sábado, 23 de junho de 2012

Comentando os primeiros capítulos de Gabriela



Eu gosto de novelas de época e desde que anunciaram Gabriela, sabia que iria parar para assistir essa nova novela baseada no livro de Jorge Amado. Pois é isso que a novela é, uma revisitação ao livro, só que todo mundo sabe que é impossível fugir do fato de que houve, sim, uma novela anterior e que ela foi tão marcante que as comparações seriam uma constante. É a chance também do Walcyr Carrasco fugir das suas tramas bobinhas e mostrar que pode ser um Adamo Angel mais amadurecido. Não sabe quem é Adamo Angel? Era o pseudônimo de Carrasco quando fez Xica da Silva para a Manchete.

Começamos, claro, com a escolha da própria personagem título. Como a nova Gabriela não conseguiu abandonar a imagem de Sônia Braga, já que buscou uma atriz que pudesse replicar a imagem da atriz na novela de 1975, você está chamando para si o peso da comparação. E a Globo perdeu duas chances. A primeira, de lançar uma atriz jovem no papel da protagonista. Sim, eu gosto da Juliana Paes, acho que ela é competente e lindíssima, mas aos 30 e poucos anos, ela passou da idade para ser Gabriela. Sônia Braga quando fez a novela tinha 25. E, embora alguém possa discordar, Sônia Braga era mais bonita na época do que Juliana Paes é hoje (*ou do que está na novela*). O outro problema foi, mais uma vez, deixarem de escalar uma atriz negra ou mulata para o papel.

Nunca li o livro, mas levo muito a sério as críticas que apontam que a personagem título era não uma morena, mas uma mulher negra. O documentário A Negação do Brasil trouxe a discussão e a entrevista com o diretor na época – Walter Avancini – que dizia que em 1975 não havia nenhuma atriz negra com competência para ser Gabriela (*pedaço 3 final e pedaço 4 início*). Daí, pegaram Sônia Braga e a obrigaram a usar uma substância na pele para deixa-la mais morena. Como, ao que parece, ainda não temos atrizes negras com competência (*ironia mode on*), pegaram a Juliana Paes e a tostaram para ser mais cor de canela... Lamentável racismo, mas ela vai indo bem, a Gabriela de Paes parece uma força da natureza, sem amarras, livre, totalmente se lixando para o olhar de desaprovação dos outros. Isso é bem interessante, entretanto eu nunca liguei muito para a protagonista de Gabriela ou para seu amante Nacib.

Eu assisti a novela no aniversário de 15 anos da Globo pela Malvina de Elizabeth Savalla e pelo Mundinho Falcão de José Wilker. Eram as duas personagens que mais gostava. Malvina, que tinha cara de boneca de porcelana, linda, linda, era a menina que queria ser livre. Feminista sem precisar de leituras, ela queria estudar e trabalhar. Perdi as contas de quantas vezes foi surrada pelo pai, mas não se deixava dobrar. A escolha de Vanessa Giácomo para o papel já deixava claro que o tom da personagem não seria o mesmo. Vanessa Giácomo é excelente atriz, mas tem cara de sapeca, brejeira, bem diferente do ar elegante, fino de Elizabeth Savalla. Ela apareceu no terceiro capítulo. Estou gostando da interpretação dela, ainda que diferente. Engraçado é que sinto muita falta do Marco Nanini como Prof. Josué, mas, fazer o quê?

Mundinho Falcão até agora só foi falado. Se apareceu em alguma cena, eu perdi. Mas será interpretado pelo Matheus Solano. Confesso sem problema algum que ele e a Luiza Valdetaro (Jerusa) são dois dos motivos para que eu veja a novela. Valderato já apareceu, mas ainda não disse para que veio. É preciso do Mundinho Falcão em cena. Gosto dos dois atores, quero ver se combinam juntos. Só acho lamentável que, de novo, todas as mulheres da novela tenham cabelos curtos. Menos a Glória, teúda e manteúda do coronel Coriolano, e Gabriela, claro.

Sim, eu tenho problemas com cabelos em novelas, seriados e filmes de época. Não sei o que passa na cabeça dos cabelereiros e figurinistas da Globo, mas eles acreditam que todas as mulheres sem exceção se vestem na última moda de Paris ou Nova York. Se quando eu era criança ainda havia pai que proibia filha de cortar cabelo, e isso sem motivação religiosa e no rio de Janeiro, imagina na Ilhéus dos anos 1920? Mas é assim que as coisas funcionam nas produções Globais. Todas as mulheres tem cabelos curtos, e cortaram os lindos cabelos da Luiza Valderato. Todas as mulheres usam saias curtas, salvo as velhinhas. Parem para pensar na D. Sinhazinha, beata, reprimida pelo marido, e quase mostrando os joelhos? Só em produção Global mesmo.

Falando em D. Sinhazinha, Maitê Proença está linda, seu figurino é espetacular, mas a interpretação que ela está dando à personagem é muito estranha. Minha impressão é que é como se a beata estivesse sempre sob o efeito de alguma droga poderosa. Obviamente, o Coronel Jesuíno de José Wilker é um monstro, mas deveriam pelo menos mostrar o chazinho que a esposa dele toma para aturá-lo. Ontem foi o encontro dela com o dentista que será seu amante. E tudo foi tão óbvio e forçado, tão estranho, que foi a pior cena até agora. Erik Marmo não é um primor de ator, só é lindinho. Maitê Proença está interpretando como se sob efeito de sedativos. O que deveria ser uma cena que antecipasse a relação dos dois, acabou sendo de humor involuntário, com a beata tendo um orgasmo quando o moço foi colocar seu sapato... A cena é esta, está na página da novela na Globo...


Outra coisa que me desagradou, mas lá no primeiro capítulo, foi o Bataclã, o bordel da cidade. Sei lá, ele pareceu tão grandioso, tão filme de Hollywood, que ficou pesado demais. Não vou falar de Ivete Sangalo como Maria Machadão, porque comparar com Eloísa Mafalda é covardia. De resto, Leona Cavalli está bem como Zarolha. Assim como outras atrizes que atuam no bordel. Achei legal colocarem no prostíbulo a diversidade que falta na cidade. Há mulheres de todas as cores. E há até a prostituta gordinha. Aliás, são duas gordinhas na novela, a outra é a Fabiana Karla, comediante que faz a esposa do Tonico Bastos.

Assim, não há muito o que comentar ainda. A novela atual tem muito mais nudez, já que a de 1975, que foi novela das 10, podia mostrar muito pouco por conta da censura. Mas mostrar corpos demais, peitos demais, bundas demais, não garante sensualidade. Aliás, não garante coisa alguma. E não estou dizendo que a novela de 2012 esteja exagerando, estou somente refletindo que sensualidade e erotismo podem aflorar de várias maneiras, até em mãos que se tocam e em olhares. A opção de Gabriela 2012 é mostrar e já conhecemos quase todo o corpo de Juliana Paes. Fico pensando se vai rolar nu frontal até o final dessa novela.

A fotografia, a textura das imagens é muito boa. O figurino, também. Já atuação de alguns atores e atrizes dispensa comentários. Laura Cardoso está aterrorizando como beata e matriarca do mal. Ela é a reprodutora dos valores tradicionais e reforça o machismo que permeia as relações entre homens e mulheres. Ontem mesmo, ela chamou o filho coronel e o neto almofadinha de frouxos, porque não são capazes de bater em mulher. E disse que ela apanhava do marido, mesmo sem motivo, mas que era bom para saber quem é que manda. ^____^ Marcelo Serrado também está bem, mas a interpretação dele me parece uma imitação da de Fúlvio Stefanini em 1975. Muito parecida mesmo. talvez, a personagem no livro seja assim, mas o fato é que ele é que mais parece estar igual à versão de 1975. Há também o montão de coronéis, tantos que nem sei direito quem são ainda... Mas a novela só começou.

É isso, estou gostando, como ressalvas. Só que falta o Mundinho Falcão chegar para agitar Ilhéus. Vamos ver como fica na semana que vem. Por enquanto, não há muito o que comentar mesmo.

6 pessoas comentaram:

Concordei com tudo que você escreveu aqui sobre a novela, só queria também lembrar a trilha sonora que se manteve praticamente a mesma mas que tá aparecendo nos momentos certos e a abertura que ficou linda!

Este comentário foi removido pelo autor.

Verdade, Gabriel, esqueci de falar da abertura e trilha sonora. Ficaram excelentes.

Faltou a trilha sonora, que é muito boa. Quanto a Juliana Paes, o único problema é que ela realmente parece um pouco mais velha do que o papel exige, mas a atuação dela está excelente. A tensão sexual entre ela e Nacib não caiu na vulgaridade, graças a Deus.

fiquei curiosa com os comentários que você fez no blog da Lola e fui conferir as cenas da Malvina na globo.com. adorei! Estou louca para acompanhar a história dela.
Beijo :)

Isabel, se puder, dê uma olhadinah no Youtube. Procure por Malvina, Elizabeth Savalla. E compare. ;-)

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