quarta-feira, 29 de abril de 2015

Comentando Os Vingadores - A Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron)


Segunda-feira, assisti ao último filme dos Vingadores.  Primeira coisa a escrever é que considero A Era de Ultron melhor que o primeiro filme.  Equilibrou o humor e, pelo menos para mim, todas as piadas funcionaram, teve cenas de ação bem dirigidas, e uma trama mais densa, sem ponta soltas que desequilibrassem a história.  Mesmo com tanta gente em cena – só a equipe original já é bem grande – há espaço razoável para todos com atenção especial para algum desenvolvimento de algumas personagens, especialmente o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), e o surgimento de um novo super-herói.  

A trama começa com uma seqüência de ação frenética envolvendo todos os Vingadores que lutam para destruir a última base da Hidra em um fictício país da Europa Oriental chamado Sokovia.  O chefe da base, o Barão Wolfgang von Strucker, faz pesquisas com seres humanos e desenvolve, também, tecnologia avançada, neste caso, utilizando-se das capacidades do cetro de Loki.  Durante esta luta são introduzidos os gêmeos mutantes, Pietro Maximoff (Aaron Taylor-Johnson) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen).  


Durante a batalha, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) é ferido e Wanda provoca confusão na mente do Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) dando tempo ao inimigo de apagar os dados das pesquisas realizadas.  O cetro de Loki, no entanto, é recuperado.  Tony Stark descobre que dentro da gema do cetro existe uma inteligência artificial.  Stark convence o Dr. Banner (Mark Ruffalo) a tentar criar um ser poderoso, o Ultron, que pudesse garantir a definitiva paz mundial.  Banner resiste, pois Stark não deseja consultar os outros Vingadores, mas termina cedendo.  Eles precisam trabalhar rápido, pois Thor (Chris Hemsworth) pretende levar o cetro de volta para Asgard.

Stark e Banner parecem atingir seu objetivo, no entanto, após a festa de comemoração da vitória sobre a Hidra, o Ultron se mostra para todos.  Ultron tem uma mente distorcida e, depois de acessar todos os dados dos computadores da Torre dos Vingadores, acredita que seu dever é destruir os Vingadores e toda a humanidade.  Super poderoso, munido de informações profundas sobre todos os Vingadores e muito inteligente, ele recruta os irmãos Maximoff, que odeiam Stark, para levar adiante o seu plano.  Divididos e acuados, os Vingadores tentam reagir diante de uma ameaça que parece ser invencível.


Não sei se o resumo ficou à altura do filme.  Não queria entregar spoilers, ou, pelo menos, tentarei não entregar tudo do filme neste texto, já que gostei muito da película.  Vingadores – A Era de Ultron é muito superior ao primeiro filme, a história é mais coesa e densa, Ultron parece uma ameaça mais convincente que Loki, as cenas de ação são fabulosas (*vide a seqüência da luta entre o Homem de Ferro e Hulk*), as piadas funcionam bem e as pontas soltas do roteiro não atrapalham o desenvolvimento geral do filme.  Para se ter uma idéia, nem esqueceram de fazer referência às namoradas ausentes, Pepper (Gwyneth Paltrow) e Jane (Natalie Portman).  Mas eu falei em Loki?  Sim, Tom Hiddleston fez falta.  Uma pontinha – e houve várias – do irmão de Thor não faria mal ao filme. 

Não sou nem de longe especialista em quadrinhos Marvel.  O que eu sei, e sei pouco, veio dos filmes, de algumas leituras focadas nas discussões de gênero e feministas, e das conversas com alguns amigos e meu marido.  Sei que Ultron não foi criação de Stark e Banner, sei que o Visão teve outra origem, mas não tenho motivo para discutir essas coisas.  O filme se sustenta por si e a Era de Ultron teve a vantagem de não ter que explicar a origem dos heróis, o que são os Vingadores e outros coisinhas que um primeiro filme precisa fazer.  Como têm duas séries próprias, Capitão América, Thor e Homem de Ferro, estavam mais do que apresentados e o filme decidiu focar de forma mais intimista em três Vingadores: o Gavião Arqueiro, a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o Hulk.  


De todos os Vingadores, é do Gavião que menos gosto.  Aliás, talvez gostasse mais dele se o ator não fosse o Jeremy Renner, e a palhaçada misógina dele e do Chris Evans em uma entrevista sobre o filme, quando reduziram a personagem de  Johansson a uma slut (vadia) e whore (prostituta) cuja função era seduzir os homens da equipe, não me ajudou a gostar mais dele.  Entretanto, o filme deu humanidade e profundidade à personagem.  Talvez, saibamos mais sobre ele do que qualquer outro Vingador, agora.  Sua família normal (*para o padrão mais conservador americano, com aquela construção tipo pai combatente que volta doo front e causa comoção*), sua amizade pela Viúva Negra, suas tiradas ao longo do filme, quando ele mostra compreender o quão desproporcionais são as forças dos heróis e vilões envolvidos na batalha, foram muito bem-vindas.  Viúva Negra e Gavião Arqueiro estão em outro nível de discussão em comparação com Thor, Hulk, Capitão América, Homem de Ferro e mesmo Pietro e Wanda.  A batalha final deixou isso bem claro, aliás.
Voltando à questão da amizade, um dos pontos altos do filme foi exatamente a forma como a relação do Gavião com a Viúva Negra foi construída.  Homens e mulheres podem ser amigos de verdade, sem que desejo sexual esteja envolvido na história.  Confrontar essa visão estereotipada da relação entre homens e mulheres foi muito importante para engrandecer o filme.  Foi interessante, também, ver o treinamento de Natasha para se tornar a Viúva Negra, quando sobre o efeito alucinógeno dos poderes de Wanda.  E sua mestra era Julie Delpy.  Será que a atriz volta no terceiro filme.  No entanto, houve, também, a ênfase no romance frustrado da Viúva com Banner/Hulk, ela insistindo e ele fugindo.  


Foi fofo, sim, não vou negar que tenho uma queda pelo Dr. Banner, no entanto, o papel de musa é um dos clichês femininos mais explorados do cinema e, para piorar, ela é a única mulher entre homens...  Ela inspira, ela acalma a besta na qual Banner se transforma e, apesar de toda a sua competência, ela é capturada e salva por ele. Não pensem que estou dizendo que Natasha Romanova não seja uma personagem digna, ela é e muito, mas ela poderia não ter sido presa pelo Ultron e colocada na situação de donzela em perigo. Mas eis que se não fosse ela, seria o Gavião e ele já tinha sido ferido no início do filme. 

E quanto aos irmãos Maximoff, Pietro e Wanda, eles são poderosos, ela mais do que ele, aliás.  Os poderes de Wanda combinam tanta coisa que fica difícil entender, mas na tela, eles funcionam.  Voltando para a relação entre os irmãos, há certa hierarquia entre eles e, de novo, quem vem para dar uma chacoalhada nas coisas é o Gavião Arqueiro.  Wanda é tutelada e o irmão, mais velho 10 ou 12 minutos, se sente no dever de protegê-la.  Já ela, reforçando outra vez estereótipos, sentia-se confortável com a situação.  Vejam bem, o filme tem várias personagens femininas com nome: Natasha, Wanda, a Dr.ª Cho, Maria Hill, etc.  sem que a Bechdel Rule seja cumprida.  Para piorar, embora isso em nada prejudique o filme como entretenimento.  Tanto Wanda, a futura Feiticeira Escarlate, quanto a Viúva Negra são colocadas em situação de tutela e dependência em alguns momentos.  Elas viram a mesa, subvertem a situações, mas a coisa está lá.


De resto, o Capitão América, promovido a líder do grupo, me pareceu bem mais maduro.  Como não vi o segundo filme dele ainda, não estava a par do fechamento da S.H.I.E.L.D., nem sei o que aconteceu com a personagem em detalhes neste último filme.  O Homem de Ferro e o Hulk continuam os mesmos, assim como Thor.  Todos os atores bem à vontade nos seus papéis.  Ultron (James Spader) foi um vilão digno, trazendo a discussão sobre a questão da inteligência artificial superando os humanos e nos colocando em risco.  Ter assistido ao último trailer do novo Exterminador do Futuro serviu de bom aperitivo.  Fora que as piadas do vilão também eram boas, a melhor, talvez, a comparando o escudo do Capitão América a um frisbee.

Talvez, pensando algumas cenas à posteriori, concorde com uma crítica que li que defendia que as cenas de Thor eram muito mais prelúdio para o seu filme do que parte integrante da Era de Ultron.  Sim e não.  O fato é que o Deus do Trovão me pareceu bem articulado com o filme e muito bem nas cenas de batalha.  E a cena do martelo, com seu desdobramento posterior com o Visão já atuando, foi bem divertida.  Já Ultron, é um vilão cruel e psicopata, sem nem uma gotinha do charme de Loki.
Duas outras coisinhas a comentar.  A primeira é a questão da exclusão das personagens femininas do filme, a Viúva Negra e a Feiticeira Escarlate, da linha de produtos lançada pela Disney, a detentora dos direitos.  Enfim, partir do pressuposto de que os fãs do filme, da personagem (*a Viúva  Negra em especial*) e mesmo as meninas não querem levar uma action figure ou outro produto para casa é ridículo.  Já falei sobre isso antes e reforço de novo, questões de gênero, às vezes, se sobrepõem aos interesses econômicos.  E, bem, ninguém me convence de que a Disney não está perdendo dinheiro, além de passar aquela mensagem esquisita de que mulheres não se vendem em formato brinquedo, porque não são desejadas.  É aquilo, desconexão total com seu público.


O segundo ponto foi levantado pelo pessoal do site Colant sem Decote.  Lá na engraçadíssima cena do martelo de Thor, Stark pergunta para o Deus do Trovão se quem levantasse poderia governar Asgard.  Recebe uma resposta positiva e, no clima geral de bebedeira, solta que quando se tornasse rei iria reinstituir o direito de prima nocta (Latim: jus primae noctis).  Como o pessoal do Colant sem Decote bem colocou, trata-se de uma piada de estupro, porque a prima nocta ou Droit du seigneur ou ainda droit de cuissage era o direito do senhor feudal de tomar para si a primeira noite da noiva de seus servos.  Sim, trata-se de uma piada de estupro e poderia não estar lá, no entanto, é o tipo de bobagem que um Stark, ainda mais bêbado, poderia dizer.  Logo, o contexto permitia.  Dito isso, acho que não destoa do geral do filme.[1]  

É isso.  O filme foi muito divertido.  Um bom quadrinho filmado, com boas atuações.  Recomendo muito.  E ele deixa várias pontas soltas para os próximos filmes.  Aliás, pergunto-me se Pietro voltará  se ficaremos sabendo que os gêmeos são filhos do Magneto...  Tentam achar Stan Lee no filme, porque, como sempre, ele está lá. Ah, sim, antes do post dos Orixás, que nunca será alcançado por nenhum outro aqui do blog, a resenha do primeiro filme dos Vingadores, não sei como essa irá se sair, mas estou curiosa.


[1] Só para concluir, a prima nocta nunca foi um direito feudal assentado, ainda que pudesse ser pontualmente um abuso cometido por um senhor feudal, ou por um coronel desses interiores do Brasil, ou rei ou chefe tribal em algum lugar por aí.  Está na hora de ficar repetindo que essa coisa rolava na Idade Média (*e além*), porque trata-se muito mais de uma fantasia machista do que algo historicamente estabelecido.  Agora, a prima nocta rendeu um filme espetacular, O Senhor da Guerra (The War Lord/1965), com Charlton Heston.  Recomendo.  Especialmente, para quem acha que o senhor feudal podia tudo, ele tinha que cumprir as regras do jogo, reciprocidade é o que mantém um sistema funcionando, e não entregar a noiva no dia seguinte rendeu uma dor de cabeça enorme para todos os envolvidos.

10 pessoas comentaram:

Valéria, o Marvel Studios não pode usar os mutantes, pois os direitos sobre todos os mutantes estão com a Fox.
Tanto é que no final do Capitão América 2, Wanda e Pietro são chamados de "milagres" e agora de "aprimorados".
Portanto, qualquer relação de parentesco com Magneto não será nem citada.
A Marvel pode usar os dois porque nos quadrinhos, além de mutantes, são Vingadores, então meio que estão num limbo jurídico.

Oi Valéria!
Gostei muito da sua resenha, concordo com boa parte do que escreveu. Só me incomodou - e muito - essa história da Viúva Negra e Hulk: pra mim ficou soando forçada essa aproximação, preferia que Natasha não tivesse sido usada como interesse amoroso e forma de acalmar o herói. A personagem é tão maior do que isso!
Ah, e só uma correção: não foi Chris Hemsworth quem participou da baboseira misógina com Jeremy Renner, foi o Chris Evans!
(:

Acho que no futuro teremos mais integrantes mulheres nos Vingadores. A Feiticeira irá ficar, Natasha irá participar de pelo menos mais dois, com o Homem-Formiga provavelmente venha a Vespa...
Essa rotatividade na equipe abre possibilidades para o futuro da franquia.
O filme é muito bom. Gostei muito da sua resenha :D

Há quem diga que Ultron herdou algumas características que eram do Magneto... raiva contra a humanidade, alguma relação com Pietro e Wanda... mas como disse o Mauricio, a Marvel não pode nem dizer que são "mutantes", quanto mais fazer referência direta a algum deles.

Mas quem foi realmente mesclado com outro personagem foi o Visão. Como provavelmente eles acharam que ia ser complicado demais incluir Adam Warlock nos filmes, colocaram no Visão várias características que eram dele: nascer num casulo (nos quadrinhos, o Visão foi construído com a mesma tecnologia do Tocha Humana original), e possuir uma daquelas pedras. Warlock foi um dos personagens mais importantes na saga de Thanos, o que talvez explique a necessidade de alguém que ocupe o lugar dele.

O casulo do Warlock apareceu no filme dos Guardiões da Galáxia, em meio aos itens do Colecionador. Na verdade eu quando vi que a cena pós-créditos começava no bunker do Colecionador, esperei por segundos que víssemos o casulo brilhar e o braço de Warlock emergir.
Aí veio Howard o Pato. :D

Mas Warlock é algo psicodélico e complicado demais — o nó temporal dele é coerente, mas é de torcer o crânio da maioria das pessoas — sem falar que o arco do personagem é trágico. Acho que a sua tese faz sentido.

Essa questão do não gostar da personagem porque o ator é estúpido é que não faz sentido, daí nem procurar saber coisas sobre o ator porque se por acaso não gosto das suas ações depois a imagem que tenho da personagem vai piorar, e isso é uma coisa imensamente desnecessária. Não conheço nada do ator que faz de Hawkeye mas gosto do Hawkeye enquanto personagem. Ele mostra que mesmo sem poderes consegue ajudar, e adorei o facto de terem focado mais nele no filme porque conseguimos ver o seu lado humano. E lá está, o Hawkeye enquanto personagem não é nem um pouco estúpido ou idiota.
Adorei saber mais acerca da Black Widow também, porque a adoro! Achei foi o romance dela com o Hulk um pouco forçado, porque apareceu assim do nada, até porque na história do Hulk ele não gosta da Black Widow né, mas não vi qualquer problema com o romance deles.
A Scarlet Witch foi ótima! Adorei os poderes dela e o facto dela ser tão poderosa! Acho que ela mostrou claramente que não precisa de ajudas para se safar sozinha. Lá está, duas ótimas personagens femininas muito poderosas, coisa que não se vê todos os dias e algo que adoro!
Ah e se ainda não viste o Capitão América 2 tens mesmo de ver porque é muito melhor que o primeiro. Digo isto porque eu nem gosto do primeiro e amei o segundo que conta com uma ótima participação da Agente Romanoff! ;)
A piada do frisbee foi ótima! xD Sem dúvida aquilo que mais gostei no Ultron foram as suas piadas. Também adorei a piada da omelete xD
De facto aquilo que faltou no filme foi mesmo um pouco de Loki. Aliás, foi gravada uma cena com o Loki que não colocaram no filme!
Ah e apenas umas correçõezinhas: Existe sim merchandise da Black Widow e Scarlet Witch, apenas muito pouco comparado com os outros. Inclusive o ator que faz de Hulk pediu que fizessem mais merchandise da Scarlet Witch para que ele pudesse dar à filha, se não me engano. E a outra correção é que os irmãos Maximoff aqui não são filhos do Magneto porque a Marvel não tem os direitos do X-Men, é a Fox que os tem.
Mas de facto foi um filme muito giro e divertido, não sei é se será ou não melhor que o outro Avengers. Faltou Loki xD

Sentido é algo que a gente vê, ou não vê, a depender dos nossos pressupostos e interesses. Eu vejo sentido em comentar as bobagens que um ator/diretor/whatever diz ou faz. E, neste caso, misoginia e machismo são coisas que eu, como mulher feminista, percebo como um problema. E não há necessidade de corrigir a questão dos produtos. Alguma coisa, muito pouca coisa, denota o desrespeito e a falta de interesse pelas personagens FEMININAS. De novo, como mulher feminista, isso incomoda. Bom saber que, apesar de não lhe incomodar, incomodou muita gente por aí. Daí, ser muito fácil encontrar matérias criticando em sites dos mais diferentes tipos.

Alguém que também gostou do romance, que lindo. Também tenho uma queda por dr. Banner, e não curto muito a Betty.
Não gostei da posição del de donzela em perigo, achei o único aspecto forçado da relação.
Foi ela que buscou Banner no primeiro filme, que introduziu ele nos vingadores. Ela desenvolveu uma reação sutil com ele desde o primeiro filme, ela se tornou uma espécie de guarda costas dele, tando que na cena do ataque de ultron eles correm ara a mesma direção, ela defende ele, e eles trocam uma olhar um pouco de flerte no primeiro avengers. E bom, o romance ficou em aberto, e agora em guerra civil introduziram pequenos detalhes verdes nas roupas dela.
O filme foi um pouco mais coeso mesmo. Sou muito fã dos quadrinhos, mas desvinculo uma coisa da outra pra não criar expectativas, vou ao cinema pra ver uma outra versão, não uma cópia exata. No primeiro filme tinha muito personagem pra ser introduzido, muita personalidade pra ser desenvolvida.

Adorei sua analise do filme :)

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