quarta-feira, 27 de março de 2013

Comentando o último volume de Hadashi de Bara wo Fume



Ontem, terminei de ler Hadashi de Bara wo Fume (裸足でバラを踏め), de Rinko Ueda. A série foi publicada na revista Margaret entre 2007 e março de 2012.  Nesse ínterim, a autora se casou, teve uma filhinha, entrou em licença, e retomou a série.  Eu colecionei a edição da VIZ e li todos os volumes da série, menos o último, claro, no ano passado.  Hadashi de Bara wo Fume se passa no final do século XIX, no momento das rápidas mudanças provocadas pela Revolução Meiji, e tem como protagonista Sumi Kitamura, uma moça pobre, muuuuuito pobre, que acaba se tornando alvo do interesse de dois homens, Soichiro Ashida, que a compra para que seja sua esposa, e Nozomu Ijuuin, que começa como um doce e logo se mostra um dos maiores psicopatas que eu já vi em um mangá, ou novela, ou qualquer coisa... 

Enfim, Hadashi de Bara wo Fume é uma história simpática, que não tem compromisso com a realidade e que flerta com o dramalhão e com a tragédia.  É um novelão e que entrega toda a diversão que promete.  O traço da autora também é muito bom e o último volume tem belas imagens de Sumi, quimonos e vestidos maravilhosos, Nozomu com cara de maluco do mal, Souchiro lindo morrer. Deleite para as fãs de Rinko Ueda.  Se não se importar com spoilers, continue a leitura.  Como é o último volume, acredito que se você começou a ler este texto, já conhece a série  ou leu minhas resenhas anteriores.


Neste volume final, a autora nos diz em um freetalk que todos os capítulos foram escritos como se fossem o último.  Por conta disso, cada um deles é dramático e emocionante ao mesmo tempo.  O humor assumido ficou lá atrás, agora, só temos o exagero do desfecho de uma história na qual a mocinha – que continua trabalhando para conseguir restabelecer o marido como presidente da companhia Ashida – se tornou refém de um sujeito bonito por fora, mas monstruoso por dentro e que deseja possuí-la de qualquer jeito.  Ainda não me convenci se Nozomu “ama” (*assim, entre aspas mesmo, porque aquilo não era amor*), ou seu tesão era por Soichiro.  Mas o fato é que ele não se mantém fiel a sua promessa de só fazer sexo com ela depois de obter o divórcio, especialmente, quando desconfia que Sumi continua amando desesperadamente o marido.

Já Souchiro aprende a ser humilde e valorizar o trabalho.  É interessante que a autora coloca na boca da personagem uma série de falas curiosas.  Antes, ele explorava o trabalho alheio, agora, ele sabe o que é sofrer para conseguir ganhar o pão de cada dia.  O fato é que o rapaz consegue, graças ao seu conhecimento da língua inglesa, um emprego em uma firma de exportação.  Como intérprete de um comerciante inglês, seu caminho se cruza novamente com o de Nozomu e Sumi, dando a chance aos dois de consumarem seu amor.  


Sim, é neste volume que os dois fazem sexo pela primeira vez.  É uma seqüência bonita e, ao mesmo tempo recorrendo a um clichê batidíssimo, cafona, mas que eu adoro.  Sumi não acredita que poderá evitar que Nozomu a estupre, então, em um ato desesperado foge e vai ao encontro de Souchiro no hotel onde todos estão hospedados.  E, bem, diz que ele precisa fazer amor com ela, pois quer que sua primeira vez seja com ele, o homem que ama.  Onde vi isso pela primeira vez?  Em Dona Beija, novela da Rede Manchete.  Koumai, o mordomo yaoi, dá cobertura para os dois e termina sendo punido com a demissão.  Já Sumi, passa a ser prisioneira em sua própria casa até o casamento.

Nozomu, aliás, faz de tudo nesse volume: enche a cara e tenta violentar a mocinha; arrebenta portas no hotel atrás de Sumi e Souchiro; oferece um emprego no exterior para Shouchiro; aponta uma arma para ele e atira... é muita alopração para um sujeito só.  Fora, claro, que ao descobrir o grande segredo (*que Sumi é sua irmã*), diz que não se importa e casa com ela de qualquer jeito.  O pai dele quase infarta e temos a típica cena do casamento interrompido com terríveis segredos revelados na frente do padre (*o casamento é ocidental*) e da igreja cheia por Eisuke, o irmão vagabundo de Sumi, e pelo pai de Nozomu.  A noiva, em choque, é “roubada” por Souchiro.


Enfim, foi um belo volume.  Só lamento que Nozomu não tenha recebido o tratamento de vilão de novela latina.  O cara é louco, muito inteligente e perverso, merecia um castigo à altura.  A única punição  possível era a morte.  O triste é vê-lo reconciliado com Miu, com cara de depressivo (*ou dopado*) e esperando um filho.  Miu, aliás, lembra a tenente Érica de Salve Jorge, sempre disposta a ficar com os restos.  Eu gosto de Miu, queria que ela terminasse livre do louco e com um sujeito que a merecesse.  Outro que não foi punido, foi Eisuke.  Deveria ter acontecido alguma coisa com ele.  Já o casal protagonista terminou bem, feliz, rico de novo, e com Sumi gerenciando uma escola para crianças pobres.  

Sentirei saudades.  Rinko Ueda conseguiu criar uma obra que não tem nada de brilhante, mas que foi um divertimento muito eficaz.  Agradeço à VIZ por me oferecer muitas séries que eu gostaria de ler.  Pena que as editoras brasileiras não nos queiram como consumidores, mas enquanto houver publicações nos EUA e Itália, estou bem.  Se quiser ler as outras resenhas, é só clicar Volumes #1, #2 e #3Volume #4Volume #5Volume #6Volume #7 e Volume #8.   Espero que comecem a fazer scanlations do novo mangá da autora, que está saindo na revista YOU regularmente e é, segundo a própria autora, seu primeiro mangá com protagonista masculino e chegando aos trinta anos.

A grande e óbvia revelação da série. ^___^  Quer algo mais novelão?

5 pessoas comentaram:

Valéria, eu não poderia deixar, de alguma forma, de homenagear o Shoujo Café, que fez aniversário no sábado. Não o fiz antes por que sou relativamente desorganizado...rs

Eu tenho muito a agradecer pelo Shoujo Café.

Informação de primeira, e textos bem escritos que vão muito além do entretenimento, que contribuem com o que eu entendo ser o melhor caminho para iniciar uma possível mudança - ainda que sutil e a longo prazo - no mundo como ele é hoje: colocar quem lê para refletir, não impondo "o certo", mas plantando aquela sementinha de boas idéias que funcionam como um lembrete das pequenas coisas que surtem grandes efeitos no dia a dia, como um "simples" mudar no modo de ver as coisas: o papel da mulher na sociedade, posicionamentos sociais, política, cultura, educação...uma infinidade de coisas boas que às vezes fazem muita falta...

Vai muito além dos maravilhosos mangá Shoujo, verdadeiras obras de arte que essas autoras fantásticas produzem.

Sinceramente, eu acho que se tivéssemos algo como o Shoujo Café lá pelos anos 90, como um contraponto às poucas mídias que difundiam o mangá e anime na época (ainda que louváveis até certo ponto,deram muita força para preconceitos e posturas dispensáveis que ainda hoje refletem no comportamento de uns e outros...), os próprios "otakus" estariam livres de certos recalques...

Vida longa a este serviço maravilhoso que você tão gentilmente nos oferece!!


;)

https://www.youtube.com/watch?v=kDgq6pj4pGo

Muito obrigada, Valéria, por ter me apresnetado essa série, que pode ser clichê, pode ser tudo, mas foi além das minhas expectativas e fez eu ler avidamente todos oca capítulos o mais rápido que eu podia (não tão rápido ao ponto de parar e admirar cada desenho maravilhoso em cada página do mangá!)! Eu estava seguindo as scalations, e terminei ainda ele no ano passado, mas muito gratificada pois fazia um tempoq ue não lia um shoujo que me prendesse tanto, com uma protagonista tão legal, com valores tão fortes e que cresceu muito ao longo da série. Achei tao mais interessate que Black Bird ou Kimi no Todoke! Às vezes me pergunto se tenho o gosto assim tão diferente, haha! Enfim, amei demais esse mangá, continue nos indicando coisas tão interessantes assim! E aguardo mais resenhas suas de filmes, as adoro demais! ABraços!!

Comecei a ler o mangá depois desse post (eu geralmente me interesso por algo depois de ler spoilers haha) e estou adorando. Obrigada por postar sobre ele. Fazia muito tempo que um mangá não me prendia e li 7 volumes só essa noite.
Não é uma história grandiosa e tem vários clichês, mas acho que a autora conseguiu costurar bem o enredo e o resultado ficou ótimo.

Oi Valéria, comecei a ler esse mangá graças a indicação no seu blog e devorei ele em questão de horas. Concordo com o que você falou, é um belo dramalhão, a la novelas mexicanas com clichés super previsíveis, quando a empregada enviada pelo Kujou apareceu na casa da Sumi e Souchirou eu já sabia tudo que iria acontecer.
O final deixou um pouco a desejar na minha opinião. Quando descobrimos que Sumi é a filha perdida da família Ijuuin eu pensei, 'o que você fará agora Nozomu? vai querer casar com sua própria irmã?' e não é que o cara queria fazer isso? Achei o final dele muito fraco, estava esperando algo tipo Leôncio da Escrava Isaura (como você comentou) que dá um tiro na cabeça. Na minha visão logo após o incêndio na hospedaria já era para o Nozomu ter saído da história ele estava sobrando demais.
O final da Miu presa ao Nozomu também foi muito desagradável.
Outra personagem que me dava raiva era o irmão da protagonista, ele é um pé no saco do começo ao fim, quando ele foi pedir emprego na empresa Ashida eu sabia que ele ia cometer algum erro, botando tudo a perder. E a Sumi, por mais que tenha crescido como personagem no final, me deu muita raiva no decorrer da série, como assinar aquele documento que ela não conseguia nem ler para o irmão dela.
Bem o o Souchirou é o típico ore-sama dos shoujos mangás, ele e a Sumi formam aquele típico casal dos shoujos atuais.
Bem é isso, abraços.
Lady.

Lady, não acho que o Nozomu tronou-se inútil depois do volume #3, ele virou o vilão psicopata que estava lá para tramar a queda do protagonista e fazê-lo mudar, porque Souchiro não prestava, não... Agora, eu queria um final tipo Leôncio para ele. Foi meio xoxo, sim. :P

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