segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Desculpe, mas chega de acreditar nesse papo de que os brasileiros nunca lutaram por coisa alguma


Não quero expor ninguém, mas quando vejo esse tipo de afirmação, de que nossa independência foi dada, só me convenço do quanto fomos bem adestrados pelas diferentes mídias e pela escola tradicional.  Acreditamos mesmo que somos um povo cordial, assim, bem homogêneo, chegados em um “jeitinho”, sempre fugindo do pesado e que vivemos todos segundo o refrão da música de Zeca Pagodinho "Deixa a vida me levar".  Para começo de conversa, o livro 1822 do Laurentino Gomes, leitura bem acessível, um tipo de História que não agrada muitos acadêmicos, mas tem grande função social, já serviria para mostrar que, sim, houve luta de independência, houve resistência aos portugueses e mesmo a D. Pedro I, houve homens e mulheres que morreram nesse processo.  Sim, vai ser outro artigo de opinião, mas eu precisava, escrevê-lo.

no caso da Bahia, pois a luta de independência começou mais cedo por lá, podemos listar Maria Quitéria, que se travestiu de homem para se alistar e lutar, a nossa Mulan de carne e osso; a negra Maria Felipa, da qual não conhecemos o rosto, mas os feitos; e Soror Joana Angélica, religiosa morta por soldados portugueses por tentar-lhes barrar o caminho.  Antes mesmo de chegarmos à independência de fato, feita com a participação decisiva de D. Pedro I,  podemos lembrar da Inconfidência Mineira, da Conjuração Baiana, da Revolução Pernambucana etc.  Gente que desejou e lutou bem antes de pela independência do Brasil em relação a Portugal e pela fundação de uma república.

Tem filme sobre a Revolução Pernambucana?  Tem. 
E mostra a participação das mulheres e suas contradições.  Está no Youtube.
Mais tarde, houve aqueles que não concordaram com o modelo que as elites da Corte decidiram que seria o do Brasil independente e resistiram à monarquia.   Sim, os rebeldes da Confederação do Equador (1824) não são traidores, eles, simplesmente, queriam um outro modelo de Brasil.  O Grão-Pará e o Maranhão só foram adicionados ao Brasil... Ah, você não sabia?  Eles tinham um governo separado fazia muito tempo.  Enfim, só foram anexados ao Brasil, à força, em 1823.  E nem vou falar do Período Regencial, porque foi ali que se decidiu o destino dessa nação.  Se seríamos implodidos, por interesses e necessidades locais, ou se ficaríamos unidos em uma grande e diversificada nação, ainda que, repito, com grande derramamento de sangue.

Nossa independência não foi um passeio, não foi feita sem sangue.  E D. Pedro I, que cresceu aqui, que era mais brasileiro que português, não era um fantoche.  Você não precisa ser monarquista para reconhecer-lhe o esforço, que incluiu, também, ser violento com quem se opunha à independência e ao seu governo, ou a participação decisiva de D. Leopoldina nesse processo todo, mesmo que no seu livro didático ela mal aparecesse em dois parágrafos.  

O quadro de Pedro Américo, de 1888, é um texto como outro qualquer
e precisa ser lido, não é uma reprodução dos fatos,
muito menos uma imagem fiel dos mesmos.
Nossa independência não foi dada, ela foi conquistada, ainda que não seguindo o mesmo modelo dos nossos irmãos latino americanos.  Não viramos república, mas monarquia.  Não abolimos rapidamente a escravidão, ainda que mantendo a desigualdade social e étnica.  Não tivemos caudilhos como presidentes, mas um príncipe português que, repito, era muito mais brasileiro que vários brasileiros de sua época.  Mas o processo começou muito antes de sete de setembro e foi cimentado com sangue e tinta de homens e mulheres, de negros, índios e brancos, não foi presente.  E as pessoas deveriam, sim, ler um tiquinho mais sobre as independências de nossos vizinhos e veriam que, no caso do Chile, o padrão seguido foi um tanto diferente da média dos coleguinhas latino americanos e não sei se cabe julgar se para melhor, ou para pior.

De resto, e concluindo, é fundamental para a nossa inércia que se repita a cada instante, seja nas escolas, nos jornais, na TV, na rádio, nos canais do Youtube que somos submissos, que nunca conquistamos nada, que somos corruptos nas origens (*ofendendo os portugueses e fechando os olhos para a História de outros países*), fracos, enfim.  Ao mesmo tempo, qualquer manifestação popular, ou é ignorada, ou é demonizada, ao gosto do freguês, normalmente, para satisfazer aos interesses dos que nos desejam realmente calados e submissos.

Em São Paulo, o #EleNão reuniu aproximadamente 500 mil pessoas. 
Mesmo lideranças de esquerda demonizaram a manifestação com
 base em fotos falsas e na difamação do ato por parte da campanha
do atual presidente.  Se nos calamos, somos ovelhinhas, se
nos manifestamos, somos repreendidos.  E segue o baile. 
Aliás, faz um ano que ele foi eleito.  Vai ter festa?  Vai ter bolo?  
Se você repete, repete, repete  um discurso, acaba criando uma verdade.  E, bem, essa realidade criada é muito útil para que nos roubem os direitos, para que nos sintamos um lixo.  E nem é preciso mudar a História, só bastaria estudá-la com olhos atentos à diversidade e com mais empatia mesmo por membros das elites que em um determinado contexto fizeram o melhor que podiam dentro das suas condições de produção. Ninguém nos deu a nossa independência, ainda que o quadro não tenha sido aquele que você desejaria que tivesse sido pintado.

1 pessoas comentaram:

Adorei o post, curso História e desde o primeiro semestre com a disciplina de América Portuguesa I até o quarto semestre com Brasil Império vi o quanto os povos nativos, africanos, negros e pobres resistiram contra os sistemas e que de tanta resistência conseguimos nossos direitos.

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