domingo, 27 de setembro de 2020

Comentando o capítulo 6 de Orgulho & Preconceito (BBC/1995): Finalmente terminamos e já com vontade de assistir de novo


Ontem, finalmente, terminei de reassistir Orgulho e Preconceito como uma missão nos 25 anos de lançamento da série que estreou na BBC em 24 de setembro.  O aniversário foi esta semana, portanto.  Antes de começar, queria dizer que como estava usando outro computador, não aquele onde tenho os arquivos (*eu tenho a edição brasileira e a comemorativa britânica dos 15 anos em DVD, também*), acabei baixando sem saber a versão remasterizada e UAU!  Assisti na TV e a imagem estava linda, as texturas das roupas, tudo tão lindo que fiquei com vontade de rever tudo na tela maior e com essa qualidade recuperada.  já tinha visto fotos dessa versão remasterizada, mas não os vídeos, enfim.

O episódio começa com Mrs. Bennett recebendo a notícia de que Wickham se casará com Lydia e esquecendo automaticamente todo o escândalo, o aborrecimento, os gastos que todos acreditam que foram feitos pelo tio das moças, Mr. Gardiner.  Até a discreta Jane fica chocada com a falta de bom senso da mãe.  Mrs. Bennett se sente ofendida de sua filha caçula não voltar para casa e se casar com pompa em Meryton.  Lizzie precisa lembrar para a mãe que Lydia já estava vivendo com Wickham, o casamento é somente uma reparação.

Em seguida, Elizabeth vai ao encontro do pai, que confessa que errou, que foi um pai displicente e um péssimo administrador de suas rendas e propriedades.  Lembram que no primeiro episódio ele aparece diante do livro de contabilidade?  Pois é... Fala também da sua vergonha por acreditar-se em débito com o cunhado, mas que tudo vai passar, ser esquecido com o tempo.  Seu único custo extra será pagar os débitos de Wickham.  Mr. Bennett nem se mostra inflexível em relação à visita do casal.

Pulamos para o casamento e, céus, como Lydia é parecida com a mãe!  Em nenhum momento a personagem, na série, mas no livro não é tão diferente, mostra a mínima compreensão do mal que causou e da encrenca em que está metida.  E a atriz, Julia Sawalha, tem um olhar meio alucinado que dá um tom absolutamente sem noção para a personagem.  O curioso é que a atriz era mais velha do que todas as outras que interpretavam as irmãs Bennett, mas consegue convencer como adolescente.  Na igreja, durante o casamento, estão somente Mr. e Mrs. Gardiner, o noivo e Mr. Darcy.  O rosto de Colin Firth parece feito de pedra, mas há algo de nojo na sua expressão, também.

A sequência a seguir é a visita de Wickham e Lydia a Loungbourn.  Os dois agem como se nada, nada de errado tivessem feito.  Lydia aproveita, inclusive, para humilhar a irmã mais velha, Jane, dizendo que ela deveria lhe dar precedência, porque agora, apesar de ser a caçula, ela era uma mulher casada.  Jane não é de  brigar por essas coisas, mas há certa indignação no rosto da atriz, Susannah Harker.  Aliás, de todos os capítulos e, talvez, tenha a ver com o fato de ter assistido remasterizado, este foi aquele onde Jane estava mais bonita.  Muito mesmo, em todas as cenas.

Susannah Harker é minha Jane Bennett favorita, ela consegue fazer com que acreditemos na bondade, bom senso e dignidade da personagem.  E Jane não é tola, ela é uma pessoa de bom coração, que tenta ver o melhor em todas as pessoas que conhece.  Lydia também tenta espezinhar Lizzie, relembrando que ela teve algum interesse por Wickham, mas a moça já superou isso faz tempo.  Enfim, é nessa passagem por Loungbourn que Lydia comenta sobre seu casamento e toca no fato de Mr. Darcy estar lá.  Elizabeth envia uma carta para a tia que diz toda a verdade.  Até pelo fato de Lizzie escrever e a carta voltar sem que o casal tenha ido embora, a estadia deles foi longa.  

Wickham tenta sondar Lizzie sobre o que ela descobriu a respeito de seu passado.  A heroína nada diz, mas os olhares de Jennifer Ehle são claros, assim como a sua expressão corporal, ela sabe mais do que diz e ele entende.  Acho que essa conversa entre Wickham e Lizzie a melhor cena dos dois durante toda a série.  O fato é que, agora, Lizzie tem um peso nos ombros, Darcy fez um sacrifício absurdo, moveu céus e terra por sua irmã, na verdade, como ela não é boba, sabe que é por ela.  Na partida, há uma piada de Mr. Bennett sobre Wickham, ele é um sujeito muito agradável e persuasivo e ele desafia Sir William Lucas a conseguir um genro como aquele.  Pobre Maria (Lucy Davis)!  Tomara que não.

E, claro, Bingley e Darcy voltam para Netherfield.  Desta vez, Bingley vem sem as irmãs e Mrs. Bennett fica em polvorosa.  Mrs. Bennett tem sucessivas crises de nervos até que Bingley bate a sua porta com Darcy à tiracolo.  E Elizabeth e Darcy mal conseguem se olhar nos olhos, o constrangimento é enorme.  E a gente, claro, fica na expectativa do desenlace da coisa.  Imagino quem não conhece o livro!  A moça parece absorvida em seu bordado, enquanto Darcy, destratado por Mrs. Bennett, fica olhando a paisagem da janela.  Logo depois, há uma cena de partida, com Darcy indo para Londres e se desculpando com Bingley por ter atrapalhado seu romance com Jane.  

É mais uma daquelas sequências sobre ponto de vista de Darcy e que não estão no livro, ainda que a personagem diga para Lizzie que acompanhou Bingley até Loungbourn para observar o amigo e Jane e saber se o sentimento entre eles ainda se mantinha vivo para, mais tarde, aconselhá-lo.  Bingley absolutamente surpreendido que Darcy admita que errou e de forma completa e absoluta.  Ele nem tem raiva de Darcy e ainda pede sua bênção.  A dependência de Bingley da aprovação do amigo é um negócio muito exagerado, mas, de novo, parece crível, porque durante todo esse capítulo Crispin Bonham-Carter parecia radiante, efusivo, no céu.  É um Bingley muito fofo sem ser idiota.  E Colin Firth dá um sorriso e vai embora.  No outro dia, Bingley propõe para Jane e a casa dos Bennett se enche de alegria.  Jane e Bingley merecem seu final feliz.

A partir daí, temos a carta de Mr. Collins para Mr. Bennett falando da proposta de casamento iminente que Darcy pretende fazer para Elizabeth e que, claro, Lady Catherine não aprova nada disso.  Lizzie fica constrangida quando o pai lhe mostra a carta como se fosse uma grande piada, mas ela não consegue rir "de verdade" da piada.  Mr. Bennett, que parece conhecer tão bem a filha, não  consegue discernir os seus sentimentos.  Ou será que ele tem medo de perdê-la e bloqueia isso?  Benjamin Whitrow e Jennifer Ehle têm pelo menos três boas cenas nesse episódio, a última, claro, é quando o pai chama a filha para conversar sobre o pedido de Darcy.  Ainda que admita que nada pode ser negado a um homem como Mr. Darcy, rico e poderoso, ele quer saber o que a filha deseja, se ela o ama e respeita, porque Mr. Bennett não tem respeito pela esposa.  

Austen é bem progressista ao abordar essas questões, afinal, casamento eram mais acordos de família, feitos mais a partir de interesses econômicos, do que enlaces com base em sentimentos.  E quem melhor entende isso no livro do que Lady Catherine De Bourgh? Ha!  E, em seguida, vamos ter o duelo entre Elizabeth e a tia de Darcy que vem até sua casa para confirmar se a moça foi pedida em casamento.  Acredito que seja um dos melhores diálogos do livro e a série o transpôs integralmente.  Elizabeth não se curva, não aceita ser humilhada e, o que é mais importante, não aquiesce ao que a velha dama exige, que ela recusará Darcy caso ele lhe peça em casamento. 

"He is a gentleman; I am a gentleman's daughter; so far we are equal."  ("Ele é um cavalheiro; eu sou filha de um cavalheiro; portanto somos iguais.")  Eu adoro esta linha de diálogo e como Jennifer Ehle se entrega nessa discussão.   Se Elizabeth fica ainda mais angustiada em relação ao que Darcy possa pensar dela e seus próximos passos, o fato de Lady Catherine ir falar com o sobrinho, algo que não vemos na série, e relatar para ele a impertinência de Lizzie termina tendo um efeito contrário ao que a orgulhosa dama deseja.  Ele agora tem suas esperanças reanimadas e irá fazer uma segunda proposta para Elizabeth.

Quando Darcy retorna para Meryton, ele acompanha Bingley até a casa dos Bennett e tem a chance de FINALMENTE conversar com Lizzie.  No livro, a coisa parece ainda mais angustiante, a série modifica um pouco os acontecimentos, talvez, porque o tempo já estivesse curto.  Estamos já quase nos últimos dez minutos do episódio.  Bingley, Jane, Darcy, Elizabeth e Kitty saem para um passeio.  Jane e Bingley se adiantam, os demais ficam para trás para lhes dar privacidade e Kitty, que se sente muito desconfortável diante de Mr. Darcy, arruma uma desculpa para sair fora.  Ela vai até a casa dos Lucas e termina permitindo que Lizzie e Darcy tenham a privacidade que necessitam.

Quando se veem sozinhos, Lizzie toma a palavra e revela tudo o que sabe sobre o que Darcy fizera por sua irmã e sua família e seu profundo agradecimento.  Ali, preciso dizer, Elizabeth aceitaria o casamento com Darcy de qualquer forma, amando-o, ou não.  A dívida é impagável por assim dizer.  Mas ele diz que tudo o que fez foi por ela e renova o seu pedido dizendo que se fosse recusado de novo, se os sentimentos da moça fossem os mesmos, ele nunca mais falaria sobre o assunto.  Lizzie diz que seus sentimentos mudaram, que ela sente de forma muito diferente.  Olhares ternos de parte a parte e eles vão se acertar agora.  Darcy se desculpa pelo tom do seu primeiro pedido, mesmo Elizabeth tentando assumir um erro seu, ele sabe que realmente não agiu de uma forma cavalheiresca.  

"Your reproof, so well applied, I shall never forget: 'had you behaved in a more gentlemanlike manner.' Those were your words. You know not, you can scarcely conceive, how they have tortured me;—though it was some time, I confess, before I was reasonable enough to allow their justice." ("Nunca esquecerei sua reprovação, tão bem aplicada: 'se você tivesse se comportado de uma forma mais cavalheiresca'. Essas foram suas palavras. Você não sabe, mal pode conceber como eles me torturaram; - embora tenha passado algum tempo, confesso, antes que eu fosse razoável o suficiente para permitir sua justiça.)  Depois disso, Darcy explica o papel de Lady Catherine na sua decisão.  E, até hoje, os autores de livros, filmes, séries, mangás repetem esse mesmo esquema com alguém dando uma de Lady Catherine para separar um casal e ajudando a uni-lo.

A sequência já apresenta um Darcy que é capaz de sorrir e ouvimos a gargalhada de Elizabeth.  Na parte do livro que não foi adaptada, ela diz que durante o noivado Jane sorria, enquanto ela, Elizabeth, ria.  Já Darcy confessa que se viu cativado pela vivacidade da moça, essa alegria espontânea que Jennifer Ehle colocou tão bem em tela.  É uma pena que eles sequer tenham tocado as mãos.  Acho que faltou isso, sabe?  Não precisava beijo, mas as mãos dadas, eu não perdoo, não.  Darcy não é mostrado conversando com Mr. Bennett e nos privaram da reação da Mrs. Bennett.  Essa cena deveria estar no capítulo, acredito que foi uma omissão desnecessária.

E terminamos com o casamento duplo.  Os vestidos das noivas são lindos.  Bingley mal segura seu sorriso, Jane idem.  Eles chegam a se olhar e sorrir um para o outro.  Já Darcy se mantém sério, salvo por um momento e Elizabeth não ousa levantar o rosto para ele.  Todas as personagens da série, menos quatro (Lady Catherine e a filha, Wickham e Lydia) estão lá.  O sermão do pastor permite viajar para longe e ver esses ausentes.  Quando o sacerdote fala que um casamento não deve ser feito somente para saciar a luxúria, a câmera para em Mr. Bennett, porque, bem, ele se casou com uma mulher tão inferior a ele mesmo por qual motivo, ein?  Esse sermão não é gratuito.  Caroline Bingley parece arrasada, apesar de manter a dignidade.  Na partida dos casais temos um beijo entre Elizabeth e Darcy e os créditos sobem.

Eu fiquei feliz em rever a  minissérie.  E quando achei esse arquivo remasterizado, tive vontade de ver de  novo.  O fato é que essa adaptação beira a perfeição e utilizou muito bem seus seis capítulos de 50 minutos.  Ficou corrido o último capítulo, eu tive essa impressão, mas tudo estava lá.  Algo que li em algum lugar recentemente, procede.  Jennifer Ehle entrega uma Elizabeth maravilhosa, mas ficou meio que eclipsada por Colin Firth.  A carreira dela continuou modesta, enquanto ele se tornou um galã internacional por conta de Orgulho & Preconceito.  Enfim, a série tem 25 anos, já é hora de fazer outra.  E houve um anúncio de que teríamos uma série de ITV este ano, mas ninguém voltou a comentar.  Se quiserem esperar um pouco, proponho escalarem Millie Bobby Brown para ser Elizabeth.  A menina tem 16, basta esperar que ela tenha 19, ou 20 anos.

Enquanto resenhava a série parei para pensar que a  versão de 1980 está fazendo 40 anos e o filme de 1940, 80.  Acredito que poderia fazer resenha delas, também.  O que vocês acham?  E até do filme de 2005, se for o caso.  Por onde eu devo começar? O fato é que Orgulho & Preconceito é a obra de Jane Austen que mais mobiliza as pessoas, que nos cativa com seus diálogos afiados e personagens interessantes.  Claro, que raramente se viu a materialização deste livro em tela de uma forma tão perfeita como em 1995 e a influência cultural da série da BBC é absolutamente justa.  Espero que minha filha consiga amar Jane Austen como eu amo e que, um dia, ela possa se sentar comigo para assistir a série da BBC.

2 pessoas comentaram:

Não consigo ver a Brown como Lizzie mas não sei por que tenho a impressão de que se sair algum Orgulho e Preconceito nos próximos anos, Thimoteé Chalamet será Darcy. Algo me diz que daqui a uns 5 anos,ele estará no ponto.

Prefiro não ver atores muito conhecidos interpretando pois personagens principais, pois tira um pouco do foco. Preferiria atores menos conhecidos, mas interessantes.
Ah, lendo suas resenhas, que vontade de ver as séries de 80 e 95 novamente!

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