quarta-feira, 25 de junho de 2014

Ser Pocchari também é kawaii


Desculpem o título besta deste post, mas o Rocket News 24 trouxe uma matéria bem interessante sobre o fato de garotas gordinhas estarem na moda no Japão.  No texto em inglês, eles usam “chubby” e,  não, “fat”, que no imaginário social remete  coisas fofinhas, bonitinhas, enquanto o outro termo é carregado de sentidos desagradáveis, especialmente, em tempos de lipofobia (*ou gordofobia, você escolhe*).  Enfim, aprendi uma série de coisas no artigo que me ajudaram a entender posts do Comic Natalie que me pareciam um tanto confusos. 

Vamos lá! Já comentei sobre um mangá chamado Pochamani (ぽちゃまに) que está fazendo muito sucesso no Japão.  Ele é protagonizado por uma menina gordinha, Tsumugi “Mugi” Hashimoto, que consegue ser feliz, ter amigas, se divertir, ainda que tenha seus momentos de dúvida e lute para vencer a baixa autoestima.  Trata-se de uma jóia rara no meio das protagonistas de shoujo mangá.  E ela ainda tem um namorado, um típico oujisama, que, bem, não é muito bem visto na escola, porque tem fixação por meninas gordinhas.  Ele é um pochama, alguém que gosta de coisas e pessoas fofas.  


Agora, as coisas estão fazendo mais sentido para mim.  E, claro, o RN24 fala da Pocchari culture, isto é, uma nova tendência no Japão – um dos países com menor proporção população feminina obesa no mundo – que valoriza as mulheres que não estão dentro dos padrões de magreza atuais.  Sim, mulheres.  O texto nada fala de homens.

Eu até questiono se algumas moças que ilustram a matéria são realmente gordinhas.  Aliás, a foto é das meninas do grupo de idols Chubbiness.  O nome é auto-explicativo.  Só que em tempos de beleza anoréxica, qualquer mulher que veste manequim 40 pode ser chamada de gorda.  Vide o caso da pobre Giovana Antonelli tendo que se explicar... 


O texto do RN24 fala da comediante Naomi Watanabe – ela já apareceu em alguns posts do CN relacionados à campanhas de Pochamani – criou uma grife para mulheres plus-size chamada PUNYUS.  O interessante é que a grife não faz somente roupas G ou GG, mas contempla gente magra, também.  A matéria trouxe fotos de modelos gordas e magras vestindo as mesmas roupas.

Naomi Watanabe é uma celebridade e mostra que uma moça gordinha pode ser ativa, bem sucedida e satisfeita consigo mesma.  Por conta disso, ela é a modelo de capa de uma revista especializada na Pocchari Culture, a La Farfa.  A revista – que já apareceu em matéria do CN sobre Pochamani – fala de moda e de como ela pode ser divertida e interessante para mulheres que estão acima do peso.  Por fim, a matéria mostra uma capa da revista de moda CanCam com uma matéria dizendo que ser pocchari também é ser kawaii.

 

É interessante ver que o mangá Pochamani não está deslocado da realidade.  Na verdade, ele está dialogando com uma tendência que é a valorização ou auto-valorização das mulheres que estão acima do peso.  Afinal, em uma sociedade que repudia a gordura e exige que as mulheres sejam objetos agradáveis aos olhos (*masculinos?*), se ruma mulher acima do peso é automaticamente ser feia, desleixada, preguiçosa, fraca de caráter, etc.  

Quem nunca ouviu a frase “Só é gordo quem quer”?  Cabe questionar se estar acima do peso – tomando por base a tabela de IMC – torna uma pessoa automaticamente doente.  Cabe também questionar quantas meninas - e meninos, também - adoeceram e adoecerão por causa da pressão para terem um corpo perfeito.  Mas isso é o de menos, porque nossa sociedade do culto à beleza anoréxica, ao corpo “perfeito”, e da indústria de alimentos e da aparência não está lá muito interessada em saúde, mas na venda de imagens que nem sempre vem de braço dado com práticas mais saudáveis de vida.  Daí, vale uma visitinha ao blog Não sou Exposição, que discute exatamente como é falacioso o discurso de que ser magro é ser saudável ou que obesidade é resultado de maus hábitos de vida.

 
 

É isso!  Seria legal se Pochamani fosse transformada em anime ou dorama.  Como a Hana to Yume está fazendo aniversário e está na moda ser pocchari, talvez, possa acontecer.  Quem sabe?

3 pessoas comentaram:

Pior é que o grupo que estava traduzindo Pochamani dropou o manga. Fiquei órfão. Andei até usando o tradutor do Google para tentar entender o manga a partir do raw, mas isso demanda tempo demais que eu não tenho.
Quem sabe daqui há alguns anos, não surja um lançamento digital e tudo mais, já traduzido.

Só por que você falou ontem eu estava dando olhada na revista manequim da minha mãe e tinha uma matéria sobre plus size. A moça que estrelava a matéria realmente é muito mais cheinha do que as modelos tradicionais, mas se muito a moça usa modelo 42,44.

Faço parte dessa bandeira que diz ver beleza nas pessoas, mesmo que elas estejam acima do peso que definem para elas como "ideal". Seja por ter namorado gordo, eu mesma não ser magra de doer e sofrer com a eterna vigilância desde a mais tenra infância de parentes sobre cada quilo que eu deixo ou não de ganhar. Apesar de nunca ter sido muito gorda sempre foi enfatizado para mim como ser gorda é sinônimo de fracasso e então toda a pegação no meu pé se justificava.

De resto, já li alguns capítulos de Pochamani, os que estavam disponíveis em inglês (mais um incentivo para aprender japonês) e gostei muito do que eu li. É um shoujo do jeitinho que eu gosto.

oi, leio bastante seu blog e adoro ele, é parada obrigatoria quando eu ligo o computador. Bem, não sou a favor da nova estetica moderna que exigem que a pessoa seja anorexica para ser bonita, porém como médica, gostaria de reforça aki que a manutenção do peso numa faixa que é considerada saudavel é, infelizmente, muito determinante em relação a sua saúde quando vc passar nos 50-60 anos. A obesidade traz muitas consequencias negativas para a saude, é claro que a anorexia também, a anorexia é a doença psiquiatrica que mais mata no mundo. Por outro lado a doença que mais mata no mundo em números sao as doenças cardiovasculares, que tem como principal fator de risco a obesidade, o tabagismo e o sedentarismo. Além de que são doenças que quando a pessoa sobrevive tem uma qualidade de vida muito ruim. Voltando a falar, não prego o corpo perfeito, nem emagrecer por emagrecer, prego a todos os meus pacientes levar uma vida saudavel e para aqueles que estão acima do peso oriento perder peso e fazer atividade física para ter uma melhor qualidade de vida.

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