sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Comentando Lino (Brasil, 2017)


Ontem, fui conferir a animação nacional Lino, um longa com qualidade gráfica similar à de produções norte americanas e que sinaliza as boas possibilidades para a animação nacional.  Escrevi “sinaliza", porque, efetivamente, o filme fica no meio do caminho em vários aspectos.  O roteiro tem problemas e não é isso que me incomodou, mas o desenho padece daquela necessidade de ser “para toda família”, quando sua história parte de um drama muito adulto.  Agora, o que me incomodou é a não decisão de colocar o filme no Brasil e mostrar, assim como aconteceu com a Nova York de A Vida Secreta dos Bichos, toda a beleza e grandeza de São Paulo.  Falta personalidade, mas as avaliações críticas foram, em sua maioria, bem complacentes.

A história básica de Lino gira em torno da personagem título (Selton Mello), que desde a infância é perseguido por um azar sem limites.  Adulto, ele só consegue emprego como animador de festas infantis e amarga humilhações vestindo uma fantasia de gato.  Um dia, depois de ser despejado, ele decide procurar Don Leon (Luis Carlos de Moraes), um mago hippie que lhe passa um feitiço errado que termina fazendo com que lino se torne a fantasia, isto é, um gato gigante vermelho e amarelo.  Para piorar, seu vizinho marginal, Vitor (Guilherme Lopes) usou a fantasia de Lino em uma noite de crimes.  Por conta disso, e por ter salvo uma bebê da morte certa ao cair da janela, Lino passa a ser perseguido pela polícia por roubo, sequestro e outros crimes.  Liderando os policiais está Janine (Dira Paes), antiga colega de escola de Lino e ainda apaixonada por ele.  Junto com Don Leon e a bebezinha, Lino parte em busca do feitiço que poderá resolver o seu problema e ajudá-lo a proar sua inocência.


Crianças, o tormento de Lino.
Enfim, Lino custou 6 milhões, usou um software da Pixar, e entregou uma animação de alta qualidade.    Esse é o grande ponto positivo do filme, pois em nenhum momento ele fica aquém da média das produções internacionais.  Talvez, por terem consciência desse fato tenha se criado o grande defeito do filme aos meus olhos, ele não parece ser um filme brasileiro, mas não parece ser qualquer outra coisa, também.  O primeiro aspecto que apontei na introdução foi o fato de não usarem São Paulo como cenário, mas uma cidade genérica, sem personalidade.  Um pena.

O outro aspecto complicado do filme é não se decidir se usa português,ou inglês.  Por exemplo, o dinheiro é visivelmente o Real.  Algumas placas e letreiramentos estão em português.  Já a polícia se veste com uniformes da polícia norte americana, o carro de polícia é ao estilo dos filmes americanos e no carro está escrito "police".  O jornal do chefe de polícia, que é negro (*outro clichê importado*),está com um jornal em língua inglesa.  Seria muito melhor definir.  Para dizer a verdade, há mais Brasil em Rio do que em Lino.


A "pestinha" dá novo sentido à vida de Lino.
Já caminhando para o fim, não vejo muito o que comentar se dar spoilers, vamos para a Bechdel Rule.  Temos três personagens femininas que aparecem o filme inteiro.  A policial, Janine, está em posição de chefia relativa, é inteligente, capaz,mas recebe dois auxiliares idiotas.  Piadas de peidos e tudo mais.  E, não, não acho graça na discussão biscoito/bolacha.  Enfim, Janine não conversa com Patty (Paolla de Oliveira), que, como o nome diz, é uma patricinha, burrinha, rica e que namora um bandido.  Seria interessante mostrar como ela,  cujo pai é rico o suficiente para  ter um jatinho, encontrou Vitor... Mas o roteiro não explica.  

E há a bebezinha, alívio cômico, bonitinha realmente, mas que, bem, é clichê.  o tema da adoção, quando é trazido para o filme, vem de forma rápida e rasa.  Tudo no final do filme é corrido e havia tempo para, talvez com cinco minutos amais, mostrar como Lino mudou de vida.  Enfim, o filme não cumpre a Bechdel Rule.  Ah, sim!  Não vi mulheres (*se estavam lá, não se distinguiram*) entre os estudantes de magia e só havia uma índia na festa da "tribo".  E os índios, pasmem, pareciam fugidos dos filmes de faroeste.  Não eram os brasileiros.


Don Leon tem seus momentos.
Terminando, como minha sessão estava vazia, não posso medir o impacto de lino sobre a audiência.  O riso de crianças e adultos... Enfim, a animação é ótima, parabéns aos envolvidos, acho que os mesmos de O Grilo Feliz (*muitas citações*), as piadas para gente velha são de fácil reconhecimento (*He-Man, De Volta para o Futuro...*) não servem para as crianças.  O roteiro foi corrido e os índios americanos doeram muito mais que a polícia fugida de Deloucacia de Polícia.  Espero cosias melhores da equipe na próxima vez.

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