quinta-feira, 9 de julho de 2020

Desculpe voltar ao assunto J.K. Rowling, mas é preciso

Prestem atenção nessa manchete de um importante e renomado site brasileiro sobre cultura pop. Ele faz referência a uma carta da Harper's Magazine pedindo tolerância, reflexão e outras coisas. Você pode concordar, concordar parcialmente, discordar, enfim, mas é uma carta bem abrangente.  E o documento foi assinada por CENTO E CINQUENTA pessoas, a maioria HOMENS, dentre elas, Noam Chomsky e Salman Rushdie.  

Para quem não sabe, Rushdie escreveu um livro chamado Versos Satânicos considerado uma crítica ao Islamismo, o que fez com que o aiatolá Khomeini, que governava o Irã, decretasse, em 1989, uma sentença (fatwa) clamando pela morte do autor.  Rushdie passou anos sendo protegido.  Para se ter uma ideia, o tradutor da edição japonesa do livro foi assassinado em Tokyo por um fanático muçulmano, o tradutor da edição italiana foi atacado em sua casa, mas sobreviveu.  Acho que o Rushdie deve entender de intolerância e do que significa ser literalmente cancelado, só para usar esse termo imbecil que está na moda.

Manifestação no Paquistão pedindo a morte de Rushdie. 
Foram CENTO E CINQUENTA assinando a carta, mas a manchete coloca lado a lado duas mulheres, uma delas manchada por suas opiniões transfóbicas... Ah, você não acredita que a Rowling seja transfóbica?  Desculpe, ela é, sim. E dada a forma confusa como ela trata identidade de gênero e orientação sexual, ela pode, fácil, fácil, ser chamada de homofóbica e lesbofóbica, também. Enfim, colocaram Rowling e Margaret Atwood, uma escritora feminista renomada e crítica do patriarcado, na mesma chamada.  Qual a sugestão? Que Atwood está apoiando um documento que parece defender as atitudes da Rowling?  Está?  É disso que trata a carta?  A única pessoa controversa, para dizer o mínimo, que assinou foi a Rowling? Irresponsável, eu diria.  E Atwood inclusive já se posicionou publicamente a favor das pessoas trans.

Outra coisa, ontem vi circulando no Twitter, um trecho da carta em que uma pessoa acrescentou a palavra "transgênero", "transfobia", tipo fazia aquele site da caneta esquerdizadora, ao texto para clarificar que a carta era contra as pessoas trans. Isso é falseamento da verdade. Daí, várias outras pessoas fizeram o mesmo colocando "negro", "judeu", "gay", "mulher" e mostraram muito bem que esse tipo de brincadeira é possível fazer com outros grupos. O que eu digo? Vamos parar, está ficando feio, e o tom de uma discussão não pode ser dado pelos fanáticos de parte a parte.

Terminando, eu condeno a atitude da Rowling, o fiz no meu primeiro texto, caso isso tenha escapado a alguém, mas ninguém vai ser misógino debaixo do meu nariz e eu vou ficar quietinha com medo de retaliações. Nem vou apoiar a "censura do bem" que sob a bandeira do respeito, ou da moral e dos bons costumes, quer apagar a História, impedir discussões, retirar livros das listas escolares, ou mesmo das bibliotecas. Babaquice tem limite.

2 pessoas comentaram:

Valeria acredito q a manchete botou a Atwood pq ela foi """"cancelada""" na época do #metoo, ao criticar o exagero das reações/acusações sobre assédio sexual, pontuando q isso era nocivo, q é preciso cautela, investigar antes de julgar e tals..
Ela foi muito criticada (principalmente por feministas), acho q teve q se retratar/explicar dps

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