terça-feira, 4 de março de 2014

Comentando a 86ª Cerimônia do Oscar


Enquanto tenho algum tempo, vou fazer alguns comentários sobe a cerimônia do Oscar.  Bem, como não tenho TV por assinatura (*ainda que odeie a transmissão da TNT*) e nenhum link de streaming funcionou (*muito obrigada pelo apoio, Erika!*), só terminei de assistir a cerimônia hoje de madrugada.  Ontem, baixei um torrent com a transmissão da ABC e fui vendo por tabela (*Júlia, sono, essas coisas...*).  No geral, gostei bastante, Elle de Generes é ótima e conseguiu tornar uma cerimônia demasiado longa atraente.  Outra coisa, ainda perdendo uns 25-30% do que o povo falou, é infinitamente melhor assistir sem a interferência dos péssimos comentaristas que são escalados para a cerimônia.

Quem acompanha os Oscars sabia que seria uma premiação com algumas poucas certezas – ator e ator coadjuvante –, alguns títulos concorrentes que não tinham chance alguma – Philomena e Capt. Philips, por exemplo – mas que, no geral, trazia algumas disputas acirradas.  Melhor atriz estava em aberto, melhor filme e diretor, idem, mesmo Lupita não tinha Oscar certo, porque já vimos a queridinha ou queridinho de todos perder de forma muito injusta.  Como não vi quase nada, quer dizer, dos concorrentes ao Oscar de melhor filme só assisti – e não resenhei – 12 Anos de Escravidão mesmo, me alimentei das matérias de jornal, dos resumos, das outras premiações, das resenhas da Lola e do Cinema com Rapadura, entre outros.  Como na piada que Ellen fez no início, se não dessem para 12 Anos de Escravidão a academia seria acusada de Racismo.  Bem, já foi acusada antes e o Oscar não acabou por causa disso.


A descontração, se falsa, ou não, pouco me importa, proporcionada por uma mestre de cerimônias simpática, rendeu bons momentos.  O selfie, foi um deles, a pizza, outro.  Povo no Twitter – sim, eu acompanhei pelo Twitter – sonhando em ter o Brad Pitt como garçom; rindo de mais um tombo da queridíssima Jennifer Lawrence; os elogios para alguns vestidos, como o de Lupita e Angelina Jolie; Benedict Cumberbatch e o U-2; a homenagem ao filme O Mágico de OZ e aos que partiram, inclusive ao documentarista brasileiro Eduardo Coutinho; os clipes com os heróis e (*pouquíssimas*) heroínas dos filmes.  Tudo isso foi legal.  E teve Sidney Poitier no palco... Como não se emocionar?   Já a maioria dos clipes musicais foi morna e houve discursos longos demais.  Entendo a emoção, mas houve alguns que exageraram mesmo.

Não vou negar que considerei os dois pontos altos os prêmios para Cate Blanchett e Lupita Nyong'o.  Começando com a futilidade, ambas estavam lindíssimas em seus vestidos.  As duas acertaram, graciosas que só elas.  O discurso de Lupita Nyong'o, queniana-mexicana estreante que emocionou em 12 Anos de Escravidão, girou em torno de perseguir o sonho e ressaltou que não foi fácil chegar onde chegou.  E não foi mesmo, ainda que ela seja uma privilegiada, é filha de políticos e tal, ela é somente a sétima mulher negra a receber um Oscar.  


Sim, ainda que concorde que foi o Oscar da Diversidade Étnica, como ressaltou um dos textos da Folha de São Paulo, atores e atrizes não-brancos são muito pouco premiados em Hollywood, ou qualquer  outra premiação de grande porte.  Se quisessem, poderiam ignorar Lupita como ignoraram tantas outras, como ignoraram Spike Lee e o filme Malcolm X.  É assim que funciona o sistema no qual 94% dos votantes é branca.  Lupita fez história, mas torço que não seja esquecida, que receba bons papéis e siga adiante.  E que sirva de inspiração para outras meninas e meninos negros.  É preciso sonhar, mas é preciso saber que os obstáculos continuam imensos.

Outro ponto alto da noite, pelo menos para mim, foi o discurso feminista de Cate Blachett.  Primeiro, ela enfatizou o caráter subjetivo da votação.  Quem é a melhor atriz? Ah, é bom ter um Oscar em casa, ou dois, no caso dela, mas sabemos bem que esse tipo de premiação não é como somar 2 + 2.  Em seguida, ela enfatizou que filmes com mulheres são rentáveis e interessantes, e que o público, mulheres inclusas, quer vê-los na tela grande.  Nesse aspecto, o Oscar 2013 foi muito significativo de Frozen, passando por Blue Jasmine e Gravidade – o outro grande vencedor da noite – e terminando em Philomena, tivemos várias obras protagonizadas por mulheres.  E, mesmo naquelas produções que tinham homens como protagonistas ou dividindo os holofotes, como no caso de Trapaça, as mulheres se destacaram.  


É preciso lembrar que a indústria é masculina, e só para lembrar  vocês, 76% dos que votam na Academia são homens.  Além disso, muitas mulheres em altos postos vêem as coisas sob uma ótica muito desfavorável às suas companheiras, são mulheres patriarcais, que chegaram ao topo por conseguirem jogar melhor esse jogo criado pelos homens.  Enfim, talvez, um dos legados de 2013 seja um início de mudança de paradigma.  Quem sabe?  

Como nota triste da noite, e foi realmente chocante, a aparição de Kim Novak.  O rosto destruído por plásticas, quase sem conseguir falar direito.  No dia seguinte, esse era um dos top assuntos relacionados ao Oscar.  Novak era uma das beldades dos anos 1950 e 1960.  Linda, lindíssima, mas, assim como Goldie Hawn, se destruiu para manter a eterna juventude.  Elas se tornaram outras e o resultado não é bonito.  No início da premiação, Ellen brincou que o maior bem que temos é a juventude. Sim, especialmente, em uma sociedade que a cultua, que morre de medo da velhice, porque ao invés de evocar experiência e respeito, ela lembra que a morte se aproxima.  


As rugas que em um homem dão dignidade, vide o caso de Sidney Poitier, nas mulheres são interpretadas como sinal de desleixo, motivo de chacota.  Imagino o quão pesado isso deve ser para alguém que era linda em seus tempos de juventude.  Mas se não rompermos com essa idéia, teremos resultados cada vez mais catastróficos e isso, claro, se só pensarmos na aparência externa.  De resto, é bom ver que Meryl Streep, que é da mesma geração de Goldie Hawn, está envelhecendo com dignidade.  Isso nos mostra que há alternativas, ainda que a imposição de padrões seja, sim, pesada, sufocante, cruel.

E, sim, 12 Anos de Escravidão ganhou.  É preciso, em primeiro lugar, dizer que o filme só saiu, porque Brad Pitt se associou ao projeto.  Seu nome traz investimentos, dá visibilidade e mostrou o compromisso dele, e de Angelina Jolie, que ganhou um Oscar honorário por sua ação na militância humanitária, são comprometidos com as boas causas.  Em segundo lugar, e o diretor, Steve McQueen, vem repetindo isso direto, é preciso falar da escravidão, dessa mancha que muita gente quer esquecer que existiu ou pintar como necessária.  


Em História, preciso lembrar sempre, nada é incontornável.  Houve escravidão negra, poderia não ter havido, não há um destino traçado.  12anos de Escravidão é, também, um filme militante, isto é, comprometido com a causa, não quer ser água com açúcar, não poupa ninguém, mas, e usei militante por isso, exagera aqui e ali, para que a audiência trema e pense.  Não sei se todo mundo vai refletir, vai se colocar no lugar do protagonista, o homem nascido livre que é feito escravo, mas a mensagem foi dada.  E o foi de forma tão efetiva que levou para casa dois prêmios Oscar importantíssimos, roteiro adaptado e melhor filme.  Além disso, vai entrar para o currículo das escolas públicas americanas, ou seja, sua função didática está reconhecida.  

É isso.  Trapaça, um dos grandes favoritos, saiu sem nada.  Leonardo di Caprio ainda não recebeu o seu Oscar merecido.  Brad Pitt recebeu o seu primeiro por ser produtor de 12 Anos de Escravidão.   E este filme foi o primeiro dirigido por um negro a ser premiado.  Tivemos os primeiro mexicano premiado, o diretor Alfonso Cuáron, de Gravidade.  Falando nesse filme, ganhou merecidos prêmios técnicos, além de direção.  Agora, é tentar assistir ao máximo dos filmes que puder, infelizmente, em casa.  Cinema, para mim, por enquanto é algo meio além do horizonte... :(  




Escrevi todo o texto e Júlia não acordou ainda.  Vamos ver se consigo colocar no ar o mais rápido possível.*Ela acordou, mas está pacífica. :D

1 pessoas comentaram:

Estou ansiosa pra ver você comentando Frozen.
E Gravidade mereceu os oscars quer levou, mas o efeito dramático(?) do filme funciona melhor se você assistir o filme no cinema em 3D.
E o discurso da Cate foi ótimo, apesar dos exageros achei muito bonito a maioria dos premiados agradecendo a mãe.

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