quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Por que as mulheres não podem viajar no tempo?

Ouke no Monshou
Este é o título de um artigo do jornal inglês the Guardian de 2013.  Antigo, eu sei, mas só cheguei até ele graças a uma resenha de Outlander do site feminista nerd pop Collant sem Decote.  Enfim, nunca tinha pensado nisso, mas não me lembro de nenhum filme, quadrinho, mangá, novela, livro, whatever no qual uma mulher – independente da sua idade – tenha viajado no tempo por vontade própria.  Vocês se lembram?

Normalmente, o viajante do tempo ativo, isto é, o cara que constrói ou usa a máquina do tempo, é um homem. Mesmo quando a coisa é feita por magia ou outra forma cientificamente não justificada – ex.: Em Algum Lugar do Passado – é o cara que sai da sua zona de conforto atrás da amada (*normalmente, o motivo é este nesses casos*) que pertence a outra época. Mas as mulheres também viajam no tempo.  E como a coisa acontece?  Alguns exemplos:

O lindíssimo em Algum Lugar do Passado
1. Sequestro: uma entidade de outra época e lugar (*porque o povo adora viajar no tempo e no espaço*) deseja a mocinha por algum motivo.  Daí, lá vai ela enfrentar um monte de perrengues até que o mocinho apareça para salvá-la ou lhe dar uma mãozinha.  Não raro, ela se enrosca com o sujeito – ou vários sujeitos – e termina ficando no passado mesmo.  Caso que não posso esquecer: Anatolia Story (天は赤い河のほとり).

Anatolia Story
2. Acidente fruto de uma fatalidade ou bisbilhotice: A mocinha está sozinha, ou com um grupo de pessoas, e é pega em uma armadilha temporal.  Em outra época (*e lugar, às vezes*), ela terá que enfrentar perigos e temos, de novo, o mocinho para salvá-la ou lhe dar uma mãozinha.  A mocinha pode, ou não, ficar no passado.  Mais dois mangás, Ouke no Monshou (王家の紋章) e Amakusa 1637.

Amakusa 1637
3. Carona: o mocinho ou interesse romântico da moça constrói ou está de posse de uma máquina do tempo e a leva para passear.  Ela pode ir até por vontade própria,  mas, não me lembro de ser por algum interesse na viagem no tempo em si. Exemplos: De Volta para o Futuro 2 e 3.

De Volta para o Futuro 2
4. Ela não pode evitar: Por adquirir algum poder mágico, ser alvo de uma maldição, ou sofrer um acidente, a mulher ou menina viaja no tempo, não é algo que ela controle e nem sempre é divertido.  Exemplo: Toki o Kakeru Shōjo (時をかける少女).

Toki o Kakeru Shōjo
5. Ela precisa mudar alguma coisa na sua vida: Ela viaja, ninguém sabe como, normalmente em seu próprio corpo, isto é, jovem para mais velha, adulta para adolescente, e por aí vai.  Nunca é algo sob seu controle e, normalmente, a coisa acaba caindo no “Você realmente quer ficar com esse carinha?”.  Exemplo que mais me recordo é Peggy Sue seu Passado a Espera.  Há mangás para citar, também, e outros filmes, mas fico só com este exemplo.

Peggy Sue, seu Passado a Espera
Enfim, o artigo lá do The Guardian se foca em cinema e critica a ausência de personagens femininas que viajam no tempo por vontade própria, usando de métodos científicos, ou não, e sem estarem tuteladas por uma personagem masculina.  A categorização foi minha e realmente não lembro de um caso de personagem mulher que escape de uma dessas opções acima... O artigo cita Hermione em O Prisioneiro de Azkabhan  como exceção, mas não sei se eu consideraria assim, não... (*Leia o novo post, por favor para a minha correção.*)

Depois que fechei o texto lembrei de um filme ruinzinho chamado Linha do Tempo (Timeline, 2003), com o Gerard Butler. Há um projeto de máquina do tempo, ela abre uma fenda temporal. Um cientista, professor dos protagonistas viaja (*clichê do cientista curioso e imprevidente*), os alunos - e há uma moça no grupo para cumprir cotas - vão atrás dele. Trata-se de uma viagem no tempo e no espaço e como cientista, a personagem de Frances O'Connor não pode ser considerada caronista, mas, claro, ela é exceção e, ainda assim, o filme tem mais furos que um queijo suíço.  Aliás,  o filme está em uma lista com os melhores e piores filmes sobre viagem no tempo. Vocês devem imaginar fácil de aual lado ele está da lista.


Hermione é uma viajante do tempo, eu me confundi.
De resto, concordo que a ficção científica está em débito com as mulheres nesse aspecto.  Viajar no tempo parece ser coisa de homem, ainda mais com certa segurança, enquanto no caso das mulheres é uma forma de colocar a donzela em perigo e/ou arranjar-lhe um amor para toda a vida.

34 pessoas comentaram:

Em que caso se encaixa a Dra Taylor do quarto filme de Jornada nas Estrelas? Ela não controla a tecnologia, nunca sonhou com aquilo, mas ela definitivamente escolheu viajar no tempo; fosse apenas pela vontade dos outros ela teria continuado na época dela.

Oi, Valéria, tudo bem? Leio o blog há bastante tempo, mas nunca comentei, hehe. Achei interessante esse texto porque imediatamente me lembrei de Life is Strange. É um jogo, daqueles bem focados na narrativa, em que a protagonista Max possui um poder que permite que ela volte no tempo. As viagens não são involuntárias ou acidentais e Max possui controle sobre o seu poder. Sei que videogames tem sua cota de sexismo, mas esse é certamente uma exceção, com personagens femininas bem construídas. Segue o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=mpRhaXfvG_0

Bulma de Dragon Ball nao viajou no tempo mas foi ela que construiu a maquina e permitiu que Trunks voltasse ao passado.

A Bulma constrói, mas não viaja. Ela foi citada no Collant sem Decote, comentários, eu acho.

Dra. Taylor opta por ir, verdade, mas é medida desesperada, menos por interesse próprio e mais para salvar suas baleias, além de ser carona. Ainda não é um exemplo de exceção, ainda que fuja um oouco.

Na história clássica dos X-Men, "Dias de um Futuro Esquecido", que serviu de inspiração pro filme de mesmo nome, Kitty Pryde viaja no tempo para evitar um assassinato que iria causar os eventos que levariam a um futuro distópico. Ela viaja só mentalmente, com a ajuda de uma telepata, e ocupa o corpo dela mesma no passado. Não sei se conta como viagem por iniciativa própria, já que é um plano desesperado do grupo, mas no fim ela consegue completar a missão.

Tem também a Homura em Madoka Magica, que usou o desejo que tinha direito pra viajar no tempo várias vezes e tentar proteger a Madoka, tentando evitar que ela se tornasse uma garota mágica.

Eu realmente estou um pouco apressada para comentar, mas embora eu não tenha nenhum contra-exemplo em termos de animes, mangás, livros ou cinema, tenho de um jogo: Life is Strange. Acho que aí se pode sempre considerar um pouco "vontade própria", embora a protagonista tenha, de facto, adquirido poderes. Pelo menos, ela pode escolher quando os usa.

E embora esteja com a dita pressa, aproveito por dizer que adoro o tema representatividade (de cor de pele, orientação sexual ou género) e que você escreve dos melhores posts feministas que já vi.

4ever-sapo.blogspot.pt

E pensar que tacam pedra nas fãs quando dizem que é tempo de termos uma encarnação feminina do Doutor de "Doctor Who"...

Onde se encaixa a Hermione indo e voltando com o vira tempo em Harry Potter pra assistir todas as aulas? A principio não tava dependendo de figura masculina rs

O mesmo com a Chibi Usa(Rini) em Sailor Moon, que voltou no tempo pra tentar salvar o futuro. Também não dependeu de figura masculina e sim de outra mulher, Sailor Pluto

Não sei se conta pois se trata de um desenho, mas tem o "Where in the time is Carmen Sandiego", no qual ela viaja no tempo pra roubar artefatos históricos <3

Tem também o exemplo de Thermae Romae. A professora japonesa de latim (esqueci o nome dela. Sayaka? Saori?) resolve viajar no tempo aparentemente por conta própria, mas na verdade ela só fez isso para ficar com o Lucius. Inclusive, eu detestei essa parte no mangá justamente pelo fato da mocinha largar tudo (carreira, família, terra natal) para ficar com o Lucius. Porque não fizeram o contrário? Lucius indo morar no Japão em definitivo? Foi uma pena, porque acabou prejudicando o mangá, que eu considero excelente.

Puxa, como não me lembrei da Homura e da Chibiusa? E tem a Asahina de Haruhi Suzumiya também. Acho que não lembrei de nenhuma dessas porque não são de histórias de ficção científica, que é a primeira coisa que me vem a cabeça quando penso em "viagem no tempo".

Logo que comecei a ler seu texto me lembrei do Peggy Sue. Até hoje acho difícil de engolir a Kathleen Turner e o Nicolas Cage pagando de adolescentes. Mas acho que era a proposta do filme.
Realmente há poucas viajantes do tempo "intencionais", o que de certa forma não deixa de ser um sintoma claro da falta de representação feminina como protagonistas nos gêneros de fantasia e ficção científica.

Estava lembrando do Timeline (Linha do Tempo) e o filme é meio fraquinho mesmo, mas o livro é bem interessante.

Então, não sei se se encaixa como carona ou não, mas as companheiras do Doutor, de Doctor Who, sempre viajam com ele mais interessadas na possibilidade de viajar pelo universo em diferentes tempos que no Doutor em si. A própria companion Rose Tyler só começa a viajar com o Doutor porque deseja voltar no tempo para tentar impedir a morte do pai.

*spoilers da nona temporada*: Já na nona temporada, a companion Clara Oswald se despede do Doutor e, em um maquina do tempo roubada, pelo que dá a entender, saí viajando pelo universo acompanhada de uma menina imortal. Ela diz que está indo devolver a máquina, mas que vai pelo caminho mais longo. Entendi que ela foi viajar pelo universo e tempo e que devolver a máquina era apenas uma desculpa. *fim dos spoilers*

E vilã conta? Porque tem vilãs de Doctor Who que viajam no tempo, a maioria das vezes desacompanhadas e suas viajens não possuem nenhuma relação com homens. Também tem a personagem River Song, que é do bem e viaja no tempo, mas eu sempre entendi que o interesse dela em viagens no tempo era mais para poder se encontrar com o Doctor que qualquer outra coisa, então não sei se ela conta.

Em Gravity Falls Mabel viaja no tempo pra conseguir ficar com seu porquinho de estimação também rs

De imediato me lembrei de Haruhi Suzumiya no Yuutsu.
A Mikuru trabalha para um grupo que diz como ela deve agir na situação, até por ela não saber como proceder melhor na missão. Mas até o de se sabe ela tem interesse pessoal para estar ali, principalmente a versão mais velha e mais independente dela.

Tem também a Lucy de um filme com o mesmo nome. [SPOILER ALERT] No final, ela viaja no tempo por conta própria.

Em Steins;Gate, John Titor é uma mulher(Suzuha Amane) e viaja no tempo.

Passei o olho rápido e acho que não vi ninguém mencionando um livro. Na série Fallen da Lauren Kate, a personagem viaja no tempo por conta própria pra entender seu relacionamento com o mocinho da história.

Toki wo Kakeru Shoujo possui dois filmes live action, um antigo que conta a história do filme animado e outra de 2014 que conta a história da filha da menina do original, recomendo muito esse filme de 2014.

Fui procurar e o filme mais recente é de 2010 e não 2014 como tinha escrito.

Fora a Homura de Madoka q viaja no tempo várias vezes, oq é um ponto central da estória. E, a Chibiusa q roubou a chave da Setsuna, temos a própria Setsuna guarda a porta do tempo e volta depois q darem ela como morta por ter quebrado o tabu d parar o tempo para evitar um desastre quando ela vem pela primeira vez para o século XX atrás da Chibiusa transformada em Black Lady

Tem a Kagome de Inu Yasha e a Miaka de Fushigi Yuugi mas ambas viajam meio que por "acidente". Então acho que não conta né?

Kitsune, Miaka não giaja no tempo, ela entra em um livro ficcional. Kagome é macidente, daí, não conta.

É verdade que a primeira viagem da Kagome foi acidental (não exatamente acidental, mas não dependeu da vontade dela então dá na mesma), mas depois disso ela poderia ter interrompido a vida complicada entre duas linhas do tempo distintas, mas não importa quão forte a chance que ela tenha tido para isso, ela sempre escolheu continuar viajando no tempo ("sempre" também não, a história é longa e ocorreram várias circunstâncias, mas permanece o fato de que mais de uma vez, tendo a opção de não mais viajar, ela escolheu continuar).

Enfim, não é exatamente a mesma coisa, mas nem todos os casos são apenas "sim" ou "não", né?

Olha, Kagome tinha quase zero alternativa. Enroscada como estava, se ela se recusasse a voltar, viriam atrás dela. Não é uma viajante do tempo nos termos que o artgo do The Guardian aponta.

Fora dos termos que você apontou, eu teria para citar apenas a Chibiusa e Hermione, mesmo. Nunca tinha parado para pensar nisso, mas acredito que seja uma questão que está dentro de uma maior: a falta de protagonismo feminino em tramas ficcionais (ou, pelo menos, que não envolvam romance e comédia).

A Nikaido do mangá Dorohedoro tem o poder de voltar no Tempo. Na infância ela não sabia como controlar mas na vida adulta ela já tem total domínio conseguindo voltar no tempo e finalmente salvar a vida da sua irmã adotiva.

Assisti recentemente dois kdramas sobre viagem no tempo Faith, uma médica do presente é levada para o passado por um guerreiro para salvar a Rainha que tinha sido sofrido uma tentativa de assassinato, a porta para o presente acaba fechando e ela acaba ficando no passado e tornando-se High Doctor do Reino, tudo graças a uma lenda de um médico que viria do céus. Tem também Splash Splash Love, uma colegial viaja para o passado através de uma poça d'água, ela só consegue viajar enquanto chove e acaba se envolvendo com o atual rei.

De 2015 para cá não mudou muita coisa, não é mesmo? Só o único exemplo q posso dar é a nova Doctor que regenerou pela primeira vez na história em mulher.

Na verdade quem viaja é o Wolverine.

Valéria, li no ano passado "O Livro do Juízo Final" da Connie Willis; inclusive fiz uma longa resenha sobre ele no Coruja. No universo criado por Willis (são vários livros, mas não são continuações), é comum que historiadores voltem ao passado como parte de suas pesquisas. O romance segue dois personagens principais, uma estudante da Idade Média, Kivrin, que viaja ao passado e seu professor de história no presente.

A Kivrin escolhe, na verdade até briga para poder fazer sua jornada - porque a Idade Média é considerada um período perigoso para viajar e por isso costuma estar fora dos roteiros. Boa parte dos personagens principais são acadêmicos, historiadores, e a forma como a autora trabalha os personagens medievais me surpreendeu. Eu recomendo muito o livro, ele ganhou vários prêmios importantes de ficção científica/fantasia e é reconhecido em muitos lugares como um dos raros exemplos de história em que existe uma mulher como protagonista viajante do tempo.

Vou deixar aqui o link da resenha, porque lá está melhor explicado as referências do livro e porque eu recomendaria para todo mundo ler (na verdade, me lembrei de ti na época em que li; não sei porque não te indiquei antes...): http://owlsroof.blogspot.com/2017/10/o-livro-do-juizo-final-viagens-no-tempo.html

E a Hermione Granger e o vira-tempo?

Veja o link da errata para a Hermione.

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