segunda-feira, 5 de abril de 2021

Ichaicha Shiyou yo, Kumakei Kareshi kun: Quando menos você espera, um mangá lhe surpreende. Não é bem uma review, mas é quase. (+18/NSFW)


Uma das coisas mais atraentes nos mangás é que mesmo séries muito bobinhas, às vezes trazem alguma discussão importante.  Pois bem, este é o caso do mangá Ichaicha Shiyou yo, Kumakei Kareshi kun (イチャイチャしようよ、クマ系彼氏くん) de  Akari Tsuchihashi.  Trata-se de um TL mangá, isto é, um josei, ou shoujo, com conteúdo erótico e/ou pornográfico.  Eu realmente não sei por qual motivo o tinha colocado entre os favoritos e, normalmente, só passava os olhos pelos capítulos, foi o que eu estava fazendo semana passada e acabei me deparando com uma discussão importante.

Mas vou resumir o básico da história antes de seguir para o ponto que me fez escrever este post.  Rina é uma jovem gentil, educada e bonita.  Ela é estudante universitária e divide um pequeno apartamento com o namorado, Kyou, que é alto, muito forte e trabalha na construção civil.  Kyou não terminou sequer o ensino médio, parece grosseiro, um tanto possessivo, mas é muito amoroso com Rina (*e um tanto pervertido, também*) e pinta belos quadros.  Os dois pretendem se casar depois que Rina se formar. O vizinho dos dois, Yuya, estuda direito na mesma universidade de Rina, é apaixonado por ela, e sofre, porque as paredes são muito finas e ele escuta tudo o que acontece entre os dois, o que o deixa muito incomodado, em alguns momentos, até desesperado.


Enfim, acho que marquei o mangá, porque acho Yuya uma figura simpática, porque Kyou é muito ciumento, agora, depois do que descobri, troque por super protetor, sabe-se lá o que fizeram com Rina no passado.  Pois bem, passando os olhos nos capítulos que estava atrasada, cheguei no ponto em que o pai de Rina entra na história.  Ele é um professor universitário e renomado especialista em violência doméstica e defensor da proteção das crianças contra pais e mães violentos.  Ele dá entrevistas, participa de programas de TV, e é uma espécie de celebridade tanto no meio acadêmico, quanto no midiático.

O que acontece então, ele vai visitar Rina, a moça está sozinha e o atende na porta com medo nos olhos.  Yuya aobserva de longe, coisa que ele faz com frequência e vê quando o professor que ele tanto admirava dá um tapa no rosto da filha.  Yuya tenta acreditar que viu errado, fica angustiado, mas termina confrontando o professor e o questionando sobre seus valores, ideias, a defesa da não-violência no âmbito familiar  e como ele foi capaz de bater em Rina, ainda mais em uma situação totalmente gratuita.  O professor dá um sorriso e diz que violência sempre é algo errado, mas que o que ele fez com Rina não é violência, que faz parte da dinâmica da relação dos dois.  Yuya fica chocado.  Mais tarde, Kyou vai tomar satisfações com o sogro, o proíbe de se aproximar de Rina e ameaça quebrar a sua cara.  Terminaram os capítulos e essa trama não teve ainda seguimento.

Sempre me pergunto se países com taxas muito baixas de violência doméstica contra mulheres e crianças não estejam escondendo alguma coisa, que o fator cultural é algo definidor.  Seja uma complacência com certo tipo de agressão física, como bofetadas para fazer alguém "acordar", como vemos em muitos animes e mangás, mas o fato é que as crianças estão sempre muito vulneráveis à violência de quem deveria protegê-las.  Este, aliás, é um dos temas de um dos mangás josei mais importantes do ano passado,  My Broken Mariko (*eu comentei sobre ele em um vídeo*), que toca, também, na forma como os adultos preferem fechar os olhos para a criança que é abusada, e as outras crianças se sentem incapazes de ajudar os seus amigos, porque são elas, também, frágeis.


Não sei como Ichaicha Shiyou yo, Kumakei Kareshi kun irá se encaminhar daqui para frente.  O caminho que me agradaria mais, seria Yuya e Kyou se juntarem para ferrarem a vida do pai de Rina, expondo sua hipocrisia.  Não dá para saber, também, se a violência sofrida pela moça incluiu abuso sexual, porque a parte física e psicológica está mais que evidente.  

É preciso saber, além disso, se a mãe irá ser colocada em cena.  É dito que o casamento dos dois acabou 15 anos antes.  Rina tem 21, 22 anos, talvez menos.  Em My Broken Mariko, primeiro o pai, depois de abandonado, praticamente escravizou a filha, batia nela, mais tarde, na adolescência, passou a estuprá-la, quando a mãe tentou reatar o casamento e viu o que acontecia, ao invés de se posicionar, culpou a filha.

Enfim, não teria feito este post se não tivesse ficado surpresa.  Não acho Ichaicha Shiyou yo, Kumakei Kareshi kun um grande mangá, nem no quesito erotismo, ou arte, ele se destaca, mas, talvez, ao discutir violência doméstica e a vulnerabilidade das crianças, ele acabe se tornando realmente importante.  Continuarei seguindo, para quem quiser ler, os scans em inglês estão aqui.  Só lembrando, a série é para maiores de 18 anos.

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