tão pobre, mas os efeitos especiais, o incêndio em especial, foram trash total. A trilha sonora, claro, é nota dez, mas clichê, porque já foi vista em outros programas, como Anos Rebeldes. Queria não somente a trilha sonora, mas as interpretações de qualidade, também. Ah, sim, e houve um toque de Rede Manchete na cena do banho, com direito à close nas bundas e tudo mais. Vamos ver se dura. E metade do elenco já posou ou para a Playboy, ou para a G Magazine.

Para não me prolongar, comento somente duas cenas: Nico Puig, o vilão psicopata da história, mostra que tem coração e decide “adotar” as duas filhas do casal de comunistas presos no primeiro capítulos. As meninas já crescidinhas, são tudo o que ele e a esposa desejam. Não vão chorar como bebês e são bonitinhas. Os colegas de farda se assustam, “mas elas são filhas de comunistas!”. Ele não se faz de rogado. Ou seja, o vilão tem bom coração. Mas era 1964 e o Brasil não é a Argentina... Esse caso deve ser quase único. A outra seqüência, muito mais engraçada, é quando o herói, José Guerra, conhece a mocinha, Maria Paixão. Para que o filho não tentasse impedir o golpe militar (*o cara é herói, poderia segurar os tanques na unha*), o General Guerra manda o filho espionar uma reunião da UNE (*que a mocinha fez questão de traduzir em cena anterior “União dos Estudantes”, afinal, todo mundo fala explicadinho na trama*). O prédio é incendiado por paramilitares (*sei lá, vão dizer que já era o CCC – “Comando de Caça aos Comunistas” – em 1964*), o militar disfarçado se oferece para ajudar. A mocinha, valente, quer resistir e, sei lá, queimar com o prédio. Saem ela, o herói e o namorado barbudinho fofo da moça. O barbudinho larga os dois para trás. Primeiro fora. O herói, que já tinha se livrado da camisa, toma a mocinha nos braços (*a foto está na página oficial da novela*), rola aquele olhar. Namorado barbudinho volta, ela pede para ser posta no chão. Eles fogem do fogo, ouve-se um chorinho, há um filhote de cachorro que é resgatado pelo herói. Já ganhou pontos com a mocinha, claro! Chegam em uma porta fechada. O mocinho tenta derrubar a porta sozinho e não consegue. Pede ajuda ao barbudinho. Ele, na primeira investida, grita um “Ui! Meu ombro!”. Com esse xilique, perdeu de vez a mocinha, já que o herói é virilidade até a raiz do cabelo. A mocinha ajuda a derrubar a porta e depois diz “Vou voltar para buscar o cachorrinho!”. O herói olha para ela e fala com voz rouca, “Não, deixa que eu vou!”. É trabalho de homem! E mal deu tempo, porque tudo explodiu. Sentiram? Cena espetacular. ^_^ Eu ri muito.

Ainda não sei se arrisco assistir mais uns capítulos. Falando sério, as interpretações estão sofríveis, assim como o texto. O analista da UOL pegou na veia ao escrever que “O texto de Santiago não foi capaz de digerir toda a pesquisa que o embasou. Pareceu, muitas vezes, saído de um livro de história para crianças e, em outras, adotou uma solenidade de discurso de formatura.”. Eu tomei certa antipatia por esse autor ainda no tempo da Record, pelo recalque dele em relação ao João Emanuel Carneiro, autor da Favorita, porque este foi promovido ao primeiro time de autores da Globo e ele, não. Depois, na Record, com o sucesso dos Mutantes, virou uma espécie de supervisor da teledramaturgia da emissora e rejeitou uma sinopse de Lauro César Muniz, porque este autor veterano, e excelente até hoje (*pegue a entrevista dele em A Seguir Cenas do Próximo Capítulo, vale a pena*), não teria conseguido definir os mocinhos e os vilões e poderia confundir o público. Tinha que ser assim, caricato, como em Amor & Revolução.

Eu queria ver nesta novela as diferenças de pensamento tanto na direita, quanto na esquerda. Queria ver as pessoas comuns que apoiaram o Golpe, não caricaturas. Queria ver as disputas dentro do próprio Exército, com o grupo de Castelo Branco e o de Costa e Silva se enfrentando. Queria ver gente. Não personagens tipo. E só retrucando para o colega que comentou, afinal, trata-se de uma atualização do texto, não vejo essa qualidade toda na Globo, e já vi muito material de qualidade na Record, vi o Marcelo Serrado se tornar um ator magnífico quando lhe deram chance, assim como uma das melhores novelas de época da TV brasileira foi do SBT, a excelente Éramos Seis. Amor & Revolução poderia ser melhor, a começar pelo elenco.

Lamento muito, porque o SBT poderia emplacar uma minissérie de sucesso. A emissora já acertou com uma telenovela antes. E o pior é que o Tiago Santiago vai querer cobrir uma década, no mínimo... É muita coisa! É abraçar o mundo com as pernas. Enfim, não vou dizer que recomendo, mas não chega a ofender a inteligência de ninguém. Admiro o engajamento, a importância histórica desta novela, sou a favor da revisão da Lei de Anistia, mas não vai funcionar como novela e, bem, é uma novela, não um panfleto político-partidário sem aprofundamento. Eu realmente esperava um pouco mais. Torço para que, pelo menos, as pessoas se sensibilizem... Mas, do jeito que está, eu duvido muito.

6 pessoas comentaram:

Pega leve, Valéria. Sendo novela do SBT ou Record, podia ser muito pior. Faz tempo que eu não acompanho novelas, mas essa daí eu vou acompanhar. Pelo menos você há de convir que será mais fácil de engolir do que Insensato Coração.

E não diga que a trilha sonora é clichê. Só de não terem colocado aquela musiquinha "caminhando e cantando", já derrubaram um clichezaço dos grandes.

Também achei muitíssimo bem bolado terem colocado o velho certificado de censura no início ao invés do aviso padronizado da classificação indicativa. Acho que isso não foi só porqua a novela se passa no tempo da ditadura. Mas também pra dar uma alfinetada no Ministério da Justiça e em sua "Classificação Indicativa", que nada mais é do que uma Censura disfarçada.

Eu achei tão, mas tão trash rsrsrs Eu ri em várias cenas, mas o legal é que a novela me deixou curioso, seja para saber mais sobre a ditadura ou só pra continuar a rir desse guilty pleasure. Eu torço que o roteiro e a atuação de alguns atores realmente evolua com o tempo, pois por mais que eu tenha achado tosca eu não acho que essa iniciativa mereça ser trollada. E espero que o beijo gay deixe a globo com a cara na poeira!

PS: Ah sim, o depoimento no final da novela foi realmente ótimo. Espero que o lado trash da novela não afaste os mais jovens,porque afinal, a novela dos mutantes dava ibope rs.

Jáder, mexi no texto, mas não concordo com você. A Globo produz muito lixo. A novela das sete está aí para provar. Inclusive com os defeitos especiais vergonhosos, abaixo da média da record ou do SBT.

Pedro, falaram em beijo gay lésbico... E com duas atrizes lindas. Para mim, fetiche. O irmão da tal Maria é gay, vai seduzir um torturador, mas, sei lá, não levo fé, não... e acho que a coisa foi inspirada na história de um professor, hoje ex-gay, que me contaram. :P

A ideia da novela é mostrar uma mulher na luta contra a Ditadura Militar do Brasil. Então a ditadura precisa ser abordada de uma forma minimamente coerente, isso é óbvio. Até porque a novela tem claramente esse cunho histórico. Ela claramente se propõe a mostrar como foi a Ditadura Militar. O contexto da "ficção" precisa estar correto, e nesse caso é o mais importante até. Senão vira piada

Enfim, isso é evidente. A história central de Terra Nostra também era ficção. Mas a novela se propôs a mostrar um contexto, como Amor & Revolução também se propões. Então o que se espera é que ela mostre a imigração italiana no Brasil de uma forma minimamente coerente.


Enfim, mas entendo que vocês gostem da novela. Vocês não estão tão preocupados com o contexto da época quanto eu. Querem assistir à novela mesmo, com uma boa história dos protagonistas, emoção, etc. Eu entendo. Mas é porque eu esperava uma abordagem histórica melhor e só estava ansioso pela novela por conta disso. E, além do mais, não seria melhor que fizessem logo uma história toda de ficção (num estilo 1982), sem compromisso com a realidade da época pra fazer a novela? Porque mostrar a História da Ditadura daquela forma foi um absurdo, sinceramente.

Santiago realmente...

Sherlis, não entendi muito bem o que você quis dizer. Eu sou historiadora, mas não espero que um filme ou novela sejam uma (suposta) reprodução fiel do passado ou de certos livros. Quero uma articulação entre um pano de fundo histórico e o ficcional. Ninguém aqui, salvo o Jáder, falou que gostou da novela. Aliás, o que temos em mãos é ainda somente um primeiro capítulo.

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