sexta-feira, 26 de abril de 2019

Sobre o corte de verbas para as faculdades de Sociologia e Filosofia e o Ministro Japonês que inspirou essa medida


Vou ter que fazer alguns posts sobre nossa política nacional, devo fazer a resenha dos Vingadores mais tarde, ou assistir ao filme novamente antes de escrever o texto, não sei.  Pois bem, hoje o presidente e o ministro da educação se pronunciaram sobre cortes de verbas para as áreas de Filosofia e Sociologia, porque é preciso valorizar o dinheiro do contribuinte e investir naquilo que importa:



Enfim, sem citar dados socioeconômicos, esses cursos, pelos menos na minha época, eram típicos cursos para gente pobre, ou de classe média, todos os anos a UFRJ fazia levantamentos disso, vaticinou-se que são cursos de elite e inúteis.  Em primeiro lugar, onde estão os dados?  Em segundo lugar, ainda que fosse, público é para todos e, não, para pobres.  Em terceiro lugar, gente formada nessas áreas paga impostos, é contribuinte, também.  E, por último,  quanta gente formada nas áreas citadas pelo presidente não se veem obrigados a trabalhar fora da sua formação por necessidade, ou estão desempregados?  Aliás, é mais importante fazer guarra cultural do que cuidar dos 13 milhões de desempregados?  

A Universidade Kyoto Seika foi a primeira a ter
graduação em mangá, um curso de humanidades.
Mas estou fazendo esse post para comentar sobre o tal ministro da educação do Japão que tomou medidas semelhantes em 2015, Hakubun Shimomura.  Ele ficou pouco tempo no cargo, um boletim ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia), ele foi afastado por suspeitas de corrupção, houve crítica generalizada e o governo recuou das suas medidas devido à resistência das universidades japonesas (*aqui*).  Confirmando o boletim da ANPOF, as mais prestigiadas universidades japonesas, a de Tokyo (*Lembra de love Hina?*) e a de Kyoto (*A do primeiro curso acadêmico sobre mangá*) disseram que não iriam aceitar essas novas diretrizes consideradas anti-intelectuais.  E não cumpriram mesmo e nosso ministro e presidente estão mentindo para vocês na cara dura.  Enfim, a parte da corrupção não confirmei, mas encontrei informações sobre esse ministro modelo que devem ter inspirado o nosso:

  • Ele Sobre as mulheres do conforto, meninas e mulheres usadas como escravas sexuais pelas tropas japonesas na Segunda Guerra, este senhor disse que se os pais venderam suas filhas, isso não quer dizer que tenha sido culpa do Exército Japonês.  Você talvez nunca tenha lido nada do que escrevi sobre o tema no Shoujo Café, nem precisa, só assista este vídeo aqui.  Esta senhora coreana faleceu no início deste ano e não teve seu desejo atendido, um pedido formal de desculpas do governo japonês.
  • Sobre a censura que algumas escolas públicas estavam impondo ao aclamado mangá Gen Pés Descalços  (はだしのゲン), que trata não somente da bomba atômica, mas das atrocidades cometidas pelo governo japonês contra seus próprios cidadãos, ele disse que estava correto, porque os jovens não tem como entender essa obra e que a ação não violava a liberdade de expressão.  Claro, os livros de História do país se omitem sobre isso e cortar as faculdades de humanidades é uma forma de continuar escondendo os fatos dos jovens cidadãos.  Alienação é uma estratégia de manutenção de poder.  Aliás, o governo do qual ele faz parte é acusado de negacionismo histórico.
  • Quando uma repórter gravou um outro político a assediando sexualmente, ele ficou do lado do cara, dizendo que a mulher tinha feito de propósito para vender a história para um tabloide. Ela deve ter provocado a situação, ou seja, tadinho do coleguinha.
O que mais tenho a dizer?  O sucateamento do ensino público faz parte do projeto do novo governo.  Filosofia, Sociologia, depois História, Letras, enfim, são somente a terceira classe do Titanic.  Resta saber se vão conseguir transformar tudo em terra arrasada, tornando os livros do astrólogo guru da família presidencial e do ministro da educação obrigatórios, ou se haverá resistência.  enfim, é lamentável que parte da população apoie essas  atrocidades como se elas fossem a resolução de seus problemas.  De resto, deixo as palavras da Prof.ª Karen O’Brien em visita ao Japão e comentando a equivocada política do país para as ciências humanas e sociais: “As humanidades são fundamentais para entender de uma maneira realmente profunda quem somos, como chegamos a ser quem somos e para pensar profundamente sobre como abordamos os problemas práticos, éticos e históricos da era moderna”.

Um mundo ideal... 
É isso, mas não se deve esperar algo diferente de negacionistas, que querem impedir que as pessoas sejam capazes de pensar sobre os seus próprios problemas, basta saber apertar botões, ou parafusos mecanicamente.  Eles precisam eliminar qualquer forma de pensamento crítico, ou divergente.  Resta saber se você vai colaborar com a criação de Gilead, ou algo ainda mais sinistro, ou será resistência.

P.S.: Segue um vídeo sobre o assunto:

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