domingo, 18 de fevereiro de 2018

Novelando: Roda de Fogo vai ser reprisada pelo Canal Viva ou Estão querendo me colocar em modo nostalgia.

Um amor do passado, um filho enjeitado, e muito rancor.
Uma das novelas que marcaram o início o final da minha infância foi Roda de Fogo.  Normalmente, prefiro novelas de época, mas esta trama de Lauro César Muniz ocupa lugar entre as minhas favoritas e é engraçado ver que algumas das minhas telenovelas favoritas foram exibidas em 1986 e 1987.  Gostei de saber que o Canal Viva irá reexibir Roda de Fogo, só torço para que seja depois do encerramento de Sinhá Moça, pois estou assistindo novelas demais.

Renata Sorrah morena e fria como uma pedra de gelo.
Roda de Fogo era uma novela violenta e que lidava com temas que, hoje, estão na moda: corrupção na política e no meio empresarial e os juízes justiceiros.  Lembro que foi em roda de Fogo que tive contato pela primeira vez com temas como tortura, afinal, a personagem de Eva Wilma era uma ex-guerrilheira que havia sido torturada durante a ditadura.  Aprendi em Roda de Fogo coisas que só iria estudar no Ensino Médio, por isso, defendo até o fim que as novelas tem função pedagógica, mesmo que, infelizmente, venham tapar buracos deixados pela educação formal, ademais, elas podem fazer com que as pessoas reflitam, pensam, descubram coisas.  E Lauro César Muniz gosta de temas políticos e não fugiu deles em Roda de Fogo.  O protagonista, acredito que o primeiro anti-herói que eu vi em qualquer produção, era um empresário corrupto cuja esposa de origens aristocráticas, Renata Sorrah sempre excelente, desejava ser primeira-dama. Tínhamos acabado de retornar ao regime democrático.

Bruna Lombardi, a jovem juíza incorruptível.
Renato Villar, era este o nome da personagem interpretado por Tarcísio Meira, não tinha nenhum escrúpulo.  Era capaz de mandar matar sem problemas.  Só que deseja se livrar de um processo e tenta corromper uma jovem juíza incorruptível, Lúcia Brandão (Bruna Lombardi).  Acaba se apaixonando por ela.  Acaba, também, descobrindo que tem um tumor inoperável e que pode morrer a qualquer momento.  Decide, então, mudar de vida, se divorcia, tenta se reconciliar com o filho bastardo (*o lindo e talentoso Felipe Camargo), que é filho da guerrilheira e, claro, convencer Lúcia de que é um homem novo.  

Paulo Goulart parecia bem mais velho que
Tarcísio Meira, mas eles tem quase a mesma idade.
Só que Renato termina sendo traído por seus antes amigos, dentre eles um general, porque Villar fazia falcatruas desde os tempos da ditadura.  Sim, a novela pode ter alguma função didática em nossos dias, também.  O que ele faz?  Decide matar todo mundo, ou fazer com que eles se matem.  Vingança mesmo e pesada.  Lembro que eu, criança ainda, ficava tensa com o nível de violência da história.  A legislação de censura tinha sido extinta e a TV tomava liberdades que os mais jovens – que ouvem dos pais e avós hipócritas que o mundo hoje é que está perdido – são incapazes e imaginar... 

Osmar Prado era o alívio cômico da novela
com seu rolo com três mulheres.
Lembro que quando a novela estava chegando ao fim, as pessoas se questionavam se Renato Villar merecia, ou não, sobreviver.  Afinal, ele tinha cometido vários crimes, mas seus inimigos – que ele tinha eliminado, vejam bem – eram bem piores. Vou dar o spoiler, ele morre, mas morre feliz, nos braços de Lúcia, que jogou para o alto a sua carreira.  Sim, eu sei, não é uma mensagem feminista de forma alguma, mas se eu realmente for rever a novela, acho que poderei analisar o caso de forma mais ampla.  Lembro que Lúcia era disputada por três homens, Renato, claro, o juiz interpretado por Paulo Goulart, que tinha sido professor e mentor de Lúcia, e pelo filho cadeirante do juiz, Jayme Periard, que na época era galã.  

Mario Liberato era uma das melhores coisas da novela.
Roda de Fogo ainda teve o primeiro e único (*se eu não estiver enganada*) vilão bissexual das telenovelas, Mario Liberato, interpretado magistralmente por Cecil Thiré.  Na época, colaram na personagem a plaquinha de gay, ele mantinha uma relação íntima com seu mordomo, mas casou-se, e não somente por interesse econômico, ou vingança, com a ex de Renato Villar.  Se bem me lembro, é posso estar equivocada, ele desejava a personagem de Renata Sorrah sexualmente, também.  Era uma personagem complexa para a época.  Aliás, até hoje há quem não acredite que pessoas possam ser bissexuais.

Todos na foto estavam no "death note" de
Renato Villar.  E está faltando gente.
Enfim, é uma novela bem interessante e será curioso rever a ambientação dos anos 1980.  Suas limitações (*Pensem um mundo sem celulares?*) e possibilidades.  Realmente, acho péssimo que Lauro César Muniz esteja fora da TV no momento.  Suas últimas produções foram na Record, antes das novelas bíblicas se tornarem quase a regra e ele até obteve sucesso, mas parece ter se desentendido por lá.  Lendo entrevistas dele – tenho dois livros em casa com entrevistas de novelistas – ele é um dos que defende que as telenovelas sejam menores e mais dinâmicas, mas, enfim, não é o bom senso que impera.

1 pessoas comentaram:

Novelas assim que tratam de corrupção e dessa forma até me agradam, eu li algumas coisas sobre essa novela pela internet um tempo atrás e até vi uns 6 caps pelo youtube, os primeiros e parecia boa. Pena que é uma temática e um estilo que não atrai muito o público médio das novelas. Se vai reprisar no viva, talvez se torne disponível pela internet e vou tentar acompanhar. O estilo dos personagens ricos é bem yuppie, a cara dos anos 80 e é uma novela que se passa na recém restaurada democracia no Brasil.

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