quarta-feira, 8 de novembro de 2017

150 anos do nascimento de Marie Curie, a primeira mulher a receber um prêmio Nobel


Em 7 de novembro de 1867, nascia em Varsóvia, Polônia, Maria Salomea Sklodowska, lembrada pela história como Marie Curie.  Filha de professores de classe média, ela se viu impedida de continuar seus estudos universitários em seu país de origem e seus pais não tinham condições de mandá-la estudar no exterior.  Foi professora, juntou dinheiro, e conseguiu ir estudar na Sorbonne, em  1891.  Uma das 23 mulheres no meio de 1.825 estudantes da universidade.  Mais tarde, em 1896, ela descobriu com o colega Henri Becquerell que o sulfato de potássio e uranila provocava manchas em chapas fotográficas.

Em 1894, ela conheceu Pierre Curie, que então chefiava o laboratório de pesquisas da Escola Superior de Física e Química Industrial de Paris, eles se casaram em 1895 e tiveram duas filhas, Irene (1897) e Ève (1904).  Em 1898, Marie e Pierre, usando um espectroscópio, conseguiram provar a existência do Polônio. O nome da substância é uma homenagem ao país natal de Marie.  Em 1903, Marie Curie publicou sua tese de doutorado sobre substâncias radioativas, o que causou grande alvoroço na comunidade científica. Em questão de um ano, a tese foi traduzida para cinco idiomas e publicada 17 vezes. Ainda em 1903, o casal Curie recebeu o Prêmio Nobel de Física, "em reconhecimento aos extraordinários serviços que desenvolveram com suas pesquisas conjuntas sobre os fenômenos da radiação descobertos pelo professor Becquerel".  Em 1911, já viúva, ela ganhou o Nobel de Química pela descoberta dos elementos rádio e polônio.

A mãe, Bronisława, professora e diretora de escola.
Marie Curie continuo pesquisando radioatividade, medicina (Durante a I Guerra Mundial, ela desenvolveu, por exemplo, unidades móveis de raio X, que os paramédicos podiam usar na frente de batalha*), lutando pelo estabelecimento de padrões internacionais relativas à radiação, assim como militou na causa do desenvolvimento de pesquisas internacionais, baseadas no estabelecimento de cooperação entre os países, e bolsas de estudo que possibilitassem intercâmbios.  Pacifista, defendeu a Liga das Nações como uma forma de viabilizar o progresso da humanidade.  Marie Curie faleceu em 1934.  Ela não viu a filha Irene, que tornou-se cientista como os pais, receber seu Nobel de Química em 1935, junto com o marido,  Jean-Frederic Joliot-Curie.

Agora, vamos supor que Marie Curie não tivesse pais compreensivos, que seu interesse pela área científica fosse embotada pela reafirmação de que, como mulher, ela deveria preparar-se (*somente*) para o casamento e a maternidade?  Será que em algum momento seus pais disseram para ela que era uma pena que fosse mulher, como o pai de  Elizabeth Cady Stanton?  Que  dizia que a filha era um desperdício da natureza? Ou, talvez, o que seria de Marie Curie se tivesse uma mãe como a de Beatrix Potter, que adolescente escreveu um brilhante artigo sobre líquens e precisou de um homem para apresentá-lo na mais importante sociedade científica britânica, e terminou forçada a abandonar seus interesses científicos e conseguiu - sim, depois de grande esforço - tornar-se autora de livros infantis?  

A jovem Marie no laboratório.
Vamos supor, também, que ao encontrar o marido, ele, como outros fizeram, a tivesse proibido de continuar na pesquisa.  Ele poderia fazê-lo, vocês sabem.  Poderia, também, ser absorvida pela maternidade, como a primeira esposa de Einstein, Mileva Marić, outra pioneira da física  (*Einstein lhe deu todo o dinheiro de seu prêmio Nobel e há quem teorize sobre sua participação nos trabalhos do marido*).  Ou então, que os colegas homens ignorassem seu talento (*simplesmente*) por ser mulher e sua carreira fosse obliterada. Afinal, além de mulher, ela era estrangeira.  

O fato é que muitas variáveis poderiam ter impedido Marie Curie de ter alcançado o que alcançou, simplesmente, por ter nascido (*biologicamente*) MULHER.  Ela deve ter ouvido mutia bobagem, mas contou com apoios fundamentais: família e marido.  Tanto contou, que duas de suas irmãs, Bronisława e Helena, também seguiram carreira, uma como cientista, a outra, como escritora e ativista dos direitos das mulheres.  Infelizmente, muita gente esquece disso, de quantas mulheres talentosas foram impedidas de sonhar e de desenvolver suas potencialidades, excluídas das escolas, reprimidas no meio familiar, sabotadas por maridos, enfim.  Este artigo, que deveria ter sido publicado ontem, mas foi impedido pela Júlia (*vejam só a maternidade em ação*), deveria celebrar Marie Curie, mas, também, comentar que ela é admirável, mas que é uma personagem domesticada e, por isso mesmo, admirada por gente que é anti-feminista.  Por que estou escrevendo isso?

Reconhecida antes da velhice, ou da morte.
Nos comentários do Deutsche Welle, que deu base ao meu texto, apareceu um machistóide criticando "as feministas", porque preferem como ícone uma mulher feia e bigoduda (*Frida Khalo, que ele nem citou por nome*), do que "um exemplo"  como Marie Curie.  Primeira coisa, não cabe a homem algum definir quem deve ser lembrada pelas feministas, quanto menos se fingir "progressista" para atacar as mulheres.  Segunda coisa, Marie Curie, assim como outras mulheres cientistas, são lembradas, reverenciadas e importantes para as feministas.  Há sites feministas especializados somente nesse tema. Terceira coisa, é inegável que Frida, que era artista e, não, cientista, que nasceu em outra geração e em outro lugar, incomoda mais.  Ela questionou o casamento tradicional, ela era bissexual, ela retratou sua dor, sua crítica social, atacou o machismo e o patriarcado em seu trabalho.  Ela incomoda mais e ela é tão importante como Marie Curie, ou como Rosa Luxemburgo.  Cada uma na sua área.  Bom que foram reconhecidas em vida, não depois da morte.

São mutias mulheres a honrar, mas este dia é de Marie Curie, pioneira, e exemplo para meninas que, não raro, são desestimuladas a seguir carreia na área de exatas, porque "não é cosia de mulher".  Há livros de "especialistas" que dizem isso, mas é a escola quem reforça.  Tive uma colega de escola que queria fazer Engenharia Química, mas desistiu, porque não queria estudar somente com homens, não era carreira de mulher.  Tente lembrar quantos professores de Física, Química ou Matemática você teve no Ensino Médio.  Quantos tinha na sua escola?  No Colégio Militar de Brasília, são pouquíssimas professoras e já ouvi de uma delas a afronta de um aluno que queria tirar dúvidas em uma prova e, simplesmente, recusou-a, queria um professor homem.  Em dia de prova, todas as turmas estão sendo examinadas ao mesmo tempo.  15, 16 turmas só de 3º ano.  Estamos no século XXI, imagina no século XIX.  É isso.

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