Quando eu era adolescente, um dos filmes que mais gostava de assistir de novo e de novo era Guerreiros de Fogo, nome que foi dado aqui no Brasil para Red Sonja, filme protagonizado por Brigitte Nielsen e baseado em uma famosa personagem de quadrinhos, uma guerreira bárbara de tempos imemoriais, assim como Conan, e que buscava vingança pelo assassinato de sua família. No filme, ela afirmava que só aceitaria se relacionar afetivamente com um homem que a derrotasse em combate, o candidato, neste caso, era a personagem de Arnold Schwarzenegger, ele mesmo o mais famoso Conan do cinema. Raras eram as guerreiras em filmes e gente como eu se agarrava ao que lhe ofereciam e, bem, Sonja era uma isca e tanto.
Não me lembro de ter lido nenhum quadrinho de Sonja, a Vermelha, ainda que tenha sido por alguns anos leitora de Conan, o Bárbaro. Lembro, sim, de ter lido uma poesia ilustrada em uma revista de Conan, acho que a primeira que li, em uma visita à biblioteca do SESC da minha cidade natal, São João de Meriti. Não sei quem a compôs, não lembro se era tradução/versão, só lembro que era bonita e carregada de força. Enfim, mas por qual motivo estou falando de Sonja, a Vermelha?
Acabei de ler uma matéria sobre uma descoberta arqueológica instigante no Casaquistão, ex-república soviética que teve papel fundamental na Corrida Espacial e ainda hoje para quem quer ir ao espaço, um esqueleto de mulher de cerca de 200 a.C, portando adaga e espada, firmemente presa em suas agora mãos esqueléticas. Além da espada e da adaga, arcos e potes que outrora levavam alimentos. Em um esqueleto masculino tais atributos denotariam que é um túmulo de guerreiro, mais ainda, de um guerreiro de alta categoria.
Segundo o artigo, foi o primeiro túmulo feminino encontrado com tais características e não se tinha evidência ainda de mulheres guerreiras entre o povo nômade chamado de Kangyuy. Foram 23 anos de escavações e ainda não foi encontrado outro esqueleto que apontasse que aquela mulher teria sido uma guerreira. Não vejo a singularidade como problema. Existem casos únicos, mais ainda, dado o tempo, a gente pode ter perdido muita coisa.
Rastrear certas coisas é como montar um quebra-cabeça. Alguns, por motivos diversos, foram guardados com muito cuidado, assim, fica fácil montá-los de novo e de novo. Outros, foram atirados em um lugar qualquer e podem ter tido peças danificadas, ou perdidas. Alguns, foram deliberadamente destruídos, sobra uma ou outra peça, mas não muito mais que isso. Cabe aos arqueólogos e historiadores aceitarem as lacunas, interpretarem criticamente os dados e nunca, nunca mesmo, imprimirem suas crenças, valores, representações sociais nas suas fontes. Esse, sim, é o perigo. Em outros tempos, talvez, este esqueleto fosse simplesmente rotulado de “masculino” e não falamos mais do assunto.
Rastrear certas coisas é como montar um quebra-cabeça. Alguns, por motivos diversos, foram guardados com muito cuidado, assim, fica fácil montá-los de novo e de novo. Outros, foram atirados em um lugar qualquer e podem ter tido peças danificadas, ou perdidas. Alguns, foram deliberadamente destruídos, sobra uma ou outra peça, mas não muito mais que isso. Cabe aos arqueólogos e historiadores aceitarem as lacunas, interpretarem criticamente os dados e nunca, nunca mesmo, imprimirem suas crenças, valores, representações sociais nas suas fontes. Esse, sim, é o perigo. Em outros tempos, talvez, este esqueleto fosse simplesmente rotulado de “masculino” e não falamos mais do assunto.
Enfim, vale a pena ler a matéria, para quem se interessar, o conto de 1934, “The Shadow of the Vulture”. Foi este conto de Robert E. Howard, o criador de Conan, que serviu de inspiração para a criação da Sonja dos comics por Roy Thomas e Barry Windsor-Smith, em 1973.
Apesar de toda a exploração do corpo da personagem, ainda assim, ela é uma das favoritas das fãs americanas de quadrinhos. De novo, quando se tem muito pouco, a gente agarra o que está disponível e, bem, o que essas leitoras fazem de Sonja é o que interessa. Quantas começaram a desenhar e escrever por causa dela? E essa produção interpretativa e criativa é pessoal e livre das intervenções da indústria. Obviamente, ainda esperamos um novo filme de Sonja, a Vermelha, talvez já tenha chegado a hora.
Apesar de toda a exploração do corpo da personagem, ainda assim, ela é uma das favoritas das fãs americanas de quadrinhos. De novo, quando se tem muito pouco, a gente agarra o que está disponível e, bem, o que essas leitoras fazem de Sonja é o que interessa. Quantas começaram a desenhar e escrever por causa dela? E essa produção interpretativa e criativa é pessoal e livre das intervenções da indústria. Obviamente, ainda esperamos um novo filme de Sonja, a Vermelha, talvez já tenha chegado a hora.
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