sábado, 2 de junho de 2018

Comentando Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim (Sherlock Gnomes, 2018)


Não tenho comentado vários dos desenhos que assisti com Júlia.  Deixei passar Sing, Zootopia, Duda e os Gnomos etc.  Os dois primeiros, talvez comente um dia.  Acho que já foram três produções que não comentei este ano que eu omiti aqui, mas quinta-feira, fui assistir com ela Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim (Sherlock Gnomes).  Estava com saudades de ir ao cinema e estava passando aqui no Shopping perto de casa.  Dava para ir à pé, pois não tenho quase gasolina para rodar por aí.  Enfim, não foi uma maravilha, mas foi um filme divertido.  Além disso, serviu para introduzir uma das minhas personagens favoritas, Sherlock Holmes, para a filhinha.  E não foi um Holmes ruim, não foi mesmo.  Em termos de personalidade, ele até que acompanhou o cânon de forma razoável.

O resumo do filme é o seguinte: Os donos de Gnomeu e Julieta, dois gnomos de louça decorativos, chegam em Londres e os protagonistas passam a ser responsáveis por organizar os habitantes do jardim, gnomos e outros enfeites de porcelana, e fazer com que o lugar fique bonito. A nova tarefa cria alguns atritos entre o casal, Julieta leva muito à sério o seu trabalho e passa a fazer pouco caso da opinião de Gnomeu. Um dia, quando Gnomeu e Julieta retornam de uma expedição ao mundo exterior, encontram o jardim vazio.  Todos os seus amigos e parentes tinham sido levados e eles conhecem o famoso detetive, Sherlock Gnomes, que está investigando o sumiço deles ao lado de seu fiel companheiro Watson.  Julieta e Gnomeu querem ajudar na investigação, mas o detetive, que acredita que o autor do crime é seu arqui-inimigo Moriarty, não os aceita de bom grado a ajuda, mas isso é somente o começo... 


Eles se amam, mas ela trabalha demais... 
Não assisti ao primeiro Gnomeu e Julieta, não seria o tipo de desenho que me levaria ao cinema.  Agora, com Júlia, tenho que ser mais flexível e fazia meses que assistíamos o trailer desse filme. No geral, teve muito menos piadinhas escatológicas do que o trailer sugeria.  Ainda bem! Eu realmente não sabia que a animação era britânica e que Elton John era o produtor.  O músico é citado na película como um dos duendes roubados, aparece como um duende rosa purpurinado e tocando piano.  De qualquer forma, o tema principal do filme, que é uma produção infantil, é a amizade e que devemos respeitar, ouvir e estimar as pessoas que amamos.

Julieta, que é uma personagem feminina forte, assertiva, inteligente, é, também, muito exigente consigo mesma e com os outros.  Talvez, seja uma metáfora da forma como as mulheres se desdobram e endurecem para serem bem sucedidas no mercado de trabalho, para terem seu valor reconhecido.  Já Gnomeu é somente o cara legal e apaixonado que, de repente, se torna menos importante que a carreira da amada.  Isso não vai ser percebido pelas crianças pequenas, mas é o que está lá para quem quiser ver.  Para as crianças, como Júlia, deve ficar a ideia de que não devemos fazer pouco caso dos amigos (*e nesse caso namorados*), que eles são as coisas mais importantes do mundo.


A equipe.
Já a relação entre Holmes e Watson é atribulada, também.  São parceiros, mas o detetive trata Watson com desdém e complacência.  Em termos de representação de Holmes, ela está na média das produções que vemos ao longo dos anos.  Vejam bem, o filme bebe não somente em Sir Arthur Conan Doyle, em especial no caso das Cataratas de Reichenbach, o da falsa morte do detetive, mas nas produções modernas como o seriado Sherlock (*no filme, Watson trata o detetive pelo primeiro nome, inclusive*) e nos filmes do Robert Downey Jr.  Essa parte deu certo, Holmes é brilhante e, em muitos momentos, parece insensível aos sentimentos alheios, mas isso não garante um grande filme, claro.

Quando se trata de Watson, bem, retornamos ao molde baixinho e gordinho, mas, e isso é importante, ele não é um tolo, ele é inteligente e capaz, daí, sente-se ofendidíssimo pela forma como Holmes passa a tratá-lo quando mergulha em sua fixação por Moriarty.  Ciúmes?  Talvez.  Já que Moriarty é uma personagem um tanto queer, eu diria. Depois de ter descoberto as origens do filme e o patrocínio de Elton John, não sei se a relação Holmes-Watson é somente amizade, ou algo mais.


Um dos cartazes internacionais.
Falando em Moriarty, o vilão, ele também bebe na representação da persoangem que vimos na série Sherlock.  Não sei como era na dublagem original, mas na versão brasileira Guilherme Briggs meio que repete personagens vilanescas anteriores (*como o demômio das Meninas Super Poderosas*) imprimindo um tom histérico, narcisista e, talvez, gay à Moriarty.  Se Holmes e Watson são bem familiares, Moriarty, da forma como é colocado no filme, nada tem a ver com o dos livros, salvo pela sua grande inteligência.  É, talvez, a personagem mais caricata do filme.

O filme cumpre a Bechdel Rule?  Sim, mas por pouco.  Acredito que seja o diálogo entre Julieta e Irene (Adler) que define a questão.  Há outras personagens femininas com falas e nomes, uma delas a sapinha de jardim, que é o amor da vida de um dos gnomos, mas elas não tem importância real na história, são figurantes e alívio cômico.  A maioria das personagens de peso são masculinas e Julieta aparece meio que solitária entre os homens de ação.  Voltando para Irene Adler, no filme, ela é ex-noiva de Sherlock, e foi abandonada por ele.  Não há detalhes do rolo, mas restou rancor da parte dela.  


Irene Adler, mas uma vez, não tem a importância que merece.
Agora, o que faz Irene na história?  Ela é dona de uma boate e virou uma espécie de show-girl.  Resumindo, o filme segue a linha do que temos das representações mais recentes de Irene, isto é, uma mulher muito inteligente e espirituosa, mas que usa seu corpo para sobreviver.  A única mulher realmente moderna do filme é Julieta, mas, mesmo ela, precisa se ajustar e reconhecer o valor do homem que tem a seu lado.

Terminando, o título do filme no Brasil dá mais peso à Gnomeu e Julieta, mas o protagonista mesmo é o grande detetive. Já a qualidade da animação é boa, mas nada excepcional.  Julieta, em particular, é muito bonita, eu gostaria de ter uma estatueta dela na minha mesa de computador.  A trilha sonora é realmente interessante, mas a história em si é muito simples e sem as camadas  interpretativas que possam atrair os adultos para o filme.  Trata-se, simplesmente, de um divertimento rápido e que, provavelmente, cairá no esquecimento.  De cinco estrelinhas, eu daria 3.


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