Comentei várias vezes aqui no blog sobre ações tomadas no Japão, inclusive envolvendo mangá-kas, para ajudar a população que vivia na área mais atingida pelo terremoto e tsunami de 2011. Um dos projetos, segundo o Rocket News 24, era digitalizar livros – mangás incluídos aí – que pudessem ajudar as pessoas atingidas pelo Terremoto Tohoku a ter acesso à informação. Para isso, o Governo Japonês ofereceu uma verba de 1 bilhão de ienes, o que equivaleria à metade dos custos do programa. As editoras teriam gastos, claro, mas estavam livres para comercializar os títulos digitalizados para o resto do país. No fim das contas, tratava-se de uma parceria com fins humanitários, mas que teria como um dos objetivos impulsionar o mercado de e-books no país. O tal projeto chama-se Kindigi e duraria um ano. O prazo para o encerramento do subsídio governamental seria março de 2013.
Pois bem, parece que a coisa ganhou ares de escândalo quando se revelou que uma parcela dos 64.833 títulos eram mangás eróticos e/ou pornográficos. Para a minha surpresa, e por isso estou publicando aqui no Shoujo Café, o RN24 só comentou material josei. Não sei se não colocaram nada hentai na lista, ou o site (*e suas fontes, como o Yahoo Japão*) omitiu informação, ou a escolha foi muito curiosa. Será que estavam pensando que as pobres mulheres vítimas da tragédia precisavam de diversão? Enfim, nem eram tantos títulos assim, mas criou-se um escândalo, pois uma editora de Sendai colocou para circular propaganda que até debochava do fato de que aquele mangá erótico tinha sido digitalizado graças ao aporte de dinheiro público.
Segundo o RN24, o projeto parece ter sido mal administrado desde o início. Durante o seu primeiro ano, ele começou na primavera japonesa de 2012, somente 10% do número de títulos esperados, uns 6 mil, tinham sido digitalizados. Faltava um ano para o encerramento e as editoras correram para digitalizar tudo o que podiam, aproveitando-se da falta de fiscalização em cima do dinheiro público. Foram mais de 60 mil títulos digitalizados. Enfim, os títulos pornográficos – e só citaram josei, repito – não somam mais de 100, mas foram digitalizados livros que tratavam de ocultismo; além de outros, como manuais técnicos, obsoletos e defasados. Após uma auditoria, descobriu-se que dos mais de 60 mil títulos, somente 2.287 , cerca de 3,5%, tem alguma ligação com a área atingida pelo terremoto. O representante do governo, Akira Nagae, se desculpou publicamente, e as editoras foram intimadas a rever todo o material digitalizado. Em certos casos, terão que devolver a verba que lhes foi direcionada.
Tão Brasil, vocês não acham? Só que lá, no Japão, eu até acredito que devolvam o dinheiro... Se bem que, olhando esse imbróglio todo, eu nem sei se dá para acreditar nisso, não. Agora, ainda estou intrigada por terem escolhido traduzir josei pornográficos e/ou utilizá-los para fazer propaganda do Kindigi. Vai entender...
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário