quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Desafio dos Filmes: Explicando o meu "15 Filmes em 15 Dias" - Parte 3/3


Houve uma brincadeira no Facebook na qual as pessoas teriam que listar 15 filmes que marcaram a sua vida.  Enfim, 15 é muito pouco, mas eu participei e fiz a minha lista.  A gente não podia postar o nome e, bem, houve dias que ninguém descobriu qual o filme que eu tinha colocado. Por conta disso, pensei que daria um bom post para o blog a explicação do motivo pelo qual tais filmes me marcaram.  Sugeriria todos os filmes, claro, ainda que um deles eu tenha assistido muito tempo atrás e precise rever.  Aliás, eu vou tentar fazê-lo nas férias, porque baixei o filme e trouxe para as férias.  Sempre  que tiver resenha, ou post sobre o filme no blog, eu irei colocar o link.  Para quem quiser: Parte 1 - Parte 2.


Dia 11 – Jane Eyre (Jane Eyre, 1970) – Direção: Delbert Mann – 110 minutos.

- "Jane Eyre é uma órfã, que mora  com sua tia paterna e primos abusivos até ser enviada para uma cruel instituição escolar chamada Lowood. Ao sair de lá, como uma jovem educada, ela assume uma posição como governanta  de uma menininha chamada Adele no Thornfield Hall. Totalmente ciente de sua condição social inferior e poucos atributos físicos, ela faz o melhor que pode e tentar manter-se íntegra. Mas Thornfield tem muitos segredos e apesar de misteriosas ocorrências que Jane não consegue compreender, ela e Edward Rochester, proprietário do lugar e guardião de Adele, se apaixonam. De repente, quando Jane está prestes a ganhar a felicidade que ela merece, um segredo sombrio vem à luz que precisa de toda a sua coragem, amor e maturidade."


- Quase todo mundo conhece essa história, já viu uma das adaptações para cinema e TV, ou leu o livro.  Este filme me marcou, porque foi a primeira versão de Jane Eyre que eu assisti na vida.  Por causa desse filme, eu li o livro ainda na adolescência.  Até hoje, e eu resenhei este filme para o blog na minha maratona Jane Eyre, considero que foi este filme que fez a melhor e mais impactante adaptação da fase da infância da personagem.  Especialmente, a estadia no colégio e Lowood.  Lendo o verbete desse filme da Wikipedia, lá é dito que trata-se da versão mais amada na China até hoje.  Ajudou a tornar Jane Eyre popular no país e é amada pelos chineses.

Tensão sexual de sobra nesse filme.
Dia 12 – A Época da Inocência (The Age of Innocence, 1993) – Direção: Martin Scorsese – 139 minutos.

- "Nova York, 1870. Um advogado (Daniel Day-Lewis) está de casamento marcado com uma jovem (Winona Ryder) da aristocracia local, quando uma condessa (Michelle Pfeiffer), prima de sua noiva, volta da Europa após separar-se do marido. As idéias dela chocam a tradicional sociedade americana e, ao tentar defendê-la, o advogado se apaixona por ela e correspondido." (*Adoro Cinema*)

A noiva que precisa parecer inocente,
mesmo dominando as regras do jogo.
- Esse filme é um dos que eu precisava reassistir, porque devo tê-lo visto uns vinte anos atrás e uma 'nica vez.  Primeira coisa, ele tem um dos melhores figurinos de época que eu já vi.  Detalhista, requintado, bonito e levou o Oscar por total merecimento.  Segundo, raros filmes desenham tão bem aquela necessidade desesperada de sobrevivência das mulheres dentro do patriarcado.  Manipular o homem sem que ele perceba para manter sua proteção e bem estar é uma prioridade em A Época da Inocência para a maioria das personagens femininas da película.  Fingir inocência, quando você tem o controle (*em termos, porque tudo depende do homem*) do jogo, para que o homem não se ofenda.  E, claro, destruir outras mulheres  que podem colocar sua posição de noiva, esposa, mãe de um homem em risco.

Para essas moças é urgente  encontrar um amo e senhor.
Duas temporadas na sociedade, no máximo, ou elas serão
 vistas como fracassadas, "wallflowers".
- Só que como todo mundo é muito educado nesse filme, nada pode ser dito ás claras.  NADA. Tudo precisa ser muito sutil.  Winona Ryder recebeu indicação ao Oscar como a noiva e, mais tarde, esposa "inocente"que sabeque sua "felicidade" está por um fio, afinal, Michelle Pfeiffer está ali, pertinho dela. A atriz, que faz a Condessa, está em um papel semi-autobiográfico, porque é baseado na experiência da própria autora, Edith Wharton, uma americana rica e de boa família que se casou com um nobre europeu em condições econômicas dificultosas. Era uma troca, dinheiro americano, por títulos de nobreza europeus.  Aparentemente, todos lucravam com isso.  A autora voltará ao tema em The Bucaneers (*tem série da BBC*),sua obra inacabada, e a situação aparece, também, em Downton Abbey e no conto O Solteirão Nobre  (The Noble Bachelor) de Sherlock Holmes.  Só  que o Conde é um devasso e maltrata a esposa e ela tem a coragem de se separar.  Um escândalo!  Essa é a situação da personagem de Pfeiffer.   Ela é acolhida pela tia rica e socialmente influente (Miriam Margolyes), mas mesmo essa parenta não pode permitir que a sobrinha manchada prejudique o casamento perfeito da personagem de Winona Ryder.

E, no final, ele faz o que a sociedade espera que ele faça.
- E temos Newland Archer, a  personagem de Daniel Day-Lewis, um cavalheiro, cheio das melhores intenções e com ideias até progressistas sobre os direitos das mulheres, que se coloca do lado da Condessa e se apaixona por ela.  Como a gente não está em novela de época moderna da Globo, ele não tem como chutar o pau da barraca e fugir com a Condessa.  E ela não lhe pede isso,elaentende as convenções sociais. Agora, o motivo dele, e exatamente por essa parte este filme está na lista, é que Archer não pode deixar para trás a mãe viúva e a irmã solteira.  Elas dependem dele.  Ele é o homem da casa.  "Você não pode  libertar quem não sabe que está preso", ele diz para a Condessa em algum momento. Mas elas sabem.  Só que a gaiola é de ouro e boa parte do tempo elas gostam dela.  A questão, claro, é que você, mulher que despreza os feminismos, precisa confiar no dono da gaiola e da passarinha dentro dela para ser feliz. Newland Archer era um guardião digno de confiança, a maioria, não é.   

"The Old Maid" é outro grande filme baseado em Edith Wharton.
- Ah, como não inclui nada de Bette Davis na minha lista, recomendo outra adaptação de filme baseado em Edith Wharton, A Solteirona (The Old Maid, 1939), um dos meus favoritos com a atriz.  E Edith Wharton é uma autora que eu gosto muito.  Já falei sobre ela outras vezes, porque quando leio Emma, da Kaoru Mori, o que me vem na cabeça são os livros dessa autora. Queria muito saber se a mangá-ka já fez alguma menção de ter lido a autora.

Branca de Neve não foi muito bem recebida pelos anões.
Dia 13 – A Floresta Negra (Snow White: A Tale of Terror, 1997) – Direção:  Michael Cohn – 100 minutos.

- "Um rei (Sam Neill) e sua rainha desejavam ardorosamente  uma criança.  A rainha desejava uma filha com cabelos negros como a noite, pele branca como a neve e lábios rubros como o sangue que saia do dedo que havia espetado.  O desejo é atendido,masa rainha sofre um acidente, dá à luz a uma filha, mas morre.  Mais tarde, o rei se casa novamente.  Lilliana, ou "Lilli" (Monica Keena), como era chamada, vivia tranquilamente com seu pai e sua misteriosa e malvada madrasta Lady Cláudia (Sigourney Weaver), porém, quando completa seus 16 anos de vida, sua beleza desabrocha como uma flor, causando em sua detestada madrasta, inveja, ódio e ciúme. Cada vez mais perturbada, Cláudia começa a planejar uma vingança abominável... Agora, Lilli terá que lutar com todas sua forças para poder se livrar do mal que a cerca, e assim, poder desmascarar sua impiedosa e malvada madrasta Cláudia."

A rainha defende com unhas, dentes e maçã envenenada seu lugar.
- Essa é a melhor adaptação realista de um conto de fadas que eu já vi. E, na época em que assisti, o filme me impressionou bastante.  Os anões, por exemplo, são renegados, proscritos, que se escondem na floresta para fugir da lei, do preconceito, ou da violência de seus senhores.  Há um anão entre eles, inclusive.  Sigourney Weaver está maravilhosa como a madrasta má, a mulher que envelhece e teme que seu lugar seja roubado por outra mais jovem (*mulheres inimigas das mulheres, de novo*) no coração dos homens.   

O beijo da morte.
- Para mostrar que pode e manter seu lugar de mais bela do reino, a madrasta ainda seduz o príncipe encantado, o noivo da princesa. E, bem, o príncipe,que eu acho que era o médico, não valia o esforço... 😄 E Lilli, a princesa, não era boazinha, ela era uma adolescente peste, mimada pelo pai e ciumenta da madrasta, que, no início, se esforça por ser boa.  Tem um conflito de gerações interessante no filme. É no relacionamento com os anões que ela aprende a ser gente, por assim dizer.

No final, a princesa prefere o anão que
era muito mais interessante que o príncipe.
- Agora, esse filme está na lista, porque queria testar uma velha amiga, a Iracema, e saber se ela se lembrava da vez que assistimos ao filme juntas.  Uma amiga comum, muito exigente com seus possíveis namorados, tinha dito dias antes que não queria homem que tivesse pele lisinha, queria um homem marcado, com cicatrizes e tal.  Cada um com seus fetiches.  Daí, em uma determinada cena desse filme, o "anão" Will (Gil Bellows), que já tinha umas cicatrizes no rosto, tira  a camisa e expõe o corpo, especialmente as costas, toda destruída.  Estávamos vendo o filme na minha casa, parei o aparelho vídeo e olhamos uma para a outra, passou a mesma ideia pela nossa cabeça, seria o namorado ideal para nossa amiga comum.  No outro dia, na faculdade, foi meio difícil não rir quando encontramos a fulana.  Infelizmente, a Iracema não lembrou.  Marcou a mim, não marcou a ela. Esqueçam Branca de Neve  e o Caçador, essa versão do velho conto de fadas é muito melhor.

Ser filho do diabo tem ônus e bônus.
Dia 14 –  Advogado do Diabo (The Devil's Advocate, 1997) – Direção:  Taylor Hackford – 144 minutos.

- "Kevin Lomax (Keanu Reeves), advogado de uma pequena cidade da Flórida que nunca perdeu um caso, contratado John Milton (Al Pacino), dono da maior firma de advocacia de Nova York. Kevin recebe um alto salário e várias mordomias, apesar da desaprovação de Alice Lomax (Judith Ivey), sua mãe e uma fervorosa religiosa, que compara Nova York a Babilônia. No início tudo parece correr bem, mas logo Mary Ann (Charlize Theron), a esposa do advogado, sente saudades de sua antiga casa e começa a testemunhar aparições demoníacas. No entanto, Kevin está empenhado em defender um cliente acusado de triplo assassinato e cada vez dá menos atenção sua mulher, enquanto que seu misterioso chefe parece sempre saber como contornar cada problema e tudo que perturba o jovem advogado." (*Adoro Cinema*)

A vaidade do protagonista o impede de ver
que sua esposa está sendo destruída.
- O filme tem Al Pacino e isso já é meia qualificação para estar  em qualquer lista.  Há a frase "A Vaidade é meu pecado favorito.", um primor, enfim. Assisti ao filme duas vezes no cinema. De qualquer forma, eu gostava de usar O Advogado do Diabo para dar aula na EBD (Escola Bíblica Dominical).  Primeira coisa, não é por estar na igreja  que você está livre do Diabo.  Ele tenta e pode conseguir pegar você.  Vide a mãe do protagonista.  Segundo, o Diabo sempre via lhe oferecer aquilo que você deseja, não vai lhe dar coisas ruins, ou que você não goste.  Exemplo, ninguém vai me seduzir com feijoada, eu não gosto de feijoada.  Não adianta. Terceiro, se você vai enfrentar o Diabo,não vá sozinho como o sujeito do filme, lembre-se do versículo completo "Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." (Tiago 4:7)  É um filme ótimo para usar em uma pregação, enfim.


O poder de vida e morte dos cidadãos da vila
 passou a estar nas mãos dessas meninas.
Dia 15 –  As Bruxas de Salém (The Crucible, 1996) – Direção:  Nicholas Hytner – 123 minutos.

- "Em Salém, Massachusetts, 1692, algumas estão brincando na floresta, dançando e fazendo "feitiços". Tudo isso era estritamente proibido pela doutrina puritana.  Uma delas, Abigail Williams (Winona Ryder), tinha se envolvido com John Proctor (Daniel Day-Lewis), um fazendeiro casado, quando trabalhou para ele, mas após o fim do caso foi despedida. Assim, desejava a morte de Elizabeth Proctor (Joan Allen), a esposa deste. Elas são descobertas no seu "ritual", temendo a punição, algumas delas terminam mergulhando em estado catatônico.  Com o tempo, a situação provoca uma histeria coletiva que atinge várias pessoas, sendo que Abby, a jovem desprezada por Proctor, se torna uma espécie de liderança, acusando pessoas de bruxaria com o intuito de atingir a esposa do seu antigo amante, só que as coisas  terminam por sair do controle."


Nunca um adultério custou tão caro.
- Fervor religioso, histeria coletiva, perseguição, listas negras, poderia ser o nosso momento histórico no Brasil.  Na verdade, a peça The Crucible foi escrita por Arthur Miller na década de 1950 para denunciar o Machartismo, a "caça às bruxas", que objetivava livrar os EUA do comunismo, ou de tudo o que parecia comunismo.  Oooops!  De novo parece Brasil!!  Enfim, assim como no filme/peça, uma pessoa só conseguia se livrar da acusação, diminuir sua punição, se acusasse outra, ou outras.  E, assim, muita gente inocente terminou perdendo sua reputação, sua carreira, liberdade, ou até a vida, tanto no século XVII, quanto nos anos 1950.  


Uma brincadeira na floresta poderia custar a vida de todas elas.
- Hoje, vivemos de novo tempos perigosos.  Histeria religiosa (*ou que assim parece*) provocada por líderes populistas e picaretas.  Repressão e censura para quem retribui com o riso as narrativas absurdas. Promessa de perseguição ideológica para os que discordam e se opõem democraticamente aos que ocupam o poder.  A incerteza quanto ao cumprimento da lei, ou a aplicação seletiva da mesma.  Um filme mais que atual.  Eu o assisti no cinema, junto com a amiga que disse gostar de homens marcados do filme da Branca de Neve.


Os juízes acreditavam na ação demonica,
negá-la, era ir contra os fundamentos da fé.
- O filme colocou todas essas questões em tela de forma memorável. Outra vez, estou incluindo um filme com Daniel Day-Lewis e Winona Ryder.  Para mim, um dos melhores desempenhos dele, mas Lewis sequer foi indicado ao Oscar.  O maior destaque caiu mesmo para Joan Allen, uma atriz que eu considero refinadíssima, espetacular .  Seu papel é muito difícil, o da esposa que foi traída, que perdoou e se torna centro de toda uma trama macabra.  Ela foi indicada para melhor atriz coadjuvante em praticamente todas as premiações daquele ano.  E houve indicação para roteiro adaptado, claro, algo mais do que justo.  Eu li a peça e não sei dizer qual é o melhor.
Ele só tinha de seu o seu próprio nome.
- Enfim, esse filme me marcou por uma cena específica.  Depois de muita gente morta – ninguém na fogueira, "bruxas" dificilmente eram queimadas por protestantes, eles preferiam outros métodos de execução –  John Proctor, acusado por Abigail, recebe a opção de admitir sua culpa, e ser poupado da pena capital.  Os próprios juízes já estavam cansados de tanto derramamento de sangue.  Ele recusa, porque ele só tem de seu o próprio nome.  É seu maior bem.  Como admitir um crime tão infame?  Como manchar seu nome e o de seus filhos?  É uma cena espetacular.  Eu nunca desejaria estar na posição dele, mas, se um dia estiver, desejo ter a coragem de fazer igualzinho.

- É isso.  Os  filmes ficaram distribuídos assim pelas décadas: 1950 - 2; 1960 - 4; 1970 - 1; 1980 - 1; 1990 - 5; 2000 - 2.  Lembrando que eu nasci em 1976.  Lamento não ter incluído nenhum filme com Audrey Hepburn, ou Bette Davis.  Selecionar somente quinze filmes é difícil. Fossem vinte, vinte cinco, faria uma lista melhor, colocaria filmes mais divertidos, talvez.  Não houve nenhuma comédia na lista... No entanto, gostei de fazer esse post.  Pequenas resenhas  de memória, em alguns casos, mais 20, 25 anos da última vez que vi o tal filme.  Se você assistiu recentemente algum deles e acredita que coloquei algum coisa errada, pode corrigir, sem problema.

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