sexta-feira, 31 de agosto de 2018

LGBT pedem que congressista do partido do governo japonês se desculpe publicamente por chamá-los de improdutivos


Lembram que, tempos atrás, comentei sobre um político japonês que tinha dito que as mulheres solteiras são "um peso morto para a sociedade".  Agora, uma congressista de 51 anos, sim, uma mulher, filiada ao partido do governo, o Liberal Democrata, disse para uma revista que os LGBT - lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais - são improdutivos e que o governo japonês não deveria perder seu tempo com eles.  A fala foi essa: "O Governo pode gastar dinheiro dos contribuintes para que os casais LGBT obtenham aprovação? Eles não fazem filhos. Em outras palavras, eles não têm 'produtividade'."

A declaração levantou indignação dos grupos LGBTs e de pessoas preocupadas com os direitos humanos, segundo o Japan Times, e há um movimento pedindo que a sujeita se retrate.  Um abaixo-assinado com 26 mil assinaturas foi entregue no gabinete do primeiro-ministro, Shinzo Abe.  A mãe de uma criança trans declarou para o JT que o que Sugita pratica é bullying.  Outros exigem que o partido do governo se posicione.  A única fala, vinda do partido, do que seria o seu vice-presidente, disse que estava colhendo evidências, mas que cada político tem direito a sua opinião pessoal.  O Japan Times esclarece em outra notícia que os tribunais japoneses tem feito valer os direitos dos LGBTs e que mio Sugita não representaria a maioria.

Foto de um dos protestos.
Olhando a foto dela, lembrei que vi um vídeo legendado dessa senhora falando contra a possibilidade de se discutir questões ligadas aos LGBTs nas escolas japonesas.  Era um programa discutindo as altas taxas de suicídio dentro dessa parcela da população. Segundo ele, não se tratava de uma prioridade.  O link tem o vídeo.  Ela parece ter uma visão das lésbicas tiradas dos mangás yuri dos anos 1970, 1980, sabe?  Garotas gostam de garotas na adolescência, trocam cartas e juras de amor, mas, se ninguém falar do assunto (*daí, ela ser contra educação sexual*), isso passa, todo mundo casa e procria feliz.  Ela também já se pronunciou sobre as mulheres do conforto, dizendo que elas se prostituíam por vontade própria.  Sim, há políticas mulheres tão babacas quanto certos homens da mesma profissão por aí...  Obviamente, é sempre melhor ter uma mulher enunciando esse tipo de absurdos contra minorias, porque legitima o discurso masculino mais retrógrado.

Estátua em memória das mulheres do conforto.
O Japão luta contra a baixa natalidade faz tempo, mas, como eu já comentei várias vezes, é lento em promover reformas que promovam a igualdade de gênero, ou melhores condições para que as mulheres, especialmente, possam ter filhos e manter suas carreiras.  Do outro lado, adotar, no Japão, não é uma opção vista com bons olhos, nem estimulada pelo Estado (*1-2*).  De qualquer forma, este tipo de opinião serve para ilustrar que o país não é tão acolhedor em relação aos LGBTs como muitos animes, mangás e outros produtos midiáticos japoneses fazem muita gente acreditar.  As coisas por lá são pesadas e muito para quem não se enquadra no modelo heteronormativo, ou, pelo menos, finge se enquadrar.

4 pessoas comentaram:

A gente brinca as vezes mas o problema é real mesmo.
Por isso que Darling in the FranXX foi ainda pior do que todos nós por aqui vimos.

Pelo visto Bolsonaro já poderá possuir aliados valiosos como esta senhora em várias partes do mundo para promover o que existe de pior na humanidade no caso de uma possível presidência.

Até impressiona um pouco pelas retratações homoafetivas em mangás e animes, o que não seria nenhuma surpresa se começasse a propor censura em cima disso.

Eu comprei um BL volume único que li um tempo atrás e relendo agora lembrei como ele levanta algumas discussões importantes sobre isso no Japão. Ele retrata a vida inteira de um casal e em determinada altura é mostrado como ser gay no Japão é muito complicado. Muito complicado mesmo.

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